sexta-feira, 15 de abril de 2022

A bomba atómica e o fim de tudo



Vladimir Putin, com a invasão da Ucrânia e uma guerra a que a Europa já não estava habituada desde a Segunda Guerra Mundial, bem como a ameaça que faz agora com as armas nucleares depois de a Suécia e a Finlândia terem declarado vontade de entrar na NATO, aviva a memória de Hitler. Para Hitler, a Primeira Guerra Mundial fora “a maior de todas as catástrofes”. Putin, desde que ascendeu ao poder como presidente da Rússia em 7 de maio de 2000, diz o mesmo do fim da União Soviética em 1991.

Hitler achara os perigos das trincheiras revigorantes. Sua bravura lhe dera medalhas e a opinião favorável de seus oficiais. Depois de anos de vida como um derrotado em Viena, metera na cabeça a sua ardente crença na superioridade da nação germânica sobre todas as outras. E ele estava tomado por uma ira destruidora em face da humilhação da Alemanha na paz de Versalhes, (cujos termos incluíam a perda de território, redução de seu exército a uma força de 100 mil, privação de sua marinha de vasos de guerra modernos e abolição total de sua força aérea) foram aceites pelo governo alemão somente porque o bloqueio naval dos Aliados, obtendo finalmente o efeito que não conseguira nos anos de guerra, não lhe deixava outra opção. 

Na Rússia, um partido bolchevique triunfalista, vitorioso na guerra civil, estava instituindo um regime que, apesar de toda a sua retórica igualitarista, superaria em muito a Revolução Francesa ao subordinar todos os aspectos da vida pública, assim como boa parte da vida privada, ao comando do alto, reforçado por disciplinas arbitrárias e um sistema penetrante e difuso de espionagem interna. 

Hitler admirava profundamente Mussolini, que comparava constantemente a Júlio César e cujo uso do simbolismo legionário, inclusive o de estandartes e da saudação “romana”, adotou em seu grupo revolucionário. No entanto, o Estado germânico, embora enfraquecido pela derrota. A tentativa de um golpe de Estado em 1923 foi facilmente sufocada pela polícia bávara. 
Mas, em janeiro de 1933, costurando com dificuldade uma maioria no Parlamento, foi nomeado chanceler e passou a tomar imediatamente medidas para repor a Alemanha em seu antigo lugar de grande potência militar. No ano seguinte, com a morte do presidente Hindenburg, o comandante-em-chefe do tempo da guerra, Hitler fez com que todos os soldados jurassem fidelidade pessoal a ele na qualidade de novo chefe de Estado (Führer, ou “líder”). Em 1935, repudiou as cláusulas do Tratado de Versalhes que limitavam o tamanho do exército a 100 mil, reimplantou o recrutamento universal e decretou a criação de uma força aérea independente; em 1936, mesmo ano em que negociou com a Inglaterra um novo tratado naval anglo-germânico que lhe permitia construir submarinos, reocupou a desmilitarizada Renânia com tropas alemãs. Já estava fabricando tanques em janeiro de 1934. Em 1935, três divisões panzer (blindados) já estavam em formação. Em 1937, o exército alemão já contava com 36 divisões de infantaria e três de panzer. Proporcionou uma força de guerra de 3 milhões de homens, um aumento de trinta vezes em quatro anos. Em 1938, a nova Luftwaffe tinha 3350 aviões de combate (nenhum em 1933) e estava treinando tropas de paraquedistas para se tornarem o braço aéreo do exército, enquanto a marinha dava início à construção do primeiro de uma série de super encouraçados e planeava construir um porta-aviões.

