sábado, 22 de abril de 2023

As ameaças à identidade pessoal



O que significa ser humano hoje em dia? As extraordinárias inovações estão a ultrapassar os limites das nossas expectativas em relação ao conhecimento, ao tempo devia e às nossas capacidades performativas só até agora visto no mundo da ficção científica. Continuam na ordem do dia os levantamentos de questões que têm a ver com a ética.

O impacto humano de certas tecnologias, como a internet ou os smartphones, está relativamente bem compreendido e tem sido debatido de forma ampla entre especialistas e académicos. É o caso da Inteligência Artificial (IA) e da biologia sintética no campo da robotização. Os avanços tecnológicos estão nos levando para novas fronteiras da ética. Devemos usar os incríveis avanços da biologia apenas para curar doenças e reparar lesões, ou devemos também aprimorar a nossa natureza humana? Se aceitarmos a segunda proposta, corremos o risco de transformar a paternidade/maternidade numa extensão da sociedade de consumo e, nesse caso, fica a pergunta: será que as futuras criaturas se vão tornar meros bens de consumo como se fossem objetos feitos de encomenda para satisfazer o mundo dos desejos? E o que significa ser “melhor”? Estar livre de doenças? Viver mais tempo? Ser mais inteligente? Correr mais rápido? Ter uma certa aparência?

Ao imaginarmos todas essas possibilidades, e as suas implicações para os seres humanos, estamos naquela metáfora clássica da abertura da Caixa de Pandora. O desconhecido. Diferente de tudo o que já experimentamos anteriormente. Ou então, vendo a coisa ao contrário: se o nosso próprio comportamento se tornar previsível em todas as situações, onde ficará aquilo que temos por muito precioso que é o nosso espaço de liberdade pessoal? O que temos, ou imaginamos ter, para nos desviarmos da previsão? É que isso é muito semelhante do que já conhecemos - os robôs. Ou seja, para onde caminha aquilo que temos de mais essencial: a identidade pessoal? A nossa individualidade e a nossa vontade.


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