segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

William Thomas Turner






William Thomas Turner, nascido a 23 de outubro de 1856 em Liverpool, tendo falecido no Lancashire em 23 de junho de 1933, foi um marinheiro britânico mais conhecido por ter sido o oficial comandante do Lusitânia quando este foi afundado por um torpedo alemão em maio de 1915, disparado do submarino U-20 comandado por Schwieger.

Turner foi considerado um excelente navegador que realizou diversas travessias em velocidades notáveis, incluindo uma travessia de Liverpool para Nova Iorque em 12 dias em 1910, sendo posteriormente promovido por sua habilidade apesar de seu comportamento rude em torno dos passageiros. Dizem que Turner se referia aos passageiros como "uma carga de macacos sangrentos que estão constantemente tagarelando". Turner recebeu a Transport Medal por prestar um excelente serviço em 1902, quando, como capitão do Umbria, transferiu tropas para a África do Sul durante a Guerra dos Bóeres. Turner recebeu outro prémio da Liverpool Shipwreck and Humane Society após resgatar a tripulação do West Point em 1910. Seguindo os passos de seu pai, Turner ingressou na Cunard Line em 1878 como quarto oficial, deixando a companhia em 1883 para ganhar a experiência adicional necessária para uma promoção. Turner ganhou sua licença de capitão em 1886, retornando então para a Cunard em 1889. Em 1903, Turner recebeu seu primeiro comando, o Aleppo. 




Após o naufrágio do Lusitânia, um inquérito do Almirantado, onde Churchill se envolveu, trouxe acusações graves contra Turner cujas acusações o assombraram pelo resto de seus dias, no qual ele viveu em reclusão. No outono de 1916, quase um ano após o naufrágio do Lusitânia, Turner foi designado para comandar o navio SS Ivernia, que havia sido fretado para uso no transporte de tropas pelo governo britânico. No dia de Ano Novo de 1917, o navio foi torpedeado no Mar Mediterrâneo por um submarino alemão, com 2.400 soldados a bordo. O navio afundou rapidamente com a perda de 36 tripulantes e 84 soldados. Mais uma vez, Turner sobreviveu ao naufrágio. Desta vez, segundo o jornal The New York Times, ele permaneceu na ponte até que todos a bordo tivessem partido em botes salva-vidas e balsas "antes de sair para nadar quando a embarcação caiu sob seus pés".

Após a investigação do Almirantado, a sua mulher Alice emigrou com os filhos para a Austrália em 1915 e posteriormente mudou-se para o Canadá numa data desconhecida. Sem saber disso, Turner foi procurá-los ao ser diagnosticado com cancro colorretal, do qual havia de falecer em 1933. Tinha-se aposentado em novembro de 1919, condecorado com a Ordem do Império Britânico. 
Ironia das ironias, seu filho, Percy Wilfred Turner, aos 55 anos, faleceu em 16 de setembro de 1941 a bordo do MV Jedmoor, quando este foi afundado pelo submarino alemão U-98. 


terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Marshall David Sahlins - do neoevolucionismo ao determinismo cultural





Marshall David Sahlins [1930-2021], antropólogo dos Estados Unidos na Universidade de Chicago, foi um grande defensor de que cada cultura, paralelamente à biologia, era moldada pelas peculiaridades geográficas e temporais do local onde nascia. Marshall Sahlins publicou em 1960 a obra Evolution and Culture. A corrente teórica, criada por Julian Steward e Leslie White a partir das teorias de Morgan, tinha como dois grandes centros intelectuais as universidades de Michigan e Columbia e se opunha ao culturalismo de Boas e seus discípulos. Leslie White defendia que a evolução das sociedades era unilinear e dava particular atenção à evolução tecnológica das matrizes energéticas utilizadas pelos homens; Steward era cético quanto à possibilidade de se achar causas únicas e defendia uma teoria multilinear onde enfatizava, além da tecnologia, fatores económicos, políticos, ideológicos e religiosos.

