terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

O deleite com a desgraça de quem se tem inveja



Os alemães têm para a frase em epígrafe uma única palavra: Schadenfreude.

Isto tem a ver com o estudo do sistema dopaminérgico no cérebro que está ligado ao mecanismo da recompensa, uma propriedade que não se reduz apenas aos hominídeos, mas que de um modo geral se estende a todos os mamíferos. Em termos gerais o sistema dopaminérgico lida com recompensas. Algumas recompensas nestas espécies de animais, como o sexo, libertam dopamina em todas elas.

Tem sido interessante observar os padrões de libertação de dopamina relacionados com as interações sociais. O sistema dopaminérgico traz-nos perspetivas sobre a inveja, o ressentimento e a animosidade, que são as situações em que há uma maior ativação dopaminérgica.

Assim, os mecanismos de recompensa e punição são fundamentais para que a convivialidade em sociedade seja possível. Há, todavia, uma habituação à recompensa. Nada é tão bom como da primeira vez. Para que o sistema possa responder com força total à próxima novidade, uma dada resposta a uma recompensa vai-se atenuando à medida que a mesma recompensa se repete.

O sistema dopaminérgico codifica uma vasta gama de reações a experiências de surpresa, respondendo com aumentos de dopamina livres de escala a boas notícias inesperadas. Há uma consequência que tem a ver com a habituação. Quanto mais consumimos, mais desejosos ficamos de consumir mais, mais forte e mais rápido. O que era um prazer inesperado ontem, é algo de que nos julgamos merecedores hoje, e que não será o suficiente amanhã.

Os nossos comportamentos podem ser bons ou maus, depende do contexto. Uma vez que as contingências da recompensa são aprendidas, a dada altura a dopamina passa a lidar mais com a antecipação do que com a recompensa. Passa a estar mais ligada à expectativa e à confiança. Ou seja, o prazer está na antecipação da recompensa. Quando sabemos, temos confiança, que um determinado apetite vai ser saciado, o prazer sente-se logo no estado de apetite antes de ser saciado. E o prazer passa a ser maior no estado de apetite do que propriamente no estado de saciedade.

Portanto, a felicidade que a dopamina nos proporciona tem mais a ver com a antecipação da recompensa no período em que se busca por ela, uma recompensa de que estamos confiantes da alta probabilidade de que venha a ocorrer. Isto é essencial para entender a natureza da motivação, bem como das suas deficiências.

Sem comentários:

Enviar um comentário