sexta-feira, 29 de abril de 2022

Os Samurais




Samurai - servo ou guerreiro - Inicialmente era um servidor civil do império japonês com as funções de cobrador de impostos e administrador de terras. Durante o período do Japão feudal - 930 - 1877, ganhou funções militares, passando a soldado da aristocracia imperial, no período de 930 a 1877. 
Na época feudal, já com funções militares, no Período Kamakura, conhecido pelo "Xogunato Kamakura"o samurai seguia o código de honra denominado Bushidô (caminho do guerreiro, desenvolvido nos séculos IX e XII), que ensinava as principais características do samurai: disciplina, lealdade, frugalidade, coragem extrema diante de qualquer situação. Em 1868, com a Restauração Meijios samurai perderam o poder para o imperador e declinaram rapidamente, sendo perseguidos e exterminados nove anos depois, no fim da Rebelião Satsuma.

O que difere o Samurai de outros guerreiros da Antiguidade é o modo de encarar a vida e o seu peculiar código de honra e ética. Eram chamados de Ronin os samurai desempregados, aqueles que ainda não tinham um daimyo (senhor de terras) para servir, ou quando o senhor morria, ou quando eram destituídos do cargo - princípio básico de lealdade do guia Bushidô. Ronin era considerado a mais profunda forma de penitência de um guerreiro, estando ele preso a uma vida desonrosa - sem um sentido para sua existência.

No século XVI, a classe dos espadachins japoneses viu-se diante do desafio das armas de fogo; ela então descobriu meios de livrar o Japão dessas armas e assim perpetuar sua dominação social por mais 250 anos. Enquanto o mundo ocidental, que tocou brevemente o Japão no século XVI, comerciava, viajava, se industrializava e passava por revoluções políticas, os samurais japoneses fechavam o seu país ao mundo exterior, extirpavam as cabeças-de-ponte da religião estrangeira e da influência técnica e fixavam fortemente as tradições segundo as quais tinham vivido e mandado por mil anos. Esse impulso encontra paralelos — foi fortemente sentido na China, no século XIX —, mas a sua realização efetiva é incomparável. Porém, apesar de toda a sua singularidade, seu sucesso evidencia que a lógica política não precisa dominar a guerra e que, ao contrário, as formas culturais, quando encontram defensores fortes, podem prevalecer sobre as tentações mais insistentes de escolher expedientes técnicos como meio de alcançar a vitória, em particular quando o preço da vitória é derrubar os valores mais antigos e acalentados.

Os samurais constituíam, em termos simplificados, a classe nobre e feudal do Japão. Deviam as suas origens ao isolamento insular do país e às subdivisões internas das ilhas japonesas percorridas por suas cadeias de montanhas. Os líderes dos clãs dos vales japoneses eram fiéis a um imperador cuja linhagem antiga era profundamente reverenciada, mas cujo poder era meramente nominal. A partir do século VII, quando o chefe de clã Fujiwara Kamatari instituiu um governo central tendo por modelo o da dinastia Tang da China, o Japão foi administrado efetivamente por um clã familiar, a princípio o do próprio Fujiwara, depois por rivais mais bem-sucedidos. Os rivais puderam competir com os Fujiwara e finalmente usurpar-lhes o poder devido à prerrogativa de coletar impostos. Com a riqueza acumulada com esses impostos, primeiro uma depois outras famílias nobres chegaram a dominar a corte imperial, até que, no século XII, aquele que detinha o poder fez o soberano de então, um imperador menino, conceder-lhe o título de Sei-i tai-Shogun, ou generalíssimo. Yoritomo, o primeiro xogum, já tinha estabelecido uma nova sede de governo, o Bakufu — literalmente, o “gabinete de campo” —, e a partir de então exerceu a autoridade central até o século XIX, quando a restauração Meiji devolveu o poder real, se não ao imperador, pelo menos à corte, derrubando o Bakufu e os magnatas dos vales.