As sociedades tribais das ilhas do Pacífico foram um laboratório para os estudos de Sahlins. O nível de desenvolvimento político variava desde as pequenas sociedades baseadas no parentesco da Melanésia até aos Estados tribais de Taiti, Tonga e Havai. A visão de Sahlins, como os evolucionistas da última geração, como, era que “Em todo o mundo, embora não na mesma época, as sociedades passaram por estágios semelhantes de desenvolvimento político em consequência do progresso tecnológico e do acúmulo de recursos nas mãos de poucos.”. Já na época de Darwin era desacreditada a aplicação dos princípios da economia clássica (Marx aí incluído) na compreensão das sociedades primitivas. Num primeiro estágio, o da “economia doméstica de produção”, as trocas eram regidas predominantemente pelos laços de parentesco e havia pouca exploração; eram também consideradas “sociedades da abundância original”. Com o passar do tempo os tributos cobrados pelos chefes, empregados como instrumento de barganha, ganhavam mais importância, até que se configurasse uma “economia de comando”.

No final da década de 1960, Lévi-Strauss, o antropólogo mais notável dessa década, subitamente abandona essa corrente e adere a um tipo de determinismo cultural. Ele atacou com o culturalismo a sociobiologia, uma mutação radical da teoria darwinista. Ora, defensor do que viria a ser designado por “estruturalismo antropológico”, foi uma das principais influências sobre as conceções que Sahlins viria a abraçar.

A crítica ao marxismo empreendida por Sahlins começava pela observação de que nas culturas tribais – economia, política, ritual e ideologia não aparecem como ‘sistemas distintos’. A cultura, a ordem simbólica, dominava em todos os lugares. Do mesmo modo que nas sociedades tribais o foco simbólico envolve relações de parentesco, na sociedade ocidental, espacialmente no caso norte-americano, ele é posto nos objetos manufaturados. A singularidade da sociedade ocidental não está no facto de o sistema económico fugir à ordem simbólica, mas nas consequências estruturais por essa opção. O dinheiro veio sobrepor-se ao parentesco. Portanto, nem o utilitarismo, nem o marxismo, como expressões da consciência em sociedades burguesas, se aplicam aos primitivos.

Como o evolucionismo havia sido abandonado por Sahlins, persistia a dúvida sobre como se deu a organização dos Estados. O estudo das etnografias sugeriu a possibilidade de esse desenvolvimento estar relacionado com a mitologia. As pessoas estabelecem novos eventos em tramas já estabelecidas na mitologia. Os mitos sobre a origem reapareciam ligeiramente transformados como épicos históricos e, depois, como notícias do dia. Os mitos fornecem um conhecimento com amplas aplicações práticas, pois são um tipo de arquétipo para situações análogas e, por isso, um guia para ações futuras. Deste modo os vivos podem se comportar como heróis míticos. Um entrelaçamento genealógico com os heróis míticos facilita ainda mais essa identificação. A essa recriação dos mitos em situações contemporâneas Sahlins denominou “mitopráxis”. Como, do ponto de vista do nativo, todo o evento era um exemplo concreto de uma estrutura idealizada, a oposição entre estrutura e evento foi neutralizada.

No exemplo da visita do capitão James Cook ao Havai, o conceito de 'mitopráxis' foi aplicado por Sahlins com bastante eficácia. Fazia muito sentido a identificação do capitão inglês com o deus Lono, pois grande parte das atribuições deste foi desempenhada por aquele, ainda que sem querer. Mas as quebras de tabu resultantes da visita pioneira dos ingleses, como a aceitação da companhia das mulheres durante as refeições, e a desilusão quanto à condição divina supostamente atribuída aos marinheiros, com exceção do capitão Cook, desencadearam grandes transformações na estrutura social havaiana, que culminaram com a revolução de 1819, protagonizada pelo rei nativo e seus mais próximos. Porém, houve forte controvérsia a respeito da plausibilidade da apoteose de Cook.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Oxigénio. Mitocôndria. Célula eucariota. Proteínas






