terça-feira, 23 de agosto de 2022

Max Weber



Max Weber [21 de abril de 1864 – 14 de junho de 1920] foi um sociólogo e economista político alemão que rejeitou o positivismo e destacou a nossa compreensão subjetiva dos fenómenos sociais. Tendo sido o principal arquiteto das ciências sociais do século XX, Weber estava interessado no que acontece com os indivíduos dentro dos grupos como resultado da ação social. Como consequência disso, ele levou as ciências sociais para além dos tratamentos empíricos propostos por seus precursores: Auguste Comte e Émile Durkheim. Oriundo da Turíngia, estudou direito nas universidades de Heidelberg e Berlim. Um documento de política social [A situação dos trabalhadores rurais na Alemanha nas províncias para lá do Elba], publicado em 1892, proporcionou-lhe o primeiro cargo de professor em Heidelberg. Em 1903 pediu a demissão do cargo na universidade. Só voltaria à vida académica em 1919. Ao contrário de Marx, que buscava derivar leis históricas do seu estudo com dados empíricos, Weber não acreditava que as ligações complexas obtidas em relações sociais e económicas fossem redutíveis a leis. Tal hipótese anularia o papel do sujeito, o que para ele redundava numa simplificação excessiva do papel do sujeito.

O trabalho mais conhecido de Max Weber, “A ética protestante e o espírito do capitalismo” (1905), é um texto fundamental para as ciências sociais modernas. Trata-se de uma análise brilhante sobre os motivos pelos quais protestantes, e não católicos romanos, chegaram ao domínio do empreendimento capitalista, uma versão não marxista do capitalismo. O conhecimento que permitiu a Weber analisar o capitalismo e o espírito ascético do protestantismo tem origem em seus estudos iniciais sobre as estruturas económicas da Idade Média.

Como filósofo, Weber foi profundamente influenciado por Friedrich Nietzsche. Por sua vez influenciou pensadores como Martin Heidegger, Karl Jaspers, Martin Buber e Michel Foucault, para citar apenas alguns. Para Nietzsche as ciências sociais não eram bem ciências, uma vez que todos os julgamentos partiam necessariamente de uma perspetiva subjetiva e, portanto, não eram cientificamente objetivos. Weber era sensível a essa opinião, mas seu método – até onde se pode dizer que teve um – consistia em analisar os dados, explorá-los no contexto de múltiplas perspetivas eventualmente relacionadas com eles. Depois de equacionadas essas perspetivas, então construía-se um juízo objetivo, mas enriquecido pelo entendimento do que significa o fundamento baseado na interpretação.

Embora Weber fosse um crítico do capitalismo, ele discordava de Marx quanto à ideia de que o socialismo libertaria o homem de suas correntes; o socialismo ao ocupar o lugar do capitalismo, argumentava ele, o socialismo não resolveria as doenças do capitalismo, mas, em vez disso, as incorporaria, porque precisaria criar uma máquina burocrática ainda maior, o que fatalmente levaria a uma nova racionalização e a uma nova “gaiola de ferro”, assim como a novas restrições à liberdade.

Por ação social, Weber se referia a “todo comportamento humano ao qual o indivíduo que age vincula um significado subjetivo”. Essa definição estabeleceu para Weber uma linha de pesquisa que conduziria a uma consideração do modo como fatores sociais, políticos e económicos influenciavam a felicidade do homem, que ele considerava cada vez mais ameaçada pelo processo de racionalização segundo o qual burocracias modernas transformavam seres humanos em engrenagens de uma máquina. Racionalização é o processo pelo qual ações sociais projetadas para levar à eficiência económica se tornavam cada vez mais predominantes em sociedades capitalistas. Essas ações sociais substituíam as que anteriormente haviam guiado o desenvolvimento de sociedades, por exemplo: tradições; interesse comum; moralidade.

Weber foi um estudioso dos mecanismos de poder, tendo sido um dos primeiros a defini-los como tema de estudo sério – o início de uma tradição que chegaria à maturidade com o trabalho de Michel Foucault. Em Política como vocação (1919), identificou o Estado como: Única fonte do ‘direito’ de usar a violência. Portanto, ‘política’ significa lutar para dividir o poder ou lutar para influenciar a distribuição do poder, seja entre Estados ou entre grupos dentro de um Estado. Weber definiu o poder como “a oportunidade de um homem ou um grupo de homens satisfazer a sua própria vontade em uma ação comum, até mesmo contra a resistência de outros que participam da ação”. Ele listou três tipos de poder: tradicional (estabelecido há muito tempo pelo costume, como a monarquia); carismático (autoridade com origem no apelo de um líder individual); legal e racional (autoridade com origem na constituição). Weber explorou o conflito que surgia na chegada de um líder carismático a uma burocracia legal e racional. 

Max Weber teve grande influência no trabalho de Jürgen Habermas, devendo-lhe tributo quanto ao conceito de “esfera pública”, análise do capitalismo, da democracia e do direito. Karl Jaspers, um dos fundadores do existencialismo, também absorveu muita da análise social de Weber, que sustentou as teorias da intersubjetividade deste filósofo. A influência de Weber pode ser ainda sentida, ainda que mais silenciosamente, no pano de fundo do trabalho de Hannah Arendt, embora discordasse quanto ao tema da violência política. O conceito de gaiola de ferro, de Weber, descrevia precisamente como Adolf Eichmann veio a colocar-se à frente da administração do transporte de judeus para campos de concentração nazis.

O principal interesse filosófico de Weber era o mesmo de Kant: a situação da liberdade do homem em um mundo no qual o ritmo de mudança estava a começar a acelerar. A preocupação de Weber com a liberdade surgiu no momento em que o capitalismo ascendia e a velocidade do crescimento tecnológico e das mudanças sociais aumentava de modo nunca antes visto, com consequências desconhecidas. Weber buscava identificar os problemas que a liberdade humana encarava em uma sociedade cada vez mais racionalizada. Ele fez isso de modo não programático; e seu singular método não metodológico continua a fornecer uma maneira prática de compreender a situação do indivíduo na sociedade e identificar as circunstâncias que reforçam ou ameaçam a liberdade.

A ideia da obrigação do homem perante as possessões que lhe são confiadas, às quais ele se subordina como servo e administrador, ou até como “máquina de fazer dinheiro”, repousa sobre a vida com seu peso frio. Se ele somente persevera no caminho ascético, então quanto mais bens ele possui, mais pesado se torna o sentimento de responsabilidade por preservá-los inalterados para a glória de Deus e ampliá-los pelo trabalho incansável. Algumas das raízes desse estilo de vida estão na Idade Média, assim como tantos elementos do espírito capitalista, mas foi somente na ética do protestantismo ascético que ele encontrou um fundamento ético consistente. Sua significância para o desenvolvimento do capitalismo é óbvia. Ela elimina os grilhões na luta pelo ganho, pelo lucro, não somente ao legalizá-lo, vê-o como algo desejado diretamente por Deus.

Max Weber é amplamente reconhecido como a maior figura na história das ciências sociais e, como Karl Marx ou Adam Smith – que poderiam ser considerados concorrentes deste título –, Weber foi muito mais que um estudioso de disciplinas. Ao contrário de Smith e Marx, não existe um “Weber ideológico”. Ninguém transformou o pensamento de Weber diretamente numa visão de mundo política, ou num conjunto de receitas políticas para consumo do público em geral. Mas existe um “Weber político” extremamente importante, cujo estudo da moralidade da vida política influenciou diversos políticos e pensadores, e permanece essencial nas questões a respeito da natureza da responsabilidade política.


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