terça-feira, 23 de abril de 2024

A Europa nos tempos de Solimão, o Magnífico


Solimão, o Magnífico, invadiu a Áustria em 1529. Foi durante a Campanha de Viena em 1529 que Solimão liderou um exército otomano numa tentativa de capturar a capital austríaca, Viena. No entanto, a campanha terminou num impasse e os otomanos acabaram por se retirar. Esta invasão faz parte de um período de conflito entre o Império Otomano e o Sacro Império Romano Germânico pela supremacia na Europa Central e Oriental.

Carlos V se beneficiou enormemente do ouro e da prata extraídos das Américas, contribuindo para o aumento da riqueza da coroa espanhola e para a expansão do poder espanhol na Europa e em outras partes do mundo. O influxo de metais preciosos das Américas teve um impacto significativo na economia global e no desenvolvimento da Europa na época. Carlos V, rei da Espanha e imperador do Sacro Império Romano Germânico, recebeu uma grande quantidade de ouro dos incas durante o período da conquista espanhola no Peru. O ouro era uma das principais riquezas do Império Inca, e os espanhóis, liderados por Francisco Pizarro, conquistaram vastas quantidades desse metal precioso após a queda de Cusco e do Império Inca em 1533.

A batalha entre as galés de Barba Ruiva e a frota de Andrea Doria, ao serviço do imperador Carlos V, ocorreu em 1538. Barba Ruiva, era o famoso corsário otomano que liderou uma poderosa frota de galés em nome do sultão otomano Solimão, o MagníficoAndrea Doria, por outro lado, era um almirante genovês que servia ao imperador Carlos V do Sacro Império Romano Germânico e que comandava uma frota combinada de navios cristãos.

A batalha entre essas duas poderosas forças navais ocorreu no estreito de Preveza, na costa oeste da Grécia. Após um confronto intenso, as galés de Barba Ruiva conseguiram uma vitória decisiva sobre a frota de Doria. Isso solidificou ainda mais a posição otomana no Mediterrâneo Oriental e enfraqueceu a influência de Carlos V na região. A batalha de Preveza é considerada uma das principais batalhas navais entre o Império Otomano e os estados cristãos durante o século XVI.

Em 1538, a cidade de Adém, localizada no atual Iémen, foi tomada aos portugueses pelas forças otomanas lideradas por Hadim Suleiman Paxá. Essa conquista foi parte dos esforços otomanos para expandir a sua influência no Oceano Índico e no Golfo de Áden, desafiando o controlo português na região. A captura de Adém foi um golpe significativo para os portugueses, que tinham estabelecido uma presença considerável na região.

Francisco I de França e Solimão, por Ticiano

Ibrahim Pasha era o grão-vizir do Império Otomano durante o reinado de Solimão, o Magnífico. Ele era um confidente próximo e conselheiro de Solimão, exercendo considerável influência política. No entanto, Ibrahim Pasha foi executado por ordem de Solimão em 1536 devido a intrigas políticas e à suspeita de conspiração.

A frota de Solimão no Oceano Índico em 1538 foi uma grande expedição naval otomana liderada pelo almirante otomano Piri Reis. A frota foi enviada pelo sultão otomano Solimão, o Magnífico, com o objetivo de expandir o domínio otomano no Oceano Índico e no sudeste da Ásia, competindo com os portugueses pela supremacia naval e comercial na região. Esta expedição foi uma das muitas iniciativas otomanas para desafiar o domínio europeu nas rotas comerciais marítimas.

Os Janízaros durante o reinado de Solimão, o Magnífico, no Império Otomano, eram uma tropa de elite composta por soldados cristãos convertidos ao Islão. Mustafá, um filho de Solimão, inicialmente foi nomeado herdeiro do trono. Mas depois foi acusado de traição e executado sob as ordens de seu pai. Os Janízaros tinham uma grande influência política e militar durante esse período, e o seu apoio ou desaprovação muitas vezes moldava o curso dos eventos no império.

Doña Gracia Nasi, também conhecida como Gracia Mendes Nasi ou Beatriz de Luna, era uma personagem muito influente nesta altura. De origem judaica sefardita, tornou-se uma grande
 empresária e filantropa. Destacou-se pelas suas influências financeiras, e por ajudar a comunidade judaica sefardita durante um período de perseguição religiosa na Europa. No entanto, não há registos históricos que sugiram que ela tenha fundado uma casa bancária. Ela é mais conhecida por suas atividades comerciais, que incluíam comércio de especiarias e ações financeiras em várias partes da Europa.

Havia uma outra família judaica de nome Mendes que também teve uma presença muito significativa em Antuérpia. E parece que Doña Gracia Nasi fazia parte desta família. Os Mendes de Antuérpia também eram conhecidos por suas atividades comerciais, especialmente no comércio de especiarias e empréstimos financeiros. Uma parte significativa da comunidade judaica na Antuérpia provinha de uma comunidade sefardita mais ampla vinda da Península Ibérica, principalmente de Portugal depois da grande expulsão decretada pelos Reis Católicos - Isabel de Castela e Fernando de Aragão. 

Antuérpia foi uma das cidades dos Países Baixos onde os sefarditas encontraram refúgio. Os Países Baixos, nessa altura, era uma das poucas regiões da Europa onde não havia perseguição aos judeus. Por outro lado, os neerlandeses foram inteligentes, pois a influência e a prosperidade dos judeus era inestimável. Assim, os Mendes em Antuérpia contribuíram significativamente para a economia e cultura da cidade naquela época.

 
Os Mendes tiveram uma presença notável em Portugal. Durante o período da Inquisição, muitos judeus sefarditas, incluindo os Mendes, foram forçados a converter-se ao catolicismo ou enfrentar perseguição e expulsão. Alguns membros da família Mendes conseguiram manter as suas práticas judaicas em segredo, enquanto outros optaram por emigrar para outros países onde poderiam praticar livremente sua religião. No entanto, mesmo após a Inquisição, alguns descendentes dos Mendes permaneceram em Portugal e contribuíram para vários setores da sociedade portuguesa.

Muitos judeus sefarditas que fugiram da perseguição em Portugal durante a Inquisição encontraram refúgio em Antuérpia. A cidade era um importante centro comercial e oferecia oportunidades económicas e liberdade religiosa relativa aos judeus naquela época. Muitas famílias judaicas, incluindo os Mendes, estabeleceram-se em Antuérpia, onde continuaram as atividades comerciais e contribuíram para a prosperidade económica da cidade. Assim, é plausível que alguns membros da família Mendes que fugiram de Portugal se tenham estabelecido em Antuérpia.

Ora, um tal Francisco Mendes chegou a ser o segundo marido de Gracia Nasi. Antes de se estabelecerem em Antuérpia haviam passado primeiro por Veneza. Em Antuérpia eles continuaram as suas atividades comerciais e também foram ativos na comunidade judaica local. Mas depois, o que consta, é que após a morte de Francisco Mendes, Gracia Nasi e um filho, Joseph Nasi, mudaram-se para Istambul, onde foram acolhidos pelo sultão otomano Solimão, o Magnífico. Em Istambul, Gracia Nasi e Joseph Nasi desempenharam papéis importantes na corte otomana e contribuíram para o bem-estar da comunidade judaica na cidade.


segunda-feira, 22 de abril de 2024

Os alanos, descendentes dos sármatas





No século V os Alanos chegaram à Península Ibérica, uma tribo falante de uma língua iraniana, que se sabe pertencer ao povo Sármata, e que hoje ainda existe de forma residual na Ossétia. O cavaleiro montado de armadura, na Idade Média, descendia desses sármatas.