No Universo não há escassez de auto-organização, que vai da simetria assombrosa dos flocos de neve aos anéis graciosos de Saturno. Esse impulso natural para a organização é a imagem de marca do universo, que só precisa de 4 elementos (carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto) para fazer um ser humano. Certo, e menores quantidades de enxofre, fósforo, cálcio e ferro. Por 2 mil milhões de anos, organismos bacterianos constituíam as únicas formas de vida. Eles viviam, reproduziam-se, pululavam, mas não mostravam nenhuma inclinação particular por progredir para outro nível de existência mais desafiador. Em algum momento cianobactérias, ou algas azul-esverdeadas, aprenderam a explorar um recurso amplamente disponível: o hidrogénio que existe em abundância na água. Elas absorviam moléculas de água, alimentavam-se do hidrogénio e liberavam o oxigénio como desperdício, inventando assim a fotossíntese. Com a proliferação das cianobactérias, elas começaram a encher o ar de oxigénio, para consternação dos organismos que o achavam venenoso – que naquela época eram todos. Em um mundo anaeróbico (não utilizador de oxigénio), o oxigénio é extremamente venenoso. Nossos glóbulos brancos na verdade empregam oxigénio para matar bactérias invasoras. É o que torna a manteiga rançosa e faz o ferro enferrujar. Mesmo nós só o toleramos até certo ponto. O nível de oxigénio em nossas células é de apenas um décimo do nível encontrado na atmosfera. As cianobactérias foram um sucesso absoluto.

Uma das maiores surpresas das ciências da Terra foi a descoberta de quão cedo na história do planeta a vida (bactérias) surgiu há 3 mil e 850 milhões de anos. A superfície da Terra só se tornou sólida há cerca de 3 mil e 900 milhões de anos. O que quer que tenha impelido o início da vida, aquilo aconteceu uma só vez. Esse é o facto mais extraordinário da biologia, talvez mais extraordinário que conhecemos. Tudo o que já viveu, planta ou animal, tem sua origem na mesma convulsão primordial. Em certo ponto em um passado inimaginavelmente distante, uma pequena bolsa de substâncias químicas nervosamente adquiriu vida. Ela absorveu alguns nutrientes, pulsou com suavidade, teve uma existência breve. Apenas isso já poderia ter acontecido antes, talvez muitas vezes. Mas esse pacote ancestral fez algo adicional e extraordinário: partiu-se e produziu um descendente. Um feixe minúsculo de material genético passou de uma entidade viva para outra e nunca mais parou.




As mitocôndrias manipulam o oxigénio de forma a libertar a energia dos alimentos. Elas mantêm o seu próprio ADN, ARN e ribossomas. Reproduzem-se em um período diferente do das células hospedeiras. Parecem bactérias, dividem-se como bactérias e, às vezes, reagem aos antibióticos como as bactérias. Em suma, mantêm a sua independência. Elas nem sequer falam a mesma linguagem genética da célula em que vivem. O novo tipo de célula com núcleo, designada por ‘eucariota’, foi um aperfeiçoamento da célula primitiva sem núcleo, chamada procariota. A célula eucariota é um tipo de célula dotada de um núcleo e de outros corpúsculos coletivamente chamados de organelos (da palavra grega que significa “pequenas ferramentas”). Acredita-se que o processo tenha começado quando alguma bactéria descuidada ou aventureira invadiu outra bactéria ou foi capturada por ela, e isso se revelou favorável para ambas. A bactéria cativa tornou-se, ao que se acredita, uma mitocôndria. Essa invasão mitocôndrica, ou evento endossimbiótico, possibilitou a vida complexa. Nas plantas, uma invasão semelhante produziu cloroplastos, que permitem a fotossíntese.

Os protistas, eucariotas unicelulares antigamente designados por protozoários, em comparação com as bactérias que existiram antes, já são maravilhas de estrutura e sofisticação. A simples amiba, como uma única célula e sem nenhuma ambição além de existir, possui 400 milhões de unidades de informação genética em seu ADN. Os eucariotas levaram cerca de mil milhões de anos para adquirir um truque que foi aprender a juntar-se em seres multicelulares complexos. Graças a essa inovação, entidades grandes, complicadas e visíveis como nós se tornaram possíveis.

