Um estudo genético - envolvendo uma colaboração de 111 investigadores internacionais, analisou: os genomas de 403 antigos ibéricos que viveram entre 6.000 a.C. e 1.600 d.C.; 975 pessoas de fora da Península Ibérica; e cerca de 2.900 habitantes atuais da Península Ibérica - concluiu que um grande número de homens do Cáucaso e das estepes limítrofes do Mar Negro migrou até à Península Ibérica e se juntou a mulheres locais, substituindo a população masculina existente. O padrão destes migrantes representava na altura cerca de 40% do perfil genético da Península Ibérica e praticamente 100% das linhagens masculinas do território. Tais dados sugerem que aqueles migrantes eram sobretudo do sexo masculino e, que de algum modo, substituíram os homens locais.
Há 18 mil anos a Europa ainda se encontrava no ponto máximo do último período glacial, em que a espessura do gelo na zona dos Alpes ainda atingia 2 Km. A orla marítima encontrava-se 125 metros mais abaixo do que está hoje. O Sudoeste da Provença, assim como o Sul de Itália, Balcãs e Cáucaso estavam menos geladas. Entretanto, a viragem para o degelo começou há 12 mil anos. O seu efeito fez-se sentir noutros pontos do planeta, como por exemplo no Sudeste Asiático, onde a subida do nível do mar teve como efeito o aumento do número de ilhas que pertencem hoje à Indonésia. A Europa passou a ser repovoada com migrações de homo sapiens a partir da Ibéria e dos Balcãs. Esses humanos tinham vindo do Próximo Oriente para a Europa há cerca de 40 mil anos. O gelo tinha-os mantido acantonados no Sudoeste da Península Ibérica. Como é sabido, o Próximo e Médio Oriente entraram na era do Neolítico há 12 mil anos. Assim, a pastorícia e o desenvolvimento da agricultura proporcionou o aparecimento da cultura conhecida por Cultura Natufiense.
O que intriga os cientistas é o facto de os marcadores genéticos dos Povos Ibéricos do Paleolítico, que até aí tinham sido bem-sucedidos a defenderem-se do frio, terem desaparecido depois de uma nova vaga migratória vinda do Próximo Oriente ocorrida há 8 mil anos. Não há acordo entre os cientistas quanto à data de entrada no Neolítico por parte dos Povos Ibéricos, e particularmente no que diz respeito ao Alentejo. Adotaram o Neolítico por si próprios, ou terá sido uma civilização importada de fora?
Acredita-se que as comunidades do Mesolítico - caçadores/coletores do ocidente ibérico, nomeadamente os concheiros do estuário do Tejo e Sado - começaram a contactar com o modo de vida Neolítico vindo de fora por via marítima. No Alentejo Central, só começam a aparecer vestígios dos primeiros pastores e agricultores da cultura do Neolítico por volta de 5.500 a.C. É difícil de dizer se eram imigrantes vindos do Leste, ou se eram genuinamente autóctones. O que é certo é que o legado genético dos caçadores/coletores do Paleolítico da Ibéria foi apagado por migrações posteriores vindas do Próximo Oriente.
Seja como for, foi pela rota do Mediterrâneo que agricultores entraram na Península Ibérica pelo Sul. Outra expansão neolítica originária do Médio Oriente parece ter difundido em todo o norte da África, quando o clima era mais húmido e mais verde do que hoje. Essas tribos neolíticas podem ter sido essencialmente pastoras de cabras do Crescente Fértil que migraram para o sul até à Península Arábica, através do Mar Vermelho até o Corno de África (Etiópia, Somália), Sudão, Egito, depois para o oeste do Magrebe, chegando eventualmente à Andaluzia cerca de 7.000 anos atrás, onde estabeleceram a cultura da cerâmica La Almagra.
As linhagens maternas trazidas pelos agricultores neolíticos dos Balcãs e da Anatólia podem ser determinadas com segurança. Há evidências esmagadoras de que os agricultores neolíticos se misturaram com alguns dos forrageiros mesolíticos que encontraram. Foram encontradas no sul de França perto da fronteira espanhola (Languedoc) as mesmas linhagens dos primeiros agricultores neolíticos da Sérvia. A presença de certas linhagens do Próximo Oriente entre os bascos e os sardos confirmam a origem mesolítica e neolítica mista de ambas as populações e corrobora ainda a hipótese de uma assimilação precoce de europeus indígenas por agricultores e pastores do Próximo Oriente.
Nos últimos anos a história das migrações na Europa tem sofrido uma reconstituição por via dos estudos de genética populacional. O contributo da genética no estudo das migrações tem sido revolucionário. Dentro
dos haplogrupos do ADN mitocondrial, várias linhagens
femininas, denominadas H, U, T, X, K e I, espalharam-se por toda a Europa
vindas do Próximo Oriente há cerca de 40.000 anos. Em todo o caso, o seu efetivo populacional
durante o máximo da última glaciação teria sido pequeno. Dentro daqueles grupos o haplogrupo
H, é o marcador genético mais frequente da população europeia. Nos
nossos dias estas linhagens perduram, sendo ainda mais frequentes na Ibéria.
