O meu raciocínio com
a expressão “oscilação {China/Europa – Europa/China}” baseia-se no seguinte: do
lado do que se convencionou na Europa chamar Oriente, portanto na Ásia, aconteceu
emergir apenas uma nação forte. É inevitável quando assim acontece: uma nação
forte contra nações fracas. Na Europa aconteceu o contrário, a oposição entre várias
nações fortes. A Ásia estagnou na escravidão e a Europa emancipou-se na
libertação. O que faltou na Ásia não foi o comércio, nem mesmo a ciência. O que
faltou foi a criação de algumas instituições que deu voz à sociedade civil. No
entanto, se no ano de 1420 tivéssemos ido à Inglaterra e viajado rio Tamisa acima,
e depois fôssemos à China e viajado pelo rio Iansequião, teríamos ficado
espantados com o contraste.
Nenhuma
civilização dura para sempre. Adam Smith, apesar de ter escrito que a China
parecia estar desde há muito parada, ainda assim considerava a China um dos
países mais ricos do mundo. A Cidade Proibida (Gugong) havia sido construída
entre 1406 e 1420 para a qual Yongle, o imperador da Dinastia Ming, havia
recrutado um milhão de trabalhadores para a construção de quase mil edifícios
decorados de modo a evidenciar o poderio da Dinastia Ming. E, todavia, menos de
um século depois o declínio era já visível enquanto os pequenos e pobres países
da Europa, até aí devastados pelos conflitos, se erguiam para dominar o Oriente
sucumbido.
Porque é que em
1500, digamos assim, a China soçobrou e a Europa progrediu? Para Adam Smith foi
a China não ter beneficiado das vantagens das instituições; e ao mesmo tempo se
ter fechado ao exterior. Com isso perdeu o comércio externo, primeiro para as
mãos dos árabes, e depois para as mãos dos europeus.
O Iansequião fazia
parte de um vasto complexo fluvial que ligava Nanjing a Beijing, a mais de 750
quilómetros para norte, e Hangzhou a sul. No coração deste sistema de
comunicação localizava-se o Grande Canal, substancialmente restaurado ao mesmo
tempo que se construía a Cidade Proibida em Beijing e se desviava o rio Amarelo
para que o canal se estendesse por mais de 1500 quilómetros. A partir daí o
canal passou a ser navegado por barcaças carregadas de cereais, estimando-se
doze mil por ano. Nanjing era provavelmente a maior cidade do mundo em 1420,
com uma população estimada em um milhão de habitantes, um próspero centro da
indústria da seda e do algodão, bem como do conhecimento, com uma biblioteca de
mais de onze mil volumes. Ainda assim, Yongle não estava satisfeito com
Nanjing. Foi quando resolveu construir uma capital mais espetacular a norte:
Beijing, que para nós ocidentais é ainda a atual Pequim. Durante todo o século
XV, a China, ainda podia reclamar, sem contestação, o estatuto de civilização
mais avançada do mundo. Mas depois, entre os séculos XVI e XX tal reivindicação
passou a ser reclamada com legitimidade por parte dos europeus. Mas, e agora,
passadas já quase duas décadas do século XXI, o que está de novo a acontecer?
Dão-se alvíssaras aos novos profetas apocalípticos.
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