Disease – é o termo que os médicos utilizam no seu dia-a-dia, e quando falam entre si de"heart disease" ou "infectious disease". Tratam puramente da patologia biológica.Illness – é um termo que é utilizado para referir o que as pessoas dizem quando se sentem doentes, no seu sentido subjetivo, de estarem doentes. Envolve o paciente que se sente como doente, que é como percebe a sua condição de saúde. É um termo mais comum em conversas informais e sociais. Por exemplo, "she has been struggling with a long illness" (Ela tem lutado contra uma longa enfermidade).Sickness – É usado de maneira ainda mais genérica, por exemplo, quando se trata de organização dos serviços de saúde ou políticas de saúde. É, portanto, o termo mais genérico e abrangente, metendo tudo o que tem a ver com saúde, desde a prevenção das doenças até à qualidade de vida e bem-estar social. Vai desde o "travel sickness" até ao "he called in sick". Em suma, é um conceito muito genérico e impreciso de doença e saúde.
Assim, o termo mais adequado para se referir ao Serviço Nacional de Saúde - National Health Service, no Reino Unido - seria disease, pois este está associado ao diagnóstico e tratamento de condições médicas objetivas e à gestão da saúde pública. Disease reflete o foco técnico e clínico do sistema de saúde, que lida com doenças específicas e patologias. O SNS está estruturado para prevenir, diagnosticar e tratar doenças (diseases), além de trabalhar os dados epidemiológicos e intervenções médicas. Por outro lado, illness e sickness poderiam ser usados em contextos mais subjetivos ou gerais - quando se discute a experiência pessoal dos pacientes quando falam, por exemplo, aos órgãos de comunicação social, ou nas redes sociais. Em linguagem mais coloquial, para abordar de forma genérica os serviços prestados na comunidade.
Hoje já circulam nos debates mais críticas pertinentes, e cada vez mais ponderadas acerca da ruína dos Serviços e Sistemas Nacionais de Saúde. Não só por má gestão, mas porque a deriva tecnológica e a obsessão pela imortalidade por parte das sociedades europeias que têm beneficiado de bons sistemas de saúde, muitos deles quase gratuitos. O tempo de prometer tudo e mais alguma coisa acabou porque se abusou da condição de "illness", usada em excesso e por tudo e por nada. Ou seja, a experiência subjetiva e a percepção pessoal que as pessoas têm tido do direito à saúde, que tem levado a uma sobrecarga do sistema, não será mais comportável. A ambição por cada vez mais e melhor é infinita. Mas os recursos financeiros, técnicos e humanos são finitos.Os Serviços Nacionais de Saúde (SNS) foram originalmente estruturados para lidar com diseases. Com o passar do tempo, houve uma expansão significativa para atender também à illness, isto é, a queixas individuais que nem sempre têm uma base objetiva ou médica clara. Essa mudança refletiu uma sociedade que almejou valorizar mais a qualidade de vida e o bem-estar subjetivo, do que cuidar pela sustentabilidade do sistema. Isso gerou procuras excessivas e desnecessárias que sobrecarregou os serviços públicos de saúde - consultas frequentes, exames desnecessários e tratamentos para condições não críticas com mero propósito placebo. Os custos para tratar questões subjetivas tornaram-se demasiado elevados para proveitos em saúde muito desprezíveis.
A "medicalização do bem-estar" é por si só uma doença das sociedades de consumo abundante. Uma tendência que precisa ser combatida. De outro modo, como já está a acontecer há muito, compromete o papel do Estado na sua função de prover pela saúde e bem-estar do coletivo. Inevitavelmente, as pessoas vão ter de sentir que não é viável a desoneração para tudo e mais um "par de botas”. Especialmente em questões que ultrapassam as necessidades médicas essenciais. A ideia de "saúde gratuita para todos, em qualquer circunstância" é nobre, mas insustentável quando aplicada a todos os níveis de queixas, incluindo as mais triviais ou subjetivas. Isso cria a perceção de que o SNS é um recurso ilimitado, incentivando o uso excessivo e, muitas vezes, desnecessário. Será necessário, isso sim, um esforço para educar a sociedade sobre os limites do sistema público, promovendo a ideia de que nem tudo precisa ser tratado por médicos, ou melhor, pelo SNS.
Isso exige a normalização de práticas como: copagamento em casos não críticos; uso de recursos digitais, como triagens por IA; maior responsabilidade individual pela saúde; e aceitação de que ser um bom humano implica ser tolerante, resiliente, e porque não estoico, face às agruras da vida. A tendência moderna de tentar eliminar todo o tipo de sofrimento – físico, mental ou emocional – através do sistema de saúde é insustentável. Faz parte da Educação Cívica uma abordagem mais realista, que passa pelo reconhecimento que nem todos os problemas são de saúde resolúveis por intervenções médicas. E que o desconforto faz parte da condição humana.
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