Criar aminoácidos é realmente fácil, o problema são as proteínas, e há centenas delas no corpo humano. Para produzir o colagénio, é preciso dispor de 1055 aminoácidos exatamente na sequência certa. A natureza produz proteínas espontaneamente, mas para os cientistas é extremamente difícil. São conhecidos 22 aminoácidos que ocorrem naturalmente na Terra, e outros podem vir a ser descobertos, mas apenas vinte deles são necessários para produzir a maioria dos animais, incluindo os humanos. O vigésimo segundo, denominado pirrolisina, foi descoberto em 2002 por pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio e encontra-se em um único tipo de arqueobactéria (uma forma de vida básica chamada Methanosarcina barkeri.




As proteínas, em suma, são entidades complexas. A hemoglobina possui apenas 146 aminoácidos, um número insignificante pelos padrões das proteínas, mas mesmo ela oferece 10190 combinações possíveis de aminoácidos, razão pela qual o químico Max Perutz, da Universidade de Cambridge, levou 23 anos para desvendá-la. Eventos aleatórios produzirem ainda que uma só proteína pareceria uma improbabilidade estonteante. No entanto, estamos falando de centenas de milhares de tipos de proteínas, talvez 1 milhão, cada uma com a sua singularidade e cada uma, ao que sabemos, vital. Uma proteína, para ter utilidade, além de reunir aminoácidos na sequência certa, precisa depois de se enrolar e dobrar para adquirir uma estrutura tridimensional. As proteínas para se produzirem precisam de ADN, capaz de se autocopiar em segundos, mas que não consegue fazer praticamente mais nada. Assim, temos uma situação paradoxal. As proteínas não podem existir sem ADN, que não tem nenhum propósito para além das proteínas, mas que também precisa delas. Devemos supor então que ambos surgiram simultaneamente com o propósito de se apoiarem mutuamente.

As proteínas não se formaram de uma só vez. Deve ter havido algum tipo de processo de seleção cumulativo que permitiu aos aminoácidos se agruparem em blocos. Talvez dois ou três aminoácidos se tenham juntado para algum propósito simples e depois, após um tempo, tenham topado com algum outro pequeno agregado semelhante e, com isso, “descoberto” algum aperfeiçoamento adicional. As reações químicas do tipo associado à vida são, na verdade, bem comuns. Pilhas de moléculas na natureza se reúnem para formar cadeias longas chamadas polímeros. Açúcares constantemente se juntam para formar amidos. Os cristais conseguem fazer várias coisas típicas da vida: replicar-se, reagir a estímulos ambientais, assumir um padrão complexo. Claro que eles nunca atingiram a própria vida, porém demonstram repetidamente que a complexidade é um evento natural, espontâneo e totalmente comum. As proteínas e os outros componentes da vida não poderiam prosperar sem algum tipo de membrana para contê-los. Somente quando se reúnem na proteção de uma célula é que esses materiais diversos podem fazer parte da dança surpreendente a que chamamos de vida. Sem a célula, não passam de substâncias químicas interessantes. Mas sem as substâncias químicas, a célula não tem utilidade.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Os estromatólitos da Reserva Marinha Hamelin Pool



Durante muitos anos, os cientistas tomaram conhecimento dos estromatólitos com base em formações fósseis. Mas em 1961 tiveram uma surpresa real com a descoberta de uma comunidade de estromatólitos vivos em Shark Bay, na remota costa noroeste da Austrália. Declarado Património da Humanidade em 1991, o local de Shark Bay (Baía dos Tubarões) cobre uma área de 23.000 km2, dos quais cerca de 70% são águas marinhas. Inclui muitas áreas protegidas e reservas de conservação, incluindo o Parque Marinho de Shark Bay, o Parque Nacional François Perón, a Reserva Natural Marinha Hamelin Pool, a Reserva Natural Zuytdorp e numerosas ilhas protegidas.



