quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

A exaustão das imagens televisivas de guerra e catástrofes





Não faz sentido, porque é prejudicial, as televisões hoje em dia manterem ao lado do comentador a repetição de imagens de guerra ou catástrofes. A repetição de imagens impactantes, como contentores a arder, prédios destruídos, crianças a fugir às bombas, é prejudicial. Essa abordagem não só exacerba o medo e a ansiedade nas audiências, mas também pode distorcer a percepção da realidade, criando uma sensação de crise constante. Além disso, a exploração sensacionalista de tragédias pode desumanizar os envolvidos e desviar a atenção das questões subjacentes que precisam ser abordadas. A responsabilidade dos editores é, em parte, fornecer informações de maneira equilibrada e reflexiva, em vez de simplesmente amplificar o choque visual.

Os editores de televisão muitas vezes insistem em usar métodos sensacionalistas por várias razões, em que a atração por audiências é um espécie de alfa e ómega da bolha mediática - maiores índices de audiência e, consequentemente, mais receitas publicitárias. É um ambiente altamente competitivo. Conteúdos emocionais tendem a gerar mais engajamento nas redes sociais, o que aumenta a visibilidade e o alcance das notícias com a repetição de imagens chocantes acompanhadas de narrativas simplificadas. 
Esses fatores muitas vezes se sobrepõem, criando um ciclo em que a busca por cliques e visualizações prevalece sobre a responsabilidade jornalística.

E não há maneira de os fazer ver que estão errados? Os espectadores podiam expressar suas opiniões, mas as respostas podem ser surpreendentes. Veja-se com as pessoas se comportam nas redes sociais em que vem ao de cima o pior lado da natureza humana. Por isso, caberia aos reguladores, com ou sem comissões de ética, tratar disso. Incentivar o consumo de fontes de notícias que priorizam a ética e a responsabilidade, destacando sua importância e relevância no ecossistema informativo. Organizar ou apoiar campanhas que enfatizem a importância da cobertura jornalística responsável e os impactos negativos do sensacionalismo, envolvendo especialistas e defensores da ética nos órgãos de comunicação social. Embora a mudança não ocorra da noite para o dia, uma combinação dessas abordagens pode ajudar a criar uma cultura de responsabilidade e reflexão.

Há uma pressão crescente dentro das redações, especialmente em meios televisivos, para capturar sound bites e realizar um escrutínio imediato e incisivo sobre os agentes políticos. Esse foco nos sound bites é impulsionado, em grande parte, pela necessidade de produzir conteúdo que seja facilmente consumível e compartilhável nas redes sociais e nas plataformas digitais. Essa prática muitas vezes favorece declarações rápidas e impactantes, mas que nem sempre refletem o contexto ou a profundidade das questões discutidas. Como resultado, o debate público pode tornar-se mais superficial, com maior ênfase em momentos polémicos ou controversos, em vez de uma análise cuidadosa das políticas e ideias. Essa abordagem também pode encorajar os próprios políticos a adotarem uma postura mais performativa, priorizando frases de efeito que gerem impacto imediato, mas que nem sempre contribuem para um diálogo construtivo.

A percepção de um predomínio da esquerda na profissão jornalística é um tema debatido amplamente, especialmente no Ocidente. Muitos críticos argumentam que os jornalistas tendem a ter inclinações políticas mais à esquerda, o que, segundo eles, se reflete na cobertura de notícias e nas narrativas que prevalecem nos meios de comunicação. Essa visão é reforçada por alguns estudos que mostram que a maioria dos jornalistas se identifica como liberal ou progressista. Esse viés percebido pode levar a críticas de que os editoriais não representam adequadamente uma gama diversificada de opiniões políticas, contribuindo para a polarização e desconfiança entre diferentes segmentos da sociedade. Em um ambiente em que a imparcialidade e a objetividade são fundamentais para a credibilidade do jornalismo, a impressão de que há uma agenda política pode prejudicar a confiança do público nos meios de comunicação.




Marta Vidal é jornalista freelancer e trabalhando em ONG, anteriormente baseada no Médio Oriente, escreve sobre justiça social e direitos humanos e está mais interessada em contar histórias que construam empatia, e promovam o ativismo. Ora, no passado dia 3 de janeiro Marta Vidal foi distinguida com o Prémio Gazeta na categoria de Imprensa, precisamente pela reportagem “A liberdade, lá em cima: os pássaros de Gaza”, publicada a 1 de julho de 2023. Na cerimónia presidida pelo Presidente da República, Marta Vidal, depois de no seu discurso ter acusado o Presidente da República e o Presidente da Câmara de Lisboa que estavam na primeira fila à sua frente, de cumplicidade com Israel, atingiu o pináculo da perfeição, quando o Presidente a ia abraçar depois da entrega do objeto simbólico, recusando o abraço inclinando-se para trás e estendo ao mesmo tempo a mão direita ao Presidente para um aperto de mão.

Depois de concluir a licenciatura em jornalismo na Universidade Nova de Lisboa, onde começou a estudar em 2012, Marta Vidal estudou na Universidade de Leiden, onde obteve a especialização em Estudos do Médio Oriente. Os seus artigos que abordam questões como direitos humanos e justiça social e ambiental, foram publicados por vários meios de comunicação, nomeadamente: Público, Expresso, The Guardian, Al Jazeera, The Washington Post, BBC, entre outros.

Esse debate é complexo, pois envolve questões de representação, responsabilidade social e a própria natureza do jornalismo como um espaço para o diálogo democrático. O desafio é encontrar um equilíbrio entre a defesa de causas importantes e a manutenção de padrões éticos e de objetividade na cobertura jornalística.

Sem comentários:

Enviar um comentário