segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Abstração seletiva




Muito do que está a ser noticiado na Comunicação Social em relação à pandemia – vacinação obrigatória, apartheids nas viagens entre países e as suas implicações legais e constitucionais – está a intrigar alguns cientistas do cérebro humano. O que se está a passar no cérebro das pessoas, não apenas dos decisores políticos, mas também de toda a gama de pessoas que fazem parte das elites mediáticas?

As pessoas parece que estão cada vez mais imersas naquilo a que os neurocientistas chamam abstração seletiva ou "túnel cognitivo". A tendência é para realçar apenas um aspeto, normalmente negativo, de toda uma pandemia que carrega consigo e implica situações tão complexas. São retóricas globais que universalizaram certos conceitos, que, genuína ou oportunisticamente, todos parecem subscrever.

Esta designação tem a ver com uma falha mental quando o nosso cérebro é obrigado a transitar abruptamente de um registo em que era suposto dominar o mundo com toda a tranquilidade, para um registo em que a atenção ficou bloqueada sob estado de pânico provocado pela pandemia. Este conceito de “túnel cognitivo” é muito parecido com um outro conceito da psicologia conhecido por “distorção cognitiva”, ou seja, será a versão da neurociência sob o ponto de vista estrito do cérebro.

Sobreveio uma pandemia, e de uma forma abrupta foi preciso aumentar o foco mental sobre os perigos. Mas não se sabe onde deve ser concentrado todo o esforço de combate, ou de ação. Por isso, o cérebro entregue apenas ao seu instinto, tenta concentrar-se em tudo o que estiver à frente, como se a espécie tivesse regressado de novo à selva. É aí que ocorre o túnel cognitivo.

Deixamo-nos prender pelo estímulo mais fácil e mais óbvio, muitas vezes distante do mais elementar bom senso. E é então que surge o chamado raciocínio reativo. Em certo sentido o raciocínio reativo tende a alienar as decisões à pressão de fatores externos. Uma vez alienada a nossa responsabilidade, limitamo-nos a reagir. Neste caso, os fatores externos são tudo o que tem a ver com as grandes aquisições da tecnologia que tudo vence. Só que a dada altura a tecnologia já não se aplica a algo inesperado e desconhecido. E é então que a única coisa que nos ocorre fazer é travar a fundo na força de vontade. Mas a travagem a fundo está contraindicada, porque o que daí resulta é uma derrapagem descontrolada. Em vez de nos motivarmos com a força de vontade, ao invés, apenas reagimos. Mas se a reação não for adequada as consequências podem ser desastrosas.

Muitas distorções cognitivas que também são consideradas falácias lógicas, são pensamentos exagerados e irracionais, cuja reestruturação cognitiva é objeto de psicoterapia cognitivo-
-comportamental. É uma maneira de pensamento do tudo ou nada, do “não há alternativa”. Tal leva a generalizações abusivas, e a conclusões precipitadas. Surge uma incapacidade de prever outra coisa senão o pior resultado imaginável, porém improvável, ou sendo considerada uma situação como insuportável ou impossível de conceber. A reestruturação cognitiva envolve quatro etapas - Identificação das cognições problemáticos: os chamados "pensamentos automáticos”; disputa racional pelo método socrático e desenvolvimento de uma refutação racional.

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