domingo, 21 de abril de 2024

As minas da Borralha e a história do volfrâmio


A aldeia das Minas da Borralha faz parte da freguesia de Salto, concelho de Montalegre, e foi durante várias décadas o principal polo empregador e populacional de Montalegre. A mina de volfrâmio funcionou de 1902 a 1986 chegando a albergar cerca de 5.000 pessoas. Em 2011, segundo o censo tinha 243 habitantes.




O antigo couto mineiro da Borralha circunscrevia-se às freguesias de Salto e Venda Nova e ainda à freguesia de Campos, já no concelho de Vieira do Minho, sendo composto por 36 concessões, num total de cerca de 1788 hectares de território. Dessas concessões, 28 eram de volfrâmio e estanho, dez de estanho e dois de volfrâmio, cobre, prata. Estas minas empregaram milhares de pessoas, transformaram e dinamizaram o local, dando-lhe visibilidade a nível nacional e internacional.




A história conta-se brevemente da seguinte maneira: o nome da localidade teve origem em Domingos Borralha que, em 1900, foi trabalhar para as minas de Coelhoso (Bragança) onde comentou junto de um engenheiro francês que, no lugar onde vivia, existiam muitas pedras iguais às que ali eram exploradas e que as usavam para atirar às cabras e construir muros. O francês foi confirmar e registou a concessão em 1902. No primeiro ano, só à superfície, a Borralha, rendeu 70 toneladas de volfrâmio, no ano seguinte, já com algumas perfurações rendeu 170 toneladas.




O auge da exploração foi nas décadas de 30, 40, 50 do século XX, na altura da II Guerra Mundial e da Guerra da Coreia com o couto mineiro com 2.000 hectares. Para além dos mineiros, à volta das minas havia ainda os apanhadores com um pico de pedreiro que tinham uma licença especial da empresa e podiam explorar o volfrâmio sempre a céu aberto com a condição de, no final do dia vender tudo à companhia, e os farristas que eram contrabandistas. As minas tiveram dois períodos de paragem (1944/46 e 1958/62). Depois de anos de abandono, a Câmara de Montalegre deu início à recuperação do património das Minas da Borralha, onde já investiu mais de dois milhões de euros. As minas vieram a fechar em 1986.




Portugal, no tempo da 2ª Grande Guerra, jogou um pau de dois bicos com a sua neutralidade, o que deu azo a Salazar para vender com toda a tranquilidade aos alemães o tão precioso tungsténio, matéria-prima essencial para o fabrico do material bélico. Como as quase constantes referências ao tungsténio no diário de Salazar confirmam, para Portugal esse era o único grande problema da guerra. Ao longo dos anos, Salazar perdeu mais noites de sono por causa do tungsténio do que por qualquer outra coisa. As negociações em torno do tungsténio também dominaram a vida de diplomatas ingleses, alemães e americanos estacionados em Lisboa durante a guerra.




Como os ingleses, os alemães usavam a técnica da persuasão. Para os ingleses eram os ataques alemães aos navios portugueses, como o afundamento do navio português Corte Real, em 1941. Para os alemães era um acordo que incluía o fornecimento a Portugal de armamento e outros suprimentos vitais a taxas favoráveis.




À medida que crescia a demanda pelos limitados depósitos de volfrâmio, o aumento do preço o acompanhava. Em meados de 1941, o preço estava por volta de 1.250 libras por tonelada, mas, no final do mesmo ano, havia subido para estonteantes 6 mil libras a tonelada. Isso foi uma oportunidade para muita gente tentar enriquecer. Já parecia a corrida ao ouro nos Estados Unidos no século XIX. Houve histórias de gente que largou o seu emprego, e lavradores que abandonaram o cultivo das suas terras para se juntar ao lucrativo negócio da mineração. Em uma hora, podia-se ganhar o salário de uma semana se fosse encontrado um filão.

Mas eles não sabiam realmente como gastar, ou investir, a sua inesperada sorte. Ouviam-se histórias de aldeões em áreas de mineração acendendo cigarros com notas de um conto de reis. Agentes de ambos os lados na guerra que tentavam comprar volfrâmio nas aldeias deparavam-se com fraudes e trapaças, e o termo “volframista” – significando aquele que se aproveitava da guerra – entrou para o vocabulário português. A crise em Timor começou no início de novembro de 1941, quando o embaixador português em Londres, Armindo Monteiro, informou ao secretário das Relações Exteriores britânico, Anthony Eden, no dia 4 de novembro, que Portugal resistiria a qualquer ataque japonês a Timor. E acrescentou que, no caso de um ataque, Portugal consideraria pedir ajuda militar aos ingleses.




Em 1942, Portugal passou de um dia para o outro a ser o único grande fornecedor europeu de volfrâmio. Desde que a invasão da União Soviética fora desencadeada pelos alemães, os suprimentos de tungsténio do Oriente haviam sido quase totalmente cortados. Berlim confiava em Portugal e, em menor grau, na Espanha, para suprir todas as suas exigências. De 1941 em diante, a Alemanha esforçou-se ao máximo para garantir reservas de tungsténio por meios legítimos e ilegítimos. Suas Forças Armadas, serviços diplomáticos e agências de inteligência estavam todos envolvidos no esforço para garantir tungsténio adicional. Salazar não podia tolerar um setor desregulado. Durante meses, ele havia recebido queixas do setor agrícola sobre perda de mão de obra para a exploração do volfrâmio. Isso causou um impacto muito negativo na lavoura. 

Em fevereiro de 1942, Salazar decidiu montar um novo sistema de restrições ao comércio do volfrâmio. 
Definiu o preço em 150 escudos o quilo. O governo introduziu também multas pesadas para quem se envolvesse na extração e exportação ilegal do minério. Essa efetiva nacionalização do setor encerrou a era da corrida ao maná, e permitiu a Salazar entregar minério aos alemães, como parte de um acordo feito com Berlim. Subsequentemente, a Alemanha pôde utilizar a “abordagem da cenoura” com Portugal aumentando o comércio com Lisboa. A participação de Berlim nas exportações portuguesas aumentou de 19,02%, em 1941, para 24,35%, em 1942. Além disso, as importações portuguesas da Alemanha aumentaram de 8,08%, em 1941, para 12,62%, em 1942. Esse comércio tornou-se extremamente lucrativo para Portugal, que havia prometido não ganhar dinheiro com a guerra. Os ingleses, e os americanos depois de entrarem na guerra, não ficaram nada impressionados com a atitude de Salazar em relação ao comércio do volfrâmio. 




A defesa de Salazar foi ao mesmo tempo simples e complicada. Ele argumentou que, devido à demanda alemã por tungstênio português (especialmente depois de 1941), não lhe restavam outras opções, a não ser assinar uma série de acordos para suprir Berlim com o material de que precisava para manter em andamento seu esforço de guerra. Se Portugal se recusasse a vender para os alemães, havia uma forte possibilidade de que eles invadissem Portugal (e Espanha) a fim de garantir suprimentos devido à importância do tungsténio para Berlim.


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