sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

A adolescência e a sua maneira desenfreada de agir, entre a empatia e a violência


Numa análise puramente neurobiológica, a revolução por que passamos na adolescência está relacionada com o processo de amadurecimento cortical da parte pré-frontal do cérebro. Mas daí não se pode inferir que o amadurecimento cortical frontal tenha evoluído para que os adolescentes pudessem agir de maneira desenfreada.

O adolescente não é ainda um adulto, porque lhe falta ainda o amadurecimento do lobo pré-frontal que em média apenas está concluído por volta dos 21 anos de idade. Formam-se novas sinapses, criam-se novos neurónios, os circuitos são refeitos e as regiões cerebrais umas expandem-se e outras contraem-se. E assim aprendemos, mudamos e nos adaptamos.

O adolescente é bom em vestir a pele do outro, mas ainda é insuficiente quanto aos julgamentos morais. Em todo o caso já consegue fazer avaliações de tipo meritocrático, o que não acontece na infância, em que a tendência é de tipo igualitário, com a divisão dos recursos da mesma forma.

À medida que vão amadurecendo os adolescentes também distinguem melhor o que é um dano pessoal e um dano material. Outro fator determinante é a abertura à novidade.

Mas sentir muito intensamente as dores do outro também comporta grandes problemas. Isso torna menos provável que tomem atitudes pró-sociais que requeiram coragem. Em vez disso, a aflição pessoal produz um foco sobre si mesmo que leva ao escape. À medida que o sofrimento empático aumenta a sua própria dor torna-se a principal preocupação. Portanto, um fator preditivo para indivíduos que agem de facto é a capacidade de estabelecer algum distanciamento, de cavalgar a onda da empatia, em vez de se deixar engolir por ela. A hiperempatia pode atrapalhar a ação efetiva.

Obviamente, os verdes anos adolescentes não giram apenas em torno do altruísmo e da luta contra a extinção do panda. É o pico da violência, das disputas isoladas ou em gangue. As agressões irrompem por todo o lado. A biologia subjacente à emoção exacerbada é a mesma.

O que sustenta o pico de violência dos adolescentes, ao contrário do senso comum, não tem nada a ver com o súbito influxo de testosterona. Tem a ver com o córtex pré-frontal e com a dopamina.

Um facto muito importante é como a inteligência emocional e a inteligência social são melhores indicadores para prever o sucesso e a felicidade de um adulto do que o Q.I. ou as notas do Liceu ou Faculdade. A vida adulta está cheia de encruzilhadas significativas em que fazer a coisa certa é definitivamente mais complicado. Para fazer a coisa certa, e para desenvolver as habilidades necessárias para fazer isso corretamente requer um profundo aprimoramento feito à custa da experiência.

Dependemos sem dúvida dos genes, e o cérebro recebe grande influência dos genes. Mas curiosamente, a parte do cérebro que melhor nos define como humanos, o córtex pré-frontal, depende menos dos genes do que da experiência vivida. Por ser o último a amadurecer, o córtex frontal está menos limitado pelos genes do que pela experiência para ser esculpido de forma a tornar a espécie humana tão extraordinária e ao mesmo tempo tão absurda.

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