sábado, 27 de abril de 2024

Johan de Witt da Holanda + Carlos II de Inglaterra + Luís XIV da França




Johan de Witt em Haia, feita por Fré Jeltsema em 1916. A mão direita refere-se provavelmente à tomada de posse no Tratado de Breda. Na mão esquerda, ele pode estar segurando o documento.

Johan de Witt, [1625-1672] senhor de Linschoten do Sul e do Norte, Snelrewaard, Hekendorp e IJsselvere, foi Grande Pensionário do Parlamento Holandês por dezanove anos durante a Primeira Era Stadtholderless, região da Holanda e, portanto, o político mais importante da República dos Sete Países Baixos Unidos. Ele também era um matemático talentoso e é considerado um dos fundadores da matemática de seguros. Embora a Holanda contemporânea o conheça como Johan por seu primeiro nome, sua esposa e muitos contemporâneos o chamavam de Jan. Johan e seu irmão Cornelis foram assassinados por orangistas e terrivelmente mutilados. O assassinato é considerado um dos eventos mais vergonhosos da história holandesa. Os irmãos De Graeff, Andries e Cornelis, desempenharam um papel importante na promoção de Johan de Witt ao cargo de raadpensionaris (pensionário) da República Holandesa. Como líderes influentes da facção política conhecida como os "estados-parteiros" ou "Staatsgezinden", os De Graeff exerciam considerável influência nos assuntos políticos da República Holandesa.

Os neerlandeses exerciam controlo significativo sobre as Companhias das Índias Orientais e das Índias Ocidentais durante o século XVII. A Companhia Neerlandesa das Índias Orientais (VOC) foi fundada em 1602 e desempenhou um papel crucial no comércio marítimo e colonial dos Países Baixos nas regiões da Ásia, como o arquipélago indonésio e partes do subcontinente indiano. A VOC tinha o monopólio do comércio neerlandês nessas regiões e exerceu grande influência política e económica. Além disso, a Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (WIC), fundada em 1621, foi responsável pelo comércio e colonização nas Américas, incluindo o Brasil, Caribe e costa africana. A WIC também desempenhou um papel importante no comércio de escravos africanos para as colónias americanas neerlandesas. Essas companhias eram altamente lucrativas e desempenharam um papel fundamental na expansão e no enriquecimento dos Países Baixos durante o período conhecido como a Idade de Ouro Holandesa.

Em 1653, após a morte de seu antecessor, Adriaan Pauw, Johan de Witt foi indicado para o cargo de raadpensionaris, que era essencialmente o cargo de primeiro-ministro da Holanda. Os De Graeff apoiaram a sua nomeação devido à sua visão política compartilhada e ao desejo de fortalecer o papel da República Holandesa na Europa e resistir à influência estrangeira, particularmente da França de Luís XIV. Vivia-se um período de grande turbulência política e militar na Europa.

Johan de Witt não atacou diretamente a Inglaterra, mas durante o seu mandato como raadpensionaris da República Holandesa, houve conflitos significativos entre a Holanda e a Inglaterra. Um dos eventos mais notáveis foi a Guerra Anglo-Holandesa, que ocorreu em várias fases durante o século XVII. Essa guerra foi motivada por disputas comerciais, rivalidades navais e conflitos políticos entre os dois poderes marítimos. A Batalha de Medway ocorreu em 1667, onde a frota holandesa infligiu uma derrota humilhante à Marinha Real Inglesa, capturando ou destruindo várias embarcações importantes.

No entanto, é importante notar que as ações de De Witt durante esses conflitos eram parte de uma estratégia de defesa e proteção dos interesses holandeses, e não de uma agressão direta contra a Inglaterra. As hostilidades entre os dois países foram principalmente o resultado de disputas comerciais e rivalidades navais, em vez de uma agenda expansionista. É verdade que Carlos II, rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda, ficou numa posição delicada em relação a Luís XIV em alguns momentos de seu reinado. Durante a Guerra Anglo-Holandesa e outros conflitos, a França de Luís XIV ofereceu apoio financeiro e militar a Carlos II, que estava enfrentando dificuldades políticas e militares em seu próprio país.

Johan de Witt foi um político holandês influente que desempenhou um papel crucial na oposição aos avanços expansionistas de Luís XIV durante o século XVII. Como líder do governo da República Holandesa, ele trabalhou para fortalecer a posição da Holanda contra as ambições territoriais francesas. De Witt implementou políticas econômicas e diplomáticas para fortalecer a capacidade militar e a influência da Holanda na Europa.

Tudo isto antecede a Revolução Gloriosa de 1688, que levou à ascensão de Guilherme III e Maria II ao trono inglês, Carlos II havia estado refugiado na corte de Luís XIV, na França, por um período antes da sua restauração em 1660. No entanto, é importante notar que a relação entre Carlos II e Luís XIV nem sempre foi de submissão. Carlos II tinha seus próprios interesses políticos e estratégias, e embora tenha aceitado ajuda de Luís XIV em certos momentos, também procurou manter um equilíbrio de poder na Europa e proteger os interesses da Inglaterra.

