Hoje, importa
meter a mão a na consciência e refletir sobre o que temos andado a fazer com a
tecnologia por ganância. Como foi possível o homem ter-se tornado um ser
altamente nocivo, incapaz de valorizar adequadamente o risco ao alterar
equilíbrios delicados? Todos contribuímos para a degradação do ambiente e a
depauperação dos recursos. As potencialidades destrutivas tornaram-se ainda
mais acentuadas quando o estilo de vida e o modelo industrial ocidental se
tornaram globais.
Paradoxalmente, a
ameaça ao equilíbrio ecológico do planeta Terra deriva precisamente porque a
humanidade teve um êxito desmesurado com a ciência e a técnica. A escala
exponencial dos efeitos indesejáveis da ação individual e coletiva ampliaram-se
de tal modo inesperado e inaudito que muitos cientistas, alegadamente os mais
pessimistas, consideram que já é demasiado tarde para reverter a situação
climática do planeta rumo a uma série de catástrofes impossíveis de controlar.
Cada um de nós
tem, de facto, uma responsabilidade coletiva perante a Terra e os seus
habitantes, que estão longe de se reduzirem apenas aos seres humanos. Apesar de
as religiões ditas do Livro, maioritárias no mundo, terem chamado insistentemente
à atenção de que o primeiro mandamento tinha a ver com a expulsão do Paraíso,
por termos desobedecido ao comer o fruto do conhecimento, não se quis ouvir o
imperativo de agir de modo que os efeitos das nossas ações fossem compatíveis
com a permanência de uma autêntica vida neste paraíso que é a Terra. Mas deixamo-nos
iludir com a esperança, em vez de assumirmos com coragem a responsabilidade que
se nos impunha.
Um filósofo
americano, Richard Rorty, combateu a metafísica clássica ao sublinhar o papel
dos contextos sociais. Continuador da tradição do pragmatismo americano, cujos
mentores remetem para nomes como William James, para Rorty a verdade é o
resultado de regras e de procedimentos aceites no seio de uma dada comunidade.
Rejeita os pressupostos seculares do pensamento ocidental que visavam garantir
a sua incondicional universalidade. Rejeita assim o conceito de realidade em
si, como se as nossas representações mentais a reproduzisse tal e qual como se
fosse um espelho. Desistindo da busca cartesiana da certeza, delineou duas
posições em relação à verdade: 1) ancorada num patamar suprassensível que
remonta a Platão; 2) associada a práticas culturais compartilhadas de
justificação e de controlo. A verdade filiada na metafísica clássica é, segundo
Rorty, baseada em procedimentos de carater autorreflexivo, próprios de um grupo
restrito que se arroga o direito de representar toda a humanidade, de todas as
épocas e lugares. A verdade suprema é como o sol que não se pode olhar por
muito tempo sem perder a vista. Verdade é aquilo que é aceite por aqueles que
seguem determinadas regras históricas de verificação. A autoridade da ciência resultou
de um acordo coroado de êxito entre indivíduos que se descobriram herdeiros das
mesmas tradições históricas e confrontados com os mesmos problemas.
Rorty preconizava
que se devia apostar na ideia de uma humanidade que avança em direções
divergentes, privilegiando a diferenciação relativamente à unificação, e assim
contrariava o ideal de unificação das formas de pensamento sob a égide de uma
verdade e de uma racionalidade supracomunitária, em que a História avançaria
inexoravelmente para a convergência entre as diversas civilizações.
Os critérios do
universalismo assentaram em pressupostos metafísicos. Mas esses pressupostos
acabaram por enfraquecer, abrindo a porta a formas de relativismo. E isto provocou
a perda de prestígio das disciplinas da Filosofia. Filosofia essa que tentou articular
a realidade e o saber sobre a base de uma razão universal unitária. Ainda assim
ainda houve algumas tentativas para salvar a Filosofia. São exemplos disso Jürgen
Habermas e John Rawls. Como contributos para a filosofia política, a ação
comunitária de Habermas, e a teoria da justiça de Rawls, representam nas
sociedades democráticas uma alternativa frente ao recurso à força na solução
dos conflitos e à prática de uma fatigante negociação em que vence quem tem
maiores reservas de poder ou maior habilidade estratégica na prossecução dos
seus interesses.
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