Que milhares de pessoas façam fila diante da Apple Store três ou quatro dias antes do lançamento do último modelo de iPhone não é algo que a sociologia, a psicologia ou, evidentemente a economia possam explicar. Para compreendê-lo, é preciso contar com os instrumentos conceptuais da psicanálise, os quais nos permitem captar de que modo um objeto técnico pode adquirir valor libidinal, isto é, transformar-se em causa do desejo.
Cada produto que sai para o mercado transforma-se automaticamente em objeto caduco. Ao mesmo tempo o sujeito demanda o novo, cada vez mais novo, mais rápido, porque o avanço da técnica também pode ser medido (com um rigor quase científico) em função da velocidade com que um objeto deixa de satisfazer o consumidor. A “frustração desequilibrada” que o iPhone 5S provocou nos expectantes e ávidos consumidores de sonhos gerou uma séria queda das ações da Apple.
O extraordinário desenvolvimento da técnica, unido aos interesses da indústria e do capital, conseguiu produzir em massa aqueles que denominamos objetos de consumo, que constituem a base da economia capitalista. Como bem sabemos, um objeto de consumo não é sinónimo de um objeto de necessidade. Se os seres humanos se conformassem com os objetos de necessidade, ou, dito de outro modo, se os seres humanos só fossem regidos pelos rigorosos imperativos da necessidade, o capitalismo simplesmente não poderia existir. Se ele existe, é porque se dedica ao fabrico em massa de objetos cuja virtude fundamental consiste em entrar em sintonia com o objeto inconsciente que opera como causa de nossos desejos. O que é um objeto em linguagem psicanalítica? E o desejo? Um desejo é, para dizê-lo nos melhores termos freudianos, a perversão de uma necessidade. E é isso que, nem mais nem menos, faz de nossa espécie algo incomparável com qualquer extrapolação para o resto dos seres vivos.
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