Parece uma obviedade afirmar, no atual contexto de uma
ordem mundial globalizada, que as sociedades europeias têm muito mais chances
de se viabilizarem, com mais ou menos sucesso, unidas numa União Europeia, do
que fragmentadas nos seus nacionalismos cada um por si. Daí a quantidade de
pessoas apreensivas com o Brexit.
Contudo, afirmar a inevitabilidade de a sociedade
europeia estar destinada a se unir para sobreviver não significa dizer que o
resultado final tinha de ser este, a União Europeia que temos atualmente.
Podemos naturalmente imaginar que podia ser diferente. Porque está a língua
inglesa tão difundida hoje em dia? Não podemos efetuar experiências contra-factuais.
Se quisermos saber como foi o passado, só temos um caminho. Mas se quisermos
saber como será o futuro, temos uma miríade de caminhos. Às vezes a História
segue por atalhos inesperados.
Podemos descrever como é que se chegou a este Brexit. Mas
não se consegue explicar porque foi que este Brexit específico se concretizou.
Há uma diferença entre explicar como e explicar
porquê. Pode-se reconstruir a série de acontecimentos que conduziu a este
ponto. Mas para explicar porquê é preciso descobrir uma quantidade imensa de
razões indeterminadas. Hoje a maioria dos historiadores não acredita nas
teorias deterministas. Quanto mais informação se tenha, quanto mais se conheça,
mais difícil se torna explicar porque aconteceu de uma forma e não de outra.
Em retrospetiva é sempre fácil dar uma explicação ad
hoc. Em História as coisas passam-se assim: as pessoas que vivem os
acontecimentos são aquelas que menos percebem o que se passa, porque o futuro é
insondável. Ao passo que um acontecimento analisado em retrospetiva é mais
fácil de entender, é quase sempre óbvio. Mas esteve longe de ser óbvio para as
pessoas que o vivenciaram.
Não sabemos ainda o desfecho que vai ter a atual
desregulação do clima e da ecologia. Existem bons argumentos para que seja uma
catástrofe, um desastre ecológico. Mas não há certezas. E, todavia, dentro de
algumas décadas, as pessoas vão olhar para trás e não entender como gerações
passadas foram tão imprudentes, acreditando num certo tipo de paraíso
tecnológico, quando era evidente o que está à vista de todos.
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