Os sármatas foram uma grande confederação de antigos povos nómadas equestres iranianos que dominaram a estepe à vota do Mar Negro entre o século III a.C. e o século IV d.C. Originários das partes centrais da estepe eurasiática, os sármatas faziam parte das culturas citas mais amplas. Eles começaram a migrar para o oeste por volta dos séculos IV e III a.C., chegando a dominar uma extensão entre o rio Vístula e a foz do Danúbio a ocidente, e o Volga a leste. Era todo um território entre o Mar Negro e o Cáspio, bem como o Cáucaso a Sul.

Por volta d século III d.C., empurrados pelos hunos, juntaram-se aos godos e outras tribos germânicas, tal como os vândalos e alanos, e atravessaram o Bósforo fazendo assentamentos em território dominado pelo Império Romano. Os sármatas no Reino do Bósforo foram assimilados pela civilização grega. Durante o final do século IV a.C., os citas, o poder então dominante na estepe do Mar Negro, foram derrotados militarmente pelos reis da Macedónia. Ficaram sob pressão dos getas trácios e dos bastarnas celtas. As tribos anteriormente referidas por Heródoto como citas, que eram agora chamadas de sármatas por autores helenísticos e romanos, demonstra que a conquista sármata não envolveu um deslocamento dos citas da estepe, mas sim que as tribos citas foram absorvidas pelos sármatas. 

Entre 50 e 60 d.C., os alanos apareceram no sopé do Cáucaso, de onde atacaram as áreas do Cáucaso e da Transcaucásia e o Império Parta. Durante o século I d.C., os alanos se expandiram através do Volga para oeste, absorvendo parte dos aorsi e deslocando o resto. A pressão dos alanos forçou os Iazyges e Roxolani a continuar atacando o Império Romano do outro lado do Danúbio. Durante o século I d.C., dois governantes sármatas da estepe chamados Farzoios e Inismeōs estavam cunhando moeda em Olbia Pôntica. Os Roxolani continuaram sua migração para o oeste após o conflito no Chersoneso do Bósforo, e em 69 d.C. eles estavam perto o suficiente do baixo Danúbio para que pudessem atacar através do rio quando ele estava congelado no inverno, e logo depois eles e os alanos estavam vivendo na costa do Mar Negro, e mais tarde eles se mudaram mais para o oeste e estavam vivendo nas áreas correspondentes à atual Moldova e oeste da Ucrânia. 




A tribo sármata dos Arraei, que tinha tido contactos estreitos com os romanos, eventualmente se estabeleceu ao sul do rio Danúbio, na Trácia, e outra tribo sármata, os Koralloi, também viviam na mesma área ao lado de uma secção do Sindi cita. Durante os séculos I e II d.C., os Iazyges frequentemente incomodavam as autoridades romanas na Panónia; eles participaram da destruição do reino quadiano de Vannius, e muitas vezes migraram para o leste através do planalto da Transilvânia e das montanhas dos Cárpatos durante movimentos sazonais ou para o comércio. No século II d.C., os alanos haviam conquistado as estepes do norte do Cáucaso e da área norte do Mar Negro e criado uma poderosa confederação de tribos sob seu domínio. Sob a hegemonia dos alanos, uma rota comercial ligava a estepe pôntica, os Urais do sul e a região atualmente conhecida como Turquestão Ocidental. Um grupo de alanos, os Antae, migrou para o norte para o território do que é atualmente a Polónia.

A hegemonia dos sármatas nas estepes começou a declinar ao longo dos séculos II e III d.C., quando os hunos conquistaram o território sármata na estepe do Cáspio e na região dos Urais. A supremacia dos sármatas foi finalmente destruída quando os godos germânicos que migravam da região do Mar Báltico conquistaram a estepe pôntica por volta de 200 d.C. Em 375 d.C., os hunos conquistaram a maioria dos alanos que viviam a leste do rio Don, massacraram um número significativo deles e os absorveram em sua política tribal, enquanto os alanos a oeste do Don permaneceram livres da dominação huna. Alguns alanos livres fugiram para as montanhas do Cáucaso, onde participaram da etnogénese de populações, incluindo os ossetas e os cabardianos, e outros grupos alanos sobreviveram na Crimeia. Outros migraram para a Europa Central e depois Ocidental, de onde alguns deles foram para a Península Ibérica.

Ataces, lendário rei dos alanos, fundou a cidade de Coimbra e Alenquer, segundo os estudiosos, deve o seu nome à expressão "Alan Ker" que significa "Templos dos alanos". Chegado à Península, Ataces, rei dos alanos, cujo estandarte ostentava um leão, instalou-se no alto da colina a Norte do Mondego, por onde atualmente se estende a cidade de Coimbra. A vontade de aumentar os seus domínios levou-o a confrontos sangrentos com o rei suevo Hermenerico, senhor de Conímbriga, em cuja bandeira ondeava uma serpente.


Existem alguns vestígios dos alanos em Portugal, nomeadamente em Alenquer, cujo nome pode ser germânico para o Templo dos Alanos, de "Alan Kerk", e cujo castelo pode ter sido estabelecido por eles; o Alaunt ainda está representado no brasão daquela cidade. Os alanos ficaram conhecidos em retrospectiva por sua caça maciça e luta correndo cães, o Alaunt, que eles aparentemente introduziram na Europa. A raça está extinta, mas o seu nome é carregado por uma raça espanhola de cão ainda chamada Alano, tradicionalmente usada na caça ao javali e pastoreio. O nome Alano, no entanto, tem sido historicamente usado para uma série de raças de cães em alguns países europeus que se pensa descender do cão original dos alanos. A localidade continua a ser protegida pelo "cão alano", representado no seu brasão. A raça do "cão alano", famoso pelas suas qualidades de caça e combate, foi trazida para a Península pelos alanos, não se tendo conservado no Cáucaso, mas continuando hoje a ser utilizada na caça e pastoreio no País Basco.

Os alanos falavam uma língua iraniana oriental, e que, por sua vez, evoluiu para a língua osseta moderna. O nome "Fátima" é muito comum no Irão. É comumente associado à filha do Profeta Maomé, Fátima Zahra, que é altamente reverenciada no islão xiita. Fátima Zahra é considerada uma figura muito importante na cultura e na história islâmica, e o seu nome é amplamente usado. Num depoimento feito por uma 
Fátima, uma osseta residente em Moscovo, diz que há já vários anos que vai passar férias com a família a Portugal, dado que conhece a história do fenómeno religioso de Fátima, e da passagem dos alanos, que considera seus antepassados, por essa região de Portugal.