Enquanto os franceses reforçavam a Linha Maginot e os ingleses recusavam-se firmemente a se rearmar, os jovens alemães envergavam com entusiasmo o uniforme cinzento escuro das trincheiras, gozavam da admiração dos civis, tal como seus pais e avós nas décadas anteriores a 1914, quando o exército de conscritos fora o principal símbolo da nacionalidade germânica, e vibravam com a modernidade que representavam tanques, aviões de combate e caças de mergulho. Em 1939, a sociedade alemã não estava apenas remilitarizada, mas tomada pela crença de que possuía os meios para sobrepujar os seus decadentes vizinhos, Estados que não levavam a sério a filosofia de “cada homem um soldado”, e obter a vitória que lhe fora roubada 21 anos antes.

A campanha da Polónia revelou a nova tática para a qual as forças terrestres e aéreas da Alemanha estavam equipadas e treinadas. Chamada de Blitzkrieg, “guerra relâmpago”, termo de um jornalista, mas bastante descritivo, ela concentrava os tanques das divisões panzer numa falange ofensiva, apoiada por esquadrões de caças de mergulho agindo como “artilharia voadora”, que quando direcionada para um ponto fraco de uma linha de defesa a rompia e prosseguia espalhando confusão em sua esteira. A técnica era a mesma introduzida por Epaminondas em Leuctra, usada por Alexandre contra Xerxes em Gaugamelos e empregada por Napoleão em Marengo, Austerlitz e Wagram. A Blitzkrieg, porém, obteve resultados negados a comandantes anteriores, cuja habilidade para explorar o sucesso no ponto de assalto estava limitada pela velocidade e resistência do cavalo, fosse um instrumento de força ou um meio de levar mensagens e relatórios. O tanque não somente deixava para trás a infantaria, como podia manter um ritmo de avanço de cinquenta, até oitenta quilómetros em 24 horas, desde que suprido de combustível ou peças sobressalentes, ao mesmo tempo que seu aparelho de rádio permitia ao quartel-general receber informações e transmitir ordens com a mesma velocidade que as operações pediam, um desdobramento que veio a ser conhecido durante a guerra como “tempo real”.

Concentradas furtivamente nas florestas das Ardenas, ao norte da Linha Maginot, as divisões blindadas alemãs romperam as defesas de campo francesas em três dias de luta e alcançaram Abbeville, na costa do canal da Mancha, em 19 de maio. Esse avanço cortou os exércitos aliados em dois, deixando o melhor dos franceses e das forças expedicionárias britânicas isolado no Norte, enquanto no Sul a defesa do interior francês ficava nas mãos de formações imóveis e de segunda categoria. A maior parte do exército inglês foi evacuada de Dunquerque por mar — e a frente meridional foi penetrada e derrotada imediatamente depois. Em 17 de junho, o governo francês pediu um armistício que entrou em vigor a 25 de junho. A 19 de julho, ele realizou uma celebração da vitória em Berlim para promover doze de seus generais ao posto de marechal; já tinha tomado a decisão de desmobilizar 35 das cem divisões do exército, para que a indústria recuperasse a mão-de-obra necessária para sustentar a produção de bens de consumo em níveis de tempo de paz.

Portanto, no verão de 1940, a União Soviética estava inerte, satisfeita com a incorporação ao seu território das terras que Hitler lhe destinara no acordo com Stalin, anterior à guerra, e com o cumprimento das entregas de matérias-primas que eram uma condição do acordo. A Inglaterra, expulsa do continente, onde abandonara quase todo o seu equipamento militar pesado, estava destituída de meios para travar uma guerra ofensiva; na melhor das hipóteses, podia defender as suas rotas marinhas ou seu espaço aéreo. Qualquer cálculo racional levava à conclusão de que os ingleses pediriam paz. Assim calculava Hitler e ele esperou durante junho e julho receber uma proposta de Churchill.

