quinta-feira, 8 de junho de 2023

O mistério da complexidade das sociedades humanas



As sociedades humanas são Sistemas Complexos, agregado de um grande número de elementos, que à medida que interagem entre si se organizam num complexo sistema de movimentos que vão da educação à economia até formarem uma cultura sui generis, com identidade própria que se costuma designar por 'um povo'. 
As suas propriedades fundamentais decorrem de uma emanação que resulta da da interação coletiva de seus múltiplos elementos individuais não apenas no seu interior como também com outros povos circundantes. O desenvolvimento do enquadramento científico destes sistemas só passou a receber uma exata compreensão quando a comunidade científica percebeu que o clássico método reducionista não se adequava às grandes questões das sociedades humanas no seu conjunto diverso. Foi na base desse pressuposto que a corrente dominante da neurociência deu um salto qualitativo nos finais do século XX ao olhar para o funcionamento do cérebro como uma estrutura holista resistente à abordagem reducionista, que dividia o cérebro em regiões individuais com uma alta densidade de neurónios.

Tal como se estuda hoje o nosso cérebro, uma gigantesca comunidade de neurónios articulados entre si numa grande sinfonia, o mesmo se aplica ao estudo das várias expressões da natureza humana ao longo da sua história, desde as pinturas rupestres de nossos antepassados pré-históricos, passando por prodigiosas produções de um Beethoven ou um Einstein, até chegarmos hoje ao expoente tecnológico da ida a Marte e da Inteligência Artificial.  Todo o substrato é o mesmo, a sociedade, a cultura, nada disto existiria sem o nosso cérebro. Nenhum dos inúmeros comportamentos vitais para a sobrevivência e prosperidade da nossa espécie poderia ser resultado de uma única pessoa.

Durante o século XX o mundo teve de lidar com duas guerras mundiais e a chamada “Guerra Fria”, em que durante quase quatro décadas duas superpotências nucleares ditaram as regras do jogo da geopolítica mundial. De um lado a hegemonia de uma democracia capitalista; do outro, a ditadura de partido único, comunista, que chegou ao fim em 1991 sem legado, depois de uma incompreensível megalomania com graus equivalentes de arrogância e incompetência, minada pela corrupção. Acima de tudo, pela violência abominável e atroz infligida àqueles que se opunham com o desterro do Gulag.  Passadas três décadas o mundo ainda está a sofrer as suas sequelas com a guerra na Ucrânia, que começou a bem dizer em 2014 com a anexação da Crimeia e que se agudizou a partir de fevereiro de 2022 com a invasão da Ucrânia que Vladimir Putin batizou de "operação especial".

Ao mesmo tempo, noutras latitudes e longitudes, como na França, milhares de pessoas repetidamente ocupam as ruas das cidades, sobretudo a capital, com manifestações violentas e batalhas campais entre os manifestantes e a polícia. 
As últimas como contestação a medidas reformistas do governo em prol pela sustentação da segurança social nos próximos anos.

A esperança era que, uma vez que um grande número de neurónios e suas conexões, áreas e núcleos neurais fossem estudados exaustivamente para além da informação já acumulada, permitisse explicar como o funcionamento do cérebro como um todo. Tal desiderato levou a que uma boa parte de neurocientistas se empenhassem numa tarefa multidisciplinar de juntar anatomistas, fisiologistas,  bioquímicos moleculares como se o cérebro fosse uma orquestra sinfónica. Entretanto, após a entrada na segunda década do século XXI esse entusiasmo tem esmorecido à medida que a Inteligência Artificial vai tomando conta da agenda com o regresso dos herdeiros dos físicos da mecânica quântica.

Milhões de milhões de conexões, sejam elas ao nível dos neurónios, sejam ao nível de seres humanos, é o modelo compreensivo do funcionamento dos Sistemas Complexos. Na realidade, mais uma vez a comunidade científica, como havia teorizado Thomas Kuhn, se perdeu no labirinto do novo paradigma para lidar com a Complexidade: sistemas formados por um grande número de elementos que interagem entre si, coisas como um movimento popular, o mercado financeiro mundial, a internet, o sistema imune, o clima do planeta ou mesmo uma colónia de formigas = Sistemas Complexos. Organizações cujas propriedades mais fundamentais tendem a “emergir” por meio da interação coletiva de seus múltiplos elementos individuais. Tinha-se chegado à conclusão que os Sistemas Complexos não revelavam os seus segredos mais íntimos abordados pelo clássico método reducionista. Mas, na verdade, outras abordagens alternativas também ainda não conseguiram que a Natureza revelasse esse seu grande segredo, a que os Clássicos greco-latinos chamaram Mistério


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