quinta-feira, 25 de setembro de 2025

O meio académico ocidental que enquadra um conjunto de correntes críticas


Estudos pós-coloniais, e teoria crítica da raça, nas últimas décadas, ganharam força em certos departamentos universitários, sobretudo nas ciências sociais e humanidades. Há alguns pontos chave que ajudam a entender o que se passa na cabeça dessas pessoas. Muitos académicos, com a teoria crítica da raça,  partem da premissa de que o colonialismo europeu e a supremacia branca moldaram profundamente as estruturas económicas, políticas e culturais do mundo moderno. A narrativa que daí resulta tende a ver “o homem branco” como beneficiário de séculos de opressão, com uma responsabilidade histórica contínua. Figuras como Churchill são reavaliadas não pelo seu papel em momentos decisivos (como na Segunda Guerra Mundial), mas pelo seu pensamento e ações em contextos coloniais, onde as expressões conotadas com visões racistas não são contextualizadas com a sua época. Hoje, em alguns meios académicos, o critério moral (ligado à igualdade racial, de género ou à luta contra a opressão) é visto como mais importante do que qualquer outro contributo. 

Parte dos académicos, imbuídos de uma polarização identitária e militância intelectual, não vê o seu papel apenas como o de analisar, mas também como o de corrigir injustiças históricas. Daí que os ativistas por estas causas têm levado a efeito um processo de apagamento de representações icónicas da época passada derrubando estátuas, ou reescrevendo a História. A Universidade, no seu campus, transformou-se num campo de ativismo político. 
A categoria “homem branco” é usada como símbolo do poder histórico hegemónico. Por isso argumentam que o ataque a essa categoria é entendido como um ataque a esse sistema de poder, e não necessariamente às pessoas individualmente. 

No entanto, na prática, esse discurso reificado tende a cair no mesmo tipo de generalizações que criticam, acabando por ser recebido como um ataque ad hominem. Muitos destes académicos analisam apenas o imperialismo europeu, ignorando ou relativizando outros impérios e formas de escravatura (árabe, asiática, africana pré-colonial, etc.), criando uma visão parcial da História. Essa seletividade, não é inocente, faz parte de uma narrativa política de trincheira destinada a concentrar a culpa histórica num grupo específico. Não é que todos esses académicos se levem a sério nessa do "homem branco". O “homem branco europeu” é um símbolo que se tornou, para o ativismo político, o avatar histórico de um sistema global de opressão. Como é mais fácil atacar símbolos do que sistemas complexos, a retórica acaba por se tornar simplista e, para muitos observadores, injusta ou até hipócrita.

A força dessa visão no próprio Ocidente – e não tanto nos países que viveram o colonialismo europeu de forma mais direta – tem a ver com um conjunto de fatores que se juntaram desde os anos 60 e 70 e que ainda ecoam a revolução cultural de 1968 e o pós-guerra. Depois da Segunda Guerra Mundial, o Ocidente (especialmente EUA e Europa Ocidental) entrou num período de autocrítica intensa: o nazismo mostrou ao mundo até onde o racismo institucional podia ir. Movimentos de direitos civis nos EUA pelo fim do colonialismo, e as lutas contra a Guerra do Vietname, criaram um clima em que criticar o poder estabelecido era moralmente prestigiante.

Estas correntes pós-coloniais e feministas, que veem o “homem branco europeu” como sinónimo do poder histórico, e que é preciso combater, são herdeiras do marxismo. Paradoxalmente, este discurso só foi possível no Ocidente, pelo menos até ao segundo mandato de Trump, porque era mais fácil ter este discurso num contexto seguro, com liberdade de expressão e poucos riscos pessoais. Académicos no Ocidente podiam atacar a sua própria civilização sem medo de perseguição estatal, o que não aconteceria em países como a China, ou a Rússia, só para exemplificar os maiores. Mas agora com Trump também está a ser possível. O baixo custo político de atacar o “homem branco” no Ocidente acabou. Até agora, antes pelo contrário, era-se recompensado academicamente.

Ao longo de décadas, certos departamentos universitários foram dominados por linhas ideológicas homogéneas de esquerda abrangendo tudo e um par de botas – desde estudos de género, pós-coloniais, teoria crítica da raça. Quem quisesse fazer carreira, trabalhar essas áreas no alinhamento era como ter uma mina para a excelência curricular. Dando loas à narrativa dominante tinha garantida todas as portas abertas para o sucesso. Ao passo que questionar o "wokismo" era correr o risco de ser empurrado para a porta da rua. E o desemprego por muitos e maus anos. Isto criou um efeito de câmara de eco, onde as ideias se foram reforçando sem oposição séria.

Muito do vocabulário e da estrutura do pensamento contra o homem branco vem de debates americanos sobre escravatura. Coisas de Jim Crow, segregação, e racismo policial. A academia europeia importou esse enquadramento, mesmo quando ele não encaixa perfeitamente na história local. Por exemplo, aplicar a lógica de relações raciais dos EUA a Portugal ou à Noruega, até parece uma piada. Em sociedades democráticas e liberais, atacar o grupo dominante é visto como mais corajoso e ético, do que criticar minorias. Todas as minorias são sagradas. Ora, isso acabou por dar azo a todo o tipo de abusos. Essa assimetria moral criou o espaço para discursos muito agressivos contra o “homem branco”, que são inaceitáveis independentemente do grupo a que é dirigido.

No fundo, isto faz parte do eterno paradoxo ocidental. Quanto mais livre, mais autocrítico e seguro é o ambiente. Mais ele permite, e até incentiva narrativas que demonizam o seu património histórico. E como essa maioria hoje tem menos coesão identitária e menos vontade de se defender como grupo, o campo fica aberto para a retórica da autoagressão. E é aqui que entra a ironia da História, com o regresso de Donald Trump. Muitas destas correntes académicas estão agora a começar a provar do próprio veneno que andou a ser lançado pelo menos nos últimos trinta anos.

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