terça-feira, 19 de abril de 2022

Maiakovski

 



Maiakovski, poeta e artista futurista, abraçou a Revolução Comunista. Mas não conseguiu seguir o seu experimentalismo artístico na era de Stalin. Suicidou-se em 1930. O ambiente conturbado combinava com a turbulência inventiva das mais diversas artes russas. Quando o bolchevismo chegou ao poder as vanguardas artísticas que tomavam conta da Rússia acompanharam-no. Ambas as revoluções caminharam lado a lado bem próximas uma da outra. Isso decorreu entre os finais da década de 1920 e o início dos anos 1930: o realismo soviético ascendeu com a ascensão de Stalin. A revolução de 1917 na Rússia foi um projeto revolucionário no mais radical sentido da palavra. O propósito dos comunistas não era somente derrubar o antigo regime político: era forjar uma sociedade completamente nova. Não apenas no sentido económico - de superar o capitalismo e implantar o socialismo, feito que já seria muito ambicioso, mas também criar um novo homem, com valores e comportamento diferentes dos anteriores. Imagina-se, assim, que uma tal sociedade seria um grande laboratório de experiências de inovadoras de engenharia social. Criou-se, portanto, uma sociedade experimental.

Maiakovski pode ser tomado como o símbolo desta relação contraditória entre experimentalismo e poder na URSS. Antes da revolução era um inquieto artista rebelde participante de um grupo que revolucionaria o uso da linguagem e representaria, literalmente, o futuro: os construtivistas futuristas. Maiakovski (como muitos outros desse grupo) aderiu à Revolução e lutou ao longo de toda a década de 1920 para manter viva a chama do experimentalismo e do vanguardismo dentro do espírito bolchevista. Para o poeta, a Revolução Socialista era a antítese do espírito burguês e a superação do capitalismo. Por conseguinte, deveria refletir uma atitude revolucionária, original, no campo da cultura. O conflito das almas permanentemente experimentais, revolucionárias, rebeldes dentro de uma sociedade que, ao se aproximarem os anos 1930, ia se tornando cada vez mais conservadora e repressiva. Tal ficou expresso não só na vida, mas também na morte de Maiakovski. Ele viria a suicidar-se em 1930. Incapaz de ver o seu projeto libertário, experimental, desabrochar na URSS, mas também não querendo se tornar um oponente do regime (pois era um comunista), optou pela saída definitiva. Seu espírito sobreviveu, entretanto, inspirando a vida literária experimental, rebelde, de vanguarda, não só dentro da URSS como também no mundo para fora da Rússia nas décadas seguintes.

Maiakovski via o comunismo como o projeto do futuro. Não era à toa que chamava a si e ao seu movimento de futurista. Antes da revolução ele dizia que para que a arte e a literatura do futuro desabrochassem era preciso romper com o passado radicalmente: deitar tudo fora, inclusive Pushkin, o maior poeta russo. Era a maneira metafórica de Maiakovski dizer que a sociedade russa pré-revolucionária tinha que se refazer totalmente. Após a Revolução, a verve satírica e crítica de Maiakovski não esmoreceu. Basta ver o poema “O Reunismo”, de 1922, em que critica o excessivo sistema burocrático, e a “mania de reuniões” que começava a infestar toda a vida soviética.



Maiakovski - 1930

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