quinta-feira, 9 de março de 2023

Belém






Belém é um local onde os arqueólogos encontraram vestígios de ter sido continuamente habitada por ancestrais humanos desde há cerca de 1,4 milhões de anos com sucessivas migrações vindas de África. E a história conta que Belém foi ocupada uma dezena de vezes. Passou pelas mãos de filisteus, israelitas, gregos, romanos, bizantinos, pelo califado árabe, pelas cruzadas, por Saladino, pelos mamelucos e pelos otomanos, que perderam a cidade para os britânicos na Primeira Guerra Mundial. E, na partilha das Nações Unidas, assinada em 1947, Belém retornou aos palestinos, também chamados de filisteus.

Onde é hoje a Basílica da Natividade, o imperador Adriano havia construído um monumento em homenagem a Adonis. Foi o imperador Constantino que transformou o lugar numa basílica, por volta da primeira década dos anos 300. Os samaritanos a destruíram durante a revolta de 529. E foi o imperador bizantino Justiniano que construiu o edifício que foi preservado até hoje. Religiosos gregos ortodoxos, arménios ortodoxos e católicos romanos dividem o legado na basílica.




Ao entrar na Manger Street, à direita está a Mesquita de Omar e à esquerda, a basílica. A entrada tem apenas 1,2 metro. Os religiosos dizem que a porta é baixa para que os fiéis se curvem em sinal de respeito. Mas há quem diga que Justiniano ordenou que a entrada fosse reduzida para evitar que os cavalos entrassem na igreja e lá fizessem suas necessidades. De facto, dá para ver a marca da antiga porta, na forma de um arco, que era muito maior.

Para chegar à gruta onde teria nascido Jesus, descem-se algumas escadas. A pedra da gruta fica à mostra em algumas partes. Independentemente da crença, é incrível estar num lugar que alimenta tanta história. 
Os territórios ocupados estavam tomados pelo exército. O presidente da Autoridade Palestina na época, Yasser Arafat, estava confinado em Ramallah, cercado por soldados, armas e tanques. Israel exigia que Arafat controlasse o que o Estado hebreu chamava e chama de ataques terroristas. Os palestinos fazem a seguinte narrativa metafórica: Israel tranca o gato numa jaula. Depois maltrata e fere o animal. Arafat já pode vir para dominá-lo. Israel culpa-o pela violência que foi feita ao gato.
A Igreja da Natividade foi cercada no dia 2 de abril de 2002. O exército estava atrás de militantes. Havia cerca de quarenta, entre eles Ibrahim Abayat, um líder da Brigada dos Mártires de Al-Aqsa, um dos grupos responsáveis por atentados suicidas em Israel. Na basílica, estavam também quarenta religiosos e moradores da cidade que se abrigaram ali. No total, havia cerca de duzentas pessoas. A história que se conta é que os militantes organizaram as tarefas dentro da basílica. Dividiram grupos e turnos para cozinhar, limpar e ficar de guarda. Como eles não sabiam quanto tempo ficariam ali, a comida era racionada: uma refeição só por dia; sopa e macarrão. Era o que havia na despensa dos padres. Desde o primeiro dia, o exército cortou a água e a luz.

Em 2008, Belém recebeu cerca de um milhão de turistas, a grande maioria peregrinos com o desejo de conhecer a Terra Santa e a Igreja da Natividade, onde teria nascido Jesus. O Har Homa, que começou a ser construído em 2002, hoje abriga cerca de 6 mil famílias israelitas. Para ser construído, Israel destruiu a última área de floresta que restava na região. E, segundo os palestinos, o Har Homa fecha o cerco de colonatos judaicas em torno de Belém, que, junto com o muro, separam Belém de Jerusalém. O assentamento continua a crescer e avança para dentro de Belém, ou seja, apesar das resoluções das Nações Unidas contrárias à ocupação, Israel continua invadindo terras palestinas e expulsando os árabes da sua própria casa.




Belém tem cerca de 180 mil habitantes, somando-se a população dos vilarejos e de outras pequenas cidades ao redor, cuja administração também é da responsabilidade da autarquia de Belém. As mais próximas são Beit-Sahour e Beit-Jala, cada uma com cerca de 12 mil habitantes. A maioria da população daqui já foi católica, mas há um êxodo crescente por causa das dificuldades impostas pela ocupação: desemprego, sistema de saúde e de educação precários, falta de perspectiva para os jovens, medo do exército israelita. 

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