sábado, 26 de fevereiro de 2022

A Finlândia de novo na mira da Rússia




Finlândia e Suécia receberam ameaça de retaliação por parte de Putin no caso de se atreverem aderir à NATO.

A Finlândia, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, tendo nessa guerra sido invadida pela URSS, tem-se mantido neutra. Faz parte da União Europeia, mas não da NATO. Ora, recentemente tanto a Finlândia como a Suécia, devido às intenções de Putin de doravante não dar vida fácil à União Europeia e à NATO ao ambicionar recuperar o antigo poder da URSS. E é o que se está a ver agora com a invasão da Ucrânia, cujo desenlace ainda não se consegue adivinhar.

Na manhã de 30 de novembro de 1939, o Exército Vermelho lançou uma ofensiva militar maciça através da fronteira com a Finlândia. Para os povos da Europa Ocidental, que estavam em guerra havia quase três meses, parecia certo que a Finlândia sucumbiria em pouco tempo. Divisões soviéticas, totalizando cerca de 465 mil homens, lançaram-se contra nove divisões finlandesas, num total de 130 mil homens. No mesmo momento, mil aviões soviéticos entravam em ação contra 150 aviões finlandeses, todos antigos.

Em 2 de dezembro, a agência de notícias soviética Tass anunciava a criação de um “governo popular da Finlândia”, mas, nas fronteiras, a resistência finlandesa era impressionante. Pequenas unidades militares conseguiam deslocar-se rapidamente em bicicletas ou esquis pelos estreitos caminhos florestais. Os defensores lançavam garrafas cheias de gasolina, com um trapo incendiado no gargalo, dentro dos tanques soviéticos: essa bomba incendiária tão simples, mas com efeito tão eficazmente devastador, que não tardou receber o nome de “cocktail Molotov”. Em 12 de dezembro, as tropas finlandesas, a leste de Suomussalmi, combateram um contingente soviético muito superior numericamente. Sem artilharia nem armas antitanque, os finlandeses conseguiram, ainda assim, manter a sua posição durante cinco dias enquanto a temperatura chegava a 35 graus negativos. Os reforços soviéticos comandados pelo general Vinogradov, engarrafados numa estreita estrada de terra batida, ladeada por um arvoredo denso, foram atacados, num duro combate corpo a corpo, por tropas finlandesas decididas a não se deixarem vencer. E esse não foi o único ponto em que os tanques do Exército Vermelho não conseguiram avançar.

Entretanto, as tropas de Hitler entravam no território da Polónia numa invasão sem precedentes. Vinogradov foi forçado a transpor novamente a fronteira russa. Mais de 1.500 militares soviéticos foram enterrados pelos finlandeses, enquanto outros 25 mil foram sepultados pela neve, mortos em combate ou pelo frio. O general Vinogradov foi executado pelo seu fracasso. Para as tropas finlandesas dos setores restantes na frente, a vitória de Suomussalmi foi um estímulo poderoso. O coronel Hjalmar Siilasvuo, que comandara os defensores, foi promovido a general e enviado para enfrentar outra divisão russa, encurralada nas florestas de Kuhmo. Depois da guerra, ele escreveria a propósito dos defensores de Suomussalmi: “Eles mostraram ao povo o caminho da glória, um caminho cheio de asperezas, é verdade, mas o único possível.”

A Finlândia pagou um preço alto pela paz, cedendo à Rússia grandes extensões de território ao longo da costa do Báltico e ao norte e arrendando-lhes, por trinta anos, a península de Hanko. Mais de 27 mil militares finlandeses haviam morrido. Segundo Molotov, a guerra russo-finlandesa fizera 58 mil baixas no lado russo, mas os finlandeses julgam que o número verdadeiro chega, pelo menos, a 75 mil e, possivelmente, ao dobro. Durante três meses e meio, as tropas soviéticas foram postas à prova num conflito feroz; apesar das perdas, deram mostras de perícia, tenacidade e coragem. Não obstante os reveses iniciais, conseguiram aproveitar os rigores do inverno e, principalmente, puderam contar com reservas substanciais de homens, muito superiores em relação ao adversário. Frequentemente repelidas, sempre renovaram os ataques. “Terminou mais uma guerra da história”, escreveu Geoffrey Cox, sentado, nesse 13 de março, à mesa de uma pequena cafetaria finlandesa enquanto a rádio anunciava o fim das hostilidades. “Lá fora, o relógio da estação, iluminado pela primeira vez desde 29 de novembro, brilha contra a escuridão do céu, sinal do século XX para indicar que a paz chegou.”

Para o povo da Polónia, não havia sequer perspetivas de paz. No momento em que as armas soviéticas e finlandesas se calavam no extremo oriental do Báltico, nos portos de Stettin e de Schneidemühl, em seu extremo ocidental eram deportados judeus alemães, em vagões de mercadorias selados, para a província de Lublin. As deportações terminaram em 12 de março. Numa caminhada de catorze horas a partir de Lublin, em direção leste, 72 entre os 1.200 deportados de Stettin morreram por causa do frio.

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