Uma Blitzkrieg em escala ampliada pela estepe russa seria uma guerra relâmpago bem-sucedida, pensou Hitler. Se bem pensava, proporcionaria à Alemanha os recursos materiais e industriais que fariam dela a potência dominante da Europa para sempre. Essa Blitzkrieg não teria sido deflagrada se a Inglaterra tivesse concordado com um armistício, uma vez que evitaria o perigo de que os Estados Unidos viessem a intervir na Europa, como acontecera em 1917, invertendo a balança do poder. Porém, a Inglaterra mostrou-se recalcitrante, mesmo sob o peso da ofensiva aérea total lançada pelos alemães em agosto. Enquanto observava quanto tempo as defesas aéreas britânicas poderiam resistir, Hitler decidiu suspender a desmobilização de divisões que tinham tomado parte na batalha da França e começar uma distribuição preventiva de suas formações panzer no Leste.

Hitler era um clausewitziano convicto: considerava realmente a guerra como uma continuação da política. Mais que isso: não as via como atividades separadas. Tal como Marx, embora rejeitasse com desprezo o coletivismo dele, uma vez que fora ideado para libertar indiferentemente todas as raças da escravidão económica, Hitler concebia a vida como luta e a guerra, portanto, como o meio natural pelo qual a política racial alcançaria seus objetivos. Em 1934, afirmou em Munique: “Nenhum de vocês leu Clausewitz, ou, se o fez, não aprendeu a relacioná-lo ao presente”. Em seus últimos dias de vida em Berlim, em abril de 1945, quando se sentou para escrever o seu testamento político ao povo alemão, o único nome que citou foi o do “grande Clausewitz”, ao justificar o que tentara realizar.

Armas revolucionárias, ethos guerreiro e filosofia clausewitziana de integração dos fins militares aos políticos iriam garantir que, sob a mão de Hitler, a guerra na Europa entre 1939 e 1945 alcançasse um nível de totalidade com que nenhum líder anterior - nem Alexandre, nem Maomé, nem Gengis Khan, nem Napoleão - jamais sonhara. No início das hostilidades, ele concordou com a declaração dos governos inglês e francês de que não dirigiriam ataques aéreos contra alvos civis. Uma vez aberta uma brecha na proibição - por um ataque alemão equivocadamente lançado contra a cidade alemã de Freiburg a 10 de maio de 1940, que a conveniência exigiu que se colocasse a culpa nos franceses -, as inibições foram deixadas de lado.

Hitler, frustrado em seus esforços de fazer a Inglaterra admitir a derrota pelos efeitos dos bombardeios, resolveu então usar o seu outro sistema revolucionário de armas, a força blindada, para conseguir a vitória total na Europa que tanto desejava. Na primavera de 1941, sua distribuição de divisões no Leste estava completa e sua decisão de atacar a União Soviética, que se recusara a concordar com a sua reorganização diplomática da Europa meridional, era absoluta. Depois de uma campanha subsidiária para conquistar a Jugoslávia e a Grécia, que resistiram às suas exigências de subordinação, lançou as suas forças blindadas contra a Rússia em 22 de junho.

A Blitzkrieg nos primeiros seis meses da ofensiva na Rússia foi tão estrondosa como havia sido no Ocidente a primavera de 1940. Até dezembro, os tanques germânicos tomaram a Ucrânia, o celeiro agrícola da União Soviética e fonte de boa parte de sua riqueza industrial e extrativa, e chegaram às portas de Leningrado e Moscovo. Embora os soldados alemães tivessem observado os códigos legais de combate vigentes no Ocidente, no Leste, eles se comportaram frequentemente como se o suposto barbarismo de seus adversários (um barbarismo tecido pelos propagandistas do Reich a partir de lembranças folclóricas da ameaça das estepes e da evocação de uma Revolução Vermelha sangrenta de unhas e dentes) justificasse o comportamento bárbaro contra os soldados do Exército Vermelho, mesmo depois de aprisionados, o que aconteceu aos milhares depois dos cercos de Minsk, Smolensk e Kiev. Mais de 3 milhões dos 5 milhões de soldados soviéticos feitos prisioneiros pela Wehrmacht morreram de maus-tratos e privações no cativeiro, a maioria nos dois primeiros anos de campanha.