Em 418 (ou 426 de acordo com alguns autores, o rei alano, Attaces, foi morto em batalha contra os visigodos, e este ramo dos alanos posteriormente apelou ao rei vândalo Gunderic para aceitar a coroa alana. A identidade étnica separada dos alanos de Respendial se dissolveu. Embora alguns desses alanos tenham permanecido na Península Ibérica, a maioria foi para o norte da África com os vândalos em 429. 
A presença dos alanos na Península não foi muito longa e acabaram por dirigir para o Norte de África. Destino diferente teve o seu cão, que permaneceu entre nós, deu origem a novas raças e foi pai de outras que chegaram ao Novo Mundo pelas mãos dos espanhóis, cães que foram aplicar a sua terrível força de mordedura nos nativos das Américas.

domingo, 21 de abril de 2024

As minas da Borralha e a história do volfrâmio


A aldeia das Minas da Borralha faz parte da freguesia de Salto, concelho de Montalegre, e foi durante várias décadas o principal polo empregador e populacional de Montalegre. A mina de volfrâmio funcionou de 1902 a 1986 chegando a albergar cerca de 5.000 pessoas. Em 2011, segundo o censo tinha 243 habitantes.




O antigo couto mineiro da Borralha circunscrevia-se às freguesias de Salto e Venda Nova e ainda à freguesia de Campos, já no concelho de Vieira do Minho, sendo composto por 36 concessões, num total de cerca de 1788 hectares de território. Dessas concessões, 28 eram de volfrâmio e estanho, dez de estanho e dois de volfrâmio, cobre, prata. Estas minas empregaram milhares de pessoas, transformaram e dinamizaram o local, dando-lhe visibilidade a nível nacional e internacional.




A história conta-se brevemente da seguinte maneira: o nome da localidade teve origem em Domingos Borralha que, em 1900, foi trabalhar para as minas de Coelhoso (Bragança) onde comentou junto de um engenheiro francês que, no lugar onde vivia, existiam muitas pedras iguais às que ali eram exploradas e que as usavam para atirar às cabras e construir muros. O francês foi confirmar e registou a concessão em 1902. No primeiro ano, só à superfície, a Borralha, rendeu 70 toneladas de volfrâmio, no ano seguinte, já com algumas perfurações rendeu 170 toneladas.




O auge da exploração foi nas décadas de 30, 40, 50 do século XX, na altura da II Guerra Mundial e da Guerra da Coreia com o couto mineiro com 2.000 hectares. Para além dos mineiros, à volta das minas havia ainda os apanhadores com um pico de pedreiro que tinham uma licença especial da empresa e podiam explorar o volfrâmio sempre a céu aberto com a condição de, no final do dia vender tudo à companhia, e os farristas que eram contrabandistas. As minas tiveram dois períodos de paragem (1944/46 e 1958/62). Depois de anos de abandono, a Câmara de Montalegre deu início à recuperação do património das Minas da Borralha, onde já investiu mais de dois milhões de euros. As minas vieram a fechar em 1986.




Portugal, no tempo da 2ª Grande Guerra, jogou um pau de dois bicos com a sua neutralidade, o que deu azo a Salazar para vender com toda a tranquilidade aos alemães o tão precioso tungsténio, matéria-prima essencial para o fabrico do material bélico. Como as quase constantes referências ao tungsténio no diário de Salazar confirmam, para Portugal esse era o único grande problema da guerra. Ao longo dos anos, Salazar perdeu mais noites de sono por causa do tungsténio do que por qualquer outra coisa. As negociações em torno do tungsténio também dominaram a vida de diplomatas ingleses, alemães e americanos estacionados em Lisboa durante a guerra.




Como os ingleses, os alemães usavam a técnica da persuasão. Para os ingleses eram os ataques alemães aos navios portugueses, como o afundamento do navio português Corte Real, em 1941. Para os alemães era um acordo que incluía o fornecimento a Portugal de armamento e outros suprimentos vitais a taxas favoráveis.




À medida que crescia a demanda pelos limitados depósitos de volfrâmio, o aumento do preço o acompanhava. Em meados de 1941, o preço estava por volta de 1.250 libras por tonelada, mas, no final do mesmo ano, havia subido para estonteantes 6 mil libras a tonelada. Isso foi uma oportunidade para muita gente tentar enriquecer. Já parecia a corrida ao ouro nos Estados Unidos no século XIX. Houve histórias de gente que largou o seu emprego, e lavradores que abandonaram o cultivo das suas terras para se juntar ao lucrativo negócio da mineração. Em uma hora, podia-se ganhar o salário de uma semana se fosse encontrado um filão.

Mas eles não sabiam realmente como gastar, ou investir, a sua inesperada sorte. Ouviam-se histórias de aldeões em áreas de mineração acendendo cigarros com notas de um conto de reis. Agentes de ambos os lados na guerra que tentavam comprar volfrâmio nas aldeias deparavam-se com fraudes e trapaças, e o termo “volframista” – significando aquele que se aproveitava da guerra – entrou para o vocabulário português. A crise em Timor começou no início de novembro de 1941, quando o embaixador português em Londres, Armindo Monteiro, informou ao secretário das Relações Exteriores britânico, Anthony Eden, no dia 4 de novembro, que Portugal resistiria a qualquer ataque japonês a Timor. E acrescentou que, no caso de um ataque, Portugal consideraria pedir ajuda militar aos ingleses.




Em 1942, Portugal passou de um dia para o outro a ser o único grande fornecedor europeu de volfrâmio. Desde que a invasão da União Soviética fora desencadeada pelos alemães, os suprimentos de tungsténio do Oriente haviam sido quase totalmente cortados. Berlim confiava em Portugal e, em menor grau, na Espanha, para suprir todas as suas exigências. De 1941 em diante, a Alemanha esforçou-se ao máximo para garantir reservas de tungsténio por meios legítimos e ilegítimos. Suas Forças Armadas, serviços diplomáticos e agências de inteligência estavam todos envolvidos no esforço para garantir tungsténio adicional. Salazar não podia tolerar um setor desregulado. Durante meses, ele havia recebido queixas do setor agrícola sobre perda de mão de obra para a exploração do volfrâmio. Isso causou um impacto muito negativo na lavoura. 

Em fevereiro de 1942, Salazar decidiu montar um novo sistema de restrições ao comércio do volfrâmio. 
Definiu o preço em 150 escudos o quilo. O governo introduziu também multas pesadas para quem se envolvesse na extração e exportação ilegal do minério. Essa efetiva nacionalização do setor encerrou a era da corrida ao maná, e permitiu a Salazar entregar minério aos alemães, como parte de um acordo feito com Berlim. Subsequentemente, a Alemanha pôde utilizar a “abordagem da cenoura” com Portugal aumentando o comércio com Lisboa. A participação de Berlim nas exportações portuguesas aumentou de 19,02%, em 1941, para 24,35%, em 1942. Além disso, as importações portuguesas da Alemanha aumentaram de 8,08%, em 1941, para 12,62%, em 1942. Esse comércio tornou-se extremamente lucrativo para Portugal, que havia prometido não ganhar dinheiro com a guerra. Os ingleses, e os americanos depois de entrarem na guerra, não ficaram nada impressionados com a atitude de Salazar em relação ao comércio do volfrâmio. 




A defesa de Salazar foi ao mesmo tempo simples e complicada. Ele argumentou que, devido à demanda alemã por tungstênio português (especialmente depois de 1941), não lhe restavam outras opções, a não ser assinar uma série de acordos para suprir Berlim com o material de que precisava para manter em andamento seu esforço de guerra. Se Portugal se recusasse a vender para os alemães, havia uma forte possibilidade de que eles invadissem Portugal (e Espanha) a fim de garantir suprimentos devido à importância do tungsténio para Berlim.


sábado, 20 de abril de 2024

A ascensão de Guilherme III ao trono inglês após a Revolução Gloriosa de 1688



A Revolução Gloriosa foi um movimento contra o poder absolutista de Jaime II. Ao fortalecer os católicos, o rei entrou em confronto com o Parlamento, que defendia a formação de uma monarquia constitucional e praticante do puritanismo, ou seja, da religião calvinista. Isso levou à deposição do rei Jaime II, o qual foi substituído por sua filha Maria II e seu marido, Guilherme III de Orange que era o governante de facto da República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos.

