quinta-feira, 6 de abril de 2023

Alexandre II da Rússia





Alexandre II da Rússia nasceu em Moscovo em 1918 e morreu em São Petersburgo em 1881. Imperador da Rússia desde 1855, acabou por morrer assassinado em 1881. Ficou conhecido como o "Libertador" pelas reformas liberais e modernização do país exemplificada pelo fim da servidão que libertou vinte e dois milhões de camponeses. Da Casa de Holsácia-Gottrop-Romanov, ramo da Casa de Oldemburgo - Alexandre II era o filho mais velho do imperador Nicolau I e de Carlota da Prússia. Teve como esposas: Maria de Hesse e Reno; e Catarina Dolgorukov (morganática). Com uma descendência de 8 filhos, sucedeu-lhe Alexandre III. 

Alexandre II subiu ao trono após a morte do pai em 1855. O primeiro ano do seu reinado foi dedicado à continuação da Guerra da Crimeia e, após a queda de Sebastopol, às negociações de paz lideradas pelo seu conselheiro de confiança, o príncipe GorchakovA Guerra da Crimeia foi um conflito que se estendeu de 1853 a 1856, do sul da Rússia até aos Balcãs. Envolveu de um lado a Rússia; e do outro o Império Otomano coligado com o Reino Unido, França e o apoio do Império Austríaco. A guerra terminou com a assinatura do Tratado de Parisde 30 de março de 1856. A Rússia devolvia o sul da Bessarábia e a embocadura do rio Danúbio para o IMpério Otomano e para a Moldávia, renunciava a qualquer pretensão sobre os Balcãs e ficava proibido de manter bases ou forças navais no Mar Negro. Por outro lado, o Império Otomano, representado por Aali-paxá ou Meliemet Emin era admitido na comunidade das potências europeias, tendo o sultão se comprometido a tratar os seus súbditos cristãos de acordo com as leis europeias. A Valáquia e a Sérvia passaram a estar sob proteção internacional. Enquanto isso, em Jerusalém, estabelecia-se o Status-quo que organiza a divisão de posses das Igrejas dentro da Cidade Santa.

O país estava exausto e tinha sido humilhado pela guerra. Havia subornos, roubos e corrupção por todo o lado. Encorajado pela opinião pública, o czar deu início a um período de reformas radicais que incluíram uma tentativa de diminuir o poder da aristocracia latifundiária. Após a tentativa de assassinato em fevereiro de 1880, o conde Loris-Melikov foi nomeado chefe da Comissão Executiva Suprema e recebeu mais poderes para combater os revolucionários. As propostas de Loris-Melikov iriam incluir a criação de uma espécie de parlamento e o imperador pareceu concordar com ele, contudo estes planos nunca foram concretizados. 

Alexandre incitou seu governador-geral de Vilnius, Nazimov, a convencer a nobreza local a solicitar reformas. Depois permitiu que eles formassem comités provinciais para deliberar sobre os termos. Mas os nobres ofereceram aos camponeses liberdade sem nenhuma terra. O czar envolveu-se na questão porque os camponeses precisavam de terras. No verão de 1858, o imperador viajou pelo país, incentivando e repreendendo os “nobres obstinados”. Alexandre e Marie eram saudados alegremente.  Alexandre não confiava nos jovens reformistas, por isso procurou um improvável defensor da causa, Iákov Rostóvtsev, jovem guarda que em 12 de dezembro de 1825 tinha avisado Nicolau I sobre a revolta. Agora, trinta anos depois, o general Rostóvtsev, amado pelo czar, era um dos membros do comité que se opunha às reformas. Miliútin, vendo-o como o principal reacionário, recrutou o socialista e jornalista exilado Alexandre Herzen para difamar Rostóvtsev por seu papel em 1825. Alexandre ficou furioso, chamando Miliútin de “Vermelho”. Na verdade Rostóvtsev tinha acabado de se converter à causa da libertação dos servos que tinham o direito de recuperar as suas terras. Em 17 de fevereiro de 1859, Alexandre nomeou Rostóvtsev presidente do Comité de Preparação para a reforma e ordenou a Miliútin que fizesse uma minuta do decreto. 