A Blitzkrieg funcionou em terra, pelo menos até a embrulhada alemã na batalha de Stalingrado, no outono de 1942. Enquanto isso, no espaço aéreo do continente europeu, seus inimigos movimentavam-se para obter uma vantagem decisiva.
 Os primeiros bombardeiros britânicos eram estratégicos em concepção, não em capacidade, mas a força aérea americana, que começou a chegar à Inglaterra em 1942 para participar com a Real Força Aérea da execução de uma campanha de bombardeios estratégicos contra a Alemanha, fez isso com um avião, o B-17, que cumpria todos os desideratos necessários: era rápido, de longo alcance, lançava uma grande carga de bombas com grande acuidade e estava concebido para defender-se contra o ataque de caças.

A revogação por Hitler do acordo tácito de poupar os alvos civis levou a Inglaterra a começar a bombardear cidades alemãs em 1940. Os bombardeiros conseguiram pouca coisa naquele ano e no seguinte, mas em fevereiro de 1942 um novo chefe do Comando dos Bombardeiros, marechal-do-ar Arthur Harris, pôs de lado a política de atacar apenas alvos militares identificáveis e inaugurou o “bombardeio de área”. 
Logo mil bombas inglesas com explosivos de ruptura choviam sobre cidades alemãs escolhidas, ao mesmo tempo que ataques diurnos coordenados da força aérea do exército americano sustentavam o ataque. Depois que obtiveram uma força de caças de longo alcance para escoltar as suas formações até aos alvos, os bombardeiros voavam sobre a Alemanha impunemente.

O Japão, outro dos vitoriosos nominais da Primeira Guerra, que se sentia enganado na partilha dos despojos, tinha gasto uma grande proporção de seu orçamento militar desde 1921 construindo a maior e mais bem equipada força aérea naval do mundo. A frota de seis grandes porta-aviões não tivera nenhuma utilidade quando, em 1937, quando o exército deflagrou um ataque total à China. Mas revelou-se um suporte estratégico essencial quando, em 1941, Tóquio tomou a decisão de desafiar a insistência americana de que terminasse a ofensiva na China e desistisse da disposição de tropas ao sul que ameaçavam as possessões britânicas e holandesas na Malásia e nas Índias orientais. Yamamoto, o principal estratego naval do Japão era um dos poucos japoneses que conheciam de perto os Estados Unidos.  N
os primeiros seis meses de 1942, a marinha japonesa, agindo ao mesmo tempo como ponta de lança e escolta para o exército, conquistou quase todo o Pacífico ocidental e o Sudeste asiático e levou o perímetro do que estava planeado para ser uma zona impenetrável de controlo estratégico até aos acessos setentrionais da Austrália.

De onde os japoneses tiraram o ethos guerreiro que fez deles um dos mais terríveis povos militares que o mundo já conheceu continua tão misterioso hoje quanto no dia 7 de dezembro de 1941 os seus pilotos transformaram os couraçados da frota do Pacífico dos Estados Unidos ancorados em Pearl Harbor numa fileira de cascos em chamas. Já era um povo guerreiro e, durante o século XIII, o único, além dos mamelucos turcos do Egito, que confrontou e viu partir o impulso conquistador dos mongóis. Todavia, eram guerreiros de um tipo “primitivo”, praticando um estilo altamente ritualizado de combate e valorizando a habilidade nas armas em larga medida como um meio de definir o estatuto social e subordinando os desprovidos de espada ao poder dos samurais. Foi para perpetuar essa ordem social que tinham banido a pólvora de suas ilhas no século XVII e, a partir de então, resistiram à intromissão de comerciantes estrangeiros até reconhecerem, com a chegada de uma frota americana de navios de guerra a vapor, em 1854, que os meios de negar o mundo exterior não eram mais eficazes.

