sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A relação pendular entre as civilizações chinesa e europeia


          O meu raciocínio com a expressão “oscilação {China/Europa – Europa/China}” baseia-se no seguinte: do lado do que se convencionou na Europa chamar Oriente, portanto na Ásia, aconteceu emergir apenas uma nação forte. É inevitável quando assim acontece: uma nação forte contra nações fracas. Na Europa aconteceu o contrário, a oposição entre várias nações fortes. A Ásia estagnou na escravidão e a Europa emancipou-se na libertação. O que faltou na Ásia não foi o comércio, nem mesmo a ciência. O que faltou foi a criação de algumas instituições que deu voz à sociedade civil. No entanto, se no ano de 1420 tivéssemos ido à Inglaterra e viajado rio Tamisa acima, e depois fôssemos à China e viajado pelo rio Iansequião, teríamos ficado espantados com o contraste.
          Nenhuma civilização dura para sempre. Adam Smith, apesar de ter escrito que a China parecia estar desde há muito parada, ainda assim considerava a China um dos países mais ricos do mundo. A Cidade Proibida (Gugong) havia sido construída entre 1406 e 1420 para a qual Yongle, o imperador da Dinastia Ming, havia recrutado um milhão de trabalhadores para a construção de quase mil edifícios decorados de modo a evidenciar o poderio da Dinastia Ming. E, todavia, menos de um século depois o declínio era já visível enquanto os pequenos e pobres países da Europa, até aí devastados pelos conflitos, se erguiam para dominar o Oriente sucumbido.
          Porque é que em 1500, digamos assim, a China soçobrou e a Europa progrediu? Para Adam Smith foi a China não ter beneficiado das vantagens das instituições; e ao mesmo tempo se ter fechado ao exterior. Com isso perdeu o comércio externo, primeiro para as mãos dos árabes, e depois para as mãos dos europeus.
          O Iansequião fazia parte de um vasto complexo fluvial que ligava Nanjing a Beijing, a mais de 750 quilómetros para norte, e Hangzhou a sul. No coração deste sistema de comunicação localizava-se o Grande Canal, substancialmente restaurado ao mesmo tempo que se construía a Cidade Proibida em Beijing e se desviava o rio Amarelo para que o canal se estendesse por mais de 1500 quilómetros. A partir daí o canal passou a ser navegado por barcaças carregadas de cereais, estimando-se doze mil por ano. Nanjing era provavelmente a maior cidade do mundo em 1420, com uma população estimada em um milhão de habitantes, um próspero centro da indústria da seda e do algodão, bem como do conhecimento, com uma biblioteca de mais de onze mil volumes. Ainda assim, Yongle não estava satisfeito com Nanjing. Foi quando resolveu construir uma capital mais espetacular a norte: Beijing, que para nós ocidentais é ainda a atual Pequim. Durante todo o século XV, a China, ainda podia reclamar, sem contestação, o estatuto de civilização mais avançada do mundo. Mas depois, entre os séculos XVI e XX tal reivindicação passou a ser reclamada com legitimidade por parte dos europeus. Mas, e agora, passadas já quase duas décadas do século XXI, o que está de novo a acontecer? Dão-se alvíssaras aos novos profetas apocalípticos.

Sem comentários:

Enviar um comentário