Durante o reinado de Carlos II, a Inglaterra estava num estado de tensão e paranoia devido aos eventos da Guerra Civil Inglesa e à execução de seu pai, Carlos I, em 1649. Os regicidas, aqueles que estavam envolvidos na condenação e execução de Carlos I, eram vistos como traidores e inimigos do Estado por muitos monarquistas leais. Após a restauração da monarquia em 1660, Carlos II buscou vingança contra aqueles que haviam participado da execução de seu pai. Alguns dos regicidas foram capturados e executados, enquanto outros fugiram para o exílio ou foram alvo de perseguição. Essa atmosfera de paranoia e desejo de vingança também influenciou as políticas internas da Inglaterra durante o reinado de Carlos II, levando a medidas repressivas contra supostos opositores políticos e dissidentes religiosos.

Foi no tempo de Carlos II que a colónia neerlandesa de Nova Amsterdam foi tomada e renomeada como Nova York em homenagem ao duque de York, futuro rei Jaime II. Isso aconteceu em 1664, durante a Segunda Guerra Anglo-Holandesa. A conquista da colónia foi uma estratégia militar e comercial para os ingleses, que buscavam expandir o seu domínio nas Américas e garantir o controlo sobre rotas comerciais importantes. Jaime estava diretamente envolvido na empreitada como líder das forças navais britânicas. Após a rendição dos neerlandeses, a colónia foi naturalmente renomeada em homenagem ao duque, que havia liderado a expedição. Tal captura parte de um esforço mais amplo da Inglaterra para consolidar o seu domínio sobre as colónias neerlandesas na América do Norte.



Carlos II de Inglaterra e Catarina de Bragança

Carlos II, rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda, casou-se com Catarina de Bragança, que foi de Portugal para Inglaterra em 1662. Mas o casal não teve filhos que tenham sobrevivido até à idade adulta. Isso foi uma fonte de preocupação para Carlos II e para a estabilidade dinástica da monarquia inglesa, já que a ausência de um herdeiro direto levantava questões sobre a sucessão. A falta de descendentes diretos de Carlos II foi uma das razões pelas quais a questão da sucessão se tornou tão importante durante seu reinado. Após a sua morte em 1685, a sucessão passou para seu irmão, o futuro rei Jaime II, e então para sua filha Maria II e seu marido Guilherme III, após a Revolução Gloriosa em 1688.

É verdade que tanto Carlos II quanto seu irmão, Jaime II, estavam envolvidos no comércio de escravos africanos durante seus reinados. A Companhia Real Africana, fundada em 1660, tinha o monopólio do comércio de escravos na Inglaterra e foi apoiada pelo governo de Carlos II. A companhia tinha o objetivo de lucrar com o comércio de escravos, transportando africanos para as colónias inglesas nas Américas para trabalhar nas plantações. Embora o envolvimento de Carlos II e Jaime II no comércio de escravos tenha sido uma parte sombria de seus reinados, é importante reconhecer que o tráfico de escravos era uma prática generalizada e aceite na época. 

Guilherme de Orange, mais tarde conhecido como Guilherme III de Inglaterra, desempenhou um papel importante na política europeia durante o século XVII. Ele era o príncipe de Orange e liderou a oposição aos avanços expansionistas de Luís XIV da França. Embora ele tenha sido influenciado por políticos neerlandeses como os irmãos De Graeff e Johan de Witt, não seria correto afirmar que ele foi manipulado por eles. Guilherme de Orange era um líder político habilidoso em seu próprio direito e buscava os interesses da República Holandesa, bem como seus próprios objetivos pessoais. Ele desempenhou um papel central na formação de alianças europeias contra Luís XIV e foi fundamental na resistência à invasão francesa durante a Guerra Franco-Holandesa. É verdade que ele teve relações políticas e alianças com figuras influentes como os De Graeff e De Witt, mas ele também teve suas próprias ambições e estratégias políticas. No final, Guilherme de Orange emergiu como uma figura proeminente na Europa e, eventualmente, se tornou o rei Guilherme III de Inglaterra, liderando a Revolução Gloriosa em 1688.



