British Museum
Não sabemos exatamente a quem pertencia este astrolábio hebraico em particular, mas ele nos revela muito sobre como estudiosos judeus e islâmicos revitalizaram a ciência e a astronomia ao levar adiante o legado recebido da Grécia e da Roma clássicas. O instrumento nos conta de uma grande síntese intelectual e de um tempo em que as três religiões — cristianismo, judaísmo e islamismo — coexistiam pacificamente. O astrolábio torna acessível em uma forma compacta a soma das tradições e dos conhecimentos astronómicos medievais.
À primeira vista, este astrolábio parece um relógio de bolso antiquado e grande demais, com uma face toda de latão. É um refulgente agregado de peças de latão interligadas, com cinco discos finos sobrepostos e presos por um pino central. Em cima há diversos ponteiros que podem ser alinhados com vários símbolos dos discos para oferecer interpretações astronómicas ou ajudar a determinar a posição de quem o consulta. Um astrolábio como este se destina à latitude na qual será usado: seus cinco discos permitirão determinar com precisão qualquer posição entre as latitudes dos Pirineus e do Norte de África. No meio dessa área ficam as latitudes das cidades espanholas de Sevilha e Toledo.
Silke Ackermann, curadora de instrumentos científicos no British Museum, passou muito tempo estudando este astrolábio: «As inscrições são todas em hebraico — é possível ver com bastante clareza letras do alfabeto hebraico finamente gravadas. Mas o que há de mais intrigante nesta peça é que nem todas as palavras estão em hebraico. Algumas têm origens árabes, outras são castelhano. Assim, por exemplo, ao lado de uma estrela da constelação que chamamos Aquila — a águia — vê-se escrito em hebraico nesher me’offel — “a águia voadora”. Porém outros nomes de estrela são dados na forma árabe: Aldebarã, em Touro, tem o nome árabe al-dabaran escrito em caracteres hebraicos. E, quando se leem as letras hebraicas dos nomes dos meses, elas formam os nomes espanhóis medievais como outubro, novembro, dezembro. O que vemos aqui, portanto, é o conhecimento dos astrónomos da Grécia clássica que mapearam o céu combinado com as contribuições de estudiosos muçulmanos, judeus e cristãos — e tudo na palma da mão.»
A Península Ibérica na Idade Média era o lugar na Europa onde florescia com grande intensidade a ciência, dado que era onde os muçulmanos e judeus eruditos em conjunto com os monges cristãos melhor guardaram o espólio dos conhecimentos mais avançados da Antiguidade Clássica grega e romana. Do século VIII ao XV, a mistura dos povos dessas três religiões foi um dos elementos mais característicos da cultura da Península Ibérica. No século XIV a Península Ibérica ainda era uma colcha onde pontuava Portugal, Castela e Aragão. Castela ainda fazia fronteira com o último Estado muçulmano independente que era o o reino de Granada que residia na Alhambra. Havia grandes números de judeus e muçulmanos, e os cristãos viviam juntos com eles, mantendo os ritos religiosos separados em catedrais, mesquitas e sinagogas. Isso não impedia, porém, um alto grau de interação recíproca, em particular no nível da ciência. O resultado foi uma civilização vibrante, criativa e original devido a esses contactos entre as três culturas. Essa coexistência, extremamente rara naquele período da história europeia, fez toda a diferença para que fosse de Portugal e Castela dado novos mundo ao mundo, como Luís de Camões bem gravou no seu poema épico dos Lusíadas.
Silke Ackermann, curadora de instrumentos científicos no British Museum, passou muito tempo estudando este astrolábio: «As inscrições são todas em hebraico — é possível ver com bastante clareza letras do alfabeto hebraico finamente gravadas. Mas o que há de mais intrigante nesta peça é que nem todas as palavras estão em hebraico. Algumas têm origens árabes, outras são castelhano. Assim, por exemplo, ao lado de uma estrela da constelação que chamamos Aquila — a águia — vê-se escrito em hebraico nesher me’offel — “a águia voadora”. Porém outros nomes de estrela são dados na forma árabe: Aldebarã, em Touro, tem o nome árabe al-dabaran escrito em caracteres hebraicos. E, quando se leem as letras hebraicas dos nomes dos meses, elas formam os nomes espanhóis medievais como outubro, novembro, dezembro. O que vemos aqui, portanto, é o conhecimento dos astrónomos da Grécia clássica que mapearam o céu combinado com as contribuições de estudiosos muçulmanos, judeus e cristãos — e tudo na palma da mão.»
A Península Ibérica na Idade Média era o lugar na Europa onde florescia com grande intensidade a ciência, dado que era onde os muçulmanos e judeus eruditos em conjunto com os monges cristãos melhor guardaram o espólio dos conhecimentos mais avançados da Antiguidade Clássica grega e romana. Do século VIII ao XV, a mistura dos povos dessas três religiões foi um dos elementos mais característicos da cultura da Península Ibérica. No século XIV a Península Ibérica ainda era uma colcha onde pontuava Portugal, Castela e Aragão. Castela ainda fazia fronteira com o último Estado muçulmano independente que era o o reino de Granada que residia na Alhambra. Havia grandes números de judeus e muçulmanos, e os cristãos viviam juntos com eles, mantendo os ritos religiosos separados em catedrais, mesquitas e sinagogas. Isso não impedia, porém, um alto grau de interação recíproca, em particular no nível da ciência. O resultado foi uma civilização vibrante, criativa e original devido a esses contactos entre as três culturas. Essa coexistência, extremamente rara naquele período da história europeia, fez toda a diferença para que fosse de Portugal e Castela dado novos mundo ao mundo, como Luís de Camões bem gravou no seu poema épico dos Lusíadas.
Essa interação colocou o Portugal medieval na vanguarda da expansão marítima, graças não apenas a esse conhecimento erudito, mas também pelas naturais circunstâncias geográficas da orla marítima entre o Mediterrâneo e o Atlântico, onde o povo nórdico e viking dava cartas na arte de melhor navegar. Não só houve uma crescente aquisição de saber científico em torno de instrumentos astronómicos como também o conhecimento na arte de navegar em alto mar oceânico.
Abraão ben Samuel Zacuto [1450-1522] foi um astrónomo de origem judaica que serviu na corte do rei Dom João II de Portugal. Zacuto teria nascido em Salamanca. Ali teria estudado e lecionado astronomia e astrologia. Quando da expulsão dos judeus de Espanha em 1492, Zacuto refugiou-se em Portugal, sabendo-se que estava a serviço de Dom João II em junho de 1493.
Era já reconhecido como um importante astrónomo antes de chegar a Portugal. No país, seu trabalho foi importante para a ciência náutica. Foi chamado à Corte e nomeado Astrónomo e Historiador Real pelo Rei, cargo que exerceu até ao reinado de Dom Manuel I. Foi consultado por este monarca acerca da possibilidade de uma viagem por mar até à Índia, que apoiou e encorajou. Mesmo assim, Zacuto sofreu a expulsão de Portugal, tal como todos os judeus que recusaram se converter ao catolicismo, que era dada através do batismo, que o rei português impôs aos que aí viviam. Morreu no Império Otomano c. 1510. Abraão Zacuto foi o autor de um novo e melhorado astrolábio, que ensinou os navegantes portugueses a utilizar, e também de melhoradas tábuas astronómicas que ajudaram a orientação das caravelas portuguesas no alto-mar, através de cálculos a partir de observações com o astrolábio.
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