Há literatura dos tempos que antecederam este acontecimento na Grã-Bretanha que nos pode enquadrar o contexto das guerras religiosas no seio da Cristandade que levou ao cisma entre católicos e protestantes. Há por exemplo os relatos diarísticos de um tal 
Samuel Pepys, funcionário público. Manteve um Diário entre 1660 a 1669, oferecendo um relato detalhado da vida na Inglaterra durante esse período, incluindo eventos históricos importantes como o Grande Incêndio de Londres e a Peste Negra. Seu diário é uma fonte valiosa para historiadores e oferece insights fascinantes sobre a vida quotidiana na época.



A coroação de Guilherme III e Maria, por Charles Rochussen

Durante o que ficou conhecido como a Conspiração de Assassínio de Rye House, em 1683, houve uma tentativa de assassinar Guilherme III de Orange e o seu tio, o rei Carlos II. A conspiração foi liderada por alguns nobres dissidentes, e embora não tenha sido bem-sucedida, levou a uma repressão significativa contra os opositores políticos. Esses eventos contribuíram para o clima político tenso que eventualmente culminou na Revolução Gloriosa de 1688.

Foi no decurso da Revolução Gloriosa de 1688 que Guilherme de Orange se achou na legitimidade para assumir o trono inglês. Ainda assim, Guilherme de Orange, durante a Revolução Gloriosa de 1688, chegou a ameaçar regressar à Holanda se Jaime II não abdicasse, e no seu lugar fosse ele, e a sua mulher Maria, entronizados como monarcas da Inglaterra. Isso mostra como a sua ascensão ao trono foi influenciada por uma combinação de apoio interno e pressão externa.

Fosse como fosse, em todo o caso Jaime II tinha o apoio de Luís XIV, o tal Rei Sol Absoluto da França. E Luís XIV tudo tentou para manter Jaime II no trono inglês durante a Revolução Gloriosa de 1688. Luís XIV, que tinha interesses políticos e religiosos na Europa, viu Jaime como um aliado contra o crescente poder dos protestantes na Europa. Ele forneceu apoio militar e financeiro a Jaime, o que complicou a situação para os opositores de Jaime na Inglaterra. Mas quando Guilherme entrou em Londres, Jaime escapou para a França.

A ascensão de Guilherme III ao trono inglês após a Revolução Gloriosa de 1688 é frequentemente vista como um ponto de viragem na história da Inglaterra. Sua liderança trouxe estabilidade política e religiosa ao país, encerrando décadas de conflitos religiosos, o que fortaleceu as instituições parlamentares. Seu reinado é muitas vezes associado a um período de estabilidade e progresso na Inglaterra, embora os termos pronunciados pela frase "resolver a paralisia do país" seja uma simplificação, já que muitos desafios ainda persistiam.

Há uma personalidade científica que ocupava a cátedra de Cambridge, nada mais nada menos que o Senhor Isaac Newton que viria a ficar ligado ao salvamento da Libra Inglesa. Não é comum nos livros de História da Ciência vermos o Senhor Isaac Newton associado à gestão da moeda em Londres. Mas Newton, realmente, teve um papel significativo nesse campo. Newton foi nomeado Mestre da Casa da Moeda Real em 1696, e serviu nesse cargo até à sua morte em 1727. Durante esse tempo, ele supervisionou a reforma do sistema monetário inglês, ajudando a combater a falsificação de moeda, o que conduziu à estabilidade da moeda. Sua contribuição foi crucial para o desenvolvimento económico e financeiro da Inglaterra nessa época época.

Em agosto de 1689, durante as Guerras Jacobitas, ocorreu a Batalha de Dunkeld, na Escócia. Nessa batalha, as forças jacobitas, leais a Jaime II, enfrentaram as forças do governo, que apoiavam Guilherme III. A revolta escocesa, liderada por John Graham, Visconde de Dundee, foi derrotada pelas forças governamentais, o que consolidou o controlo de Guilherme III sobre a Escócia. Tal facto acabou por fortalecer ainda mais a sua posição na disputa pelo trono inglês.



Maria II, rainha de Inglaterra, Escócia e Irlanda

O Massacre de Glencoe, que ocorreu em 13 de fevereiro de 1692 no vale de Glencoe, na Escócia, não deixa de manchar a imagem de Guilherme III. Houve depois, no entanto, uma tentativa de reconciliação com os clãs jacobitas. O chefe do clã MacDonald de Glencoe, Alasdair MacIain, não havia prestado juramento de lealdade dentro do prazo estabelecido. Como resultado, as tropas do governo, lideradas pelo capitão Robert Campbell, foram enviadas para a região. Os soldados foram hospedados pelos MacDonalds por cerca de duas semanas, antes de receberem ordens para atacar. Na manhã de 13 de fevereiro 1692 as tropas atacaram, resultando na morte de cerca de 38 homens do clã, mulheres e crianças também morreram, e muitos outros fugiram para uma região que naquela época do ano estava gelada. O Massacre de Glencoe tornou-se infame devido à quebra da hospitalidade escocesa e às circunstâncias cruéis em que ocorreu.

Os jacobitas eram seguidores da dinastia Stuart, que lutaram para restaurar os monarcas católicos da Casa de Stuart no trono britânico após a Revolução Gloriosa de 1688. O termo "jacobita" deriva do latim "Jacobus", que significa "Jaime". Os jacobitas eram predominantemente católicos, ou simpatizantes da causa católica, que se opunham à supremacia protestante estabelecida na Grã-Bretanha. Eles realizaram várias rebeliões e levantamentos na Escócia e na Irlanda, buscando restaurar os Stuarts no trono britânico.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

O furor nos tempos da depressão entre as duas grandes guerras


Tal como nos anos 20 e 30 do século XX, poucas pessoas do dito “povo” se preocupam. Naquele tempo, em toda a Europa, bares, estádios de futebol, salões de baile e cinemas ficavam apinhados. Ainda se fazia a catarse da Depressão, da Guerra de 14-18, e da pandemia da gripe pneumónica. As pessoas procuravam aquilo que fizesse a vida valer a pena. Queriam divertir, procurando o que pudesse tornar a sua existência mais tolerável.




O que as pessoas mais queriam era entretenimento, e não intelectuais com palavreado a saber a “alta cultura”. A disseminação do entretenimento de massas já tinha feito enormes progressos durante a década de 1920, mas ainda não era o grande negócio que se tornaria em breve. Os progressos tecnológicos foram uma das principais causas, com a rádio e os discos de música no topo da moda. Milhões de pessoas, no mesmo instante, na sua privacidade, ouviam os seus artistas prediletos.