Por exemplo, em 499 amostras colhidas em Portugal, 25,5% são H1. Usando o
relógio molecular, as suas idades apontam para 15.000 anos. À medida que o gelo
ia recuando para Norte estes grupos também iam subindo pela Europa refazendo rapidamente
o seu povoamento. Portanto, o atual património genético feminino europeu
sinaliza esse repovoamento europeu a partir da Península Ibérica.
O ADN mitocondrial e o cromossoma Y são
duas porções do genoma humano que permitem rastrear respetivamente as linhagens
materna e paterna de um indivíduo. As mulheres transmitem o ADN
mitocondrial aos descendentes dos dois sexos. Ao passo que os
homens, apesar de também possuírem obviamente mitocôndrias, não
transmitem ADN mitocondrial. Em contrapartida transmitem o cromossoma
Y, e obviamente apenas ao sexo masculino. O ADN mitocondrial e
o cromossoma Y são haploides, isto é, são exemplares de
transmissão uniparental. E às diversas formas polimórficas destes
marcadores presentes na população dá-se o nome de haplótipos. E um
grupo grande de haplótipos, que são séries de alelos em
lugares específicos de um cromossoma constitui um haplogrupo. Em
genética populacional humana os haplogrupos mais estudados que podem ser usados para definir
populações genéticas são os haplogrupos do cromossoma Y e os
haplogrupos do ADN mitocondrial. Assim, dentro dos haplogrupos do
cromossoma Y, temos o haplogrupo I2, que pode ser o haplogrupo de
referência para o Homem de Cro-Magnon, remontando a 13.000-15.000
anos e tendo atingido a sua máxima frequência nos Alpes Dináricos dos Balcãs Ocidentais. Por
sua vez o haplogrupo I2a1 é de longe o maior ramo de I2 e o
mais frequentemente ligado às culturas do Neolítico europeu.
Espanha e Portugal é onde se encontram de uma forma contínua as linhagens desde os genes mais antigos até aos genes migratórios das estepes russas e ucranianas que no início da Idade do Bronze chegaram até à Península Ibérica. E foi a partir dessa altura que a Ibéria começou também a ser frequentada por outros povos migrantes: fenícios, celtas, gregos, judeus, romanos, godos, francos, árabes e berberes. Não se pode excluir que os caçadores/coletores do Norte de África tenham entrado na Península Ibérica pelo estreito de Gibraltar em barcos. Todos deixaram a sua impressão genética sobre as populações das regiões onde se estabeleceram.
Os falantes indo-europeus da Europa Central, através da rede do Vaso Campaniforme, devem ter sido atraídos pela riqueza da Cultura Megalítica. Equipados com armas de bronze, e cavalos, esses indo-europeus não eram fazendeiros de cereais, mas fazendeiros de gado da estepe ao norte do Mar Negro, que já haviam conquistado os Balcãs, os Cárpatos, a Polónia, a Alemanha, a Escandinávia e os países bálticos entre 4.000 e 2.800 a.C., causando o colapso de todas as culturas do calcolítico nessas áreas. O ramo do sul avançou da planície húngara para a Boémia e Alemanha até 2.500 a.C. e continuou sua migração até à costa atlântica, chegando à Grã-Bretanha e oeste da França por volta de 2.200 a.C. e a Irlanda por volta de 2.000 a.C. Esses eram proto celtas cujo ADN-Y agora é encontrado em mais da metade dos homens espanhóis e portugueses. Os Pirenéus desaceleraram a progressão dos proto celtas em direção à Ibéria, mas, finalmente, por volta de 1.800 a.C., as primeiras culturas estrangeiras da Era do Bronze aparecem em El Argar e Los Millares no sudeste da Espanha, com locais esporádicos aparecendo em Castela até 1.700 a.C. E na Extremadura e no sul de Portugal até 1.500 a.C.
Estes locais da Idade do Bronze Precoce normalmente não tinham mais do que alguns punhais ou machados de bronze e não podem ser considerados sociedades da Idade do Bronze adequadas, mas sim as sociedades da Idade do Cobre com artefactos de bronze ocasionais (talvez importados). Essas culturas poderiam ter sido fundadas por pequenos grupos à procura de conquistas fáceis em partes da Europa que ainda não possuíam armas de bronze. Eles se tornariam uma pequena elite governante, teriam filhos com mulheres locais e, dentro de algumas gerações, a sua língua indo-europeia teria sido perdida, absorvida pelas línguas indígenas, como terá sido o caso dos bascos.
