A Desigualdade é “intrínseca à natureza humana”? A resposta vai depender do que se entende por natureza humana. Há evidências na psicologia e na biologia evolutiva de que os humanos têm tendências naturais a competir por recursos, estatuto e segurança. Isso pode gerar desigualdades. Mas também há tendências igualmente naturais à cooperação, partilha, empatia e criação de normas para reduzir conflitos. Ou seja, a natureza humana contém potenciais para desigualdade, mas também ferramentas naturais para mitigá-la.
A forma como estes potenciais se expressam depende muito das instituições, da cultura e das regras sociais. O capitalismo é “culpado” pela desigualdade? Aqui há várias posições legítimas. Críticos do capitalismo dizem que ele amplifica desigualdades porque recompensa acumulação de capital, cria assimetrias de poder económico e pode produzir grandes disparidades de renda e riqueza. Defensores do capitalismo respondem que desigualdades existiram em todos os sistemas, e que o capitalismo, apesar disso, aumentou a produtividade, o que levou ao aumento da riqueza suscetível de poder ser redistribuída. Mas a realidade e a evidência empírica costuma mostrar algo mais esquisito. Se por um lado Economias de mercado tendem a gerar desigualdade, políticas de redistribuição, educação, regulação e impostos podem reduzi-la substancialmente dentro de sistemas capitalistas. Por conseguinte, o capitalismo não é a causa única da desigualdade, mas influencia a sua magnitude e forma.
Muitos pensadores de esquerda (por exemplo, marxistas estruturais) defendem que o ser humano é extremamente moldável pelas condições sociais e históricas. Mas poucos defendem literalmente que a natureza humana não existe. O que muitos argumentam é que não existe uma natureza humana fixa, imutável; muito do comportamento humano é produto de estruturas sociais, e não apenas biologia. Na verdade, há posições à esquerda que aceitam explicitamente componentes biológicos da natureza humana, mas acreditam que as instituições podem melhorar resultados sociais. A questão é: quanto do comportamento humano é moldado pela sociedade? É mais sobre o peso relativo das instituições sociais sobre a biologia.
O Capitalismo levou a um aumento extraordinário da riqueza global, com grande produtividade e inovação. As melhorias históricas não têm precedentes em expectativa de vida, saúde e conforto material. Depois as coisas que não têm preço, como as liberdades civis e políticas com direito à crítica e à alternância de poder. E a grande capacidade de correção interna por via democrática. Mas temos de apontar que a desigualdade económica é significativa. E a pobreza não deixou de persistir, sobretudo em sistemas com pouca redistribuição. A exploração laboral, com exceções, não desapareceu. E as crises económicas são recorrentes, o que é inerente à economia de mercado. Apesar desses problemas, nas democracias liberais o capitalismo mostrou-se compatível com reformas corretivas e com grandes avanços no bem-estar humano.
Agora, o que é interessante perguntar é se os projetos sociais alternativos ao capitalismo, como as experiências marxistas que tentaram realizar a igualdade, produziram mais bem humano do que o capitalismo. Podemos olhar para isto com três ângulos: resultados históricos; tensões internas de cada sistema; e lições que ambos deixaram.
O que aconteceu com as experiências marxistas, dando os exemplos da URSS, China, Coreia do Norte e Cuba? É claro que há sempre aspetos positivos para além dos negativos se dermos o desconto do viés da perspectiva. Pode-se apontar que houve aspectos positivos com a experiência do comunismo puro e duro: Industrialização muito rápida em países atrasados (caso da URSS); Erradicação de analfabetismo e forte expansão de educação e saúde públicas; Redução inicial de desigualdades económicas.
Mas os aspectos negativos, apontados sobretudo nos países democráticos ocidentais a partir do fim da Segunda Guerra Mundial são muito expressivos: Regimes autoritários ou totalitários, com ausência de liberdades civis básicas; Planificação rígida, muitas vezes ineficiente, resultando em escassez crónica de bens; Repressão política em massa, incluindo purgas, Gulag e execuções; Fome induzida por políticas económicas falhadas, como na Grande Fome da China, entre 1958 e 1962; A fome na Ucrânia referenciada por Holodomor; Colapso final de quase todas as experiências socialistas de tipo soviético. O saldo humano, no seu conjunto histórico, tende a ser considerado muito negativo, sobretudo pelo custo em vidas e liberdades.
Os sistemas capitalistas democráticos produziram muito mais bem-estar humano do que os sistemas marxistas-leninistas. O socialismo real teve ganhos pontuais, mas os seus custos humanos, económicos e políticos foram extremamente elevados. A maior parte das melhorias que hoje associamos a justiça social (Estado social, educação universal, sistemas de saúde, direitos laborais) surgiram dentro de sistemas capitalistas regulados, não fora deles. Não significa que o capitalismo seja perfeito, está longe disso, mas parece ter sido mais adaptável, mais compatível com liberdades individuais, mais fértil em inovação e prosperidade, e mais corrigível democraticamente. O sonho da igualdade revelou-se uma utopia que se transformou numa espécie de inferno na Terra. As experiências marxistas reais foram mais virtuosas para o ser humano do que o capitalismo? A resposta histórica mais consensual é: Não.
Os sistemas capitalistas democráticos produziram muito mais bem-estar humano do que os sistemas marxistas-leninistas. O socialismo real teve ganhos pontuais, mas os seus custos humanos, económicos e políticos foram extremamente elevados. A maior parte das melhorias que hoje associamos a justiça social (Estado social, educação universal, sistemas de saúde, direitos laborais) surgiram dentro de sistemas capitalistas regulados, não fora deles. Não significa que o capitalismo seja perfeito, está longe disso, mas parece ter sido mais adaptável, mais compatível com liberdades individuais, mais fértil em inovação e prosperidade, e mais corrigível democraticamente. O sonho da igualdade revelou-se uma utopia que se transformou numa espécie de inferno na Terra. As experiências marxistas reais foram mais virtuosas para o ser humano do que o capitalismo? A resposta histórica mais consensual é: Não.








