Em 1948, os Israelitas, com o Holocausto ainda muito recente, ao serem atacados pelos países árabes que os cercavam, tiveram que interirizar, no seu genoma de sobrevivência como Estado, o lema de que jamais poderiam facilitar. Daí se compreender que os israelitas na sua maioria, sejam implacáveis com os palestinos. Não há volta a dar. Enquanto o odor terrorista à sua volta perdurar, Israel nunca terá outra hipótese senão fazer o que tem feito. Esta é a compreensão histórica e psicológica das razões por trás da postura de Netanyahu em relação aos palestinos e aos países árabes vizinhos. A experiência traumática do Holocausto, seguida pela luta pela sobrevivência em 1948 contra adversários muito superiores em número, moldou profundamente a mentalidade de defesa de Israel. Isso gerou uma estratégia que mistura autodefesa implacável com a busca por segurança absoluta em um ambiente percebido como constantemente hostil.
A guerra da Palestina de 1948 teve início em 30 de novembro de 1947 e perdurou até meados de 1949 na Palestina Mandatária. Antes de 14 de maio de 1948 a Palestina ainda estava sob a autoridade britânica. E já decorria uma guerra civil que envolvia o yishuv e os árabes palestinos muçulmanos em que também havia cristãos, e eram apoiados pelo Exército Árabe de Liberação. Mas a partir de 15 de maio de 1948 a guerra envolve Israel e vários países árabes que se estende até meados de 1949. As narrativas diferem conforme se esteja do lado dos palestinos, ou do lado dos israelitas. Os palestinos chamam a esta guerra Al-Naqba ou Al Nakba ("a catástrofe"), aludindo principalmente ao primeiro período, durante o qual os palestinos que eram árabes foram vencidos pelas forças israelitas, em que grande parte da população árabe da Palestina passou por um êxodo bastante traumático. Já segundo a narrativa judaica, trata-se da Guerra da Independência ou Guerra da Liberação, expressão que concerne sobretudo ao segundo período, iniciado com a declaração de independência do Estado de Israel e seguida do confronto entre Israel e os Estados Árabes vizinhos.
A partir dos anos 1980, após a abertura dos arquivos em Israel sobre a Guerra da Palestina, o conflito foi objeto de novos estudos, realizados sobretudo pelos chamados Novos Historiadores. E é assim que a História se reescreve. Mas não faltam detratores a dizer que os novos histpriadores não têm feito outra coisa a não ser fabricar uma nova história do conflito. Seja como for, é um facto que o Holocausto teve um impacto determinante na memória coletiva do povo hebraico. Os israelitas internalizaram a ideia de que, diante de ameaças existenciais, não poderiam dar ao luxo de serem complacentes. A sobrevivência do Estado foi associada à força militar, dissuasão e à necessidade de tomar medidas preventivas. É claro que nem toda a gente subscreve as razões dos judeus. Essa história é complicada demais para santos e inocentes. Há uma crítica significativa, claro, tanto dentro de Israel como na comunidade internacional, que sugere que essa postura se transformou numa política de ocupação prolongada e punições coletivas que alimentam ainda mais o ciclo de violência. Muitos argumentam que, ao tratar os palestinos de forma implacável, Israel está perpetuando a instabilidade e corroendo as chances de coexistência pacífica. Críticos questionam se a política de segurança não poderia ser conciliada com esforços mais consistentes para resolver o conflito de maneira justa e sustentável.
Enquanto houver "odor terrorista", como metáfora geracional, o Estado de Israel provavelmente continuará a colocar no topo da sua missão a segurança. Porém, isso levanta a questão de como quebrar esse ciclo de medo e violência. A história mostra que inimigos podem se tornar parceiros, como foi o caso de Israel com o Egito e a Jordânia, mas a ausência de lideranças dispostas ao compromisso de ambos os lados dificulta vislumbrar tal transformação no contexto atual.
Penso que a situação só mudará quando se der no islão uma grande revolução. A mentalidade do povo muçulmano é ainda muito medieval. E auguro que um dia terão a sua revolução coperniciana, tal como aconteceu no mundo cristão a partir do Renascimento. Assim como o cristianismo passou por momentos históricos de profunda transformação — Renascimento, Reforma Protestante, Iluminismo — que abriram caminho para sociedades mais seculares, pluralistas e modernizadas, algo similar teria de acontecer no mundo islâmico para que se operasse uma transformação no sentido mais humanista em toda aquela região que também se propaga para África e para a Ásia, sobretudo a Ásia Central e a região do Indo/Pacífico. Deve-se recordar que o Islão teve uma longa e rica tradição de pensamento crítico e intelectual, especialmente durante a Idade de Ouro Islâmica (séculos VIII a XIII), quando filósofos como Averróis (Ibn Rushd) e Avicena (Ibn Sina) dialogaram com ideias científicas e filosóficas de outras culturas, incluindo a grega. Contudo, a predominância de estruturas tribais, políticas autoritárias e a instrumentalização da religião por elites têm, em muitos lugares, dificultado a emergência de um processo de secularização ou reforma semelhante ao que ocorreu no Ocidente.