Em 16 de agosto de 1859, Bariátinski sentou-se numa pedra, com todo o seu comando à sua volta, no alto das montanhas enevoadas do Daguestão, perto da última fortaleza múrida de Gunib, que fora cercada pelos russos. Ao amanhecer, saindo de seus portões, o próprio Chamil apareceu cavalgando, com cinquenta múridas maltrapilhos. Enquanto os soldados russos comemoravam, Chamil desmontou e andou até ao príncipe. Recusando entregar a sua espada a qualquer outro, ele a ofereceu a Bariátinski. “Glória a Vós, Senhor!”, escreveu Alexandre a Bariátinski em 11 de setembro. “Esses são os sentimentos que inundam meu coração. Não podia esperar ou desejar um sucesso mais completo.” Ele acrescentou: a vitória pertence-lhe, caro amigo. Alexandre estava indo para o Sul a fim de inspecionar os exércitos.

A grande questão da emancipação estava quase resolvida, dizia Alexandre para Bariátinski. Para que se completasse precisava apenas passar pelo Conselho de Estado. Em 27 de janeiro de 1861, Alexandre falou ao Conselho: “Os senhores podem mudar detalhes, mas o principal deve permanecer inalterado […]. A autocracia estabeleceu a servidão e cabe à autocracia aboli-la”. O decreto foi aprovado. Essa foi a primeira das reformas de Alexandre. Em 1864, ele deu à Rússia uma jurisdição independente com julgamento por júri e um novo corpo administrativo local — uma assembleia nos níveis provincial distrital, chamada zémstvo, que seria parcialmente eleita e que contaria com camponeses, além de nobres e comerciantes. A repressão aos judeus foi atenuada. Os comerciantes e artesãos passaram a poder morar em Petersburgo e em Moscovo, onde banqueiros judeus como o barão Joseph Ginzburg (cujo baronato foi concedido pelo duque de Hesse-Darmstadt mas reconhecido pelo czar) começou a trabalhar para que fosse revogada a dura conscrição militar de Nicolau I.

No entanto havia limites: quando a Assembleia de Moscovo propôs uma constituição, Alexandre a dissolveu. O objetivo dele, como o da "perestroika" desencadeada por Mikhail Gorbatchov para revigorar o comunismo, não era destruir a autocracia, e sim fortalecê-la. Logo depois da libertação, Bismarck perguntou se ele promulgaria uma constituição. “As pessoas comuns veem o monarca como um senhor paternal todo-poderoso, um emissário de Deus”, respondeu Alexandre. “Isso tem a força de um sentimento religioso… inseparável da dependência pessoal em relação a mim. Se as pessoas perderem esse sentimento, pelo poder que minha coroa concede a mim, a aura que a nação tem seria rompida… Eu reduziria a autoridade do governo sem nenhuma compensação se incluísse nele representantes da nobreza ou da nação.” Alexandre era um autocrata reformista, mas mesmo assim um autocrata.

A abolição da servidão rompeu o pacto entre o governante e a nobreza que havia constituído a Rússia, levando o czar a basear o seu poder nas armas do Exército e na carapaça de sua amada burocracia. Sem estarem mais ancorados nesse pacto, os Romanov e a sociedade começaram a afastar-se um do outro. Depois do café da manhã, todos os dias, Alexandre voltava a seu gabinete no segundo andar do Palácio de Inverno e recebia os ministros. Ele adorava a família, especialmente seu herdeiro, Alexandra (Nixa). 
Os polacos, incentivados pela era de reformas e de nacionalismo, e enfurecidos com o domínio russo, com os lituanos decidiram que sonhos não eram suficientes. A Polónia se agitava com descontentamentos. O governador-geral em Varsóvia, general Gortchakov, respondeu com “lamentável fraqueza”. Em janeiro de 1863, quando ele tentou se livrar da juventude radical convocando-a para o Exército, os polacos entraram em rebelião total, lutando com 30 mil soldados de milícias, nobres, camponeses e até judeus. A revolta azedou a "perestroika" de Alexandre. Os reacionários achavam que havia sido dada liberdade demais. Os liberais, que havia liberdade de menos. Alexandre compreendia que “o momento mais perigoso para um mau governo é quando ele começa a fazer reformas”. O fraco controlo que Alexandre tinha sobre as universidades e sobre a censura da imprensa havia criado uma violenta expectativa que levou a motins estudantis que precisaram ser debelados. “Aqui tudo está tranquilo, graças a Deus”, o czar informou a Bariátinski, “mas uma vigilância severa é mais necessária do que nunca, dadas as tendências imprudentes do chamado progresso.”

