Tudo indica que o declínio é certo para os países europeus, e a UE não terá futuro. Ainda não para os EUA. O que está em causa é saber que papel terão os países europeus numa ordem internacional que será diferente da que foi criada em 1945 e 1989, épocas de hegemonia norte-americana. É duvidoso que instituições internacionais como a União Europeia, a NATO e departamentos governamentais nacionais nas áreas da ciência, economia, diplomacia, segurança e defesa tenham capacidade para fazerem escolhas informadas sobre tantos temas simultaneamente.
A ideia do movimento pendular na História oferece um modelo para pensar as flutuações entre o auge e o declínio das civilizações. No caso da civilização euroamericana muitos paralelos realmente se destacam. No final do Império Romano do Ocidente, testemunhou-se um colapso gradual das instituições e uma crescente anomia — sintomas que, em menor ou maior grau, ecoam na modernidade.
Se a História tiver, de facto, na sua marcha, os três tipos de movimento: linear; circular; pendular - parece que estamos nesta terceira década do século XXI, a assistir a uma fase de inversão do seu movimento pendular. Só não sei se será um movimento parecido com a Queda do Império Romano do Ocidente, precisamente no mesmo ocidente geográfico.Elon Musk escreveu um artigo de opinião no jornal “Welt am Sonntag”, no qual volta a apoiar o partido de extrema-direita alemão Alternativa para a Alemanha, [AfD]. Diz que é o único partido que consegue salvar a Alemanha. E alude o facto de Alice Weidel, a líder do partido, ter uma parceira do mesmo sexo do Sri Lanka: "Isso soa-vos a Hitler? Por favor!", escreveu Musk no artigo. Além disso, o multimilionário defendeu que a AfD tem posições importantes em áreas como a recuperação económica ou o controlo da imigração.
Muitos alemães sentem que as suas preocupações são ignoradas pelo sistema. O partido aborda os problemas do momento, sem o politicamente correto, acrescentou Musk, citado pela “Deutsche Welle”. Elon Musk escreveu que as políticas anti-imigração defendidas pelo partido de extrema-direita alemão – que incluem deportações em massa, tal como defende Trump – não são “xenófobas”, pois visam “assegurar que a Alemanha não perde a sua identidade”.
Pouco depois de o texto ter sido publicado no site do jornal, a editora de opinião do “Welt am Sonntag”, Eva Maria Kogel, escreveu na rede social X que se demitia. Uma das reações à publicação do artigo de Elon Musk foi dos responsáveis editoriais do “Welt am Sonntag”. “A democracia e o jornalismo prosperam com base na liberdade de expressão. Isso inclui lidar com posições em polos opostos e classificá-las jornalisticamente”, disseram à agência Reuters Jan Philipp Burgard e Ulf Poschardt. “O diagnóstico de Musk está correto, mas a sua abordagem terapêutica, no sentido de que só a AdD pode salvar a Alemanha, é fatalmente falsa”, escreveu Jan Philipp Burgard (que será editor-chefe do “Welt” a partir de 1 de janeiro), também citado pelo jornal “The Guardian”. A AfD também manifesta o desejo de sair da União Europeia, procurando uma aproximação à Rússia e um apaziguamento com a China. A Alemanha irá a eleições a 23 de fevereiro, depois de Olaf Scholz ter perdido a votação da moção de confiança no início de dezembro, o que levou à queda do governo. Segundo as sondagens, referidas pelo “The Guardian”, o partido da extrema-direita alemã está em segundo lugar nas intenções de voto.
