terça-feira, 23 de abril de 2019

Paradoxos e contradições do progresso tecnológico

Apesar do desenvolvimento técnico-científico em latitudes onde seria de esperar que o fosso entre ricos e pobres diminuísse, pelo contrário, aumentou. Longe de estar aqui a amaldiçoar o progresso, limito-me a constatar que o progresso não é mais do que uma solução parcial e contraditória da miséria humana. Chegou a pensar-se que o progresso tecnológico nos iria libertar das religiões. Mas o que aconteceu foi sermos manipulados pelos mercados de consumo rápido e globalizado. E, apesar de dispormos de mais meios de informação, continuamos a ser enganados e surpreendidos pelo inesperado.

A ciência é uma coisa boa. Mas contribuiu mais para o domínio da técnica do que para a literacia científica das pessoas comuns. E assim tem continuado a esterilização das classes trabalhadoras por multimilionários detentores do poder cibernético ultrarrápido. Os espantosos progressos complicaram ainda mais a vida às pessoas, ao ponto de disporem cada vez menos tempo para pensar nos valores que importam para a sustentabilidade das nossas vidas com harmonia e equanimidade.

Assim, a fulgurante expansão da Inteligência Artificial na Economia tem proporcionado não apenas coisas boas. O desemprego é um exemplo das coisas más.

Para cada responsável de uma empresa, um O grau de complexidade cresce à medida que se multiplicam as variáveis a ter em conta. É por isso que os CEO (a chief executive officer, the highest-ranking person in a company or other institution, ultimately responsible for taking managerial decisions) erram tantas vezes nas suas decisões.

Segundo Edgar Morin, a complexidade é aquilo que se teceu em conjunto para formar um todo que é mais do que a soma das suas partes. O conhecimento analítico dos diferentes fios que compõem uma tapeçaria não permitirá nunca o conhecimento da obra de arte na sua totalidade. A complexidade do real não pode ser dominada inteiramente, porque a complexidade das variáveis e das suas interações permite sempre certos resultados inesperados e não redutíveis à análise. Por conseguinte, o resultado de uma ação nunca é aquele que se tinha previsto. Seja uma pessoa, seja uma empresa, estamos a lidar com sistemas complexos, que como reagem ao contexto estão em constante transformação. Quanto mais informação, mais inter-relações se estabelecem, e maiores são as retroações (positivas ou negativas) que comportam certos efeitos de bloqueio ou feedback.

Se perguntar qual dos seguintes exemplos é mais complexo do que o outro: “um Boeing ou um prato de esparguete” – a resposta imediata é: “obviamente o Boeing”. Mas a resposta está errada. Um Boeing é complicado, mas não complexo. Um prato de esparguete é simples, mas complexo. Um avião, apesar de comportar milhares de peças diferentes a funcionar obedecendo a leis físicas cuja compreensão só está ao alcance de uma minoria de engenheiros, a verdade é que é possível montá-lo e depois desmontá-lo peça por peça e analisar tudo com toda a certeza. Como não pode estar à mercê da incerteza, não é complexo. Ao passo que um prato de esparguete é formado por um emaranhado de fios que deslizam uns pelos outros enredados em retroações completamente aleatórias, não se podendo prever que quantidade de esparguete podemos enrolar em cada ação de enrolamento à volta do garfo antes de o meter na boca. A incerteza é um dos aspetos da complexidade.

Evoquei Edgar Morin como um “sistémico” de excelência, entre muitos outros que também poderia mencionar como excelentes. Mas opto por evocar uma outa metáfora: “Os cavalos do lago Ladoga”. O lago Ladoga é o maior lago inteiramente localizado na Europa e o 14º maior lago de água doce do mundo. Está localizado na República da Carélia e no oblast de Leninegrado no noroeste da Rússia próximo da fronteira com a Finlândia. Um dia, quando certos cavalos entraram na água fria do lago Ladoga, não pressentiram o que lhes iria acontecer porque devido a uma descida brusca da temperatura a água congelou muito rapidamente que não deu tempo a que os cavalos pudessem sair da água. E os cavalos morreram presos no gelo.

Hoje podemos verificar que as nossas instituições também arrefecem muito depressa. A escalada irreprimível do desemprego, a iliteracia crescente dos funcionários, as condições de vida das periferias e as novas formas de pobreza não são mais do que manifestações visíveis da congelação institucional.

O Universo é um sistema, em que a auto-organização, a confiança, a aceitação dinâmica das contradições, a reflexão coletiva sobre o sentido, a imaginação e a iniciativa – são mais eficazes para enfrentar o imprevisto do que diretrizes rigidamente impostas de cima para baixo. Estas raramente chegam a ser aplicadas, porque a imaginação dos homens é suficientemente criativa para as contornar e contrariar.

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