Foi algo totalmente inesperado – tão inesperado que os cientistas levaram alguns anos até perceber o que de facto haviam encontrado. Hoje em dia, porém, Shark Bay é uma atração turística – ou pelo menos tenta ser, tendo em vista a sua localização remota. Passadiços de tábuas foram construídos na baía para que os visitantes possam caminhar sobre a água e ter uma visão dos estromatólitos, respirando silenciosamente logo abaixo da superfície. Eles não têm brilho, são cinzentos ou da cor dos excrementos. São os vestígios vivos da Terra como ela era há 3 mil e 500 milhões de anos atrás. Às vezes, ao olhar atentamente, podem-se ver fieiras minúsculas de bolhas subindo à superfície, à medida que os estromatólitos libertam oxigénio. Foram eles que durante estes milhares de milhões de anos elevaram o nível de oxigénio da atmosfera da Terra para 20%, abrindo caminho para o mais complexo capítulo da história da vida que havia de vir a seguir.




A Reserva Natural Marinha Hamelin Pool uma reserva natural marinha protegida localizada na Baía dos Tubarões, Austrália Ocidental. É Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. Possui os exemplares mais diversos e abundantes de estromatólitos marinhos vivos do mundo, que vivem na Terra desde há 3.500 milhões de anos. Dentro da Baía dos Tubarões Hamelin Pool está uma baía menor, exterior e a ocidente chamada Petit Point, separada pela Península de Péron.

A reserva marinha está situada ao lado da Reserva da Estação Hamelin e da histórica Estação Telegráfica Hamelin Pool, a cerca de 30 Km a oeste da Overlander Roadhouse na North West Coastal Highway. O acesso é feito pela Hamelin Pool Road e, em seguida, através dos terrenos da Estação Telegráfica Hamelin Pool. O acesso é gratuito.

A Reserva Marinha cobre 1.270 Km2. É um dos poucos lugares no mundo onde estromatólitos marinhos vivos podem ser encontrados. Outros locais para estromatólitos incluem um local subaquático (6 metros (20 pés) de profundidade) no Caribe, Golfo Pérsico e no Grande Lago Salgado de Utah. Hamelin Pool contém a mais diversificada gama de estromatólitos e diversidade microbiana do mundo.

Os estromatólitos em Hamelin Pool foram descobertos por topógrafos que trabalhavam para uma empresa de exploração de petróleo em 1956 e foram os primeiros exemplos vivos de estruturas construídas por cianobactérias. As cianobactérias que vivem em Hamelin Pool são descendentes diretas da forma mais antiga de vida fotossintética na Terra. Os estromatólitos são semelhantes aos fósseis de estromatólitos de 3.500 milhões de anos encontrados em muitos lugares ao redor do mundo. Os estromatólitos são um exemplo do registo mais antigo de vida na Terra. 

Hamelin Pool é hipersalina (tem aproximadamente o dobro da salinidade da água do mar normal), proporcionando um ambiente ideal para os estromatólitos crescerem e inibindo outras formas de vida marinha que normalmente se alimentariam das bactérias. As cianobactérias vivem em comunidades no fundo do mar a densidades de 3 mil milhões de indivíduos por metro quadrado. Eles são as formas de vida mais simples que usam a fotossíntese para fornecer alimentos e oxigénio. Eles forneceram à Terra primitiva a maior parte de sua atmosfera de oxigénio mil milhões de anos antes do aparecimento das plantas. Partículas muito finas de sólidos, ou seja, areia, casca esmagada etc., são aprisionadas pelas bactérias pegajosas, para se tornarem cimentadas com carbonato de cálcio produzido pelas bactérias, construindo assim as estruturas do estromatólito. Algumas estruturas são pilares de até 1,5 metros (5 pés) de altura e levaram milhares de anos para crescer. Existem estromatólitos fósseis de aproximadamente 50 metros (160 pés) de altura e 30 metros (98 pés) de diâmetro. Estima-se que estes tenham mais de três mil milhões de anos. O crescimento típico é de cerca de 0,5 milímetros (0,020 in) por ano.