A década de 1860 foi um período empolgante mas cheio de atribulações. Os jornais surgiam como cogumelos. “Nunca gostei muito de escritores em geral”, Alexandre confidenciou a Bariátinski, “e concluí com tristeza que eles são uma classe de indivíduos com motivações ocultas e tendências perigosas." Frustrado e desiludido, como o personagem Bazárov no romance Pais e filhos, de Ivan Turgueniev, publicado em 1862. Esses niilistas, dizia Turgueniev, ansiosamente deixavam de lado as reformas do czar para adotar o ateísmo, a modernidade e a revolução.

Em 16 de maio de 1862, começaram a surgir incêndios em Petersburgo. “O fogo tomou tais proporções”, escreveu o novo ministro da Guerra, general Dmítri Miliútin, “que era impossível duvidar de um incêndio criminoso.” No dia 28, Alexandre voltou de urgência de Tsárskoie Seló para combater os incêndios. Os incendiários nunca foram apanhados, mas Alexandre determinou que a polícia secreta fechasse jornais e prendesse os radicais. Mesmo agora ele cogitava a ideia de dar passos adiante aumentando a representação por meio da conversão do Conselho de Estado numa instituição consultiva parcialmente eleita, mas os motins e a Revolução Polaca adiaram as reformas.





Em 1866, houve uma tentativa de assassinato de Alexandre em São Petersburgo levada a cabo por Dmitry Karakozov. Para comemorar o facto de ter escapado por pouco à morte (à qual se viria a referir como o acontecimento de 4 de abril de 1866), foram construídas várias igrejas e capelas em muitas cidades russas. Viktor Hartmann, um arquiteto russo, chegou mesmo a desenhar um portão monumental (que nunca chegou a ser construído) para comemorar o acontecimento.

Na manhã de 20 de abril de 1879, Alexandre estava a fazer uma caminhada até à Praça dos Guardas e encontrou-se com Alexandre Soloviev, um antigo estudante de trinta e três anos. Tendo visto um revólver ameaçador nas suas mãos, o imperador fugiu em zigue-zague. Soloviev disparou cinco vezes, mas falhou o alvo. Foi enforcado a 28 de maio, depois de ser condenado à morte. O estudante agiu sozinho, mas sabia-se que existiam vários revolucionários que queriam matar Alexandre. Em dezembro de 1879, o grupo terrorista "A Vontade do Povo", que queria provocar uma revolução social, fez explodir a linha de comboio que ligava Livadia a Moscovo, mas não conseguiram atingir o comboio do imperador. Na noite de 5 de fevereiro de 1880, Stephan Khalturin, que também pertencia à Vontade do Povo, colocou uma bomba-relógio debaixo da sala de jantar do Palácio de Inverno, na sala de descanso dos guardas que ficava no andar de baixo. Por ter chegado atrasado para jantar, o imperador não ficou ferido, mas houve vários mortos e cerca de trinta feridos. Após esta tentativa de assassinato, o conde Loris-Melikov foi nomeado chefe da Comissão Executiva Suprema e recebeu mais poderes para combater os revolucionários. As propostas de Loris-Melikov iriam incluir a criação de uma espécie de parlamento e o imperador pareceu concordar com ele, contudo estes planos nunca foram concretizados.