A Ibéria ocidental, da Galiza e das Astúrias até ao sul de Portugal e ao oeste da Andaluzia, tem percentagens relativamente altas de haplogrupos cromossómicos Y do Sudoeste da Ásia. Sua origem histórica é diversificada, sendo as contribuições cumulativas dos pastores neolíticos levantinos, fenícios, judeus e árabes, embora a proporção exata permaneça difícil de avaliar, podendo variar muito entre as regiões. O que se pode verificar é que as regiões do Norte, como Cantábria, Astúrias e até a Galiza, têm ascendência árabe medieval, judaica e fenícia negligenciável e, portanto, a presença de haplogrupos do sudoeste da Ásia deve ser atribuída a genes mais antigos. No País Basco é zero. O nordeste da Espanha, do País Basco até à Catalunha, foi colonizado por fazendeiros neolíticos da Itália e da França e, consequentemente, tem a menor incidência de DNA do sudoeste da Ásia.
As migrações e os assentamentos nos tempos históricos tiveram um impacto menor na estrutura genética ibérica do que o Neolítico e a Idade do Bronze. Somente o ADN-Y pode ser usado hoje para medir as contribuições de outras populações europeias na Ibéria, e mesmo o ADN-Y não pode produzir estimativas precisas sem grandes quantidades de dados de alta resolução.
A área era habitada por várias tribos relacionadas
entre si, conhecidas como "iberos" por antigos
autores. O reino local, Cártila, deve o seu nome a um mítico chefe
de nome Cartlos. Os Sasper, citados por Heródoto,
teriam sido os responsáveis pela consolidação das diversas tribos nessa região.
A provável origem etimológica de Ibéria derivaria de Sasper
via Sasper >Speri >Hberi >Iberi. Os Moschi teriam
deslocado para o nordeste em migração, sendo que a sua principal tribo,
os Mtsqueta, originaram o nome da capital.
A obra medieval Moktsevai Kartlisai
(«Conversão da Ibéria») fala de um certo Azo e seu
povo, os quais se assentaram na futura capital Mtsqueta, fica perto
de Tbilisi. Outras antigas crónicas, as Kartlis
Tskhovreba ("História da Ibéria"), informam que Azo seria
um oficial de Alexandre Magno, que derrotou uma dinastia local
e conquistou o território, tendo sido depois expulso por Parnabazo I da
Ibéria.
A contínua rivalidade entre o Império Bizantino e o Império
Sassânida pela supremacia no Cáucaso e a fracassada
insurreição dos georgianos em 526, liderada por Gurgenes, foi de consequências
danosas para o país. Desde então, o rei da Ibéria teve um
poder apenas simbólico, pois o país estava sob domínio persa. A Ibéria passou
a ser uma província persa administrada por um governador.
Em 582, nobres georgianos solicitaram
ajuda ao imperador Maurício I que reinou Constantinopla entre
582 e 602, para fazer renascer o Reino da Ibéria. Mas, em 591,
os bizantinos e os persas preferiram fazer um
acordo para dividir a região, ficando Tbilisi com os persas, e Mtsqueta com
os bizantinos. O historiador Giorgi Mthatzmindeli
(1009-1065) escreveu que alguns nobres georgianos teriam pretendido
viajar até ao extremo sudoeste da Europa para visitar os Georgianos do
Oeste.
As tribos proto-georgianas apareceram pela primeira
vez na história escrita no século XII a.C. Os primeiros indícios de vinho foram
encontrados aqui, onde foram encontrados jarros de vinho com 8.000 anos.
Achados arqueológicos e referências em fontes antigas revelam elementos de
formações políticas e estaduais, caracterizados por uma avançada metalurgia e
técnicas de ourivesaria que remontam ao século VII a.C. Na verdade, a prática
da metalurgia na Geórgia iniciou-se durante o sexto milénio a.C., como uma
forma de associação com a Cultura de Shulaveri-Shomu. E a Cólquida,
ao lado da Ibéria, Apolónio de Rodes descreve que era o local,
na mitologia grega, do Velo de Ouro procurado por Jasão e
os Argonautas. Tal mito pode ter derivado da prática local de
utilização de lã para peneirar pó de ouro dos rios.
Por outro lado, há paralelos entre os Iberos e os Urartuanos nas
esculturas e nas vestes dos guerreiros, nos mantos sobre a cabeça das mulheres,
uso de peitorais, torques, braceletes e arrecadas. Os arreios dos cavalos
evidenciam igualmente grande proximidade entre os usados em Urartu e
entre os Iberos. Urartu corresponde ao Ararate,
ou Reino de Van, um reino da Idade do Ferro centrado ao redor do lago
Van, no planalto Arménio. O lago Van fica no leste da Turquia, no
Curdistão, e antigamente estava dentro do Reino da Arménia quando atingiu a sua
maior extensão. Especificamente, Urartu é um termo assírio para uma região
geográfica, enquanto Reino de Urartu ou as terras de Biainili designam
o estado da Idade do Ferro que surgiu naquela região. A região corresponde ao
planalto montanhoso entre a Anatólia, a Mesopotâmia e o Cáucaso, conhecida
atualmente como planalto Arménio. Não há textos urartuanos que tenham chegado
aos nossos dias para uma comparação aprofundada do ponto de vista linguístico,
mas mesmo assim apuram-se algumas semelhanças: nenhuma das línguas é
indo-europeia nem semita, ambas são aglutinantes.
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