Retratadas nas fotos - Existem três tipos básicos de estromatólito, as colunas de sub maré (sempre debaixo d'água) e as formas de bigorna ou cogumelo intermarés (expostas ao ar e ao sol durante as marés baixas). Esteiras de algas se formam na região entre marés e aparecem como áreas de planícies planas de lama preta, mas na verdade são estromatólitos vivos. Em Hamelin Pool há um mural interpretativo para os turistas se aventurarem e examinarem as estruturas dos estromatólitos. 



Esta é a única área de acesso para o público em geral devido à natureza frágil do ambiente na Piscina Hamelin. 
A Ilha Hutchinson e a Ilha Pelicano estão localizadas dentro da reserva natural.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Cultura Cucuteni-Trypillia





A cultura Cucuteni-Trypillia, também conhecida como cultura Tripolye, é uma cultura identificada pela arqueologia que existiu entre 5.500 a.C. e 2.750 a.C., atravessando parte do Neolítico e o Calcolítico. Estendia-se das montanhas dos Cárpatos até às regiões dos rios Dniester e Dnieper. Centrada na atual Moldávia, cobria também a parte ocidental da Ucrânia e nordeste da Roménia. A maioria dos assentamentos Cucuteni-Trypillia eram de tamanho pequeno, alta densidade (espaçados de 3 a 4 Km de distância), concentrados principalmente nos vales dos rios Siret, Prut e Dniester. As apresentações das suas descobertas datam de 1889. E 1897 é considerada a data oficial da descoberta de Trypillia na Ucrânia, no oblast de Kiev. Hoje, os achados da Roménia e da Ucrânia, bem como os da Moldávia, são reconhecidos como pertencentes ao mesmo complexo cultural. É geralmente chamada de cultura Cucuteni na Roménia e cultura Trypillia na Ucrânia. 

Durante os períodos climáticos atlântico e boreal em que a cultura floresceu, a Europa estava mais quente e húmida desde o final da última Idade do Gelo, criando condições favoráveis para a agricultura nesta região. A cultura Cucuteni-Trypillia é comumente dividida em períodos: Inicial [5.800 a.C. - 5.000 a.C. (Pré-Cucuteni I–III a Cucuteni A–B, Trypillia A a Trypillia BI–II); Médio [5.000 a.C. - 3.500 a.C. (Cucuteni B, Trypillia BII a CI–II); Tardio [3.500 a.C. - 3.000 a.C. (Horodiștea–Foltești, Trypillia CII).




As raízes da cultura Cucuteni-Trypillia podem ser encontradas nas culturas Sarcevo-Körös-Cris e Vinca do 6º ao 5º milênio, com influência adicional da cultura Bug-Dniester (6.500 a.C. - 5.000 a.C.). Durante o período inicial de sua existência (no quinto milénio a.C.), a cultura Cucuteni-Trypillia também foi influenciada pela cultura da cerâmica linear do Norte e pela cultura Boiana do Sul. Através da colonização e aculturação dessas outras culturas, a cultura formativa Pré-Cucuteni/Trypillia A foi estabelecida. Ao longo do quinto milénio, a cultura Cucuteni-Trypillia expandiu-se de sua "terra natal" na região de Prut-Siret ao longo do sopé oriental das montanhas dos Cárpatos para as bacias e planícies dos rios Dnieper e Bug do Sul da Ucrânia central. Assentamentos também se desenvolveram nos trechos sudestes dos Montes Cárpatos, com os materiais conhecidos localmente como a cultura Ariuşd. A maioria dos assentamentos estava localizada perto de rios, com menos assentamentos localizados nos planaltos. A maioria das primeiras habitações assumiu a forma de casas de poço, embora fossem acompanhadas por uma incidência cada vez maior de casas de barro acima do solo. Os pisos e lareiras dessas estruturas eram feitos de argila, e as paredes de madeira rebocada de barro ou juncos. O telhado era feito de palha ou juncos.




