De civilitate morum puerilium ("Sobre a civilidade nas crianças") é um manual escrito por Erasmo de Roterdão, e é considerado o primeiro tratado na Europa Ocidental sobre a educação moral e prática das crianças. Publicado pela primeira vez em 1530 foi endereçado a Henrique de Borgonha, de onze anos, filho de Adolfo, Príncipe de Veere, e dá instruções, em latim simples, sobre como um menino se deve comportar na companhia de adultos. O livro alcançou sucesso imediato e foi traduzido para vários idiomas. O livro é dividido em 17 secções, cada uma tratando de um aspecto do comportamento.
Norbert Elias refere-se a este livro em sua obra mais influente, O Processo Civilizacional, afirmando que o facto de Erasmo ter usado o termo francês - "civilité" - foi a palavra chave para a reformulação do processo em curso do Renascimento a caminho do que se passou a designar no Ocidente por civilização. No processo de transformação e renovação, que caracterizou o Renascimento, houve uma modificação nos comportamentos humanistas em relação ao que era considerado conveniente ou inconveniente. Mas não se tratou verdadeiramente de um corte como a Corte, uma vez que a palavra "cortesia" remetia para as exigências já estabelecidas pelas elites nobres da Idade Média. Civilitas era a pedra de toque da boa conduta em sociedade. Prosseguia, portanto, em muitos aspetos, com a tradição da courtoisie. A tendência mais acentuada dos humanos para observarem o Si e o Outro, era um dos indícios de como toda a questão do comportamento tomava doravante outra forma. Os humanistas proclamavam que os humanos passariam a mudar as suas maneiras na relação de uns com os outros.
A partir do Renascimento, devido aos humanistas, de que Erasmo é paradigma, passou-se a ser diferente no trato e nos costumes. Passou-se a exercer uma exigência mais enérgica no campo das boas maneiras. Erasmo reuniu, numa obra em prosa, regras de comportamento que anteriormente eram ditas principalmente em verso, como se fossem mantras ou mnemónicas. Depois, lentamente, aqui mais cedo ali mais tarde, e quase por todo o lado, verificou-se, durante o século XVI, e princípios do século XVII, o restabelecimento de uma hierarquia social mais rígida, que levou ao aparecimento de uma nova camada social a que hoje chamamos elites. Era, por assim dizer, uma nova aristocracia composta de elementos de diferentes origens da sociedade. É exatamente isso que dá nova acuidade à questão da uniformidade da boa conduta, tanto mais que a modificação da estrutura por uma nova camada no nível superior expôs cada um dos seus membros à pressão dos outros, com um controlo social num grau sem precedentes. Neste contexto se inserem os livros de maneiras de Erasmo, de Castiglione e de outros.
Compelidas a viver de uma nova forma as pessoas tornam-se mais sensíveis aos estímulos das outras. Torna-se mais apurada a sensibilidade para o que se deve fazer ou não fazer, a fim de não ferir nem chocar os outros. E, de acordo com as novas relações de domínio, o preceito social de não ofender, em relação à fase precedente, Tornou-se mais vinculativo. As regras da cortesia também prescrevem: "não digas nada que possa provocar desavença, que possa irritar outras pessoas"; "está atento meu filho às boas maneiras quando estiveres à mesa em qualquer sociedade" seja o teu tanto tão social tão sociável que Toda A Gente te ache digno de louvor pois consoante o teu comportamento assim as pessoas censuram ou te darão elogios” 
É difícil distinguir o radicalismo da oposição entre civilização e natureza. É algo mais do que uma manifestação da opressão das próprias psiques civilizadas, ou seja, um desequilíbrio específico no psiquismo surgido na fase mais recente da civilização ocidental. Seja qual for o psiquismo humano desde os primórdios, não é menos marcado pela História, ainda que se desconheça sua própria história. Na evolução humana não existe o ponto zero da sociabilidade. Seja entre os povos primitivos como entre os civilizados, a sociedade é que dá forma às interdições. Ou seja, aos medos ao prazer e ao desprazer, à repugnância e ao encantamento. É, portanto, no mínimo pouco claro, o que se pretende significar quando se opõe o padrão dos chamados primitivos considerados naturais aos civilizados. Tratando-se das funções psíquicas, os processos da natureza e os processos históricos concorrem de maneira indissociável.
É difícil distinguir o radicalismo da oposição entre civilização e natureza. É algo mais do que uma manifestação da opressão das próprias psiques civilizadas, ou seja, um desequilíbrio específico no psiquismo surgido na fase mais recente da civilização ocidental. Seja qual for o psiquismo humano desde os primórdios, não é menos marcado pela História, ainda que se desconheça sua própria história. Na evolução humana não existe o ponto zero da sociabilidade. Seja entre os povos primitivos como entre os civilizados, a sociedade é que dá forma às interdições. Ou seja, aos medos ao prazer e ao desprazer, à repugnância e ao encantamento. É, portanto, no mínimo pouco claro, o que se pretende significar quando se opõe o padrão dos chamados primitivos considerados naturais aos civilizados. Tratando-se das funções psíquicas, os processos da natureza e os processos históricos concorrem de maneira indissociável.
Norbert Elias, no segundo volume - Formação do Estado e Civilização -, olha para as causas desses processos e encontra-os no Estado Moderno cada vez mais centralizado e na rede cada vez mais diferenciada e interconectada da sociedade. Quando o trabalho de Elias encontrou uma audiência maior na década de 1960, num primeiro momento a análise do processo foi mal interpretada: como uma extensão do desacreditado "darwinismo social". A ideia de "progresso" ascendente foi descartada ao lê-lo como história consecutiva em vez de uma metáfora para um processo social. Logo ficou óbvio que Elias não defendia uma "superioridade moral". Em vez disso, ele descreve a crescente estruturação e restrição do comportamento humano na história europeia, um processo denominado como "civilização" por seus próprios protagonistas. Elias tinha apenas a intenção de analisar este conceito, e o processo apelidado de civilização.
2 comentários:
obrigado pelo texto
recentemente li " Os Anjos Bons da Nossa Natureza " de Pinker que aborda esse tema
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