quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O exemplo de Roger Scruton – e a falta de gratidão nas pessoas que criticam o Ocidente


Nos últimos meses de vida Roger Scruton foi alvo de vários ataques significativos que lhe causaram tais dissabores que um cancro do pulmão lhe foi fatal seis meses após o diagnóstico. Em julho de 2019 foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão, depois de em abril desse ano ter sido demitido do cargo de presidente da Building Better, Building Beautiful Commission, um organismo ligado ao governo britânico, meramente devido a calúnias. Isso ocorreu após a publicação de uma entrevista ao jornal New Statesman, a partir da qual, e em interpretações mal fundamentadas, lhe foram atribuídas afirmações controversas sobre a China e a Hungria, incluindo referências a um “império Soros”. Posteriormente, o jornal veio a retratar-se e a pedir desculpa, corrigindo as perversas e deturpadas interpretações das suas palavras. Precisamente em julho de 2019 o Organismo Públivo reintegrou-o, mas todo o mal já estava feito. Roger Scruton morreu pacificamente em 12 de janeiro de 2020, aos 75 anos, na companhia da família, em Londres. A família divulgou agradecimentos pelo apoio que recebeu nesse período turbulento, ressaltando que esse impulso positivo o ajudou a retomar o trabalho, apesar da doença. No Spectator, em dezembro de 2019, Scruton escreveu uma poderosa reflexão sobre o ano difícil que enfrentara. Escreveu que a aproximação da morte o levou a compreender o valor da vida e a sentir gratidão.

Após cerca de seis meses de luta contra o cancro, Sajid Javid (Chanceler do Tesouro), destacou o trabalho intelectual, que Scruton levou a cabo em prol da liberdade de um conservadoe, que impactou no apoio aos opositores do regime soviético. Timothy Garton Ash (historiador da Universidade de Oxford) descreveu-o como “um homem de extraordinário intelecto, erudição e humor, um grande apoiante dos dissidentes da Europa Central, e o tipo de pensador conservador provocador – por vezes escandaloso – que uma sociedade realmente liberal deveria alegrar-se por ter para desafiá-la.”. Douglas Murray, disse que Scruton era uma das pessoas mais gentis, encorajadoras, ponderadas e generosas que se podia conhecer. Anne Applebaum (historiadora e jornalista) recordou como Scruton, nos anos 1980, a ajudou a organizar o envio de livros para dissidentes da Europa de Leste: “Fui uma das estudantes-correio que os transportou secretamente através da Cortina de Ferro.”


O jornal Diário de Notícias de Portugal publicou uma notícia no dia 12 de janeiro de 2020, referindo que Scruton foi um "filósofo, escritor, professor universitário e conselheiro governamental" que faleceu devido a um cancro após seis meses de combate à doença. Destacou ainda a controvérsia política recente que o envolveu, mencionando sua demissão do cargo governamental por declarações consideradas controversas, que posteriormente foram retratadas, embora ele não tenha reassumido a posição. O Observador publicou, além de uma homenagem filosófica profunda ao seu legado intelectual e estético, um tributo (In Memoriam) que sublinha sua defesa apaixonada dos valores do conservadorismo e beleza, concebidos como elementos essenciais da civilização ocidental.
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Eu fico banzado com a falta de proporção e contexto histórico em certos discursos académicos sobre império, colonialismo e escravatura. É a conhecida seleção parcial do objeto de crítica. Alguns autores concentram-se quase exclusivamente no Ocidente, ignorando ou minimizando que impérios, colonialismos e escravidão existiram de forma sistemática noutras civilizações (Império Otomano, Mongol, Persa, Chinês, etc.), muitas vezes com níveis de violência semelhantes ou até superiores. Focam-se num aspeto do comportamento ocidental. Tiram-no do contexto; põem de parte quaisquer paralelos não ocidentais. E depois exageram o que o Ocidente realmente fez.

É tudo analisado e extraído do contexto histórico. Analisam eventos do passado com critérios morais de hoje, sem considerar que no período histórico em causa, a escravatura ou a expansão imperial eram práticas comuns globalmente e não exclusivas do Ocidente. Mesmo quando as críticas são justificadas, por vezes o discurso é construído como se o Ocidente fosse o único culpado universal, apagando a pluralidade de agentes históricos. Raramente se destaca que o próprio Ocidente, com todas as suas culpas, também foi o berço dos movimentos abolicionistas e das ideias de direitos humanos que depois se tornaram universais. Alguns académicos tratam o imperialismo como uma invenção ou um traço quase exclusivo da Europa moderna, ignorando que a construção de impérios é um fenómeno transversal a praticamente toda a história humana.

Exemplos omitidos: Colonização árabe (séc. VII-XIX) -- expansão pelo Norte de África, Península Ibérica, Médio Oriente e até partes da Ásia e da África Oriental, com forte imposição cultural e religiosa. Colonização japonesa (séc. XIX-XX) -- ocupação da Coreia, Taiwan, Manchúria e grande parte do Sudeste Asiático durante a Segunda Guerra Mundial. Colonização interna russa -- expansão para a Sibéria, Cáucaso e Ásia Central, com deslocamentos forçados. Tráfico de escravos pelos árabes -- escravizaram africanos durante mais de mil anos, com estimativas de milhões de vítimas, incluindo as castrações dos eunucos com elevada mortalidade. Escravatura no Império Mongol e na China imperial -- servidão em grande escala dos povos conquistados. Escravatura indígena na América antes de Colombo -- no continente americano, antes da chegada dos europeus, temos que recordar pelo menos os impérios: Inca e Asteca.

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