Os xoguns, os líderes dos outros clãs militares que competiam com eles pelo poder e seus seguidores samurais, eram a grande classe guerreira cujos membros, distinguidos por seu direito de levar duas espadas, insistiam em seu estatuto nobre. 
Eram guerreiros impetuosos e talentosos. Uma prova disso foi a derrota decisiva que impuseram aos mongóis, que após o seu avanço sobre o mundo árabe em 1260 conseguiram pôr um pé no arquipélago japonês em 1274. Quando voltaram, em 1281, um tufão destruiu boa parte da frota, e eles partiram para nunca mais voltar.

Os japoneses eram um povo letrado e a cultura literária dos samurais era altamente desenvolvida. Os maiores nobres do Japão, aqueles que residiam na corte do imperador como um deus sem poder, não lutavam pela reputação militar, mas pela glória literária. O seu exemplo dava o tom para os samurais, que desejavam comumente ser conhecidos como peritos da esgrima, e poetas. O budismo em sua versão zen, adotada pelos samurais, encorajava uma visão meditativa e poética do universo. Os maiores guerreiros do Japão feudal eram, portanto, homens de espírito e sentidos cultivados.

O Japão feudal era politicamente caótico, devido à competição endémica pelo xogunato, mas caótico dentro de limites controlados. Porém, no início do século XVI, os conflitos tinham saído do controlo e a ordem social estava ameaçada; líderes estabelecidos eram derrubados, às vezes por meros bandidos; o poder do xogum tornou-se tão fictício como o do imperador. 

Até que chegaram os portugueses com canhões e armas de fogo em 1542. Assim, a excelência do comando não foi a única explicação para a restauração do poder central. A ordem foi restaurada entre 1560 e1616 por uma sucessão de três homens fortes notáveis: Oda Nobunaga; Toyotomi Hideyoshi; Tokugawa Ieyasu. Agiam em nome do xogum. Eles acabaram sistematicamente com o poder dos mosteiros budistas, dos líderes de clãs errantes e dos bandos fora-da-lei. A pacificação de Ieyasu foi concluída com o cerco à fortaleza de Osaka, em 1614, último foco de resistência de seus oponentes, após o que decretou a destruição de todos os castelos não residenciais do Japão. Os três generais tornaram-se hábeis manobradores das novas armas. Oda Nobunaga ficara muito impressionado com o poder da pólvora, equipou rapidamente as suas tropas com mosquetes. Até então, dentro da tradição antiga e quase universal de guerrear entre campeões, as batalhas japonesas começavam com os líderes de cada lado gritando desafios uns aos outros, identificando-se e exibindo suas armas e armaduras. Esse ritual continuou mesmo depois da introdução das armas de fogo, mas Oda Nobunaga não queria saber disso. Ensinou os seus mosqueteiros a disparar saraivadas em fileiras de até mil homens e, na batalha decisiva de Nagashino, em 1575, varreu o inimigo com uma torrente de fogo. Isso significava uma mudança revolucionária em relação à batalha de Uedahara, em 1548, quando o lado que possuía armas de fogo perdeu a chance de usá-las porque o adversário atacou com espadas no instante em que os rituais se concluíram.

O domínio estabelecido por esses comandantes poderia ter assegurado o predomínio das armas de fogo, mas aconteceu exatamente o contrário. No final do século XVII o uso de armas de fogo já estava quase extinto no país. Apenas alguns japoneses sabiam como fabricar armas de fogo ou canhões, e a maioria dos canhões sobreviventes datava de antes de 1620. Esse estado de coisas continuou até a metade do século XIX, quando a chegada dos “navios negros” do comodoro Perry na baía de Tóquio, em 1854, obrigou os japoneses a voltar a utilizar a pólvora. Mas durante 250 anos viveram completamente sem ela. O ímpeto de renúncia viera do último dos comandantes, Tokugawa Ieyasu, cuja campanha de pacificação culminara com sua ascensão ao xogunato

