quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Adágios e alegorias


A máxima "quem não se sente não é filho de boa gente" reflete uma justificação comum para a reação emocional a uma ofensa, implicando que uma pessoa digna ou de honra deve sentir e defender-se quando insultada. Esse ditado enraíza-se no sentimento de orgulho pessoal e na necessidade de preservar a dignidade.

Adágios, parábolas e alegorias carregam lições e verdades que foram testadas ao longo do tempo. Fazem parte daquilo a que se costuma referir por sabedoria popular, formas de conhecimento que condensam experiências coletivas e valores culturais, oferecendo uma visão simplificada, mas poderosa, sobre a vida, a moralidade e as relações humanas. Embora não substituam análises complexas ou científicas, elas podem servir como guias práticos e reflexivos para muitas situações quotidianas. Elas refletem a riqueza da tradição oral e escrita de diferentes culturas e contribuem para a compreensão humana de situações e dilemas universais. Essas formas de expressão, ao serem transmitidas de geração em geração, consolidam-se como uma parte essencial da identidade coletiva e muitas vezes oferecem verdades atemporais que ainda ressoam com as realidades atuais.

Eu tendo a aceitar quando é o outro a dizer-me isso, com aquela tolerância de que ninguém é perfeito e que nada do que é humano me é estranho, parafraseando Montaigne, um pensador renascentista que admiro. A ideia de Montaigne de que "nada do que é humano me é estranho", revela uma atitude de compreensão e aceitação das imperfeições humanas. Isso reflete uma abordagem equilibrada e humanista, reconhecendo que, embora reações emocionais possam ser naturais e compreensíveis, todos estamos sujeitos a falhas e emoções que, muitas vezes, fogem ao ideal de autocontrolo. Montaigne, com seu ceticismo e introspecção, defendia a aceitação da natureza humana em toda a sua complexidade. Já para não citar os Evangelhos segundo Jesus Cristo: "quem nunca errou que atire a primeira pedra". Essa mensagem sublinha a importância de não sermos rápidos em condenar os outros, reconhecendo que também estamos sujeitos a falhas. É uma perspectiva ampla e tolerante, fundamentada em valores humanistas e em ensinamentos éticos que transcendem as eras.

Platão defendia uma concepção idealista da realidade, onde as "Ideias" ou "Formas" eram perfeições transcendentais, enquanto Aristóteles tinha uma abordagem mais empirista e prática, focada no mundo físico e em suas causas. A questão sobre a existência de Deus, tal como concebido pelas religiões, é uma das mais antigas e debatidas na filosofia e teologia. O argumento cosmológico de Tomás de Aquino, por exemplo, defende que deve haver uma causa primeira, uma entidade não causada, que deu origem a tudo. O argumento ontológico de Anselmo, que propõe que a própria definição de Deus como "o ser maior que se pode conceber" implica a existência de Deus. O argumento teleológico, ou "design inteligente", que sugere que a ordem e a complexidade do universo indicam a existência de um criador inteligente.

Wittgenstein e Derrida, em suas respectivas abordagens, consideraram a linguagem como fundamental para a experiência humana, mas de maneiras distintas. Wittgenstein, especialmente em sua fase tardia (como em Investigações Filosóficas), defendia que o significado das palavras está em seu uso dentro de formas de vida. Ele acreditava que a linguagem não apenas descreve o mundo, mas constitui a própria maneira pela qual vivemos e entendemos nossas práticas. Para Wittgenstein, a linguagem não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas o próprio meio pelo qual pensamos, interagimos e interpretamos a realidade. Ele até sugere que muitos dos problemas filosóficos são, na verdade, problemas de linguagem, porque nos perdemos em jogos linguísticos que não compreendemos bem. Dessa forma, ele diria que a vida humana como a conhecemos seria impossível fora da linguagem, pois é a linguagem que molda as nossas interações e o nosso entendimento do mundo.

Derrida, por outro lado, ao desenvolver a teoria da desconstrução, explora a ideia de que a linguagem está sempre em movimento e é fundamentalmente instável. Ele argumenta que não existe um significado fixo ou uma presença estável atrás das palavras, e que os significados estão sempre adiados (no conceito de différance). Derrida também enfatizou que a linguagem está impregnada de poder e de diferenciações que estruturam nossa experiência. Portanto, a própria subjetividade e a maneira como entendemos a vida e o mundo estão intrinsecamente ligadas às redes de linguagem que usamos. Para ele, a vida humana, tal como a conhecemos, seria impensável sem o jogo incessante de significados e diferenças que a linguagem proporciona.

Ambos concordariam, cada um à sua maneira, que a vida humana depende da linguagem, mas por razões diferentes. Wittgenstein vê a linguagem como um conjunto de práticas intersubjetivas que constituem nossa forma de vida, enquanto Derrida vê a linguagem como um sistema de diferenças que nunca se estabiliza completamente, mas que nos captura em sua rede de significados sempre adiados. Ambos, portanto, sublinham a ideia de que a linguagem não é apenas um meio de comunicação, mas o próprio tecido da vida humana. Essa visão ressoa com a ideia de que, fora da linguagem, a concepção humana de "realidade" seria radicalmente diferente ou inexistente tal como a entendemos.

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