quarta-feira, 29 de março de 2023

O caso do Voo Avianca 52





O voo Avianca 52, em 25 de janeiro de 1990, que fazia escala desde o aeroporto internacional da Colômbia, com destino ao aeroporto internacional J.F. Kennedy, Nova Iorque, acabou em desastre por falta de combustível, e devido a erros dos pilotos na comunicação entre a aeronave e os controladores de tráfego aéreo. O vento contrário diminuía significativamente, e eles estavam indo rápido demais para terem condições de aterrar. Em geral, naquela situação, seria acionado o piloto automático, que reage de forma imediata e adequada à variação do vento. Esse equipamento, no entanto, estava com problemas e fora desligado. Por isso, o piloto arremeteu e executou uma volta. A aeronave descreveu um amplo círculo sobre Long Island e, mais uma vez, aproximou-se do Aeroporto Kennedy. De repente, um dos motores falhou. Segundos depois, outro motor parou. “Mostrem-me a pista de pouso”, o piloto gritou, na esperança desesperada de estar perto o bastante para tentar uma aterragem segura planando com o avião. Mas o Aeroporto Kennedy estava a 26km de distância. O 707 caiu na propriedade do pai do campeão de ténis John McEnroe, na elegante cidade de Oyster Bay, em Long Island. Dos 158 passageiros a bordo, 73 morreram. Em menos de um dia, a causa do acidente foi descoberta: falta de combustível. Não havia nada de errado com o avião.

A neblina era tão espessa que os pilotos não conseguiam descobrir onde estavam. C: Onde está a pista de aterragem? Não consigo ver. Não consigo ver. Não temos combustível... Eles recolhem o trem de aterragem. C manda K pedir outra orientação de tráfego. Dez segundos se passam. C: Não sei o que aconteceu com a pista. Não a vejo. K: Não a vejo.

O avião está com um nível perigosamente baixo de combustível. Eles perderam a primeira tentativa de aterragem. Não têm a menor ideia de quanto tempo o avião ainda tem para voar. C: Diga que estamos numa emergência. K: um-oito-zero no ... ah! Vamos tentar de novo. Estamos a ficar sem combustível.

K faz um reconhecimento de rotina das instruções da TC e só menciona a preocupação com o combustível na segunda metade da mensagem. É como se dissesse: “Sim, aceito mais um cafezinho. E, de repente, ah! Estou-me engasgando com um osso de frango.” Até que ponto seria levado a sério? O controlador de tráfego aéreo com quem K havia comunicado declarou depois: “Apenas interpretei aquilo como um comentário sem importância.” Em noites de tempestade, os controladores ouvem o tempo todo os pilotos dizer que estão a ficar sem combustível. Além disso, o “ah” que K profere entre as duas metades da mensagem é uma espécie de indivíduo maluco. Outro controlador que lidou com o caso naquela noite fez a seguinte afirmação: “O copiloto falou de uma maneira muito bizarra ... dando a entender despreocupação na voz dele.”

Este tipo de aberração comunicativa explica uma das grandes anomalias dos desastres aéreos. Nos aviões comerciais, pilotos e copilotos dividem de modo igual as tarefas da pilotagem. Mas, historicamente, os acidentes tendem muito mais a ocorrer quando o piloto está no comando. Isso parece não fazer sentido, uma vez que ele quase sempre é mais experiente. Combater o falso otimismo zombie tornou-se uma das principais cruzadas da aviação comercial nos últimos anos.

Mas, entretanto, o avião afastou-se do Aeroporto Kennedy após a primeira tentativa de aterragem que foi abortada. K volta a falar por rádio com a TC, procurando saber quando poderão tentar de novo fazerem-se à pista. C: O que foi que ele disse? K: Já informei que vamos tentar de novo porque sabemos ... quatro segundos de silêncio. C: Diga-lhe que estamos numa emergência. Mais quatro segundos de silêncio. C: Você disse-lhe? K: Sim senhor, já o informei … Um-cinco-zero, mantendo a 2 mil, Avianca, zero-cinco-dois. C está claramente a entrar em pânico. C: Avise que não temos combustível. K: Subir e manter a 3 mil. E ah! Estamos a ficar sem combustível. O mesmo erro novamente. Nenhuma menção à palavra mágica “emergência”, que é ao que os controladores de tráfego aéreo estão treinados a dar atenção. Apenas a mensagem “estamos a ficar sem combustível” no fim da frase, precedida por “ah!”. C: Você já avisou que estamos sem combustível? K: Sim, já avisei... C: Ok.

Se não fosse o prelúdio de uma tragédia, os diálogos pareceriam uma comédia. Pouco mais de um minuto passou. TC: Avianca zero-cinco-dois, vou conduzi-los para cerca de 15 milhas a nordeste, para depois voltar à aproximação. Tudo bem com vocês, como está o combustível?

Eles estão à beira do desastre! Um dos comissários de bordo entra na cabine e constata a gravidade da situação. O marcador mostra combustível vazio. Com o dedo, faz um gesto de cortar o pescoço. Mas não diz nada. Nem ninguém diz mais nada nos cinco minutos seguintes. Há uma conversa pelo rádio com menções a assuntos de rotina até que no painel de voo: “Chamas no motor número quatro.” A pista está a 26 km de distância. Trinta e seis segundos de silêncio. O controlador de tráfego aéreo pergunta pela última vez: Vocês têm combustível suficiente para chegar ao aeroporto? A gravação termina.

As investigações do National Transportation Safety Board indicaram uma falha dos pilotos ao tentar comunicar-se claramente com o controlo aéreo. Tudo o que eles precisavam fazer era dizer ao controlador: Não temos combustível para fazer o que você está a mandar. Necessitamos aterrar nos próximos 10 minutos. Eles não conseguiram transmitir essa mensagem. Requisitaram apenas prioridade, mas não declararam emergência de combustível em nenhum momento. Além disso, as péssimas condições atmosféricas dificultaram o pouso, fazendo com que consumisse uma maior quantidade de combustível. Por último, o cansaço e o stress dos comandantes, para pousar mais rapidamente, também foi um fator considerável. 

Os controladores de tráfego aéreo de Nova Iorque têm fama de rudes, agressivos e intimidadores. Apesar disso, também são ótimos. Lidam com um volume de tráfego fenomenal num ambiente muito limitado. A maneira como encaram a situação é: «Estou no controlo. Bico calado e faça o que eu digo.» São ríspidos com os pilotos. E quem não concordar com as ordens deles deve responder no mesmo tom. Aí eles dizem: «Tudo bem.» Mas, se o piloto não os enfrenta, eles estão se ralando. Num voo da British Airways que ia para Nova Iorque, os britânicos estavam a ser tratados com grosseria pelos controladores. Então disseram que pessoas como eles deviam ir a Heathrow aprender a controlar um avião. Eles estavam na maior. Para quem não está acostumado com esse tipo de diálogo, O controlo aéreo de Nova Iorque pode ser bastante intimidador. Existe uma história célebre de um piloto que se perdeu no Aeroporto Kennedy. Ninguém imagina com que facilidade isso pode ocorrer ali depois de o avião atingir o solo. É um labirinto. A questão é que uma controladora de voo se aborreceu com ele e disse: «Pare. Não faça nada. Não fale comigo enquanto eu não lhe dirigir a palavra.» Ela simplesmente o deixou de lado. Por fim, o piloto apanhou o microfone e disse: «Madame, eu fui casado com você em alguma vida passada?»

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