sábado, 7 de maio de 2022

Cáucaso

 


Uma perpétua bruma estival impedia a visão dos montes do Cáucaso antes de chegarmos ao seu sopé. Atravessei os contrafortes acidentados por Armavir e Labinskaia; mal saímos dos territórios cossacos, bandeiras turcas, verdes com um crescente branco, tremulavam nas casas, hasteadas pelos muçulmanos para nos desejar boas-vindas. A cidade de Maikop, um dos grandes centros petrolíferos do Cáucaso, aninhava-se diretamente nas montanhas, limitada pelo Bielaia, um rio de águas profundas dominado pela cidade, dos altos penhascos de greda.

Depois atravessava-se uma ponte intacta e entrava-se na cidade, quadriculada por várias ruas compridas e retilíneas, todas idênticas, traçadas dos dois lados de um Parque da Cultura onde estátuas de gesso do herói do trabalho desmanchavam-se inelutavelmente. Braune, homem de aspeto equino, com um rosto grande em forma de lua prolongado por uma testa bulbosa, recebeu-me com solicitude: eu percebia, não obstante, esperasse seu substituto de uma semana para outra.
A história da região do Cáucaso pode ser dividida na história da Ciscaucásia (Cáucaso do Norte), historicamente na esfera de influência da Cítia e d sul da Rússia, e da Transcaucásia - Geórgia, Arménia e Azerbaijão. E a esfera de influência da Anatólia, Assíria e Pérsia. 
Nos tempos modernos, o Cáucaso do Sul foi parte do Império Otomano, enquanto o Norte do Cáucaso foi conquistado pelo Império Russo no século XIXApós o fim da União Soviética a Geórgia, o Azerbaijão e a Arménia tornaram-se independente em 1991. Entre 1988 e 1994 travou-se a Guerra do Nagorno-Carabaque; em 1992 o Conflito na Ossétia do Norte; em 1992-1993 a Guerra na Abecásia; e a Primeira e Segunda Guerra da Chechénia.
Braune preocupava-se com as instalações petrolíferas de Neftegorsk: a Abwehr, logo antes da tomada da cidade, conseguira infiltrar uma unidade especial, a “Chamil”, composta de montanheses do Cáucaso e disfarçada de batalhão especial do NKVD, para tentar controlar os poços intactos; mas a missão fracassara e os russos tinham dinamitado as instalações no nariz dos Panzer. Nossos especialistas, porém, já trabalhavam para restaurá-los, e os primeiros abutres da Kontinental-Öl faziam a sua aparição. Esses burocratas, todos ligados ao Plano Quadrienal de Göring, beneficiavam-se do apoio de Arno Schickedanz, o Reichskommissar designado para o Kuban-Cáucaso. O osseto é uma língua iraniana particularmente fascinante falada por aproximadamente meio milhão de pessoas, principalmente na Ossétia. Veja-se a situação geográfica da Ossétia: enquanto todos os outros falantes não caucasianos ocupam a periferia ou os contrafortes do Cáucaso, eles recortam o maciço em dois, justamente no nível do desfiladeiro mais acessível, o do Darial, onde os russos construíram a sua Voennaia doroga de Tiflis até Ordjonikidze, a ex-Vladikavkaz.
Embora essas pessoas tenham adotado o vestuário e os costumes de seus vizinhos montanheses, foi evidentemente um movimento de invasão tardio. Temos bases para julgar que esses ossetas descendem dos alanos e, portanto, dos citas; se isso for exato, a sua língua constituiria um vestígio arqueológico vivo da língua cítica. Dumézil editou em 1930 uma antologia de lendas ossetas que falavam de um povo fabuloso, semidivino, por eles denominados nartas. Ora, Dumézil também postula uma conexão entre essas lendas e a religião cítica tal como relatada por Heródoto. Os pesquisadores russos trabalham no tema; a biblioteca e os institutos de Ordjonikidze devem estar abarrotados de dados extraordinários, inacessíveis na Europa.

Em 1461 as tropas turcas, do que viria a ser o Império Otomano, conquistaram o Império de Trebizonda. E em 1475 submeteram o Kanato de Crimeia. Em 1501 saquearam Bacu e impuseram o islão sunita, que era xiita. Fizeram incursões na Geórgia e conquistaram a Arménia. Por seu turno, o cristianismo do Cáucaso sofre um decaimento. Parte da Abecásia, onde havia cristãos ortodoxos, tornou-se muçulmana sunita, espalhando-se depois para a Chechénia. 

O czar Ivan IV , o Terrível, conquistou o Kanato de Astracã e o Nordeste do Cáucaso até aos rios Tereque e Iergolique em 1557, instalando ali os cossacos. Entre 1577 e 1588 são os otomanos (com os seus vassalos da Crimeia que percorrem para o Cáucaso da costa do Cáspio, forçando o Xá da Pérsia a renunciar em 1590. O Xá Abas I, o Grande reorganiza o exército persa (incluindo arménios e georgianos, como os deportados para a sua capital Ispaã) em 1602-1606 e recuperou quase tudo o que havia perdido, a Geórgia e a Arménia, sendo divididas entre as duas potências e o Kanato Avar independente.

