segunda-feira, 18 de abril de 2022

22 de junho de 1941 – a Alemanha invade a URSS


Às primeiras horas de 22 de junho de 1941, quando as forças alemãs se encontravam na fronteira soviética, prontas para a invasão – 2,5 milhões de soldados soviéticos enfrentavam 3,2 milhões de alemães. As reservas soviéticas, disponíveis para a defesa de Moscovo, de Leningrado e das regiões industriais da bacia do rio Donets e dos Urais, eram de 2,2 milhões de homens. Esses números, porém, eram enganadores: somente 30% das tropas soviéticas estavam equipadas com armas automáticas e apenas 20% dos aviões soviéticos, e 9% dos tanques, eram modelos modernos.
Uns dias antes, o expresso Berlim-Moscovo atravessava a ponte ferroviária sobre o rio Bug e entrava em Brest-Litovsk, na fronteira soviética. Pouco depois, dois comboios provenientes de Kobryn atravessaram o Bug na direção oposta: o expresso normal Moscovo-Berlim e, seguindo-o imediatamente, um comboio de mercadorias que transportava cereais soviéticos para os silos da Alemanha. A vida seguia o seu curso habitual. Num ponto mais meridional da fronteira, o comandante de um corpo do exército alemão comunicou aos seus superiores que a pequena cidade soviética à sua frente estava manifestamente tranquila. “Sokal não tem as luzes apagadas”, disse ele. “Os russos colocaram homens nas guaritas, que continuam iluminadas. Aparentemente não têm suspeitas.” Em Novgorod-Volynsky, o general soviético Konstantin Rokossovsky era convidado de honra para um concerto em seu quartel-general. Ao receber a diretiva vinda de Moscovo, ordenou aos comandantes que regressassem às respetivas unidades “no fim do concerto”. Na residência dos oficiais em Kiev, o general Pavlov, comandante da região militar do Ocidente, assistia a uma comédia ucraniana. Ao ser informado de que “a situação na fronteira parecia alarmante”, resolveu, de qualquer maneira, ver a peça até o fim. Não era um concerto nem uma peça, mas um baile, o evento marcado para essa noite de sábado na cidade fronteiriça de Siemiatycze, em que estavam, como era habitual havia algumas semanas, os elementos da patrulha fronteiriça do lado alemão e um grande número de judeus. Às 4h, o baile ainda não terminara. Os minutos sucediam-se em canções roucas e em danças rodopiantes. “De repente”, registou um historiador do episódio, “começaram a cair bombas. O salão de baile ficou sem luz. Em pânico e tropeçando uns nos outros, no escuro, todos correram para suas casas”.
Senhor de oito capitais europeias – Varsóvia, Copenhague, Oslo, Haia, Bruxelas, Paris, Belgrado e Atenas –, dominando a Europa desde o Ártico até à ilha de Creta, com seus exércitos vitoriosos ainda mais a sul, na fronteira do Egito, Hitler voltava as suas atenções e tropas para Moscovo. Porém, embora não estivesse longe o dia em que as torres do Kremlin seriam visíveis através dos binóculos dos comandantes alemães na primeira linha, Moscovo nunca seria sua, e a marcha sobre a cidade, tal como a de Napoleão, conduziria, entre o sofrimento e a devastação, à derrocada de todos os seus planos e à queda do Reich. Passavam quinze minutos das quatro horas da manhã de 22 de junho de 1941 quando as tropas alemãs começavam a invasão da União Soviética. Nas primeiras horas os bombardeiros alemães atacaram 66 aeródromos soviéticos, destruindo muitos aviões. Ao mesmo tempo, cinco cidades soviéticas previamente escolhidas eram sujeitas a bombardeamentos aéreos: Kovno, Minsk, Rovno, Odessa e Sebastopol. Outro grupo de bombardeiros atacou, em Libava, uma entre as principais bases navais soviéticas do Báltico. Enquanto a população soviética despertava ao som das bombas, o exército alemão iniciava o seu avanço ao longo de uma frente de 1.500 Km. Às sete horas, Goebbels leu por rádio uma proclamação de Hitler: “Sobrecarregado pelo peso dos preparativos”, declarava, “condenado a meses de silêncio, posso finalmente falar com toda a franqueza, Povo alemão!, neste momento, está em curso uma marcha que, por suas dimensões, iguala-se às maiores que o mundo alguma vez assistiu. Decidi colocar novamente o destino e o futuro do Reich e de nosso povo nas mãos de nossos soldados. Que Deus nos auxilie, especialmente nesse combate!”.

