segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Jiang Zemin





Jiang Zemin [1926 – 2022] prefeito de Xangai, Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês [1989-2002], foi presidente da República Popular da China [1993-2003]. Depois do desastre de Tiananmen, Zemin marcou a ascensão chinesa para a impressionante explosão de energia e criatividade. Ele supervisionou um dos maiores crescimentos de PIB per capita na história humana, consumou a devolução pacífica de Hong Kong, reconstituiu as relações da China com os Estados Unidos e o resto do mundo, e lançou a China no rumo de se tornar uma potência económica global. Como secretário do Partido em Xangai, Zemin recebera elogios pelo modo como lidara com os protestos na cidade: havia fechado um influente jornal liberal no início da crise, mas se recusara a decretar a lei marcial, e as manifestações de Xangai foram debeladas sem derramamento de sangue. Um facto marcante do seu governo foram as devoluções de Hong Kong pela Grã-Bretanha em 1997 e Macau por Portugal em 1999.

Tiananmen fizera com que as relações sino-americanas retrocedessem praticamente ao ponto de partida. Deng Xiaoping havia-se retirado voluntariamente em 1989 para viver em tranquilidade os seus últimos dias. Agora, como secretário-geral, era amplamente tido como uma figura de transição — e poderia perfeitamente ter sido um candidato por conciliação no meio do caminho entre o elemento relativamente liberal – Li Ruihuan (o ideólogo do Partido) – e o grupo conservador como Li Peng (primeiro-ministro). Era o primeiro líder comunista chinês sem credenciais revolucionárias ou militares. Sua liderança, como a de seus sucessores, brotava de seu desempenho burocrático e económico, que exigia uma dose de consenso no Politburo. Por exemplo, ele estabeleceu o seu domínio na política externa somente em 1997, oito anos após se ter tornado secretário-geral.

Líderes do Partido chinês anteriores haviam conduzido a sua liderança com a aura altiva apropriada ao sacerdócio de uma mistura do novo materialismo marxista e vestígios da tradição confucionista da China. Jiang estabeleceu um padrão diferente. Ao contrário de Mao, o rei-filósofo, Zhou, o mandarim, ou Deng, o guardião dos interesses nacionais forjado no campo de batalha, Jiang comportava-se mais como um afável membro de família. Era caloroso e informal. Mao tratava os seus interlocutores com distanciamento olímpico, como se fossem alunos de graduação passando por um exame sobre a adequação de seus insights filosóficos. Zhou conduzia as conversas com a graça fácil e a inteligência superior do sábio confucionista. Deng ia direto aos aspetos práticos de uma discussão, tratando as digressões como perda de tempo.

Jiang não reivindicava qualquer preeminência filosófica. Ele sorria, ria, contava anedotas e tocava em seu interlocutor a fim de estabelecer uma ligação. Orgulhava-se, às vezes de forma entusiasmada, de seu talento para línguas estrangeiras e seu conhecimento de música ocidental. Com visitantes não chineses, regularmente incorporava expressões inglesas, russas ou até latinas em suas apresentações para enfatizar um ponto — movendo-se de uma hora para a outra entre um rico cabedal de expressões idiomáticas chinesas clássicas e coloquialismos americanos como It takes two to tango (“São necessárias duas pessoas para dançar um tango”). Se a ocasião assim o permitia, ele era capaz de pontuar reuniões sociais — e de vez em quando oficiais — desatando a cantar, fosse para contornar um tema desconfortável, fosse para enfatizar um sentimento de camaradagem.

Os diálogos dos líderes chineses com visitantes estrangeiros normalmente ocorriam na presença de uma entourage de conselheiros e tomadores de notas que não abriam a boca e muito raramente passavam anotações para seus chefes. Jiang, pelo contrário, tendia a transformar seu grupo em um coro grego; ele iniciava um pensamento, depois passava a palavra para um assessor de uma maneira tão espontânea que dava a impressão de que se estava diante de uma equipa da qual Jiang era o capitão. Com muita leitura e elevada instrução, Jiang procurava atrair o interlocutor à atmosfera de boa vontade que parecia cercá-lo, pelo menos quando lidava com estrangeiros. Ele gerava um diálogo em que as opiniões de seus interlocutores, e até de seus colegas, eram tratadas como merecedoras do mesmo grau de importância que reivindicava para as suas.

Jiang Zemin era suficientemente cosmopolita para compreender que a China teria de operar dentro de um sistema internacional, e não com a postura distanciada e dominante de Império do Meio. Zhou também compreendera isso, assim como Deng. Mas Zhou pôde implementar sua visão apenas de modo fragmentário, devido à presença sufocante de Mao, e a de Deng foi abortada por Tiananmen. A afabilidade de Jiang era expressão de uma tentativa séria e calculada de inserir a China numa nova ordem internacional e restaurar a confiança internacional, tanto para ajudar a curar as feridas domésticas da China como para suavizar sua imagem internacional.

Nem todos os observadores chineses apreciavam o projeto de se envolver com um mundo ocidental tido como desinteressado da realidade chinesa; nem todos os observadores ocidentais aprovavam o esforço de se engajar com uma China aquém das expectativas políticas ocidentais.

Jiang manteve-se discreto na presidência até ao falecimento de Deng Xiaoping, em 1997. A grande estrela do desenvolvimento económico chinês durante sua presidência foi o ministro da economia, Zhu Rongji, que modernizou a política económica do país. Após 1997 essencialmente manteve as políticas de Deng Xiaoping e Zhu Rongji. Jiang Zemin foi substituído por Hu Jintao em 15 de novembro de 2002.

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