Ao contrário dos manchus chineses, que reagiram ao desafio tecnológico ocidental confiando na capacidade da cultura tradicional de negar seus efeitos desestabilizadores, os japoneses, a partir de 1866, tomaram a decisão consciente de aprender os segredos da superioridade material do Ocidente e colocá-los ao serviço do seu próprio nacionalismo. Numa terrível guerra civil, os samurais rústicos que resistiram ao programa de reformas foram esmagados por exércitos que pela primeira vez admitiam gente comum em suas fileiras. O regime vitorioso, dominado por famílias feudais que tinham abraçado a necessidade de mudança, introduziu no Japão as instituições que seus enviados aos países ocidentais tinham identificado como as que os tornavam fortes: na economia, as indústrias de processos repetitivos; no domínio público, um exército e uma marinha recrutados por alistamento universal e equipados com as armas mais avançadas, incluindo navios encouraçados que, em 1911, já estavam em construção nos estaleiros japoneses.

Outros Estados não europeus que tentaram essa imitação do poderio militar ocidental, notadamente o Egito de Muhammad Ali e a Turquia otomana do século XIX, tinham fracassado. A compra de armas ocidentais não trazia necessariamente com ela a transferência da cultura militar do Ocidente. Mas o Japão conseguiu adquirir as duas juntas. Em 1904-05, derrotou a Rússia numa guerra pelo controlo da Manchúria na qual todos os observadores ocidentais testemunharam o poder de luta exemplar do recruta comum japonês. Isso foi demonstrado novamente na campanha de 1941-45 no Sudeste asiático e no Pacífico, especialmente nos estágios iniciais, quando unidades treinadas dos “povos marciais” da Índia — herdeiros de ondas sucessivas de conquistadores militantes e comandados por oficiais britânicos — foram constantemente superadas em combate pelos descendentes de agricultores japoneses que, cem anos antes, tinham sido proibidos de portar armas.

As qualidades pessoais dos soldados japoneses acabaram por ser ultrapassadas exatamente pelos meios que Yamamoto tinha advertido: a capacidade “repentina” da indústria americana de superar a produção japonesa de navios e aviões de guerra. O desempenho do corpo de fuzileiros navais dos Estados Unidos nas batalhas para conquistar as ilhas de Iwo Jima ou Okinawa (1945), em particular, desmentiu a rejeição racista de Hitler dos americanos como um povo desvirilizado pela abundância material. Contudo, a consistência com que os japoneses demonstraram a sua determinação de lutar literalmente até à morte — após o ataque em Tarawa (1943), apenas oito dos 5 mil soldados da guarnição japonesa foram encontrados vivos — persuadiu o alto comando americano em 1945 de que um ataque às ilhas centrais do Japão custaria caro demais — falou-se em 1 milhão de baixas, talvez de mortos — para ser tentado, a não ser que outro meio prevalecesse. Por fim, esse meio estava disponível.

Os Estados Unidos já tinham utilizado uma pletora de meios técnicos avançados contra o Japão na tentativa de vencer a coragem com o poder de fogo. Sua frota de porta-aviões, inferior em número mas vigorosamente manejada nas batalhas do mar de Coral e das ilhas Midway, tinha restaurado o equilíbrio naval no Pacífico em 1942. No final de 1944, a força submarina americana já tinha afundado metade da frota mercante japonesa e dois terços de seus petroleiros; no verão de 1945, a força aérea estratégica dos Estados Unidos estava engajada numa campanha incendiária que deixou completamente incendiada 60% da área das sessenta maiores cidades construídas em madeira do Japão.