Primeiro veio um desarmamento geral da população instituído em 1587 pelo antecessor de Ieyasu, Hideyoshi, que decretou que todos os que não fossem samurais deveriam entregar as armas — espadas e armas de fogo — ao governo, que usaria o metal na construção de uma enorme estátua de Buda. O objetivo era, obviamente, aprofundar a pacificação do país, restaurando o monopólio das armas pela classe militar, que estava sob controlo do governo. A partir de 1607, Ieyasu instituiu um sistema que centralização de armas de fogo e canhões e determinou que o governo seria o único comprador autorizado. Todos os fundidores e armeiros receberam ordens de transferir suas oficinas para a cidade de Nagahama, os quatro principais armeiros foram promovidos a samurais, assegurando assim a sua lealdade, e promulgou-se um decreto estabelecendo que nenhuma encomenda de armas podia ser feita sem a aprovação do comissário para Armas de Fogo. Por seu turno, este revelou-se disposto a aprovar apenas as encomendas do governo, que por sua vez diminuiu progressivamente as suas compras até que, em 1706, a produção de Nagahama, nos anos pares, era de 35 arcabuzes grandes e, nos anos ímpares, de 250 pequenos. Distribuído por uma classe guerreira de cerca de meio milhão de homens — que os usavam principalmente em procissões cerimoniais —, esse total de armas era insignificante. 

A razão disso é uma questão muito mais complexa. As armas de fogo eram indiscutivelmente um símbolo da intrusão estrangeira. Elas estavam associadas, ilógica mas inescapavelmente, à disseminação do cristianismo pelos missionários jesuítas portugueses, que eram considerados os arautos da invasão. E Hidetada, o sucessor de Ieyasu, aplicou rigidamente as ordens de repressão e expulsão que seus antecessores tinham ordenado. As suspeitas do xogunato em relação ao cristianismo e todos os seus acessórios foi reforçada pela rebelião Shimabara, deflagrada por cristãos nativos em 1637, com o uso de pólvora. Depois que ela terminou, a autoridade do xogunato - Tokugawa, não foi desafiada por mais de duzentos anos e o fechamento do país aos forasteiros e à influência estrangeira imposta no ano anterior tornou-se completa.

Uma inclinação adicional ao chauvinismo talvez tenha se manifestado na única aventura de política externa do Japão, uma invasão da Coréia em 1592, destinada aparentemente a ser uma preliminar de uma extremamente ambiciosa agressão à China, que acabou sem sucesso em 1598. Contudo, mais importante que a rejeição às coisas do exterior, e profundamente subjacente a ela, era o reconhecimento de que as armas de fogo contribuíam para a instabilidade social. Uma arma de fogo nas mãos de um indivíduo qualquer ou de um pirata podia derrubar o mais nobre dos fidalgos.

O culto da espada teve muitas fontes. Foi promovido pelo zen-budismo, que enfatizava “dois ideais supremos — fidelidade e uma indiferença às provações físicas”. Foi reforçado pela cultura da classe guerreira, “uma cultura que dava atenção meticulosa ao formal, ao cerimonioso e ao elegantemente expresso na vida e na arte”; a esgrima japonesa, tal como a europeia, diga-se, era tanto uma habilidade quanto uma arte, governada pelas regras da conduta e do gesto que sintetizavam a preocupação dos japoneses com o “estilo” em todos os aspectos da existência. Ela parece ter participado da crença japonesa na importância da unidade com a natureza e as forças naturais, uma vez que o esforço físico é “natural”, ao passo que a energia química da pólvora não o é. Ela coincide indubitavelmente com o respeito japonês pela tradição, uma vez que não só a esgrima era tradicional, como as melhores espadas eram amiúde transmitidas de geração em geração, de pai para filho, tal como o nome de família — em si mesmo uma distinção restrita aos possuidores de espadas.

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