quinta-feira, 28 de março de 2019

A ordem ocidental e o colapso do planeta



          A bem dizer, apesar de estar por um fio, ainda vigoram no mundo os princípios básicos do Tratado de Vestefália, 1648, resumidos nos princípios de soberania e de igualdade.
          Tudo começou com os Portugueses quando se lançaram ao mar no século XV, dispostos a fazer o reconhecimento do globo e aperfeiçoar, explorar e “civilizar” as terras às quais chegariam, sobre os povos encontrados. Secundados depois sobretudo por Espanhóis, Ingleses e Holandeses, os europeus imprimiram suas visões sobre religião, ciência, comércio, governo e diplomacia, modeladas pela experiência histórica ocidental, a qual consideravam o ápice da realização humana. Passou então a ser considerada a Era Moderna, com um Ocidente confiante, se bem que truculento e territorialmente dividido.
          Os “Ocidentais” acabaram por revelar as características habituais do colonialismo, uma notável arrogância, deixando transparecer a convicção de que detinham o direito de moldar uma ordem mundial de acordo com suas máximas. Relatos a respeito da China e da Índia adotavam um tom condescendente, definindo a missão europeia como sendo a de educar as culturas tradicionais de modo a elevá-las a níveis mais altos de civilização. Com um número relativamente pequeno de funcionários, administradores europeus redesenharam as fronteiras de nações antigas, ignorando o facto de que esta atitude poderia não ser bem-vinda ou ser considerada anormal e ilegítima. É verdade que os seus melhores elementos tentaram promover uma espécie de método intelectual que encorajasse o ceticismo e um conjunto de práticas que conduziram à ciência que hoje é reconhecida por todos como um “bem universal”, em última instância também contaminou a política ao ponto de serem aceites pela maioria dos países os dois conceitos políticos fundamentais: democracia e direitos humanos.
          Recuando na história, não se pode esconder a prática sórdida da escravidão. E o Ocidente, mais uma vez, produziu o que nenhuma outra civilização escravocrata fizera antes: um movimento abolicionista global baseado na convicção de uma humanidade comum e da dignidade inerente ao indivíduo. Rejeitando sua adesão anterior a esse comércio desprezível, a Grã-Bretanha assumiu a liderança na aplicação de uma nova norma relativa à dignidade humana, abolindo a escravidão do seu império e proibindo a circulação de navios negreiros em alto-mar. A combinação singular de uma conduta autoritária, arrojo tecnológico, humanitarismo idealista e um fermento intelectual revolucionário provou ser um dos fatores que ajudaram a dar forma ao mundo moderno. Mas tudo isso, ainda assim não evitou as brutais depredações das potências expansionistas através das grandes empresas.
          E aqui chegamos agora ao grave problema do Ambiente. Todas as sociedades modernas dependem da extração de recursos naturais. Até aqui, apesar de alguma parte da energia de que necessitamos ter origem em recursos renováveis, como as barragens hidroelétricas e as torres eólicas, a maior parte tem sido extraída de fontes não renováveis e poluentes: petróleo, gás e carvão. Mas um outro setor que muitas vezes esquecemos, que é o setor dos nossos instrumentos e máquinas, é o dos metais. Para além da madeira e dos plásticos derivados do petróleo e outros produtos sintéticos, que dependem da exploração mineira.
Depois das grandes controvérsias abertas entre os ambientalistas e as empresas industriais que se arrastaram no quase último meio século, com acusações mútuas muitas vezes verdadeiras de ambos os lados, hoje já não há nenhuma controvérsia quanto ao contributo humano para as catástrofes ambientais que acontecem um pouco por todo o planeta cuja intensidade tem aumentado de ano para ano.
          No passado, houve sociedades e civilizações que colapsaram e desapareceram por sua própria culpa. Que lições podemos extrair daí? E o que ainda podemos fazer para não destruirmos mais os habitats naturais? Por exemplo, a destruição das florestas representa uma perda efetiva para nós, porque para além da madeira e outras matérias primas, é imprescindível ao ecossistema, como a proteção das bacias hidrográficas, a proteção do solo contra a erosão, habitat para a maior parte das espécies animais e vegetais terrestres, e essencial ao ciclo da água que gera uma grande parte da precipitação. As alterações na estrutura das florestas têm-se traduzido nas alterações nos regimes de fogos que colocam as florestas e matas sob um risco acrescido de incêndios cada vez mais anómalos e catastróficos.
          Mas se os exemplos do passado se limitaram a problemas nos ecossistemas terrestres, como foi o caso da Ilha de Páscoa ou da Gronelândia na Idade Média, hoje temos também problemas nos ecossistemas marítimos e oceânicos. Cerca de um terço dos recifes de coral – o equivalente no oceano às florestas tropicais húmidas, porque são habitats de uma percentagem desproporcionada de espécies marinhas – foram já gravemente danificadas. E isto deve-se não apenas aos agressivos métodos de pesca, mas sobretudo ao efeito do escoamento de sedimentos de terras adjacentes desflorestadas e convertidas em terras agrícolas, e poluentes industriais. A esta pressão acresce também o aumento da temperatura dos oceanos, que contribui para o incremento do branqueamento dos corais.

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