quinta-feira, 11 de abril de 2024

A globalização do século XVI


A convivência pacífica entre Filipe II de Espanha [1527-1598] e 
Fernando I do Sacro Império Romano Germânico [1503-1564], pode ser atribuída a uma série de fatores, incluindo interesses políticos compartilhados, relações familiares e alianças estratégicas. Ambos os monarcas poderiam ter buscado evitar conflitos desnecessários, concentrando-se em fortalecer os seus reinos e enfrentar desafios comuns. Além disso, o contexto político e económico da época também pode ter influenciado essa relação pacífica. Os territórios sob domínio dos Habsburgos incluíam não apenas o coração dos domínios hereditários dos Habsburgos na Áustria, mas também partes da Alemanha, Hungria, Boémia, entre outros. O domínio dos Habsburgos se estendeu ainda mais com as uniões dinásticas e as conquistas militares ao longo dos séculos, tornando-os uma das famílias mais poderosas e influentes da Europa durante grande parte da história moderna.

Carlos V [1500-1558] enfrentou desafios financeiros consideráveis durante o seu reinado. Ele lutou com as finanças do vasto império Habsburgo, que incluía territórios em toda a Europa, além das possessões espanholas no Novo Mundo. As constantes guerras e o ônus financeiro de manter um império tão vasto e diversificado contribuíram para as suas dificuldades financeiras. Embora não tenha acabado completamente falido, Carlos V enfrentou sérios problemas económicos ao longo de seu reinado e, eventualmente, abdicou do trono em 1556 em favor de seu filho Filipe II, buscando uma vida mais tranquila.

Fernando I era irmão de Carlos V, ambos filhos de Filipe I e Joana. Fernando I  foi imperador do Sacro Império Romano Germânico após a abdicação de Carlos V em 1558. O seu sucessor foi Maximiliano II. Um outro Fernando II de Áustria - Arquiduque Fernando -, fazia parte dos vários membros da Casa de Habsburgo que detiveram o título de Arquiduque da Áustria. Este título foi usado principalmente pelos herdeiros aparentes do trono do Sacro Império Romano Germânico, que pertencia à dinastia Habsburgo. Ao longo da história, vários Arquiduques Fernando tiveram papel importante na expansão e no domínio dos Habsburgos sobre vastos territórios na Europa Central e Oriental.

Maximiliano II de Áustria foi de facto um membro proeminente da Casa de Habsburgo. Ele era irmão de Felipe II da Espanha. Maximiliano foi Arquiduque da Áustria e, posteriormente Imperador do Sacro Império Romano Germânico, sucedendo a seu pai, Fernando I, em 1564. Sob seu governo, Maximiliano II buscou manter a estabilidade do império atendendo às tensões religiosas da época, adotando uma política de tolerância religiosa, especialmente em relação aos protestantes. Ele também foi um patrono das artes e das ciências, contribuindo para o florescimento cultural do império durante seu reinado. Maximiliano II casou com Maria de Espanha. Maria era filha de Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano Germânico (Também era Carlos I, rei de Espanha) e de Isabel de Portugal. O casamento entre Maximiliano & Maria foi parte de uma estratégia de aliança entre as casas reais dos Habsburgos espanhóis e austríacos, fortalecendo assim os laços entre os dois ramos da família Habsburgo. O casal teve vários filhos, incluindo o futuro imperador Rodolfo II.

Na verdade, o Imperador Carlos V casou com Isabel de Portugal, filha de Manuel I de Portugal, em 1526, no Alcázar de los Reyes Cristianos, em Córdoba. E Dom João III de Portugal casou com Catarina de Áustria, irmã do Imperador Carlos V, em 1525. Este casamento também foi parte de uma estratégia política para fortalecer as relações entre Portugal e o Império Habsburgo.


A questão que prendia a Casa de Habsburgo era a sua rivalidade com os Valois, tendo sido foi um dos principais conflitos dinásticos na Europa durante séculos. Ambas as famílias eram poderosas dinastias reais que disputavam o controlo sobre vastos territórios e influências políticas na Europa, especialmente durante a Idade Média e a Idade Moderna. As rivalidades entre essas casas reais frequentemente levaram a guerras, alianças complicadas e intriga política em toda a Europa, moldando o curso da história do continente.

A dinastia Valois foi uma importante família real francesa que governou a França de 1328 a 1589. Durante o seu reinado, os Valois enfrentaram muitos desafios, incluindo guerras internas, conflitos com outras casas reais europeias, como os Habsburgos, e crises políticas e económicas. Eles desempenharam um papel significativo na história da França, especialmente durante o Renascimento, quando o país experimentou um florescimento cultural e artístico. No entanto, a dinastia Valois chegou ao fim com a ascensão da dinastia Bourbon ao trono francês em 1589, após a morte de Henrique III.

Por seu lado, a dinastia dos Habsburgos foi uma das mais poderosas e influentes da Europa, tendo governado vastos territórios durante séculos. Originária da Áustria, a família expandiu seu domínio para incluir a Espanha, os Países Baixos, partes da Itália, a Hungria, a Boémia, entre outros territórios. Os Habsburgos também foram eleitos como Sacros Imperadores Romanos, controlando assim o Sacro Império Romano Germânico por grande parte de sua existência. A rivalidade entre os Habsburgos e outras famílias reais, como os Valois da França, foi uma característica proeminente da política europeia durante séculos, levando a numerosos conflitos e alianças complexas. A dinastia dos Habsburgos desempenhou um papel crucial na história europeia até ao final do século XIX, quando o Império Austro-Húngaro entrou em colapso após a Primeira Guerra Mundial.