A 13 de março de 1881, Alexandre acabou por ser eliminado por assassinato em São Petersburgo. Desta vez a conspiração foi bem sucedida. Como se sabia, todos os domingos, durante vários anos, o imperador ia visitar o Mikhailovsky Manège para assistir à chamada militar. Viajava para e regressava do Manège numa carruagem fechada acompanhada de seis cossacos e mais um sentado ao lado do cocheiro. A carruagem do imperador era seguida por dois trenós que levavam, entre outros, o chefe da polícia e o chefe dos guardas do imperador. A viagem, como sempre, fez-se pelo Canal de Catarina e por cima da Ponte Pevchesky. A estrada era apertada e tinha passeios para os peões de ambos os lados. Um jovem membro da Vontade do Povo, Nikolai Rysakov levava a bomba numa caixa e envolta num lenço. 
Embora a explosão tenha matado um dos cossacos e ferido o condutor e pessoas que passavam na rua com gravidade, apenas conseguiu provocar danos na carruagem à prova de bala, um presente do imperador Napoleão III. O imperador saiu abalado, mas ileso. Rysakov foi capturado quase de seguida. 

Como se sabia, todos os domingos, durante vários anos, o imperador ia visitar o Mikhailovsky Manège para assistir à chamada militar. Viajava para e regressava do Manège numa carruagem fechada acompanhada de seis cossacos e mais um sentado ao lado do cocheiro. A carruagem do imperador era seguida por dois trenós que levavam, entre outros, o chefe da polícia e o chefe dos guardas do imperador. A viagem, como sempre, fez-se pelo Canal de Catarina e por cima da Ponte Pevchesky. A estrada era apertada e tinha passeios para os peões de ambos os lados. Um jovem membro da Vontade do Povo, Nikolai Rysakov carregava uma pequena embalagem branca embrulhada num lenço de pano. Mais tarde descobriu-se que havia um terceiro bombista na multidão. Ivan Emelyanov estava pronto agarrando uma mala de mão que tinha uma bomba que seria usada se as outras duas tivessem falhado. Alexandre foi levado de trenó até ao Palácio de Inverno e depois para o seu escritório onde, ironicamente, quase exatamente vinte anos antes, tinha assinado o documento que tinha libertado os servos. Alexandre estava a perder muito sangue, tinha as pernas destruídas, o estômago aberto e o rosto mutilado. Vários membros da família real apressaram-se para o local. O imperador recebeu a comunhão e a extrema unção. Quando perguntaram ao médico que estava de serviço, Sergey Botkin, quanto tempo de vida lhe restava, ele respondeu: No máximo, quinze minutos. Às três e meia da tarde a bandeira pessoal de Alexandre II foi baixada pela última vez.

O assassinato de Alexandre II provocou um retrocesso no movimento de reforma. Umas das últimas ideias do imperador tinha sido criar planos para um parlamento eleito, ou Duma, que ficaram completos na véspera da sua morte, mas ainda não tinham sido apresentados ao povo russo. Alexandre tinha planeado revelar os seus planos para a criação da Duma quarenta-e-oito horas depois. Se tivesse vivido mais algum tempo, a Rússia poderia ter seguido o caminho da monarquia constitucional em vez do longo caminho de opressão que se seguiu com o reinado do filho. A primeira ação que Alexandre III tomou após a coroação foi rasgar estes planos. A Duma só viria a ser criada em 1905, quando o neto de Alexandre, Nicolau II, foi pressionado a instaurá-la após a Revolução Russa de 1905. Uma segunda consequência do assassinato foi o início dos Pogroms e legislação antijudaica. Uma terceira consequência foi a supressão das liberdades civis na Rússia e o regresso da repressão policial em força após alguma liberalização durante o reinado de Alexandre II. O assassinato do czar foi testemunhado em primeira mão pelo seu filho, Alexandre III e pelo seu neto, Nicolau II, que viriam a governar a Rússia e prometeram que não teriam o mesmo destino. Ambos usaram a Okhrana para prender protestantes e acabar com grupos supostamente rebeldes, criando mais supressão de liberdades pessoais do povo russo. Finalmente, os anarquistas empoderaram-se a promover uma propaganda de ação, com o recurso a grandes atos de violência para incitar a Revolução.


Sem comentários:

Enviar um comentário