Hoje está a ser difícil ler com sobriedade crítica os novos historiadores revisionistas por estarem comprometidos cada vez mais com "as causas". A ligação entre certos setores da academia dos departamentos das humanidades e sociologia, e as causas políticas, pode gerar uma percepção de comprometimento ideológico em algumas áreas de estudo. Em especial, novos historiadores frequentemente revisitam o passado focados em dar voz a grupos historicamente marginalizados, e essa abordagem pode ser percebida como uma inclinação para um determinado quadrante político. Ao mesmo tempo, isso pode distanciar algumas interpretações de uma visão mais neutra e contextualizada. Ainda que haja um valor em revisitar o passado sob novas lentes, o desafio é encontrar um equilíbrio que permita estudar a história com rigor, evitando que ela se torne instrumento de causas contemporâneas.
Por exemplo, Ilan Pappe segue uma linha de pensamento ao ponto de desvalorizar o Holocausto. É um exemplo de historiador que, sendo natural de Haifa, Israel, nascido em 1954, participa no ativismo a favor da causa palestiniana no conflito com Israel, como se sentisse necessidade de expiar os pecados do seu povo. Adota, portanto, uma abordagem no mínimo controversa. Sua perspectiva, associada ao que ele chama de "novo revisionismo histórico", procura questionar narrativas estabelecidas sobre a criação de Israel e o conflito com os palestinos. Nos livros que tem publicado, tende a enfatizar os aspectos da violência da ocupação dos colonos israelitas na Cisjordânia, e a deslocação dos palestinos como refugiados nos países circunvizinhos. Em contrapartida, minimiza ou reinterpreta questões como o Holocausto, que foi um fator crucial na fundação do Estado de Israel e na formação da sua identidade coletiva.
Os pais de Ilan Pappe tiveram de fugir aos nazis porque eram judeus alemães. Ele estudou História na Universidade Hebraica de Jerusalém e fez o doutoramento na Universidade de Oxford, onde se especializou em História do Médio Oriente, vindo a tornar-se internacionalmente reconhecido pelo seu trabalho acerca do conflito entre Israel e Palestina. Atualmente, é professor na Universidade de Exeter, no Reino Unido, onde dirige o Centro Europeu de Estudos Palestinianos. Pappe é uma das principais figuras do movimento israelita de “Novos Historiadores”, que desafiam a narrativa tradicional sobre a fundação do Estado de Israel e os eventos de 1948, conhecidos como a Nakba.
A crítica a Pappe e a outros historiadores com abordagens semelhantes é justamente que, ao minimizar a importância do Holocausto e a perseguição histórica sofrida pelos judeus, eles acabam desvalorizando elementos fundamentais para entender as razões que levaram à criação de Israel como um refúgio seguro. Ao focar em uma narrativa que prioriza os direitos dos palestinos, muitos críticos argumentam que esse tipo de historiografia acaba criando uma visão parcial, deixando de lado o contexto histórico mais amplo e os traumas de perseguição que levaram à busca pela independência judaica.
O que é ser judeu hoje? A identidade judaica moderna transcende as noções de linhagem ou descendência genética. Muitos judeus contemporâneos se identificam com essa herança cultural e religiosa de maneira profundamente pessoal, independentemente de uma ligação biológica direta. A identidade judaica envolve um sentido de continuidade histórica, onde memórias coletivas, tradições e valores culturais são fundamentais. Por isso, o pertencimento à comunidade judaica pode ser mais uma questão de escolha, vivência e comprometimento do que de uma "prova" genética. Essa construção identitária reflete a resiliência e a adaptabilidade do judaísmo ao longo dos séculos, o que permite que ele sobreviva e prospere em diferentes contextos históricos, mesmo após perseguições e dispersões. A importância dada a essa identidade coletiva tem, portanto, um peso muito maior que qualquer validação externa sobre ancestralidade biológica. É também uma forma de resposta às ameaças históricas de assimilação ou apagamento cultural, um ponto que Ilan Pappe e outros revisionistas às vezes não abordam com a devida profundidade.
E na verdade, nos dias de hoje, no Próximo e Médio Oriente, o herói é Saladino, não é Jesus Cristo, um judeu até aos ossos. Como é que figuras históricas emblemáticas são percebidas e valorizadas de forma diferente conforme as culturas e os contextos regionais? No mundo árabe e no Norte da África, Saladino (ou Salah ad-Din) é realmente venerado como um herói. Ele é lembrado pela liderança durante as Cruzadas, pela sua vitória sobre os cruzados e pela reconquista de Jerusalém, mas também pela reputação de ser um líder justo, magnânimo e, paradoxalmente, admirado até mesmo por seus inimigos europeus. Essa figura de Saladino é vista como um símbolo de resistência, orgulho e dignidade, enquanto Jesus Cristo, mesmo tendo origens judaicas e raízes na Palestina, não ocupa o mesmo espaço heroico e cultural. Isso ocorre porque, para a maioria muçulmana na região, Jesus é considerado um profeta, mas não a figura central da fé, e seu papel não está associado à luta política ou territorial que caracteriza a história de Saladino.
