segunda-feira, 8 de maio de 2023

Calendário Gregoriano


No primitivo calendário romano, o ano tinha 304 dias distribuídos por 10 meses. Os 4 primeiros tinham nomes próprios dedicados aos deuses da mitologia romana e provinham de tempos mais remotos, em que, provavelmente, se aplicaram às 4 estações; os 6 restantes eram designados por números ordinais, indicativos da ordem que ocupavam no calendário. Numa Pompílio seguiu o exemplo dos gregos, estabeleceu o ano de 12 meses, introduzindo em primeiro lugar o mês de Januarius, dedicado a Jano, e em último lugar o mês de Februarius, dedicado a Februa, ao qual os romanos ofereciam sacrifícios para expiar as suas faltas de todo o ano. Este foi o motivo por que o mês de Februarius foi colocado no fim. O ano tinha 354 dias (ano lunar dos gregos). Mas devido à superstição dos romanos que tomavam por nefastos os números pares, pela mesma razão, consideraram nefasto o ano ter 354 dias. Por isso, tiveram que acrescentar mais um dia, atribuindo o dia excedente ao mês Februarius, com 28 dias. Os pontífices alongavam ou encurtavam o ano conforme os seus amigos estavam ou não no poder. A desordem atingiu tal ponto que o começo do ano já estava adiantado três meses em relação ao ciclo das estações.

Foi esta desordem que Júlio César encontrou ao chegar ao poder. Decidido a acabar com os abusos dos pontífices, chamou a Roma o astrónomo grego Sosígenes, da escola de Alexandria, para que examinasse a situação e o aconselhasse nas medidas que deveriam ser adoptadas. Estudado o problema, Sosígenes observou que o calendário romano estava adiantado 67 dias em relação ao ano natural ou ao ciclo das estações. Para desfazer essa diferença, Júlio César ordenou que naquele ano (708 de Roma, ou 46 a.C.), além do mês Mercedonius, com 23 dias, que naquele ano era um mês intercalar, fossem adicionados mais dois meses: um de 33 dias; outro de 34 dias - entre os meses de November e December. Resultou assim um ano civil de 445 dias, o maior de todos os tempos, único na história do calendário e conhecido pelo nome de "ano da confusão", pois, devido à grande extensão dos domínios de Roma e à lentidão dos meios de comunicação de então, nalgumas regiões a ordem foi recebida com tal atraso que já havia começado um novo ano.

Assim passou a existir o Calendário Juliano, nome que obviamente se deve a Júlio César, que começou a vigorar no ano 709 de Roma (45 a.C.), mediante um sistema que devia desenrolar-se por ciclos de quatro anos, com três comuns de 365 dias e um bissexto de 366 dias, a fim de compensar as quase seis horas que havia de diferença para o ano trópico. Suprimiu-se o mês Mercedonius e o mês Februarius passou a ser o segundo mês do ano. O valor médio do ano passou a ser de 365,25 dias e o equinócio da primavera deveria ocorrer por volta de 25 de Março. O ano de 365,25 dias do Calendário Juliano é cerca de 11 m 14 s mais longo do que o ano trópico. A acumulação desta diferença ao longo dos anos representa um dia em 128 anos e cerca de três dias em 400 anos. Assim, o equinócio da primavera, que no tempo de Sosígenes ocorria por volta de 25 de março, teve lugar em 21 de março no ano da realização do Concílio de Niceia.

Ainda antes do Calendário Gregoriano, chegou a vigorar o calendário que havia sido proposto pelo historiador e monge grego chamado Dionísio, o Menor, no ano de 525. Calculando a data da Páscoa cristã, Dionísio tomou o ano do nascimento de Jesus como o ano 1 do século I, tendo por base o Calendário Juliano. Os períodos e os acontecimentos anteriores a esta data passaram a ter a sigla a.C. e contados do fim para o princípio; os posteriores, seriam datados com a sigla d.C. ou A.D. (Anno Domini). No final do século XIX, quando a contagem cronológica da História pelo sistema de Dionísio já estava difundida, e uniformizada pelo mundo, descobriu-se um erro de cálculo: O nascimento de Jesus, segundo a moderna historiografia, teria sido no ano 4 a.C., ano da morte de Herodes I, o Grande. 