Carlos V, por Ticiano
Batalha de Mühlberg

O retrato equestre de Carlos V, pintado por Ticiano, é uma obra-prima da arte renascentista. Ticiano capturou magistralmente a majestade e o poder do imperador Carlos V montado em seu cavalo. A pintura é conhecida por sua riqueza de detalhes e pela habilidade do artista em retratar tanto o cavalo quanto o imperador com uma grande sensação de realismo e dignidade.

Ticiano Vecellio, frequentemente conhecido simplesmente como Ticiano, foi um dos mais importantes pintores renascentistas italianos, que também trabalhou para os Habsburgos. Ele nasceu por volta de 1488 e morreu em 1576. Ticiano é conhecido por suas habilidades técnicas excepcionais, uso inovador da cor e composições dramáticas. Ele trabalhou principalmente em Veneza e foi um dos principais expoentes da Escola de Veneza. Suas obras incluem uma ampla gama de temas, desde retratos e pinturas religiosas até mitológicas e históricas. Ticiano teve um impacto duradouro na história da arte e influenciou gerações posteriores de pintores.

Ele teve uma relação especialmente próxima com o imperador Carlos V e seu filho, Filipe II. Ticiano pintou vários retratos da família Habsburgo, incluindo Carlos V, sua esposa Isabel de Portugal e seu filho Filipe II. Além disso, ele produziu obras religiosas e mitológicas encomendadas pelos Habsburgos. Essas comissões não apenas garantiram o patrocínio financeiro de Ticiano, mas também elevaram o seu status como um dos pintores mais renomados da época.

A Batalha de Mühlberg foi um importante confronto militar ocorrido em 24 de abril de 1547, durante as Guerras de Carlos V na Alemanha. Nesta batalha, as forças do Sacro Império Romano Germânico, lideradas pelo próprio imperador Carlos V, e seu comandante Fernando Álvarez de Toledo, Duque de Alba, derrotaram as forças da Liga de Esmalcalda, liderada pelo eleitor João Frederico I da Saxónia. A vitória de Carlos V em Mühlberg consolidou o seu domínio sobre o Sacro Império e foi um marco significativo na história da Europa do século XVI.

Carlos V confrontou Martinho Lutero na Dieta de Worms em 1521. A Dieta de Worms foi uma assembleia imperial realizada na cidade de Worms, na Alemanha, onde Lutero foi convocado para responder por suas ideias religiosas, que desafiavam a autoridade da Igreja Católica. Durante o encontro, Lutero se recusou a retratar suas crenças e supostamente teria dito a famosa frase: "Aqui estou. Não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém." Carlos V, como imperador do Sacro Império Romano Germânico, presidiu a Dieta e decidiu a resposta oficial às ideias de Lutero, resultando na excomunhão do reformador que deu início à Reforma Protestante. Mas, 
Frederico III da Saxónia, também conhecido como Frederico, o Sábio, desempenhou um papel crucial na proteção de Martinho Lutero durante a Reforma Protestante. Frederico era um príncipe eleitor do Sacro Império Romano Germânico e governou a região da Saxónia. Ele simpatizava com as ideias de Lutero e reconhecia a sua importância para a Saxónia e para a Reforma.

Quando Lutero foi convocado corria o risco de ser preso e julgado por heresia. Frederico providenciou um salvo-conduto seguro para que Lutero viajasse para Worms sob sua proteção. Após a Dieta, quando ficou claro que a vida de Lutero estava em perigo, Frederico organizou o sequestro fictício de Lutero e o levou para o Castelo de Wartburg, onde Lutero ficou escondido por cerca de um ano sob o pseudónimo de "Junker Jörg". Essa ação de Frederico permitiu que Lutero continuasse o seu trabalho de tradução da Bíblia e de escrever obras teológicas sem a ameaça imediata de prisão ou execução.

Alberto, um membro da Casa de Hohenzollern, tornou-se o primeiro Duque da Prússia, em 1525. Ele era conhecido como Alberto de Brandemburgo-Ansbach, e sua ascensão marcou o estabelecimento do Ducado da Prússia como um estado secular. Antes disso, a região da Prússia era dominada pela Ordem Teutónica, uma ordem religiosa militar que governava a região em nome do Sacro Império Romano Germânico. No entanto, após a Guerra dos Treze Anos (1454-1466) e a Paz de Thorn, a Prússia se tornou um feudo do Reino da Polónia. Posteriormente, com a secularização das terras da Ordem Teutónica após a Reforma Protestante, Alberto se converteu ao protestantismo e obteve o título de Duque da Prússia, governando a região como um estado secular e soberano, embora ainda mantivesse uma relação formal com a coroa polaca como um feudo. Essa mudança marcou o início do domínio dos Hohenzollern na região, que eventualmente levaria à criação do Reino da Prússia e ao surgimento da Prússia como uma grande potência na Europa.


Carlos V frequentemente recorreu a empréstimos dos Fugger, uma poderosa família de banqueiros alemães, para financiar as suas campanhas militares e outras despesas. Os Fugger eram uma das famílias mais ricas e influentes da Europa na época e desempenharam um papel crucial no financiamento das atividades de Carlos V, contribuindo para a sua capacidade de manter e expandir um vasto império.



Filipe II da Espanha foi responsável pela construção do majestoso Mosteiro de El Escorial. Ele ordenou a construção deste impressionante complexo arquitetónico no século XVI, entre 1563 e 1584. El Escorial serviu como um centro político, religioso e cultural importante para a Espanha durante o reinado de Filipe II e continuou a desempenhar um papel significativo na história espanhola desde então.



Do Mausoléu dos Infantes no Escorial


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