A maior parte dos impulsos e das inovações vinha dos Estados Unidos. O país representava tudo o que era novo, vibrante e excitante para milhões, sobretudo para os jovens da Europa Ocidental. A música popular e o cinema eram as forças mais dinâmicas. A Inglaterra, tendo a mesma língua e fortes laços culturais com os Estados Unidos, era mais aberta que qualquer outro país à influência americana (ainda que na década de 1930 tenham sido impostas barreiras para evitar que músicos britânicos ficassem sem trabalho, substituídos por talentos americanos importados). Os jovens se apressavam a abraçar as novidades. Tentativas de deter a maré estavam fadadas ao fracasso. O consumismo em expansão acarretou uma demanda insaciável por tudo o que os novos meios de comunicação cultural tinham a oferecer.




Com a amplificação, os cantores já não precisavam ter vozes poderosas. Podiam empunhar o microfone em vez de projetar a voz à distância e obter um som muito melhor do que poucos anos antes. O primeiro da música popular, cuja fama cruzou o Atlântico na década de 1930, foi Bing Crosby. O mesmo ocorreu com Frank Sinatra poucos anos depois. Cantores europeus também ganharam enorme popularidade, que na maior parte das vezes se limitava a seu próprio país. As cantoras também ganharam renome em seus próprios países e às vezes fora deles. Édith Piaf, “o pequeno pardal”, que começou a trilhar o caminho do estrelato em meados da década de 1930, em poucos anos era a mais conhecida artista popular da França (e, nos anos seguintes, uma celebridade internacional).




A guerra e a rádio como entretenimento para os soldados produziram suas próprias estrelas. Vera Lynn, já bem conhecida, no fim da década de 1930, pela rádio e por seus discos, como vocalista de algumas das mais conhecidas orquestras dançantes da Inglaterra, foi apelidada de “Namorada das Forças Armadas”. Dificilmente se encontraria um soldado britânico que não conhecesse seu maior sucesso, “We’ll Meet Again”, música em perfeita sintonia com a época. “Lili Marlene”, na voz de Lale Andersen, embora não apreciada pelos oficiais nazis, tornou-se a favorita da Wehrmacht e, extraordinariamente, cruzou as linhas e tornou-se sucesso também entre os soldados Aliados na versão em inglês, cantada por Marlene Dietrich.




O novo som das big bands nasceu também nos Estados Unidos, com o sucesso da Paul Whiteman Orchestra na década de 1920 (dando a Bing Crosby a sua primeira grande oportunidade como cantor). Havia também algumas bandas importantes integradas por músicos negros, como a de Fletcher Henderson. Mas os negros ainda eram discriminados no mercado. Alguns dos maiores intérpretes de jazz, como o trompetista Louis Armstrong, que ganhou fama com as bandas Hot Five e Hot Seven, na década de 1920, adaptaram-se às novas tendências e tornaram-se astros das novas bandas antes de ter as suas próprias. Na década de 1930, quando o sucesso que fazia em seu próprio país, embora digno de nota, ainda era limitado pelo preconceito racial, que vedava aos artistas negros os contratos mais polpudos, Armstrong conquistou grande aclamação popular na Europa.




Duke Ellington, o mais complexo e inovador de todos os primeiros “reis do jazz”, viveu algo parecido quando sua banda tocou no London Palladium, em 1933 — “os aplausos foram magníficos, era aplauso em cima de aplauso”, comentou ele. Seis anos depois, sua segunda turnê europeia chegou ao clímax em Estocolmo, em abril de 1939, com muita festa de seus fãs suecos por seu quadragésimo aniversário. No entanto, até mesmo Armstrong e Ellington estavam perdendo terreno para novas tendências da música popular, cuja nova febre era o swing. O expoente máximo (e maior beneficiário) dessa transição foi Benny Goodman, cujo pai tinha fugido do terror antissemita na Rússia para os Estados Unidos. Goodman, apelidado “Rei do Swing”, era um excelente clarinetista cuja banda tocava uma versão autêntica do jazz, beneficiada por arranjos de Fletcher Henderson (que, como muitos outros músicos negros de destaque, tinha vivido tempos difíceis durante a Depressão). Mas Goodman tinha muitos imitadores menos inovadores e menos talentosos. Eles transformaram o swing basicamente em música para dançar, explorando o filão do “furor dançante” que tomou conta de grande parte da Europa na década de 1930.




Na Alemanha nazi, no entanto, o swing, como o jazz, eram considerados “música de negros”. No entanto, o que o regime podia fazer era eliminar artistas populares que não se encaixassem em seus critérios de pureza racial. Entre eles estava o famoso artista de cabaré Fritz Grünbaum, judeu que tentou fugir da Áustria imediatamente depois do Anschluss, em 1938, mas foi barrado na fronteira checa. Ele foi mandado para o campo de concentração de Buchenwald e para o de Dachau, onde morreu em 1941. Fritz Löhner-Beda, também judeu e originário da Boémia, libretista famoso que tinha trabalhado em musicais e operetas com Franz Lehár, entre outros, foi preso em Viena depois do Anschluss, enviado a Dachau, depois a Buchenwald e, por fim, em 1942, a Auschwitz. Foi espancado até à morte no complexo industrial anexo, Monowitz. Ralf Erwin, judeu nascido na Silésia, compositor mais conhecido pela canção “Ich küsse Ihre Hand, Madame” [Beijo sua mão, madame] — famosa na voz do tenor Richard Tauber —, fugiu da Alemanha na época da ascensão do nazismo ao poder, em 1933. Foi capturado na França durante a ocupação e morreu num campo em 1943. No âmbito do entretenimento popular, como em muitas outras áreas da vida cultural, os nazis empobreceram grotescamente a Alemanha com suas políticas raciais absurdas e truculentas.



Com tantos jovens convocados para o serviço militar, os dias de glória do swing e das orquestras começaram a desaparecer. Os salões enfrentavam dificuldades óbvias, Muitas bandas interromperam suas atividades porque seus membros tinham sido convocados. Alguns continuavam tocando mesmo de farda, mas outros já não podiam fazer o mesmo. Muitos foram mortos em ação. Glenn Miller, renomado líder da orquestra americana da Força Expedicionária Aliada, que reunia 48 músicos, morreu em dezembro de 1944 no Canal da Mancha, quando o avião que o transportava da Inglaterra para a França, onde se apresentaria para soldados franceses, desapareceu. 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Jürgen Habermas



O filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas foi confrontado enquanto adolescente com a história viva do nacional-socialismo; a experiência da desumanidade coletiva do seu país marcou-o definitivamente. Compreender a possibilidade dessa experiência tão radicalmente distinta dos ideais de liberdade, justiça e autonomia da tradição de Kant, Hegel e Marx, mas acontecida precisamente na mesma cultura, impôs-se-lhe como desafio incontornável. A discussão entre Habermas e John Rawls sobre concepções de democracia (deliberativa, procedimental, etc.) é um produtivo ponto de abordagem desta questão na filosofia política contemporânea.

Sem deixar de considerar o pessimismo civilizacional expresso pela geração da Escola de Frankfurt anterior à sua, Habermas procura responder-lhe. Para ele, o projeto do Iluminismo não está morto. No núcleo do seu trabalho está a elaboração de uma teoria da democracia para o nosso tempo, bem como uma causa: mostrar que este projeto não é um projeto ingénuo. É esta causa que está por trás de importantes polémicas teóricas que trava nos finais do século XX com filósofos franceses como Jean-François Lyotard ou Jacques Derrida. Quando no pensamento francês esta ideia já se tinha tornado ultrapassada, Habermas não deixa nunca cair a ideia de emancipação. Habermas estudou em Göttingen, Zurique, Bona e Frankfurt. Escreveu a sua tese de doutoramento sobre Schelling (1954) e a tese de Habilitation sobre a esfera pública (1962) — um tema que, aliado ao da racionalidade comunicacional, estruturará todo o seu pensamento. A tese de Habilitation de Habermas será terminada em Marburgo devido a um desentendimento com Horkheimer.