O modo de vida, para além do inerente à caça, à pesca e colheita de frutos selvagens, também envolvia agricultura incipiente (trigo, centeio e ervilhas) e criação de gado. As ferramentas incluíam arados feitos de chifre, pedra, osso e varas afiadas, e na colheita eram utilizadas foices feitas de lâminas incrustadas de silex. As mulheres estavam envolvidas na cerâmica, na fabricação de têxteis e vestuário, e desempenhavam um papel de liderança na vida comunitária. Os homens caçavam, pastoreavam o gado (suínos e ovelhas), e faziam ferramentas de sílex, osso e pedra. A questão de saber se o cavalo foi ou não domesticado durante este tempo da cultura Cucuteni-Trypillia é disputada entre os historiadores; restos de cavalos foram encontrados em alguns de seus assentamentos, mas não está claro se esses restos eram de cavalos selvagens ou domesticados.

Nos achados arqueológicos, foram encontradas estátuas de argila e amuletos de cobre, principalmente pulseiras, anéis e ganchos. Na Moldávia, tens de joias datados do início do quinto milênio a.C. Alguns historiadores usaram essa evidência para apoiar a teoria de que uma estratificação social estava presente no início da cultura Cucuteni, mas isso é contestado por outros. Restos de cerâmica deste período inicial são muito raramente encontrados; os restos que foram encontrados indicam que a cerâmica foi usada depois de ser queimada em forno. A cor exterior da cerâmica é um cinzento fumado, com decorações em alto e baixo-relevo. No final deste período inicial de Cucuteni-Trypillia, a cerâmica começa a ser pintada antes de ser queimada. A técnica de pintura branca encontrada em algumas das cerâmicas deste período foi importada da cultura anterior e contemporânea de Gumelnita-Karanovo. Os historiadores apontam para essa transição para a cerâmica pintada de branco e queimada em forno como o ponto de viragem para a Fase Cucuteni (ou cultura Cucuteni-Trypillia) começou.

Durante o período tardio, o território Cucuteni-Trypillia expandiu-se para incluir a região de Volyn no noroeste da Ucrânia, os rios Sluch e Horyn no norte da Ucrânia e ao longo de ambas as margens do rio Dnieper perto de Kiev. Membros da cultura Cucuteni-Trypillia que viviam ao longo das regiões costeiras perto do Mar Negro entraram em contacto com outras culturas. A criação de animais aumentou em importância, à medida que a caça diminuiu; os cavalos também se tornaram mais importantes. Comunidades periféricas foram estabelecidas nos rios Don e Volga, na atual Rússia. As habitações foram construídas de forma diferente dos períodos anteriores, e um novo design em forma de corda substituiu os antigos desenhos com padrões espirais na cerâmica. Diferentes formas de enterro ritual foram desenvolvidas onde os falecidos foram enterrados no chão com elaborados rituais de enterro. Um número cada vez maior de artefatos da Idade do Bronze originários de outras terras foram encontrados à medida que o fim da cultura Cucuteni-Trypillia se aproximava.

De acordo com alguns proponentes da hipótese Kurgan da origem dos protoindo-europeus, e em particular a arqueóloga Marija Gimbutas, em seu artigo "Notas sobre a cronologia e expansão da cultura Pit-grave" (1961, mais tarde expandido por ela e outros), a cultura Cucuteni-Trypillia foi destruída pela força. Argumentando a partir de evidências arqueológicas e linguísticas, Gimbutas concluiu que o povo da cultura Kurgan (um termo que agrupa a cultura Yamnaya e seus antecessores) da estepe pôntico-cáspia, sendo provavelmente falantes da língua protoindo-europeia, efetivamente destruiu a cultura Cucuteni-Trypillia em uma série de invasões realizadas durante sua expansão para o oeste. Com base nessa evidência arqueológica, Gimbutas viu diferenças culturais distintas entre a cultura Kurgan patriarcal e guerreira e a cultura igualitária mais pacífica de Cucuteni-Trypillia. 
Consequentemente, esses proponentes da hipótese Kurgan sustentam que essa invasão ocorreu durante a terceira onda de expansão Kurgan entre 3.000 a.C. - 2.800 a.C., terminando permanentemente a cultura Cucuteni-Trypillia. A teoria pode encontrar corroboração nas evidências frequentes de morte violenta descobertas na caverna de Verteba.