Guilherme III, em Londres

O comércio de escravos era uma atividade lucrativa e desempenhou um papel significativo na economia europeia e nas colónias americanas durante os séculos XVII e XVIII. Não há evidências de que John Locke, o filósofo político, se tenha envolvido pessoalmente no comércio de escravos africanos ou tenha lucrado diretamente com tal comércio. Locke é conhecido principalmente por suas contribuições para a filosofia política e suas ideias sobre direitos naturais, governo limitado e contrato social. No entanto, é importante notar que Locke viveu em uma época em que o comércio de escravos era generalizado e amplamente aceite. Como muitos outros intelectuais e figuras proeminentes da época, Locke pode ter sido indiretamente beneficiado de alguma forma pelo sistema económico baseado na escravidão, especialmente considerando que ele era um homem da sua época e das suas circunstâncias. Embora o legado de Locke seja influente na filosofia política, é necessário reconhecer que muitas figuras históricas, mesmo aquelas cujas ideias são altamente valorizadas, podem ter sido produtos de suas circunstâncias históricas e culturais, que incluíam práticas como o comércio de escravos.

Luís XIV teve algumas iniciativas coloniais na América, mas em comparação com outras potências coloniais da época, como a Espanha e a Inglaterra, o impacto francês foi relativamente limitado. A França estabeleceu colónias na América do Norte, incluindo áreas ao longo do rio São Lourenço (como Quebec) e partes da Louisiana. No entanto, essas colónias enfrentaram desafios significativos, incluindo conflitos com nativos americanos, rivalidades com outras potências coloniais e dificuldades logísticas. Apesar disso, as colónias francesas na América do Norte tiveram um impacto cultural duradouro, especialmente na região que agora é o Quebec, onde a cultura francesa permanece influente até hoje.

Luís XIV fez importantes melhorias no Palácio do Louvre, em Paris, antes de iniciar a construção do Palácio de Versalhes. O Louvre foi uma das principais residências reais da França por séculos, mas Luís XIV ordenou grandes reformas e expansões durante o seu reinado. Ele contratou arquitetos renomados, como Louis Le Vau e Claude Perrault, para redesenhar e ampliar o palácio, tornando-o mais adequado para as necessidades da corte e refletindo o poder e a grandiosidade do rei. No entanto, eventualmente, Luís XIV decidiu construir o Palácio de Versalhes como um novo centro de poder e residência real, o que levou à transferência gradual da corte de Paris para Versalhes.



Luís XIV, por Adam Frans van der Meulen, 1685
Museu de Belas Artes de Estrasburgo

  • Luís XIV chegou a recorrer ao famoso escultor e arquiteto italiano Gian Lorenzo Bernini para consultas sobre o projeto do Palácio de Versalhes. Bernini era amplamente reconhecido como um dos principais artistas do século XVII e foi consultado por Luís XIV para oferecer a sua expertise em questões de design e arquitetura. Embora Bernini tenha apresentado algumas ideias e sugestões para Versalhes, muitas delas não foram implementadas, e o projeto geral do palácio acabou por ser desenvolvido por uma equipe de arquitetos franceses, incluindo Louis Le Vau e Jules Hardouin-Mansart.

Molière, o renomado dramaturgo francês, prosperou durante o reinado de Luís XIV. Molière, cujo verdadeiro nome era Jean-Baptiste Poquelin, era um dos artistas favoritos do rei e de sua corte. Luís XIV apreciava muito o talento de Molière e frequentemente o convidava para apresentar suas peças no Palácio de Versalhes. Além disso, o rei também concedeu a Molière a proteção real, o que permitiu ao dramaturgo enfrentar críticas e controvérsias com relativa segurança. Durante esse período, Molière produziu algumas das suas obras-primas, como "O Avarento", "O Doente Imaginário" e "O Burguês Fidalgo". Sua colaboração com Luís XIV ajudou a solidificar a sua posição como um dos maiores dramaturgos da história da França.

Como era comum entre os monarcas da época, Luís XIV teve várias amantes ao longo de sua vida. Entre as mais conhecidas estavam Madame de Montespan e Madame de Maintenon. Essas relações extramatrimoniais eram frequentemente aceites na corte e faziam parte da vida real, política e social da época. Algumas amantes, como Madame de Maintenon, acabaram exercendo influência significativa sobre o rei e até mesmo desempenharam um papel na política e nos assuntos de Estado. A prática de ter amantes era uma característica comum da realeza europeia durante os séculos XVII e XVIII.

Luís XIV lançou em 1667 uma campanha militar conhecida como a Guerra de Devolução, na qual ele invadiu os Países Baixos espanhóis. A justificação para essa invasão estava relacionada a uma cláusula do casamento de sua esposa, Maria Teresa de Espanha, que afirmava que os Países Baixos deveriam ser devolvidos à França se ela morresse sem deixar herdeiros. Luís XIV usou essa cláusula para reivindicar partes dos Países Baixos espanhóis após a morte de Maria Teresa em 1666. Durante a Guerra de Devolução, as tropas francesas capturaram várias cidades importantes nos Países Baixos espanhóis, como Lille e Tournai. No entanto, o conflito não resultou em mudanças territoriais significativas, pois foi encerrado pelo Tratado de Aix-la-Chapelle em 1668, que devolveu a maioria das terras conquistadas pela França em troca de outras concessões.

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