A recente
catástrofe climática em Moçambique avisa-nos mais uma vez que temos de nos
mexer e mudar esta via insustentável para uma mais sustentável. Caso contrário,
algo desagradável irá acontecer. Até agora ainda tem sido possível aos países
mais desenvolvidos manter em grande parte as suas amenidades, mas de futuro tal
deixará de ser assegurado se não se arrepiar caminho. É duvidoso que o mundo
desenvolvido possa manter o seu estilo de vida isolado, não apenas porque o clima
não obedece a fronteiras, mas também porque as suas fronteiras rapidamente se
desmoronam sob vagas maciças de imigrantes desesperados com fome, fugindo às
catástrofes naturais e às guerras nos seus países de origem. Por outro lado,
não se vislumbra que a curto prazo a deterioração ambiental, provocada pela
poluição industrial e tráfego rodoviário, sobretudo nas megametrópoles, seja
revertida.
Pode haver dois
tipos de escolha para o sucesso ou o fracasso:
Planeamento a
longo prazo e vontade de reconsiderar antigos valores. Do mesmo modo, também
podemos reconhecer o papel crucial dessas mesmas duas escolhas para o resultado
de nossas vidas individuais. Uma dessas escolhas depende da coragem de praticar
raciocínio de longo prazo, e tomar decisões antecipadas firmes, corajosas, em
um tempo em que os problemas se tornam percetíveis, mas antes de assumirem
proporções críticas. Este tipo de tomada de decisão é o oposto da tomada de
decisão reativa de curto prazo que muito frequentemente caracteriza os nossos
políticos eleitos, concentrando-se apenas em assuntos que possam vir a irromper
em crise nos próximos 90 dias. A outra escolha crucial iluminada pelo passado envolve
a coragem de tomar decisões dolorosas em relação a valores. Que valores que
outrora serviram bem à nossa sociedade podem continuar a ser mantidos sob as
novas alteradas circunstâncias? Quais desses valores devem ser alijados e
substituídos por abordagens diferentes? Eis a questão!
Os habitantes dos
países mais desenvolvidos vivem numa certa ambivalência em relação aos
imigrantes que chegam em busca de um melhor nível de vida. Por um lado, a
economia está completamente dependente da mão de obra desses povos, quer na
agricultura, quer na construção civil, quer nos serviços domésticos. Mas por
outro lado os autóctones queixam-se de que os imigrantes competem com os
desempregados locais, fazem baixar os salários e sobrecarregam os sistemas de
saúde.
Os otimistas
dizem: "A tecnologia resolverá os nossos problemas." Esta é uma
expressão de fé no futuro, portanto baseada no suposto antecedente de ter a
tecnologia resolvido mais problemas do que aqueles que criou em passado
recente. Está implícita a premissa de que de amanhã em diante, a tecnologia
funcionará basicamente para resolver os problemas existentes, e deixará de
criar novos. A experiência que se tem de tudo isto é que é o contrário. Algumas
tecnologias são bem-sucedidas, outras não. As que são bem-sucedidas geralmente
demoraram algumas décadas para se desenvolverem e se espalharem. E mesmo estas,
sejam ou não bem-sucedidas na solução dos problemas para os quais foram
projetadas, geralmente criam novos e inesperados problemas. As soluções
tecnológicas para os problemas ambientais geralmente são bem mais dispendiosas
do que as medidas preventivas para evitar a criação de problemas. Acima de
tudo, os avanços tecnológicos apenas aumentam a nossa habilidade de fazer
coisas, seja para o bem ou para o mal. Todos os nossos problemas atuais são
consequências negativas não intencionais de nossa tecnologia existente. Os
rápidos avanços tecnológicos durante o século XX criaram problemas novos e
difíceis mais rapidamente do que resolvido os antigos.
Durante os primeiros
anos após a entrada em cena dos automóveis, até parecia que as cidades se
tornavam mais limpas à medida que os cavalos iam desaparecendo. Ainda hoje se
notam vestígios desses tempos quando visitamos o núcleo histórico da cidade de
Viena, o cheiro a esterco e urina de cavalo mais a sonoridade dos seus cascos. Embora
ninguém esteja advogando a volta ao cavalo como solução para o smog das
emissões dos motores a explosão, o exemplo serve para ilustrar o lado negativo
não previsto de tecnologias que alguns teimam em preservar.
