sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Divina Comédia



     
Pintura de Pessoas Famosas - Discutindo a Divina Comédia com Dante, óleo sobre tela realizado em 2006 por três artistas de Taiwan: Dai Dudu, Li Tiezi e Zhang An - que se encontra representados no quadrante superior direito do quadro, estando Dante no meio deles. São aqui reunidas 100 personalidades - desde reis e presidentes, líderes políticos, cientistas, artistas, desportistas até celebridades controversas.


O processo de Auschwitz em Frankfurt (1963-1965)




A maioria dos oficiais do campo, incluindo Rudolf Höss, que era o comandante mais antigo, foi julgada em 1947 em Varsóvia, e outros réus em Cracóvia. Esses primeiros julgamentos seguiram o julgamento de Nuremberga onde muitos réus foram ouvidos como testemunhas e encaminhados a outro tribunal para julgamento. Na maioria dos casos, a sentença de morte foi pronunciada.

O julgamento de Frankfurt, também conhecido como o segundo julgamento de Auschwitz, foi composto por uma série de julgamentos proferidos pela justiça da Alemanha Ocidental entre 20 de dezembro de 1963 e 19 de agosto de 1965. Estava em causa o papel de 22 suspeitos no Holocausto em conexão com o seu envolvimento no campo de concentração de Auschwitz.

Durante 20 meses foram expostos os factos mais monstruosos que os réus tentaram transformar numa farsa sem um pingo de arrependimento. E, com efeito, tal atitude parece ter extravasado para a opinião pública apesar de a opinião publicada pelos media o ter tentado evitar. Mas o clima era esse, que explica que durante anos os acusados tenham podido levar uma vida sem sobressaltos, mantendo a sua verdadeira identidade. O povo alemão não queria enfrentar os horrores da guerra. Não queria que se levassem por diante novos processos que visavam os criminosos de guerra nazis. Só uma vez se ouviu uma voz isolada vinda da assistência no julgamento: “Porque não o matam e acabam com isto de vez?”

Esta passagem decorreu no julgamento de Boger, o grande especialista dos interrogatórios no campo, que apesar de ser um homem repugnante, mantinha a solidariedade de muitos alemães. Boger, como se estivesse muito seguro, sorriu quando ouviu reclamar para si, por parte do júri, a sentença de morte. Era nesse clima de opinião pública que se dizia “é a arraia-miúda que paga a conta, enquanto a graúda continua a encher-se”. Efetivamente, aquele punhado de corja que estava a ser julgado, era peixe-miúdo na hierarquia nazi. A patente SS mais elevada que ali estava a ser julgada não passava de capitão (Haupsturmführer). Em última instância, a decisão do genocídio partia irrevogavelmente da ordem de uma única pessoa: Hitler, o Führer. 

A vontade do Führer era a fonte da Lei. E as ordens do Führer constituíam as únicas leis válidas. E quando muito, a organização da sua operacionalidade partia dos “assassinos de gabinete”, que ocupavam posições suficientemente elevadas para se verem dispensados de sujar as mãos. Era essa a defesa de Boger: “Esses, ao se furtarem, com a sua cobardia, às responsabilidades, suicidando-se ou deixando-se enforcar, deitaram a perder o zé-ninguém”.

E, de facto, para a opinião pública, os verdadeiros culpados eram os assassinos de secretária e não as marionetes que punham a engrenagem de extermínio em movimento dando à manivela. Portanto, ao “soldado”, não lhe competia fazer perguntas sobre o bem e o mal, ma apenas cumprir ordens. Mas para o tribunal as coisas não funcionavam assim. Ao tribunal competia julgar pessoas de carne-e-osso que praticaram crimes, e não a culpabilidade de um regime por genocídios. O tribunal não tinha que se pronunciar sobre Auschwitz como instituição. O Código Penal nessa matéria era muito claro, eram crimes praticados a título pessoal e não o extermínio de populações inteiras levado a cabo a título de política demográfica.