Ao longo da sua muito produtiva vida académica, ensinou entre a Alemanha e Nova Iorque, na New School for Social Research. Algumas das suas obras fundamentais são Conhecimento e Interesse (Erkenntnis und Interesse, 1968), Técnica e Ciência como «Ideologia» (Technik und Wissenschaft als «Ideologie», 1968), Teoria da Ação Comunicacional (Theorie des kommunikativen Handelns, 1981), O Discurso Filosófico da Modernidade (Der Philosophische Diskurs der Moderne, 1985) e Faktizität und Geltung: Beiträge zur Diskurstheorie des Rechts und des demokratischen Rechtsstaats (Entre Factos e Normas: Contribuições para Uma Teoria Discursiva do Direito e da Democracia, 1992). Publicou também bastante, mais recentemente, sobre democracia, bem como sobre a Europa e a União Europeia, e sobre as relações entre naturalismo e religião em diálogo com o ainda cardeal Ratzinger, que viria a ser o Papa Bento XVI.

O Discurso Filosófico da Modernidade é uma meditação sobre a história da filosofia contemporânea, com a tradição alemã no seu núcleo, e do ponto de vista filosófico talvez a mais fascinante das suas obras.Isto quer dizer que a visão que Habermas tem da filosofia contemporânea não considera o nascimento da filosofia analítica nos autores de língua alemã - Frege, menos considerado pelo seu recato avesso a protagonismos, ainda que Bertrand Russel o tenha relevado para grande plano; e Wittgenstein, que ao contrário de Frege deu muito que falar com a sua excentricidade quase mística. Habermas é um leitor do que melhor se faz da filosofia analítica em inglês, mais no âmbito da filosofia da linguagem e da filosofia política. Nada disso é tradição em língua alemã. 

Para Habermas, do núcleo da tradição alemã, tem muito respeito pelo grande triunvirato - Kant; Hegel; Marx. O filósofo alemão com quem Habermas se envolveu em polémica foi Dieter Henricha, propósito da famigerada Metafísica tão delapidada por Heidegger e seus epígonos. Não deixa de ser interessante contrastar as ideias habermasianas com o grande paladino da Fenomenologia Alemã - Edmund Husserl, com o regresso às formas de vida, elas próprias.

Ora, concentrando todo o discurso da Modernidade que já vinha pensada de Kant e Hegel, à qual Marx lhe pregou um bom acrescento com a sua historicidade, assim Habermas se filiou no outro triunvirato que deu a chancela da Escola de Frankfurt - Horkheimer, Benjamin e Adorno. Habermas tornou-se muito crítico dos pensadores franceses que se extraviaram no apelidado pensamento pós-moderno, com Foucault e Derrida à cabeça, sem negligenciar a dupla dos patronos: Nietzsche e Heidegger.

Portanto, o Discurso Filosófico da Modernidade tem como ponto central a sua teoria: Da Ação Comunicacional. Esta aparece como fundamentação de um projeto iluminista e democrático, superando a filosofia da consciência husserliana, mas não através de qualquer relativismo pós-modernista. Do ponto de vista teórico, o próprio Habermas considera que ultrapassar a ligação existente entre uma determinada linhagem de crítica social e a filosofia do sujeito é uma precondição da crítica social. É através da Teoria da Ação Comunicacional que pretende levar a cabo uma crítica da razão centrada no sujeito. Esta é a raiz da ligação do pensamento de Habermas à teoria da linguagem. 

Em termos de teoria social, Habermas pretende também substituir, no lugar fundamental que esta ocupava, a categoria marxista do trabalho pela categoria da comunicação. Para a teoria da ação comunicacional, Habermas nas suas ligações com os analíticos ingleses foi buscar inspiração aos diversos estudos sobre a linguagem, nomeadamente aos atos de fala de J. L. Austin e John Searle. Habermas pretende pôr em relevo o potencial ético e crítico desta abordagem da linguagem; a sua ideia central é a de uma pragmática universal também inspirada em Kant.

A competência comunicacional representa assim uma possibilidade de acordo subjacente a toda a interação humana. A ação comunicacional é o nome da ação social coordenada através de atos de fala, nos quais e pelos quais os falantes pretendem a verdade, retidão e sinceridade. A partir da perspectiva pragmática, torna-se claro o envolvimento de tais pretensões de validade no entendimento linguístico. É uma teoria da linguagem apoiada na racionalidade. Os falantes têm de se envolver em modos de comportamento para os quais existem boas razões para a construção de uma sociedade plena de valores democráticos. E isso faz-se através do entendimento intersubjetivo. É por assim dizer uma ética discursiva, de linhagem kantiana, que conduz a uma teoria social e política da modernidade, uma teoria fundamentadora, racionalista e universalista.

Contrariando o pendor pessimista de anteriores autores da Escola de Frankfurt como Adorno e Horkheimer, Habermas pretende recuperar o potencial emancipador e universalista do projeto civilizacional da modernidade e mostrar que a razão instrumental não tem o papel totalmente dominante nas sociedades contemporâneas que as críticas pessimistas lhe atribuem. Ele pensa que o diagnóstico de Adorno e Horkheimer (o diagnóstico do carácter totalitário, monolítico, da razão instrumental) é excessivo e esquece um outro tipo de racionalidade, em ação também ele nas sociedades contemporâneas, a que chama racionalidade comunicacional, e que vê como orientada não para a manipulação e reificação de todas as realidades naturais e sociais, mas sim para o entendimento mútuo e a ação consensual. Esta diferença é o que lhe permite articular a sua resposta aos críticos e adversários da civilização europeia com o epíteto de "O Ocidente".

terça-feira, 16 de abril de 2024

Mahmūd Hotak



Eu, numa conversa com o ChatGPT, perguntei: 

Mahmud Hotak foi apoiado por 15 mil afegãos armados com zamburaks?

ChatGPT - Na verdade, o Império Safávida do Irão desintegrou-se em 1722 devido à invasão afegã liderada por Mahmud Hotak, que capturou Isfahan, a capital safávida, e depôs o último xá safávida, Sultan Husayn. Isso marcou o fim do domínio safávida sobre o Irão. Mahmud Hotak foi um líder afegão do século XVIII que liderou um movimento de resistência contra a dinastia safávida no Afeganistão. Seus seguidores eram conhecidos por utilizar zamburaks, armas de fogo montadas em camelos, que eram eficazes em ataques rápidos e guerrilha. O apoio de 15 mil afegãos armados com zamburaks certamente teria sido significativo em suas campanhas militares.

As tribos Ghilzai pashtun sunitas odiavam os safávidas xiitas?

ChatGPT - Sim, isso é correto. As tribos Ghilzai, que eram predominantemente pashtuns e sunitas, tinham uma longa história de rivalidade e conflito com os safávidas, que eram xiitas. Essa divisão étnica e religiosa contribuiu para a animosidade entre os dois grupos e foi um dos fatores que impulsionaram o apoio dos Ghilzai a líderes como Mahmud Hotak em sua luta contra os safávidas.




