quarta-feira, 3 de abril de 2024

A guerra, a tropa, e as teorias da conspiração



Se Gouveia e Melo tem legitimidade para apelar ao regresso do SMO, muitos de nós não. Em Portugal, a obrigação legal de prestação de serviços às Forças Armadas terminou efetivamente em 2004, altura em que foi substituída pelo Dia da Defesa Nacional e pelo apoio patriótico à seleção de futebol, à época comandada pelo sargentão Scolari. Os jovens que hoje seriam chamados para prestar o serviço nasceram todos depois do seu fim. Tanto a geração que se baldava por causa de alegadas dores nas costas, como a minha, que foi meramente convidada a fazer uma visita de estudo à base naval do Alfeite, com direito a sandes mista em forma de triângulo, não têm autoridade para obrigar os putos de hoje a acordar às seis da manhã para fazer a cama. Não é concebível convocarmos os outros para o dever quando só conhecemos as armas pelo Call of Duty.

Em dezembro de 2023, o Ministro de defesa alemão, um socialista, disse que a Europa se devia preparar para o risco de guerra até ao final da década. Em finais de março de 2024 foi Donald Tusk, primeiro-ministro polaco, conservador e ex-presidente do Conselho Europeu, que veio dizer que entrámos em modo de pré-guerra. Não porque esteja iminente, mas porque pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial o risco de conflito no continente é real. 

Em fevereiro de 2024 já Ursula Von der Leyen tinha dito, em Estrasburgo, que “o risco de guerra não é iminente, mas não é impossível”. Nessa altura também o ministro da defesa da Dinamarca, um liberal e conservador, havia dito que não se podia descartar que daqui a três a cinco anos a Rússia pusesse à prova o Artigo 5º e a solidariedade da NATO. Nos últimos tempos, chefes militares noruegueses disseram coisas parecidas, a Estónia está a fazer bunkers, a Letónia repôs o Serviço Militar Obrigatório e a Lituânia discute alargar a base de recrutamento do serviço militar.

O que importa retirar de todas estas declarações de políticos e militares de países geograficamente próximos da Rússia não é uma tese conspirativa, uma suspeita de haver gente com vontade de mandar ir para a guerra ou entrar em pânico. 
Na luta pelo poder há sempre quem conspire. Assim, um político detentor do poder, por razões de Estado, precisa de ter algumas qualidades, como a dissimulação, seja por Razões de Estado, seja por razões do interesse de todos. Os conspiradores, geralmente contrários ao interesse nacional, boicotam. Agora, se são as teorias da conspiração que fabricam paranoicos, ou se são os paranoicos que são dados a fabricar teorias da conspiração, é já um assunto para especialistas em idiossincrasias do domínio da mente humana.

O que é verdadeiramente impressionante é a perceção partilhada por estes atores de que a Rússia de Putin pode se sentir tentada a concretizar objetivos políticos pela força das armas, convencida que a Europa, e a NATO, não estarão disponíveis para combater por gente e territórios que antes de 1989 estavam do outro lado do Muro de Berlim. A Rússia, em fevereiro de 2022 não esteve com meias medidas, e invadiu a Ucrânia. A Ucrânia era território que lhe pertencia, ou melhor, sempre foi russo.  Para além de não querer no território muito próximo de Moscovo uma democracia liberal de feição ocidental, quando percebia que se estava a desmoronar numa dissolução decadente. Mas os atuais líderes europeus também perceberam muito bem o que Putin quer. 

O Príncipe, de Maquiavel, é um dos manuais políticos mais estudados no Ocidente, e tido em conta pela maioria de todos os líderes políticos depois dele. Descreve as estratégias mais eficazes para se chegar ao poder, e depois de alcançado, como o príncipe o deve manter. Não se deve confundir “maquiavélico” com mefistofélico”. Mefistófeles é uma personagem demoníaca do Fausto de Goethe. A expressão “maquiavélico” está para Maquiavel, assim como a expressão “marxista” está para Marx. Pouco tem a ver com eles. São conceções deturpadas. Daí dizer-se: nem Marx seria marxista, e Maquiavel nunca foi maquiavélico.

A principal ideia em "O Príncipe" é que um governante deve estar disposto a usar qualquer meio, se for necessário, para manter o poder a fim de garantir a estabilidade do Estado. Ora, “o necessário” pode ser algo que envolva ações antidemocráticas e amorais para salvar a integridade do Estado. Maquiavel é enfático na importância da astúcia, da força, e da habilidade política para governar eficazmente.


Em tempos de crise, é comum que as pessoas sintam mais ansiedade e preocupação, o que pode levar algumas delas a desenvolverem sintomas de paranoia. A incerteza e o medo do desconhecido podem intensificar esse tipo de comportamento em algumas pessoas. No entanto, nem todas as pessoas reagem da mesma maneira às crises; algumas podem lidar melhor com a incerteza do que outras.

Existem certos traços de personalidade e condições psicológicas que podem tornar uma pessoa mais suscetível à paranoia. Alguns desses fatores incluem traços de personalidade pré-existentes como personalidade paranoica, desconfiança excessiva, sensibilidade à crítica, baixa autoestima e dificuldade em confiar nos outros. Na síndrome pós-traumática, indivíduos que passaram por experiências traumáticas no passado, como abuso físico, emocional ou sexual, podem ter uma predisposição maior para desenvolver sintomas de paranoia. Situações de stress, como crises financeiras, problemas de saúde, conflitos interpessoais ou eventos traumáticos também podem desencadear ou exacerbar sintomas de paranoia em algumas pessoas.

É importante notar que a paranoia pode variar em gravidade e manifestação de pessoa para pessoa, e nem todas as pessoas com os fatores acima desenvolverão sintomas de paranoia. O tratamento adequado, como terapia cognitivo/comportamental e, em alguns casos, medicação, pode ajudar a gerenciar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas que sofrem de paranoia.

É comum pessoas com tendências paranoicas serem mais suscetíveis a teorias da conspiração. Isso ocorre porque a paranoia pode levar alguém a interpretar eventos de forma distorcida e acreditar em explicações complexas e conspiratórias para o que está acontecendo ao seu redor, mesmo na ausência de evidências sólidas. Teorias da conspiração são explicações alternativas e muitas vezes sem embasamento factual para eventos históricos, políticos, sociais ou científicos. Elas sugerem que um grupo secreto de pessoas ou entidades está conspirando para manipular eventos em benefício próprio, frequentemente envolvendo supressão de informações, manipulação dos órgãos de comunicação social e controlo da sociedade. Essas teorias geralmente carecem de evidências sólidas e são amplamente consideradas como especulações infundadas ou crenças irracionais. Suas crenças podem variar amplamente, desde teorias sobre governos mundiais secretos. Alguns teóricos da conspiração são motivados por um desejo de entender melhor o mundo, enquanto outros podem ser impulsionados por paranoia ou desconfiança extrema.

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