segunda-feira, 25 de março de 2019

Por Londres: Turner como metáfora do espaço infinito


Turner nasceu em Londres em 23 de abril de 1775, vindo a falecer a 19 de dezembro de 1851 em Chelsea. As suas obras mais importantes estão na National Gallery e na Tate Gallery, ambas em Londres. Está sepultado na Catedral de São Paulo, na capital inglesa.

A pintura de Turner serve e modelo, por sinal bastante interessante, de como a gramática da representação do espaço pode compor uma textura de uma estrutura narrativa. Apesar de a pintura, ainda no tempo de Turner ser a representação de corpos finitos, normalmente manifestados através de contornos, Turner ousou subverter o espírito da época para dar forma ao infinito. Neste aspeto Turner é um génio, com uma intuição audaciosa que acompanha outra intuição noutro campo do saber: a matemática.

Até 1800, os matemáticos mantinham uma oposição absoluta entre as ideias: ‘infinito’ versus ‘indefinido’; ‘linear’ versus ‘não linear’. Assim se introduziram os números chamados ‘indefinidos’, números que submetidos a certas operações, fazem que estas se prolonguem até ao infinito. E Turner apresenta também novas categorias: luminoso versus opaco; ortogonal versus circular; policromático versus monocromático; e contornado versus expandido.

Hegel, na Estética, diz que “o infinito pertence ao divino e o humano só pode chegar até ele através do indefinido”. É necessário estabelecer equivalências entre “infinito” e “indefinido”, de maneira que a representação do segundo tenha como significado o primeiro. O indefinido ao nível da expressão será portador do infinito ao nível do conteúdo. Foi isso que Turner pretendeu fazer na pintura: uma nova palavra pictórica.


“Sombras e Trevas (a noite do Dilúvio, 1843)” encontra-se no National Gallery of Art, Washington. E “Luz e Cor, 1843 (o dia seguinte ao Dilúvio), a teoria de Goethe) encontra-se na Tate Gallery de Londres. A referência a Goethe explicitada no título do quadro “Luz e cor”, revela que Turner conhecia bastante bem a obra do poeta alemão. No exemplar do livro de Goethe “Teoria das Cores”, 1810, que possuía, foi densamente anotado por ele.

Turner foi um génio incompreendido no seu tempo, mas considerado o antecipador da arte abstrata contemporânea. Os primeiros a darem-lhe valor foram os impressionistas. Com a sua intuição de ter chegado o momento da destruição de todas as leis da proporção e perspetiva até aí vigentes, levou a cabo uma caminhada de libertação espacial isenta da forma figurativa.

Turner elimina a narrativa a favor do abstrato, chamando-lhe “o sublime sem mediação”. Extraordinário exímio na manipulação do espaço e, sobretudo, das ideias de espacialidade, realizou uma reformulação da semiótica do mundo natural, como ponto máximo da sua autoconsciência.

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