Os exércitos anglo-americanos, que tinham desembarcado na França em junho de 1944, e o Exército Vermelho, que tinha simultaneamente rompido a última linha de defesa da Wehrmacht na Bielorrússia, estavam lutando dentro do território germânico. As batalhas que travaram foram de atrito: o aumento do número de tanques em todos os exércitos fizera com que essa arma blindada perdesse as propriedades revolucionárias que aparentemente proporcionara à guerra no breve período da Blitzkrieg de 1941-42. Ademais, a ofensiva dos bombardeiros também tinha passado por um longo período de atrito em 1943-44, quando as perdas de tripulações aéreas de 5%, às vezes 10% por missão, tinham ameaçado quebrar o moral e conceder vantagem nos céus da Alemanha a seus caças e suas defesas antiaéreas. O bombardeiro tripulado era uma arma frágil de ataque, como Hitler pagara caro para aprender na campanha de 1940 contra a Inglaterra. Foi esse o principal motivo de sua adesão entusiástica a um programa de desenvolvimento de aeronaves sem pilotos, generosamente financiado pelo exército desde 1937. Em outubro de 1942, ocorrera um teste de disparo de um foguete com alcance de 250 Km, planeado para transportar uma tonelada de altos explosivos, e em julho de 1943 Hitler declarou-o “a arma decisiva da guerra” e decretou que toda a mão-de-obra e material que os projetistas necessitassem deviam ser fornecidos instantaneamente.

O foguete, batizado pelos Aliados de V-2, só foi posto em ação em setembro de 1944 e apenas 2600 foram disparados, primeiro contra Londres (onde mataram 2500 pessoas), depois contra Antuérpia, a principal base logística anglo-americana durante o ataque à fronteira oeste da Alemanha. Mas as potencialidades da arma estavam claras para todos; a notícia de seu desenvolvimento alarmara enormemente os ingleses quando recebida pela primeira vez, por uma misteriosa revelação feita por um simpatizante alemão da causa aliada, em novembro de 1939. Esse “Relatório de Oslo” forneceu à investigação de informações técnicas britânica boa parte de seu impulso nos primeiros dois anos da guerra. Ao mesmo tempo, porém, o serviço secreto científico inglês ficara ainda mais alarmado com a possibilidade de que os alemães estivessem a fazer experiências com armas nucleares. Até então, a ameaça era puramente teórica: ninguém conseguira ainda provocar uma reação em cadeia por fissão, o processo pelo qual os átomos liberam o seu poder explosivo, e as máquinas para produzi-la não existiam. 

Nos Estados Unidos, porém, Albert Einstein enviou um intermediário ao presidente Roosevelt em 11 de outubro de 1939 para adverti-lo sobre o perigo atómico e o presidente criou imediatamente uma comissão, da qual se desenvolveria o Projeto Manhattan, para estudar e avaliar a questão. Enquanto isso, os ingleses também começavam a reunir o potencial humano e os materiais necessários para levar adiante a pesquisa atómica, ao mesmo tempo que procuravam negá-los de todas as formas aos alemães. Imediatamente depois de Pearl Harbor, a equipe da organização britânica, que tinha o nome de Tube Alloys (ligas para tubos), foi transportada para os Estados Unidos para se unir à do igualmente batizado enganadoramente Projeto Manhattan; juntas elas prosseguiram, com uma urgência alimentada pelo medo de que a Alemanha pudesse vencer a corrida, na busca dos processos pelos quais a teoria da fissão pudesse ser traduzida na realidade de uma arma definitiva. O resultado de seus esforços só foi demonstrado após a derrota da Alemanha; investigações frenéticas de equipas de especialistas Aliados descobriram que até então os alemães estavam longe de descobrir como iniciar uma reação em cadeia.

Quando foi informado do sucesso da explosão da primeira bomba atómica em Alamagordo, no deserto do Novo México, em 16 de julho de 1945, Winston Churchill proferiu palavras proféticas: “O que era a pólvora? Trivial. O que era a eletricidade? Inexpressiva. Essa Bomba Atómica é o Segundo Advento em Ira!”. O milhão previsto de baixas ou mortes de soldados americanos então se reunindo para o assalto às ilhas centrais do Japão resolveu a dúvida. O choque, administrado primeiramente em Hiroxima, em 6 de agosto de 1945, e três dias depois em Nagasaqui, matou 103 mil pessoas. Exortado a cessar a resistência ou “esperar uma chuva de ruína do céu”, em 15 de agosto o imperador japonês anunciou pelo rádio ao seu povo que a guerra tinha acabado.

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