Jesus, na tradição cristã, representa uma mensagem espiritual de sacrifício e amor universal, enquanto Saladino é uma figura histórica diretamente ligada à identidade cultural e política islâmica. Assim, a figura de Jesus, mesmo sendo parte da história judaica e amplamente reverenciada no Cristianismo, não assume o mesmo papel inspirador ou heroico que Saladino ocupa no imaginário popular do Médio Oriente contemporâneo.
Como se costuma dizer, santos da terra não fazem milagres. Enquanto na China, hoje cristãos já são cem milhões e ainda vai crescer. Se o homem não é um bicho estranho, não sei o que é estranho. Muitas vezes as figuras locais ou tradicionais não são tão valorizadas quanto aquelas que vêm de fora ou se tornam universais. A expansão do Cristianismo na China é um exemplo interessante disso. Embora a China tenha profundas tradições espirituais e filosóficas, como o confucionismo, o taoismo e o budismo, milhões de chineses estão-se voltando para uma religião que historicamente lhes era estranha. Esse crescimento do Cristianismo na China, com cerca de cem milhões de adeptos e a expectativa de um aumento futuro, é um fenómeno marcante. Ele nos lembra que o ser humano, de facto, é atraído por ideias e crenças que transcendem a própria cultura. O ser humano tem uma perene necessidade de novos significados, ou promessas de esperança. Essa busca constante pelo transcendente, pela verdade ou pela renovação espiritual parece algo essencialmente humano e comprova o quanto o homem é "um bicho estranho". É um aspecto que o torna, ao mesmo tempo, imprevisível e universal em sua busca por algo além de si mesmo.
E na verdade, nos dias de hoje, no Próximo e Médio Oriente, o herói é Saladino, não é Jesus Cristo, um judeu até aos ossos. Como é que figuras históricas emblemáticas são percebidas e valorizadas de forma diferente conforme as culturas e os contextos regionais? No mundo árabe e no Norte da África, Saladino (ou Salah ad-Din) é realmente venerado como um herói. Ele é lembrado pela liderança durante as Cruzadas, pela sua vitória sobre os cruzados e pela reconquista de Jerusalém, mas também pela reputação de ser um líder justo, magnânimo e, paradoxalmente, admirado até mesmo por seus inimigos europeus. Essa figura de Saladino é vista como um símbolo de resistência, orgulho e dignidade, enquanto Jesus Cristo, mesmo tendo origens judaicas e raízes na Palestina, não ocupa o mesmo espaço heroico e cultural. Isso ocorre porque, para a maioria muçulmana na região, Jesus é considerado um profeta, mas não a figura central da fé, e seu papel não está associado à luta política ou territorial que caracteriza a história de Saladino.
Jesus, na tradição cristã, representa uma mensagem espiritual de sacrifício e amor universal, enquanto Saladino é uma figura histórica diretamente ligada à identidade cultural e política islâmica. Assim, a figura de Jesus, mesmo sendo parte da história judaica e amplamente reverenciada no Cristianismo, não assume o mesmo papel inspirador ou heroico que Saladino ocupa no imaginário popular do Médio Oriente contemporâneo.
Como se costuma dizer, santos da terra não fazem milagres. Enquanto na China, hoje cristãos já são cem milhões e ainda vai crescer. Se o homem não é um bicho estranho, não sei o que é estranho. Muitas vezes as figuras locais ou tradicionais não são tão valorizadas quanto aquelas que vêm de fora ou se tornam universais. A expansão do Cristianismo na China é um exemplo interessante disso. Embora a China tenha profundas tradições espirituais e filosóficas, como o confucionismo, o taoismo e o budismo, milhões de chineses estão-se voltando para uma religião que historicamente lhes era estranha. Esse crescimento do Cristianismo na China, com cerca de cem milhões de adeptos e a expectativa de um aumento futuro, é um fenómeno marcante. Ele nos lembra que o ser humano, de facto, é atraído por ideias e crenças que transcendem a própria cultura. O ser humano tem uma perene necessidade de novos significados, ou promessas de esperança. Essa busca constante pelo transcendente, pela verdade ou pela renovação espiritual parece algo essencialmente humano e comprova o quanto o homem é "um bicho estranho". É um aspecto que o torna, ao mesmo tempo, imprevisível e universal em sua busca por algo além de si mesmo.
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