Shāh Mahmūd Hotak, [1697-1725] foi o governante da dinastia Hotak que derrubou a dinastia Safávida para se tornar o rei do Irão de 1722 até à sua morte em 1725. Mahmud era o filho mais velho de Mirwais Hotak, o chefe da tribo Ghilzai Pashtun do Afeganistão, que havia tornado a região de Kandahar, que era independente do domínio safávida em 1709. Mirwais quando morreu, em 1715, foi sucedido pelo irmão, Abdul Aziz. Abdul Aziz participou ao lado dos persas, o que o fez reentrar na suserania do Irão safávida. Tal situação foi muito impopular entre os afegãos.

Mahmud, vendo que as conquistas de seu pai, Mirwais Hotak, tinham sido alienadas, reuniu muitos de seus seguidores leais e entrou no palácio real. O próprio Mahmud Hotak matou Abdul Aziz, o que o fez subir ao trono dos Hotaks aos 18 anos. Mahmud Hotak, ambicioso, e desejando expandir seus territórios, desencadeou guerra contra os safávidas. Sua primeira campanha foi em 1720, marchando para Kerman.

Depois de derrotar o Sultanato de Herat, em 1720, preparou de seguida nova campanha contra os safávidas. Em 1722, Mahmud reuniu 20.000 homens e dirigiu-se para Isfahan. Os persas e afegãos se encontraram na Batalha de Gulnabad, em 8 de março de 1722. Apesar de estar em menor número, e mal equipado, o exército persa foi derrotado, e os afegãos avançaram sobre Isfahan. Sultan Husayn, acompanhado de seus cortesãos e oficiais, foi para Farahabad, onde os afegãos estavam acampados. Husayn removeu a coroa e a colocou no turbante de Mahmud, que era doravante o Xá.

Nos primeiros dias de seu governo, Mahmud demonstrou benevolência, tratando bem a família real capturada e supriu de alimentos a capital faminta. Mas foi confrontado com um pretendente rival ao trono: o filho de Husayn - Tahmasp. Mahmud enviou um exército, mas Tahmasp escapou. Os pashtuns tomaram a cidade. Mas a população levantou-se contra eles em janeiro de 1723. A revolta foi um sucesso.

Mahmud convocou os ministros e nobres persas para uma reunião. Mas, sob falsos pretextos, mandou matá-los. Cerca de 3.000 dos guardas reais persas foram executados. Ao mesmo tempo, os arquirrivais otomanos e russos aproveitaram o caos para tomar terras para si, limitando a extensão do território sob o controlo de Mahmud.

Muitas tribos pashtun preferiam Ashraf Khan. Em fevereiro de 1725, acreditando num rumor de que um dos filhos de Sultan Husayn - Safi Mirza -, havia escapado, Mahmud ordenou a execução de todos os outros príncipes safávidas que estavam em suas mãos, com exceção do próprio Sultan Husayn. Em 22 de abril de 1725, um grupo de oficiais afegãos libertou Ashraf Hotak, que se encontrava preso por ordem de Mahmud. E por um golpe palaciano Ashraf Khan foi colocado no trono. Mahmud foi assassinado. 



Mahmud Hotak

Os Safávidas recrutaram soldados georgianos?

ChatGPT - Sim, os Safávidas recrutaram soldados georgianos para fazerem parte de seu exército. A Geórgia estava localizada numa região estratégica e era frequentemente alvo de invasões e conflitos entre diferentes impérios e dinastias da região. Os Safávidas, como muitos outros governantes da região, buscavam fortalecer seu exército recrutando guerreiros georgianos, conhecidos por sua habilidade e ferocidade em combate.

Os georgianos eram governados por reis Bagrationi

ChatGPT - Sim, os georgianos eram governados pela dinastia Bagrationi (também conhecida como Bragation), que reinou na Geórgia por séculos. A dinastia Bagrationi foi uma das mais antigas e influentes da Geórgia, com raízes que remontam ao século VIII. Eles desempenharam um papel crucial na história e na política da Geórgia, incluindo períodos de unificação e fragmentação do reino georgiano.

Um dos reis Bagrationi era Jorge

ChatGPT - Não há registos históricos de um rei Bagrationi chamado Jorge. No entanto, a dinastia Bagrationi teve muitos reis ao longo de sua história, incluindo alguns chamados Giorgi, na forma georgiana. Um dos mais conhecidos foi Jorge XI, que reinou no século XIII. Ele foi um dos últimos governantes antes da invasão mongol e desempenhou um papel importante na história da Geórgia medieval.

Jorge, um duro paladino, converteu-se ao islão com o nome de Gurgin KhanEstou a referir-me a Gurgin Khan em Kandahar

ChatGPT - Ah, entendi. Você está se referindo a Gurgin Khan, que foi um líder militar georgiano que se converteu ao Islão e assumiu o comando na região de Kandahar, no Afeganistão, durante o século XVII. Ele foi originalmente conhecido como Jorge XI da Geórgia antes de se converter e adotar o nome Gurgin Khan. Sua conversão ao Islão e a sua liderança em Kandahar são eventos históricos bem documentados.

Nessa altura havia um rei que governava o Afeganistão e a Geórgia. Quem era ele?

ChatGPT - Na época, o líder que governava tanto o Afeganistão quanto a Geórgia era Shah Abbas I, que foi o monarca da dinastia safávida no Irão. Embora ele não tenha governado diretamente o Afeganistão e a Geórgia, sua influência se estendia a essas regiões por meio de governadores e aliados. Shah Abbas I foi um dos líderes mais poderosos do mundo islâmico durante o início do século XVII e desempenhou um papel significativo na política e na história da região.

E o rei Jorge governava o quê?

ChatGPT - O rei Jorge, conhecido como Jorge XI da Geórgia, governava o Reino da Geórgia, um país localizado na região do Cáucaso, com sua capital em Tbilisi. A Geórgia era um estado independente com sua própria cultura, história e política, e os reis da dinastia Bagrationi governaram a região durante séculos, até à sua anexação pelo Império Russo no século XIX.

O mesmo rei que enviou Mirwais Hotak a Isfahan, certo?

ChatGPT - Não, houve uma confusão de nomes. Mirwais Hotak foi enviado a Isfahan por Gurgin Khan, também conhecido como Shah Hussain Hotak, não pelo rei Jorge XI da Geórgia. Mirwais Hotak foi um líder tribal afegão que desempenhou um papel importante na resistência afegã contra o domínio safávida no século XVIII. Ele foi enviado a Isfahan por Gurgin Khan como representante dos interesses afegãos na corte safávida.

E quem era Mirwais Baba?

ChatGPT - Baba, também conhecido como Mirwais Khan Hotak, foi um líder tribal afegão do século XVII. Ele é mais conhecido por liderar a revolta afegã contra o domínio safávida na região de Kandahar, no atual Afeganistão. Sua revolta foi um dos eventos-chave que levaram à queda do controlo safávida em Kandahar e ao surgimento do domínio dos Hotak na região. Mirwais Baba é considerado um herói nacional no Afeganistão devido à sua resistência e liderança contra as forças safávidas.

E Jorge acabou por ser chacinado?