Quinze minutos depois, com a aprovação de Stalin, Zhukov emitiu uma diretiva em que autorizava as tropas soviéticas a “atacar o inimigo e destruí-lo” onde quer que as fronteiras fossem violadas, sem, contudo, transpor a fronteira alemã. Seriam organizados ataques aéreos contra as posições alemãs, nomeadamente em Konigsberg e em Memel, mas as incursões não deveriam ultrapassar 150 Km além das linhas inimigas. Molotov faria uma comunicação ao país, por rádio, ao meio-dia.

Nada podia deter o avanço dos exércitos alemães. Nesse dia, ao sul de Kovno, em Alytus, uma ponte de importância vital foi tomada, e a linha do rio Neman foi transposta pelos alemães sem que encontrassem qualquer resistência por parte dos soviéticos. Algumas unidades russas, registou o general Halder, “foram capturadas completamente desprevenidas nos quartéis; os aviões estavam nas bases, ainda cobertos; e as unidades mais avançadas, ao serem atacadas por nossas tropas, perguntavam ao alto-comando o que deviam fazer”. Às 21h15, Timoshenko emitiu a terceira diretiva em menos de 24 horas, ordenando que todas as forças fronteiriças soviéticas passassem à ofensiva e avançassem cerca de 80 a 120 Km além da fronteira alemã. A maré da guerra, porém, já não podia ser mudada por uma simples diretiva. Ao cair da noite em 22 de junho, os alemães haviam aberto uma brecha entre a frente noroeste e a frente ocidental soviética, mas nem todos os observadores viam na ofensiva alemã um facto trágico. Quando, às 16h, a notícia do ataque alemão à Rússia foi transmitida através dos alto-falantes alemães instalados em Varsóvia, os judeus do gueto, conforme um deles, Alexander Donat, recordou mais tarde “Com a Rússia do nosso lado”, sentiam eles, “a vitória é certa, e o fim de Hitler está próximo”.

A confiança desses judeus encurralados e famintos tinha uma curiosa contrapartida no clima que reinava em Berlim. “Temos de vencer, e depressa”, escreveu Goebbels em seu diário, em 23 de junho. “Nota-se que a população está levemente desanimada. A nação quer a paz, se bem que não à custa de uma derrota, mas cada novo teatro de operações que se inaugura traz consigo inquietação e receio.” Hitler, trocando Berlim por um novo quartel-general, a Toca do Lobo, próximo de Rastenburg, na Prússia Oriental, disse ao general Jodl: “Basta-nos arrombar a porta a pontapé para que o edifício inteiro se desfaça, tão podre ele está.” No entanto, nem mesmo a confiança de Hitler era isenta de reservas. “No início de cada campanha”, disse ele a um membro de seu estado-maior algumas horas mais tarde, “abre-se uma porta para um quarto escuro, onde nada se vê. Nunca se sabe o que estará escondido”.

Ao meio-dia de 22 de junho, a força aérea alemã já havia destruído mais de mil aviões soviéticos no solo ou em combate: um quarto de todos os efetivos aéreos russos. Nesse dia, tanto a Itália como a Roménia declararam guerra à União Soviética. Ao cair da noite, haviam sido tomadas as cidades de Kobryn e de Pruzhany, situadas na zona fortificada. No dia seguinte, em Moscovo, foi criado um conselho de evacuação, composto por três elementos, entre os quais Alexei Kosygin, que organizaria o desmantelamento, a transferência e a reconstrução de mais de 1.500 fábricas de armamento e de outras unidades industriais da Rússia Ocidental e da Ucrânia para locais seguros no Leste. Além dos Urais, longe de qualquer combate provável, ou mesmo possível, em cidades distantes como Sverdlovsk, Kurgan e Chelyabinsk, na Sibéria e nas cidades do Cazaquistão, a União Soviética, neste momento de desorganização e de fraqueza, começava a reconstituir as bases de um maciço potencial de guerra.

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