Se pensarmos na nossa época como uma fase de "inversão pendular," ela indicaria uma transição de hegemonia, com a civilização ocidental a mover-se de um auge cultural, económico e militar para um estado de decadência. Este movimento pendular, no entanto, talvez não seja exatamente uma repetição do colapso romano. Mas o desgaste nas estruturas sociais, o aumento de desigualdades, a afirmação dos valores culturais e fundacionais da Europa pela direita, e uma fragmentação na unidade cultural pela esquerda, tornam o panorama muito preocupante. A transição de um sistema unipolar centrado nos Estados Unidos para um arranjo multipolar: uma redistribuição de influências e responsabilidades entre diversas potências, como a China, a Rússia, a União Europeia, e possivelmente a Índia e outros atores regionais, é possível que venha a acontecer.
Historicamente, períodos multipolares tendem a ser instáveis, pois as potências competem por influência, mas também podem favorecer alianças estratégicas menos rígidas, o que permite maior flexibilidade nas relações internacionais. A multipolaridade pode tornar o cenário global mais dinâmico e talvez até cooperativo em alguns aspectos, ao reduzir a dependência de um único centro de poder. Essa redistribuição, porém, levanta também o risco de tensões regionais intensificadas, especialmente em áreas onde esses blocos de poder se sobrepõem. Talvez essa seja uma fase de transição inevitável e necessária para corrigir o movimento pendular da História, ajudando a humanidade a redescobrir formas de convivência num sistema mais equilibrado, ainda que instável. Pelo menos o movimento dos BRICS parece estar a conseguir consistência no seu empoderamento.
Essa aliança, que inicialmente parecia focada apenas em áreas económicas, tem-se consolidado como uma plataforma estratégica que busca um papel mais influente e equilibrado no cenário internacional. Recentemente, os BRICS têm avançado em iniciativas financeiras, como a criação de um sistema alternativo ao SWIFT e o fortalecimento de um banco de desenvolvimento próprio, buscando reduzir a dependência do dólar americano. Além disso, a ampliação do bloco, com a possível inclusão de novos membros, como Argentina e Arábia Saudita, sugere que o BRICS pode evoluir para uma verdadeira coligação de contrapeso, promovendo não apenas interesses económicos, mas também influências políticas e diplomáticas alternativas. Isso indica que, no movimento pendular de redistribuição de poder global, os BRICS estão, de fato, a solidificar posição.
A designação "Sul Global" é uma reformulação do antigo conceito de "Terceiro Mundo", adaptando-o para a realidade atual e para evitar as conotações de hierarquia ou atraso que o termo anterior muitas vezes carregava. O "Sul Global" inclui países que compartilham histórias de colonização, subdesenvolvimento económico e desafios estruturais semelhantes, mas que, ao mesmo tempo, têm-se destacado como protagonistas no cenário internacional. O bloco dos BRICS reflete essa ideia de um "Sul Global" que não mais se define pela vulnerabilidade ou subserviência, mas sim pelo empoderamento coletivo e pela busca de alternativas ao sistema económico e político ocidental predominante. Na prática, essa visão também destaca o desejo de reequilibrar a ordem global, representando uma diversidade de culturas, economias emergentes e novas vozes que trazem ao debate global perspectivas muitas vezes negligenciadas pelas potências tradicionais.
A "nova narrativa" baseia-se na ideia de que o Norte Global construiu a prosperidade à custa do colonialismo, da exploração de recursos e da opressão de povos e culturas do Sul. Essa perspectiva vê o Sul Global como credor de uma "dívida histórica" que o Norte deveria, finalmente, "pagar" por meio de reparações, justiça económica e ambiental, e políticas de cooperação mais equitativas. Para muitos no Sul Global, essa retórica não é apenas uma questão de reparação histórica, mas também uma crítica à persistente dependência económica e ao papel das instituições financeiras internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, que são percebidas como ferramentas de controlo. O BRICS e outras alianças emergentes estão, de certa forma, instrumentalizando essa narrativa para argumentar em favor de uma ordem global reformada, na qual o Sul tenha uma voz mais ativa e independente. Essa abordagem encontra eco no ativismo e nos movimentos de esquerda, que veem na redistribuição de poder e recursos uma forma de corrigir injustiças históricas.
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