ChatGPT - Não há registos históricos de um rei Bagrationi chamado Jorge XI sendo chacinado. A dinastia Bagrationi governou a Geórgia por séculos, e houve muitos reis ao longo de sua história. Embora alguns reis tenham enfrentado finais trágicos, como assassinato ou morte em batalha, não há registos específicos de um rei chamado Jorge XI que tenha sido chacinado.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Governança ou governação? Política ou políticas?



Governança e governação - bem como Política e políticas - são conceitos relacionados, mas têm nuances diferentes.

Governança é o processo de tomada de decisão e implementação de políticas por parte das instituições de um país, organização ou sistema. Geralmente, está associada à maneira como o poder é exercido e controlado em uma entidade específica, com foco em transparência, responsabilidade, prestação de contas e participação dos diferentes stakeholders.

Governação é um termo mais amplo que engloba não apenas a estrutura formal de governança, mas também os processos informais, práticas culturais e interações sociais que moldam o funcionamento de uma sociedade ou sistema político. Além das instituições formais, a governação considera também as relações de poder, normas sociais, valores e tradições que influenciam a maneira como as decisões são tomadas e implementadas.

Em resumo, enquanto a governança se concentra nas estruturas formais de poder e controlo, a governação abrange uma gama mais ampla de influências e processos que moldam o funcionamento de uma sociedade ou sistema.

A China hoje é um caso interessante, pois combina elementos de capitalismo e comunismo. Apesar de ter uma economia predominantemente capitalista, ainda mantém um sistema político de partido único comunista. Algumas características que podem ser observadas incluem: Economia Capitalista Controlada pelo Estado.

Embora haja um forte setor privado e empresas multinacionais operando na China, o Estado mantém um controle significativo sobre a economia, com empresas estatais desempenhando um papel crucial em setores chave. O Partido Comunista da China continua a ser a única autoridade política, com um sistema político centralizado que controla todos os aspectos do governo. O Planeamento Económico é Centralizado. Apesar da presença de mercado e investimento estrangeiro, o governo chinês ainda mantém um controlo considerável sobre o planeamento económico e as políticas industriais. 

Enquanto algumas regiões da China desfrutam de um alto padrão de vida e desenvolvimento económico, outras áreas ainda enfrentam desigualdades significativas, o que é contrário à ideia comunista de igualdade. A Ideologia controla o sistema de informação: jornais, televisão e outros órgãos associativos da sociedade civil, que não existe. O governo chinês continua a exercer um controlo rígido sobre os órgãos de comunicação social. A informação é monopolizada pelo governo promovendo uma narrativa comunista, e reprimindo críticas ou ideias consideradas subversivas.

Essas características refletem a complexidade da situação atual da China, onde elementos de capitalismo e comunismo coexistem de maneira que desafiam definições simples. Os políticos que governam de acordo com as opiniões públicas são geralmente considerados como seguindo uma abordagem de governança baseada na democracia representativa. Eles tomam em consideração as opiniões, necessidades e preocupações dos cidadãos ao tomar decisões políticas e implementar políticas públicas. Isso pode ser visto como uma forma de garantir que o governo esteja alinhado com os interesses e valores da sociedade que representa. No entanto, há debates sobre a eficácia e a ética dessa abordagem, especialmente quando as opiniões públicas podem ser influenciadas por desinformação ou manipulação.

Política é o processo pelo qual os indivíduos - grupos que formam uma sociedade, um país, um Estado, uma Nação - tomam decisões e exercem poder para alcançar objetivos comuns que dizem respeito a todos. Isso pode incluir a formulação de leis, a alocação de recursos, a resolução de conflitos e a negociação de interesses diversos.

Políticas são os planos de ação deliberados ou cursos de ação desenvolvidos por governos, organizações ou indivíduos para alcançar objetivos específicos dentro do contexto político mais amplo.
Políticas podem abranger uma ampla gama de áreas, desde políticas económicas e sociais, até políticas de saúde, ambientais e educacionais.

Em resumo, a política refere-se ao processo geral de tomada de decisões e exercício de poder. Por outro lado, as políticas são os planos específicos desenvolvidos e implementados dentro desse processo para alcançar objetivos definidos.


A velocidade dos satélites

 




A velocidade dos satélites no espaço varia, dependendo da sua órbita. Por exemplo, os satélites de baixa órbita, como os usados para comunicações terrestres, geralmente viajam a velocidades entre 7 e 8 Km/segundo, enquanto os satélites geoestacionários, que ficam em órbita fixa sobre a Terra, viajam a cerca de 3 Km/segundo.

Os satélites são movidos principalmente pela força da gravidade da Terra, que os mantém em órbita ao redor do planeta. Uma vez lançados na órbita correta, os satélites continuam a se mover em trajetórias previsíveis devido ao equilíbrio entre a força gravitacional e a velocidade tangencial que adquiriram durante o lançamento. Além disso, alguns satélites podem usar propulsão própria, como motores a jato ou propulsores iónicos, para ajustar a órbita ou manobrar de acordo com as necessidades operacionais.

A gravidade da Terra exerce uma força atrativa sobre os satélites, puxando-os em direção ao centro do planeta. Essa força gravitacional é o que mantém os satélites em órbita ao redor da Terra. Quando um satélite é lançado com velocidade suficiente na direção correta, ele continua a se mover ao longo de uma trajetória curva ao redor da Terra devido à combinação entre a sua velocidade tangencial e a força gravitacional da Terra. Basicamente, a gravidade mantém o satélite em órbita ao puxá-lo em direção à Terra, enquanto a velocidade tangencial o impede de cair diretamente para o planeta.

Para explicar o movimento dos satélites é preciso fazer a experiência mental que Isaac Newton fez no século XVIII. Newton imaginou um canhão no topo de uma montanha apontado na direção paralela à superfície da Terra. Ignorando-se o efeito da atmosfera, o projétil iria até uma certa distância e depois cairia na Terra. Lançando-se o mesmo projétil com velocidade maior, ele cairia a uma distância maior. Aumentando-se cada vez mais a velocidade do projétil, chegaria um ponto em que o projétil já não mais atingiria a superfície do planeta, e descreveria uma órbita circular. Mas isso não significa que a gravidade não está agindo, pois é ela que faz a trajetória ser curva (diz-se que o projétil está em contínua queda livre). Em outras palavras, a gravidade da Terra faz com que a trajetória seja curva e, se a velocidade for suficiente, esta curva nunca atinge a superfície do planeta. Se a velocidade do projétil for ainda maior, ele passará a descrever uma órbita elíptica e, se a velocidade for ainda maior, o projétil escapa da influência da gravidade do planeta.

O cientista alemão Johanes Kepler formulou, no século XVII, as três leis do movimento planetário (Leis de Kepler). A primeira lei, que diz que todos os planetas orbitam o Sol numa trajetória elíptica, sendo que o Sol se localiza em um dos focos dessa elipse, pode ser aplicada aos satélites sendo que o planeta ocupa um dos focos dessa elipse. A segunda lei que diz que uma linha imaginária feita do centro do Sol ao centro do planeta varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais é também aplicada aos satélites artificiais, pois no perigeu a velocidade do satélite é maior e no apogeu a velocidade é menor. E por fim, a terceira lei de Kepler, que afirma que a razão entre os quadrados dos períodos dos planetas é igual à razão dos cubos das distâncias médias ao Sol é obedecida pelos satélites que orbitam planetas ou qualquer objeto celeste.