sábado, 4 de janeiro de 2025

Assim como nos anos 1930


Vemos o crescimento de movimentos nacionalistas, autoritários e populistas, alimentados por crises económicas, desigualdades e descontentamento popular. O desprezo por instituições democráticas e pela imprensa livre lembra a erosão das liberdades que precedeu regimes como o nazismo e o fascismo. O crash de 1929 gerou uma década de instabilidade económica global, criando terreno fértil para líderes que prometeram "grandeza" e soluções fáceis. Hoje, apesar de avanços tecnológicos, a concentração de riqueza e os desequilíbrios globais fomentam ressentimento e instabilidade, amplificados pela Guerra da Ucrânia e de Gaza. 

Na década de 1930, potências como a Alemanha e o Japão desafiaram a ordem global estabelecida após a Primeira Guerra Mundial. Hoje, vemos a China e a Rússia buscando reformular a ordem mundial, enquanto a União Europeia enfrenta divisões internas. Antes da Segunda Guerra Mundial, a Liga das Nações era uma espécie de corpo em estado vegetativo. Hoje a ONU vai pelo mesmo caminho, mostrando todo o tipo de limitações, enquanto as tensões militares crescem em várias frentes. E as pessoas preferem ignorar os sinais de perigo iminente. Isso não é incomum, e há razões psicológicas e sociais para isso.

Muitos preferem confortar-se com ilusões do que encarar realidades desconfortáveis. A educação histórica é muitas vezes superficial, e as lições do passado são rapidamente esquecidas. A maioria acredita que as instituições atuais como a ONU ou a União Europeia evitarão o pior, ignorando os seus sinais de fragilidade. A inundação de narrativas contraditórias cria confusão e paralisia coletiva, dificultando a identificação de ameaças reais. A guerra na Ucrânia acabou de sofrer mais um upgrade na escalada, com a permissão de Biden da utilização dos mísseis de longo alcance. E Putin, voltou a ameaçar com armas nucleares. E estou a ver a história do Pedro e do lobo; mas também a história do cântaro que tantas vezes vai à fonte.

O governo dos EUA, sob a administração de Joe Biden, autorizou a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance fornecidos pelos americanos em operações contra alvos em território russo. Essa decisão marca uma escalada significativa no apoio militar ocidental à Ucrânia, especialmente no contexto de um conflito que já entrou em seu terceiro ano. A medida reflete um aumento na pressão sobre a Rússia, enquanto Moscovo ameaça reforçar a sua doutrina nuclear, ampliando as condições em que poderia considerar o uso de armas nucleares​. Entretanto, em 20 de janeiro de 2025 Donald Trump toma posse para o segundo mandato, e ainda há muitas incertezas qual vai ser a sua atuação em relação a este conflito.

Putin, em resposta a essas mudanças, alertou que tais ações podem ser interpretadas como uma participação direta da NATO no conflito, elevando o risco de confrontos mais amplos. A Rússia tem reiterado que considera o apoio militar ocidental uma ameaça à sua segurança estratégica e, portanto, poderia responder com severidade​. Essa escalada confirma o padrão histórico de confrontos prolongados, onde medidas táticas levam a consequências estratégicas mais graves. 
A lição parece ser que o equilíbrio entre dissuasão e diplomacia deve ser cuidadosamente mantido para evitar que as tensões se transformem num confronto global.

É claro que há aqui um player político chamado Xi Jinping que fala pouco, mas pode inverter o rumo para o precipício levado por Putin e Trump. Mas a China foge-me completamente às análises. A posição da China é particularmente estratégica, pois Xi busca equilibrar suas relações com a Rússia e os Estados Unidos, sem se comprometer completamente com nenhum dos lados. Isso reflete a tradicional abordagem chinesa de evitar confrontos diretos enquanto maximiza seus próprios interesses económicos e geopolíticos. 
No contexto da guerra na Ucrânia, a China tem se posicionado como uma mediadora potencial, mas sem condenar a Rússia diretamente. Esse alinhamento ambíguo oferece a Pequim a vantagem de explorar o enfraquecimento do Ocidente e de Moscovo enquanto continua a expandir sua influência global, especialmente por meio de iniciativas como a "Nova Rota da Seda". No entanto, os objetivos de longo prazo da China são menos transparentes, e sua postura em relação ao uso de armas nucleares, por exemplo, ainda não é clara.

O silêncio de Xi pode ser parte de uma estratégia mais ampla: observar o desgaste das outras potências e, no momento oportuno, emergir como o ator capaz de oferecer uma solução ou uma nova liderança no sistema global. Esse jogo de paciência é uma marca do pensamento estratégico chinês, muitas vezes descrito como uma visão a longo prazo em oposição às decisões reativas ocidentais. Se a China decidir inverter a trajetória atual rumo a um confronto global, ela terá de fazê-lo de forma subtil, por meio de alianças económicas, diplomáticas e, potencialmente, tecnológicas. Ainda assim, há incertezas: até que ponto Xi estaria disposto a intervir ativamente para evitar o "precipício" ou se ele considera mais vantajoso deixar as tensões entre Rússia e EUA enfraquecerem ambas as potências? Essas questões tornam a China uma incógnita intrigante no tabuleiro global. 

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