Um incidente em Shemakha leva o czar Pedro I a atacar (1722-1723) a Pérsia que cede toda a costa oeste e sul do Mar Cáspio, os otomanos atacaram os persas para obter o resto do sul do Cáucaso, mas colidem com a resistência dos arménios do Carabaque. Em 1735, a Rússia retirou-se da costa do Mar Cáspio (exceto o norte do rio Sulak). Seguem guerras entre russos e otomanos, e entre otomanos e Nadir Shah da Pérsia (que substituiu a dinastia safávida). Por estas guerras são envolvidos os caucasianos, alguns são mantidos independentes (como o Kanato de Avaristão), outros mais ou menos dependentes segundo as circunstâncias como Cabárdia, vassalo da Rússia desde 1761, e Imerícia que se livra do domínio otomano. 

A intervenção russa em Mozdok - Ossétia do Norte, 1763, resulta na Guerra entre a Rússia e a Cabárdia (1765-1779), que é mesclada com a guerra entre a Rússia e a Turquia (1768-1774) que abre para a Rússia o Mar Negro. Em 1783, a Rússia anexa o Kanato da Crimeia (e com ela as terras ao norte do rio Cubã). A presença russa no Cáucaso tem um efeito duplo: a oposição dos chechenos liderados pelo xeque Almançor, e a busca por apoio do rei da Geórgia Oriental Heráclio II da Geórgia. Em 1795, o Xá da Pérsia atacou a Geórgia oriental derrotando o rei Heráclio e a Rússia vem em seu auxílio, mas explorando as rivalidades de sucessão sobre a morte do Rei George XII, a Geórgia Oriental é anexada em 1801 pelo Império Russo. O Império Russo continua seu avanço, através do Cáucaso, e entra em guerra com a Pérsia que é derrotada em 1813. Em 1812 a Rússia em guerra com a Turquia assegura quase toda a Geórgia Ocidental.
Todos os homens eram montanheses caucasianos. Karatchais e circassianos, claro, mas também inguches, avars, laks. Levantei-me e lhe estendi a mão: “Agradeço pela informação, Obersturmführer. Mas desprezo e ignoro quem espalha covardemente rumores sórdidos em vez de vir falar com a pessoa cara a cara.” Ele me apertou a mão: “Compreendo perfeitamente sua reação. Ainda assim, abra o olho.” Sentei-me novamente, furioso: era então aquele o jogo que eles queriam jogar! Além do mais, estavam redondamente enganados. Já disse: nunca me ligo aos meus amantes, isso não tem nada a ver. Eu só gostava de uma pessoa neste mundo, e embora nunca a visse, aquilo me bastava. Ora, um canalha limitado como aquele Turek e seus amigos nunca poderiam compreender isso. Resolvi me vingar; ainda não sabia como, mas não faltaria oportunidade. Kern era um homem honesto, fizera bem ao me precaver: assim, eu teria tempo para refletir.
Os conflitos no Cáucaso são uma série de guerras civis, conflitos separatistas e/ou conflitos étnicos, e até mesmo conflitos entre nações, que ocorreram na região do Cáucaso na época da União Soviética até ao fim. Grande parte do traçado das fronteiras existentes na região do Cáucaso é considerada arbitrária e artificial pelos beligerantes. Foi, em grande parte, estabelecida no tempo de Stalin, entre 1922 e 1936. Com o colapso da URSS, era de esperar que as novas repúblicas autónomas viessem a ter à flor da pele problemas étnicos e religiosos. Na porção sul do Cáucaso, denominada Transcaucásia, três novos Estados se autonomizaram - Arménia, Azerbaijão e Geórgia. Na porção norte do Cáucaso, denominada Ciscaucásia, autonomizaram-se 7 repúblicas pertencentes à Federação Russa. As três repúblicas da Transcaucásia têm mantido a sua beligerância em múltiplos conflitos como é o caso da Arménia e do Azerbaijão que disputam o controlo do Nagorno Karabakh (região do Azerbaijão habitada na sua maioria por arménios, reclamada e ocupada pela Arménia, contrariando a Resolução 62/243 da ONU de 2008). 
E existem movimentos separatistas na Abcásia e Ossétia do Sul, que são territórios oficialmente pertencentes à Geórgia. Outros movimentos separatistas também existem nas repúblicas da Chechénia, Daguestão e Inguchétia, que são territórios oficialmente pertencentes à Federação Russa. Estes conflitos acabam por ser do interesse global na medida em que a região é um ponto de passagem de oleodutos e gasodutos que ligam as reservas de petróleo e gás do Azerbaijão e Cazaquistão. 

Sem comentários:

Enviar um comentário