A bem dizer,
apesar de estar por um fio, ainda vigoram no mundo os princípios básicos do
Tratado de Vestefália, 1648, resumidos nos princípios de soberania e de
igualdade.
Tudo começou com
os Portugueses quando se lançaram ao mar no século XV, dispostos a fazer o
reconhecimento do globo e aperfeiçoar, explorar e “civilizar” as terras às
quais chegariam, sobre os povos encontrados. Secundados depois sobretudo por
Espanhóis, Ingleses e Holandeses, os europeus imprimiram suas visões sobre
religião, ciência, comércio, governo e diplomacia, modeladas pela experiência
histórica ocidental, a qual consideravam o ápice da realização humana. Passou
então a ser considerada a Era Moderna, com um Ocidente confiante, se bem que truculento
e territorialmente dividido.
Os “Ocidentais”
acabaram por revelar as características habituais do colonialismo, uma notável
arrogância, deixando transparecer a convicção de que detinham o direito de
moldar uma ordem mundial de acordo com suas máximas. Relatos a respeito da
China e da Índia adotavam um tom condescendente, definindo a missão europeia
como sendo a de educar as culturas tradicionais de modo a elevá-las a níveis
mais altos de civilização. Com um número relativamente pequeno de funcionários,
administradores europeus redesenharam as fronteiras de nações antigas,
ignorando o facto de que esta atitude poderia não ser bem-vinda ou ser
considerada anormal e ilegítima. É verdade que os seus melhores elementos
tentaram promover uma espécie de método intelectual que encorajasse o ceticismo
e um conjunto de práticas que conduziram à ciência que hoje é reconhecida por
todos como um “bem universal”, em última instância também contaminou a política
ao ponto de serem aceites pela maioria dos países os dois conceitos políticos
fundamentais: democracia e direitos humanos.
Recuando na
história, não se pode esconder a prática sórdida da escravidão. E o Ocidente,
mais uma vez, produziu o que nenhuma outra civilização escravocrata fizera
antes: um movimento abolicionista global baseado na convicção de uma humanidade
comum e da dignidade inerente ao indivíduo. Rejeitando sua adesão anterior a
esse comércio desprezível, a Grã-Bretanha assumiu a liderança na aplicação de
uma nova norma relativa à dignidade humana, abolindo a escravidão do seu
império e proibindo a circulação de navios negreiros em alto-mar. A combinação
singular de uma conduta autoritária, arrojo tecnológico, humanitarismo
idealista e um fermento intelectual revolucionário provou ser um dos fatores
que ajudaram a dar forma ao mundo moderno. Mas tudo isso, ainda assim não
evitou as brutais depredações das potências expansionistas através das grandes
empresas.
E aqui chegamos
agora ao grave problema do Ambiente. Todas as sociedades modernas dependem da
extração de recursos naturais. Até aqui, apesar de alguma parte da energia de
que necessitamos ter origem em recursos renováveis, como as barragens
hidroelétricas e as torres eólicas, a maior parte tem sido extraída de fontes
não renováveis e poluentes: petróleo, gás e carvão. Mas um outro setor que
muitas vezes esquecemos, que é o setor dos nossos instrumentos e máquinas, é o
dos metais. Para além da madeira e dos plásticos derivados do petróleo e outros
produtos sintéticos, que dependem da exploração mineira.
Depois das grandes
controvérsias abertas entre os ambientalistas e as empresas industriais que se
arrastaram no quase último meio século, com acusações mútuas muitas vezes
verdadeiras de ambos os lados, hoje já não há nenhuma controvérsia quanto ao
contributo humano para as catástrofes ambientais que acontecem um pouco por todo
o planeta cuja intensidade tem aumentado de ano para ano.
No passado, houve
sociedades e civilizações que colapsaram e desapareceram por sua própria culpa.
Que lições podemos extrair daí? E o que ainda podemos fazer para não
destruirmos mais os habitats naturais? Por exemplo, a destruição das florestas
representa uma perda efetiva para nós, porque para além da madeira e outras matérias
primas, é imprescindível ao ecossistema, como a proteção das bacias
hidrográficas, a proteção do solo contra a erosão, habitat para a maior parte
das espécies animais e vegetais terrestres, e essencial ao ciclo da água que
gera uma grande parte da precipitação. As alterações na estrutura das florestas
têm-se traduzido nas alterações nos regimes de fogos que colocam as florestas e
matas sob um risco acrescido de incêndios cada vez mais anómalos e
catastróficos.
Mas se os exemplos
do passado se limitaram a problemas nos ecossistemas terrestres, como foi o
caso da Ilha de Páscoa ou da Gronelândia na Idade Média, hoje temos também
problemas nos ecossistemas marítimos e oceânicos. Cerca de um terço dos recifes
de coral – o equivalente no oceano às florestas tropicais húmidas, porque são
habitats de uma percentagem desproporcionada de espécies marinhas – foram já
gravemente danificadas. E isto deve-se não apenas aos agressivos métodos de
pesca, mas sobretudo ao efeito do escoamento de sedimentos de terras adjacentes
desflorestadas e convertidas em terras agrícolas, e poluentes industriais. A
esta pressão acresce também o aumento da temperatura dos oceanos, que contribui
para o incremento do branqueamento dos corais.
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