Calendário Gregoriano teve início no dia 1 de janeiro do ano de 1582, por ordem do Papa Gregório XIII. A Igreja teria interesse no calendário para determinar corretamente a data móvel da Páscoa. É um ajuste no Calendário Juliano, que tinha acumulado uma diferença de dez dias em relação ao ano solar. Tirou-se dez dias ao Calendário Juliano conservando um ano bissexto em cada quatro anos. Em períodos de três séculos retirava-se um dia a cada século, e no quarto século em vez de se retirar acrescentava-se um dia. Isto é, em cada 400 anos eliminavam-se três anos bissextos para evitar o desfasamento. Todo o ano não bissexto começa e acaba no mesmo dia da semana, porque se se dividir 365 por 7 sobra 1.

A prática de contar datas antigas para trás é recente e um pouco complicada, pelo facto de os astrónomos e historiadores não inserirem geralmente o ano zero entre o séc. I a.C. e o séc. I d.C. O ano civil nunca coincidia com o ano solar exatamente. Desde cedo, os Romanos quiseram estabelecer um calendário perpétuo, que os auxiliasse nos trabalhos agrícolas, onde constassem, por exemplo, fenómenos astrológicos e meteorológicos significativos, como o movimento dos ventos. Os chamados calendários rústicos italianos documentam este facto; foram elaborados segundo os signos do zodíaco que não respeitam os meses civis. Convém esclarecer que até 1925 o tempo solar médio era contado em astronomia a partir do meio-dia, para que as observações noturnas caíssem sempre dentro do mesmo dia e não a partir da meia-noite, como é usual no tempo civil. O dia solar médio era então chamado dia astronómico. A partir de 1925, por acordo internacional, os dias solares médios passaram a contar-se com início à meia-noite tanto em astronomia como na vida civil e a designação de dia astronómico caiu em desuso. Mas os dias do período juliano, que começaram a contar-se de meio-dia a meio-dia segundo o uso astronómico da época, continuam a contar-se da mesma maneira, por razões óbvias de continuidade da escala.

O deslocamento do equinócio no calendário, que não foi tomado em consideração pelos padres conciliares de Niceia, continuou a produzir-se à razão de um dia em cada 128 anos, causando várias preocupações à Igreja durante toda a Idade Média. Foi necessária a autoridade de um Papa com a cultura e a tenacidade de Gregório XIII para conseguir impor a reforma. Entretanto, o equinócio da primavera ocorria já por volta de 11 de Março. Depois de várias consultas a instituições científicas, em 1576 foi criada uma comissão encarregada de estudar o problema e as várias propostas existentes para o resolver. Nesta comissão, constituída pelos melhores astrónomos e matemáticos da época, teve papel preponderante o célebre padre jesuíta Clavius, que estudara matemática em Coimbra com Pedro Nunes.

A reforma gregoriana tinha por finalidade fazer regressar o equinócio da primavera a 21 de Março e desfazer o erro de 10 dias já existente. Para isso, a bula mandava que o dia imediato à quinta-feira 4 de Outubro fosse designado por sexta-feira 15 de Outubro. Como se vê, embora houvesse um salto nos dias, manteve-se intacto o ciclo semanal. 
Para evitar, no futuro, a repetição da diferença foi estabelecido que os anos seculares só seriam bissextos se fossem divisíveis por 400. Suprimir-se-iam, assim, 3 dias em cada 400 anos, razão pela qual o ano 1600 foi bissexto, mas não o foram os anos 1700, 1800 e 1900, que teriam sido segundo a regra juliana, por serem divisíveis por 4.

Portugal, Espanha e Itália foram os únicos países que aceitaram de imediato a reforma do calendário. Em França e nos Estados católicos dos Países Baixos a supressão dos 10 dias fez-se ainda em 1582, durante o mês de Dezembro. Os Estados católicos da Alemanha e da Suíça acolheram a reforma em 1584; a Polónia, após alguma resistência, em 1586 e a Hungria em 1587. Os russos, gregos, turcos e, duma maneira geral, os povos de religião ortodoxa, conservaram o Calendário Juliano. Como tinham considerado bissextos os anos de 1700, 1800 e 1900, a diferença era já de 13 dias. A URSS adoptou o Calendário Gregoriano em 1918, a Grécia em 1923 e a Turquia em 1926.