Outro exemplo de
fé na mudança e substituição é a esperança de que fontes de energia renováveis,
como a energia eólica e solar, possam resolver a crise de energia. Tais
tecnologias existem, contudo, a energia eólica e solar têm aplicabilidade
limitada porque só podem ser usadas em locais com luz e vento constantes. Além
disso, a recente história da tecnologia demonstra que o tempo de conversão para
a adoção de grandes mudanças pode ser medido em décadas, porque muitas
instituições e tecnologias secundárias associadas com a antiga tecnologia têm
de ser mudadas. É de facto visível que fontes de energia além dos combustíveis
fósseis farão contribuições crescentes para o nosso transporte motorizado e
geração de energia. Mas esta é uma solução a longo prazo. Não faz sentido nos
contentarmos com o nosso presente conforto quando é evidente que estamos num
curso não sustentável.
O problema além de
demográfico é também de desenvolvimento se ele for virtuoso para os países
dantes ditos do terceiro mundo. Se estes países alcançarem os padrões de vida
do primeiro mundo, o que é legítimo, então a situação se tornará ainda mais
insustentável. Até agora, as preocupações ambientais são luxos que só podem ser
pagos pelos países ricos, que não têm o direito de dizer aos cidadãos dos
países pobres o que devem fazer. Estes povos saberem muito bem como estão sendo
prejudicados pelo crescimento populacional, desflorestação, sobrepesca e outros
problemas. Eles sabem disso porque pagam a conta imediata, em forma de perda de
madeira gratuita com a qual construir casas, grave erosão do solo e a queixa
trágica da sua incapacidade de comprar roupas, livros e pagar a escola para os seus
filhos. A floresta atrás de sua aldeia está sendo derrubada ou porque um
governo corrupto ordenou que fosse derrubada apesar do seu protesto, frequentemente
violento, ou porque tiveram de assinar um arrendamento com grande relutância
por não ter visto outro meio de conseguir dinheiro necessário para sustentar os
seus filhos no ano seguinte.
Porque será que os
níveis desses produtos químicos tóxicos, de nações industriais remotas das
Américas e da Europa, podem ser mais elevados nos inuits do que em americanos e europeus urbanos? É porque a base da
dieta inuit são as baleias, focas e
aves marinhas que comem peixes, moluscos, camarões, e esses produtos químicos
se concentram em cada passo desta cadeia alimentar. Todos nós no Primeiro Mundo
que ocasionalmente consumimos frutos do mar também estamos ingerindo esses
produtos químicos, mas em quantidades menores.
Quando as pessoas
estão desesperadas, subnutridas e sem esperança, culpam os seus governos, que veem
como responsáveis ou incapazes de resolver os seus problemas. Depois, ou se
matam uns aos outros em guerras civis, ou tentam emigrar a qualquer custo.
Dão-se conta de que nada têm a perder, e tornam-se terroristas, ou apoiam e
toleram o terrorismo. Alta percentagem da população no fim da adolescência e
início da idade adulta transformam-se em hordas de homens jovens desempregados,
maduros para serem recrutados em milícias.
Portanto,
globalização quer dizer mais que comunicações mundiais aperfeiçoadas, que podem
levar diversas coisas em diversas direções. A globalização não se restringe apenas
a coisas boas. Para se entender a escala mundial dos problemas, considere-se o
lixo recolhido nas praias dos pequenos atóis no sudeste do Oceano Pacífico:
atóis desabitados, sem água potável, raramente visitados até mesmo por iates, e
entre os pedaços de terra mais remotos do mundo, cada um deles a centenas de
quilómetros até mesmo da remota e desabitada ilha Henderson. Ali, as pesquisas
detetaram em média um pedaço de lixo para cada metro linear de praia, que deve
ter vindo de navios ou de países asiáticos ou americanos na costa do Pacífico,
a milhares de quilómetros de distância. Os itens mais comuns são sacos
plásticos, boias, garrafas de vidro e de plástico, cordas, sapatos e lâmpadas,
junto com coisas estranhas como bolas de futebol. Outro exemplo sinistro são os
mais altos níveis de contaminação por produtos químicos tóxicos e pesticidas registados
entre os inuits (esquimós) da Gronelândia
Oriental e da Sibéria, que também estão entre os lugares mais afastados das
fábricas de produtos químicos de uso intensivo. Os níveis de mercúrio que têm no
sangue, porém, atingem as faixas associadas à intoxicação aguda, enquanto os
níveis tóxicos de bifenóis policlorados PCBs no leite das mães inuits são altos o bastante para
classificar seu leite como alimento tóxico. Os efeitos nos bebés incluem perda
de audição, desenvolvimento mental alterado e função imunológica deprimida, daí
as altas taxas de infeções respiratórias e do ouvido.
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