quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Memória da Guerra



Existe em quase todos os países do mundo um Túmulo do Soldado Desconhecido. É um monumento dedicado às memórias comuns de todos os soldados mortos na guerra. Geralmente são monumentos nacionais de alto perfil. Ao longo da história, muitos soldados morreram em guerra e seus restos mortais não foram identificados. Após a Primeira Guerra Mundial, um movimento surgiu para homenagear esses soldados com um único túmulo, contendo o corpo de um desses soldados não identificados.



Porto, Praça Carlos Alberto

No Porto há um Monumento aos Mortos da Grande Guerra, na Praça Carlos Alberto. É da autoria de Henrique Moreira, e foi inaugurado em 9 de abril de 1928. Acabaria por substituir um primeiro monumento construído na cidade, em 1924, por iniciativa da Junta Patriótica do Norte. Integrando-se na tipologia: "1914. Aos Mortos da Grande Guerra. A cidade do Porto. 1918".

Ainda tenho memória de ouvir o meu avô, com quem vivi até ele partir quando eu tinha acabado de fazer dez anos, falar dos gazeados da primeira guerra, guerra em que Portugal entrou. Da Alemanha até ao antigo Império Austro-Húngaro e da Europa do Leste à Rússia, a memória e a celebração da Primeira Guerra Mundial nunca assumiram as proporções nem a permanência memorial como no Ocidente europeu. Depois da guerra, as cerimónias de celebração de suas memórias naturalmente variaram de país para país, mas os Aliados vitoriosos logo desenvolveram uma série de tradições semelhantes para lembrar o conflito e honrar os seus mortos.

De um modo geral diz-se que os túmulos do Soldado Desconhecido contém os restos mortais de homens comuns mortos na Primeira Guerra Mundial que não foram identificados. Representam o sacrifício de todos os soldados. Em 11 de novembro de 1920, a França inaugurou seu Túmulo do Soldado Desconhecido sob o Arco do Triunfo, e a Grã-Bretanha inaugurou o Túmulo do Guerreiro Desconhecido na Abadia de Westminster. A Itália seguiu o exemplo em sua comemoração do armistício no ano seguinte, 4 de novembro de 1921, no Monumento a Vittorio Emanuele II ao lado das ruínas do Fórum, em Roma.



Roma
Monumento a Vittorio Emanuele II


Em 1922, no quarto aniversário do armistício, a Bélgica enterrou cinco de seus mortos de guerra desconhecidos ao pé da coluna do Congresso, em Bruxelas. Os ex-domínios só adotaram o conceito do “soldado desconhecido” tardiamente, com a Austrália enterrando um deles em 1993, o Canadá, em 2000, e a Nova Zelândia, em 2004, cada um no National War Memorial – em cada caso, um soldado não identificado morto na frente ocidental na Primeira Guerra Mundial. O conceito de “soldado desconhecido” se manteve limitado às vítimas representativas da Primeira Guerra Mundial em toda parte, exceto nos Estados Unidos, que mais tarde concedeu honras semelhantes a mortos não identificados da Segunda Guerra Mundial e das guerras da Coreia e do Vietname, embora, neste último caso, o soldado homenageado tenha sido identificado graças à tecnologia de DNA e voltou a ser sepultado em outro lugar, sem ser substituído. É provável que a disponibilidade de testes de DNA tenha tornado o conceito dos “soldados desconhecidos” um anacronismo, garantindo a singularidade da conexão da Primeira Guerra Mundial para com a maioria das pessoas homenageadas dessa forma.



Bélgica



Otawa

A celebração da memória da Primeira Guerra Mundial continua a ter um lugar especial na Austrália mais do que em qualquer outro lugar, e dentro dela, o sacrifício de vidas australianas em Galípoli continua a ser o foco. Os 8.700 australianos que ali morreram representaram menos de um quarto das mortes dos Aliados na batalha, ao passo que, para a Austrália, os homens mortos em Galípoli representaram menos de 15% dos 60 mil mortos do país na Primeira Guerra Mundial (dos quais 46 mil caíram na frente ocidental). No entanto, desde o início, Galípoli tem ocupado um lugar central na memória de guerra da Austrália. Milhares de australianos ainda fazem a peregrinação anual à Angra do ANZAC, para ver o lugar onde seus antepassados lutaram e morreram. A Celebração ao Amanhecer, realizada na praia a cada 25 de abril, atrai enormes multidões e, normalmente, apresenta o discurso de um australiano importante. 

A Rússia acabaria por fustigar o grupo dos países da Europa Central e do Leste, fracos demais para se defender, mas, às vezes, como a Sérvia, em 1914, demasiado imprudentes ou irresponsáveis na busca de suas próprias metas nacionais para evitar conflitos com os vizinhos mais poderosos. Com bastante frequência, os europeus do entreguerras culparam o idealismo conciliador de Wilson por esse estado disfuncional de coisas. Mas, como observou Walter Russell Mead, os ideais de Wilson “ainda orientam a política europeia de hoje: autodeterminação, governo democrático, segurança coletiva, direito internacional e uma liga de nações”, consubstanciada na União Europeia. Assim, uma vez que se supere a responsabilização da Conferência de Paz de Paris por iniciar a Segunda Guerra Mundial, o legado para a Europa parece ser baseado em princípios positivos forjados no calor de 1914 a 1918, revolucionários, no longo prazo, apenas no sentido da revolução democrática. 

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