A mobilidade da data da Páscoa, que oscila entre 22 de março e 25 de abril, é um dos efeitos colaterais do Calendário GregorianoOs padres do concílio de Niceia e o Papa Gregório XIII ligaram o calendário ao Sol verdadeiro, mas tomaram para Lua pascal uma Lua média que, por vezes, se afasta bastante da Lua astronómica. Por esse motivo, podem dar-se desvios de uma semana ou mesmo de um mês na data da Páscoa.

As únicas fontes são os relatos da infância de Jesus, que se encontram no início dos Evangelhos de Mateus (Mt) e Lucas (Lc), que apresentam muitos problemas literários e históricos, já que a sua escrita surge muito depois da morte de Jesus, revelando o maravilhoso à maneira dos relatos do mundo judaico/helenístico. A composição de Mt e de Lc é geralmente datada entre o ano 70 d.C. e o ano 80 d.C.. O nascimento de Jesus é celebrado pelos católicos no dia 25 de dezembro. Para a Igreja Russa e as antigas Igrejas do Oriente, que ainda usam o Calendário Juliano, é no dia 7 de janeiro. Sobre a infância de Jesus, Mateus e Lucas diferem radicalmente, quer quanto à estrutura, quer quanto à narrativa. A maioria dos historiadores acredita que esses dois textos foram escritos independentemente um do outro na base de relatos da oralidade de comunidades cristãs anteriores. É nos detalhes comuns que os historiadores buscam os elementos históricos, a partir do critério da historicidade das múltiplas versões em fontes literárias independentes. Os historiadores geralmente colocam a data da morte de Jesus durante a festa judaica da Páscoa em Jerusalém entre os anos 30 e 33 d.C.. Os Evangelhos relatam unanimemente que Jesus foi condenado à morte sob a administração do romano Pôncio Pilatos, governador da Judeia entre 26 e 36 d.C.

Só alguns séculos após o nascimento de Jesus é que alguém se lembrou de ligar este acontecimento a uma origem de contagem do tempo. A proposta foi apresentada pelo monge cita Dionísio, o Exíguo, por volta do ano 532 da era atual. Imediatamente adoptada pela Igreja de Roma, ela foi-se generalizando a todos os países católicos. Em Portugal, a era de César ou hispânica, vigorou até ao ano 1422. Esta era havia sido introduzido na Península Ibérica no século V para recordar a conquista da península por Caio César Augusto no ano 38 a. C. (ano 716 de Roma). Por determinação de Dom João I, foi abolida a era de César e o ano 1460 desta era passou a ser o ano 1422 da era cristã.

É importante notar que na era cristã os anos são referidos a uma escala sem zero, isto é, a contagem inicia-se no ano 1 depois de Cristo, designando-se o ano anterior como ano 1 antes de Cristo. Por conseguinte, qualquer acontecimento ocorrido durante o primeiro ano da era cristã, embora seja apenas de um dia ou de um mês, conta-se como tendo ocorrido no ano 1 depois de Cristo. Por esta razão, o primeiro século (bloco de 100 anos) da era cristã, terminou no dia 31 de dezembro do ano 100 d.C. (os primeiros 100 anos após o início da era). O século II começou no dia 1 de Janeiro do ano 101 d. C. e assim sucessivamente. Consequentemente, o século XX começou no dia 1 de Janeiro do ano 1901, o que significa que o século XX terminou no dia 31 de dezembro do ano 2000.

Esta forma pouco lógica de numerar os anos do calendário é particularmente inconveniente quando se trata de determinar intervalos de tempo que começam antes do início da era cristã e terminam depois. Assim, por exemplo, o intervalo entre os anos 50 a.C. e 50 d.C. não é de 100 anos, mas apenas de 99. Em geral, estes intervalos de tempo obtêm-se diminuindo um ano, o que é necessário ter em conta ao investigar acontecimentos históricos ou fenómenos astronómicos da Antiguidade datados segundo a era cristã. Este inconveniente é facilmente resolvido com a introdução dos números negativos, como aliás o fazem os astrónomos. Assim, o ano 1 a.C. corresponde ao ano 0, o ano 2 a.C. ao ano -1 e assim sucessivamente. As datas depois de Cristo exprimem-se da mesma maneira. 

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