Os primeiros achados arqueológicos da cultura Yamnaya estão localizados na bacia do Volga e Don, não na área do Dniester e do Dnieper, onde as culturas entraram em contacto. Enquanto a cultura Yamnaya chegou à sua plena extensão na estepe pôntica por volta de 3.000 a.C., no tempo em que a cultura Cucuteni-Trypillia terminou, indica que a cultura Cucuteni-Trypillia  teve uma sobrevivência extremamente curta depois de entrar em contacto com a cultura Yamnaya. Outra indicação é que os kurgans que substituíram as tradicionais sepulturas horizontais, agora contêm restos humanos de um tipo esquelético bastante diversificado, aproximadamente dez centímetros mais altos, em média, do que a população anterior.

Seja como for, as teorias únicas nem sempre explicam todo o processo. O clima de hoje é árido, e a sua evolução ocorreu em dois episódios específicos: entre 6.700 e 5.500 anos atrás; e 4.000 a 3.600 anos atrás. As temperaturas do verão aumentaram acentuadamente e a precipitação diminuiu, de acordo com a datação por carbono-14. O povo vizinho da cultura Yamnaya era pastoril e capaz de manter a sua sobrevivência de forma muito mais eficaz em condições de seca. Isso levou alguns estudiosos a chegar à conclusão de que a cultura Cucuteni-Trypillia terminou não violentamente, mas como uma questão de sobrevivência, convertendo a sua economia da agricultura para o pastoreio e se integrando à cultura Yamnaya.

Ao longo dos 2.750 anos de sua existência, a cultura Cucuteni-Trypillia foi bastante estável e estática; no entanto, houve mudanças que ocorreram. Este artigo aborda algumas dessas mudanças que têm a ver com os aspectos económicos. 
As sociedades anteriores de tribos de caçadores-coletores não tinham estratificação social, e as sociedades posteriores da Idade do Bronze tinham uma estratificação social perceptível, que viu a criação do Estado com classes religiosas, guerreiros em tempo integral e comerciantes cuja riqueza contrastava com os indivíduos do estrato mais baixo que incluía os escravos. A cultura Cucuteni-Trypillia é intermédia entre a cultura anterior neolítica e a estratificada da Idade do Bronze. No entanto, seria um erro enfatizar demais o impacto da estratificação social na cultura Cucuteni-Trypillia, uma vez que ainda era (mesmo em suas fases posteriores) uma sociedade muito igualitária. E, claro, a estratificação social foi apenas um dos muitos aspectos do que é considerado como uma sociedade de um Estado totalmente estabelecido, que começou a aparecer na Idade do Bronze. 

Cada família provavelmente tinha membros da família extensa que trabalhavam nos campos para cultivar, iam para a floresta para caçar e trazer de volta lenha, trabalhavam à beira do rio para trazer de volta argila ou peixe e todos os outros deveres que seriam necessários para sobreviver. Ao contrário da crença popular, o povo neolítico experimentou uma abundância considerável de alimentos e outros recursos. Cada família era em sua maioria autossuficiente e havia muito pouca necessidade de comércio. No entanto, havia certos recursos minerais que, devido a limitações devido à distância e prevalência, formaram a base rudimentar para uma rede de comércio que, no final da cultura, começou a se desenvolver em um sistema mais complexo, como é atestado por um número crescente de artefactos de outras culturas que foram datados do último período.

No final da existência da cultura Cucuteni-Trypillia (de cerca de 3.000 a.C. a 2.750 a.C.), começou a aparecer o cobre comercializado de outras paragens, sendo a área dos Balcãs a mais afamada. Juntamente com o minério de cobre bruto, vinham ferramentas de cobre acabadas, armas de caça e outros artefactos. Isso marcou a transição do Neolítico para o Eneolítico, também conhecido como Calcolítico ou Idade do Cobre. Já na parte final começaram a aparecer nos achados arqueológicos artefactos de bronze. A rede comercial primitiva desta sociedade, que vinha lentamente se tornando mais complexa, foi suplantada pela rede comercial da cultura protoindo-europeia que terá substituído a cultura Cucuteni-Trypillia.