terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Condado de Champanhe





Condado de Champanhe foi uma entidade feudal, dependente do antigo Reino de França, cujos titulares tinham a consideração de um dos seis Pares da França primitivos, a mais alta consideração nobiliária do reino. O condado nasceu da fusão dos condados de Meaux e de Troyes, que até meados do século XII esteve dividido entre os herdeiros do conde Teobaldo IV de Blois. As regiões foram anexadas pelos condes de Vermandois, ao que se incorporaria, mais tarde, o Condado de Blois. Embora descrito apenas com o título de Conde de Troyes, Hugo I foi o primeiro a proclamar-se Conde de Champanhe, por volta do ano 1102.

Henrique I de Champanhe [1126 - 1181] - O "Liberal"
herdou a região que logo foi província de Champanhe enquanto que seus irmãos menores, Teobaldo V de Blois e Estêvão de Sancerre repartiram entre si as diferentes dependências que ficaram adscritas ao condado do Blois. Henrique I, em 1179, cria um código de leis para a região.

Filipe IV, o Belo [1268 - 1314], rei de França e de Navarra, conde de Champanhe, em 1284, casa com Joana I de Navarra, herdeira do Condado de Champanhe, dá-se a anexação do condado à coroa Francesa. Durante a guerra dos cem anos, em 1420, a região é sitiada e tomada pelo rei inglês Henrique V. Joana I de Navarra ou Joana I de Champanhe [1273 - 1305], foi rainha soberana de Navarra e condessa de Champanhe desde 1274, e rainha consorte de Filipe IV de França. Era filha do rei Henrique I de Navarra e de Branca de Artois.



Troyes

A corte do Conde de Champanhe, uma escola influente de estudos cabalísticos e esotéricos em Troyes, florescia desde 1070. Troyes, em 1128, via os Templários a serem oficialmente incorporados. Troyes permaneceu como o centro estratégico da ordem durante os dois séculos seguintes; e ainda hoje existe um bosque adjacente à cidade chamado Forêt du Temple. Em Troyes, surgiu um dos primeiros romances sobre o "Cálice" - possivelmente o primeiro -, escrito por Chrétien de Troyes. Em 1104, o conde de Champagne reuniu-se num conclave com nobres de alta linhagem, pelo menos um dos quais estava recém retornado de Jerusalém. Entre os presentes, havia representantes de algumas famílias - Brienne, Joinville e Chaumont. Também estava presente o soberano André de Montbard, um dos cofundadores da Ordem dos Templários e tio de São Bernardo.

Logo após o conclave, o Conde de Champanhe partiu para a Terra Santa e permaneceu lá quatro anos, retornando em 1118.  Ao retornar, ele imediatamente doou um pedaço de terra à Ordem Cisterciense, cujo eminente porta-voz era São Bernardo. Nesse pedaço de terra São Bernardo construiu a Abadia de Claraval, onde estabeleceu a sua própria residência e consolidou a Ordem Cisterciense. Meia dúzia de abadias foram construídas nos dois anos seguintes. Por volta de 1153, existiam mais de trezentas. São Bernardo, em pessoa, fundou várias. Este crescimento extraordinário coincide com o da Ordem do Templo, que nos mesmos anos se estava expandindo da mesma maneira. 



Abadia de Claraval, na região de Champanhe

Com São Bernardo, os cistercienses obtiveram ascendência espiritual sobre a Europa. Com Hugues de Payen e André de Montbard, os Templários obtiveram ascendência militar e administrativa sobre a Terra Santa, e tal ascendência se espalhou rapidamente pela Europa. Por trás do crescimento de ambas as ordens fulgurava a presença de tio e sobrinho, bem como a riqueza, a influência e o patrocínio do conde de Champagne. Estes três indivíduos constituem um elo vital. São como marcadores rompendo a superfície da história, indicando as ténues configurações de algum desígnio elaborado e oculto. Se tal desígnio realmente existiu, ele não pode ser atribuído apenas a estes três homens. Pelo contrário, deve ter envolvido muita cooperação de outras pessoas e uma grande e meticulosa organização. Organização talvez fosse a palavra-chave, pois era a organização comparável à de uma Ordem. 

Bernardo de Claraval [1090 - 1153] em 1128 participou no Concílio de Troyes, que delineou a regra monástica que guiaria os Cavaleiros Templários que rapidamente se tornou o ideal de nobreza utilizado no mundo cristão. Depois da morte do papa Honório II, em 1130, Bernardo foi instrumental para reconciliar a Igreja durante o chamado "cisma papal de 1130", que só terminaria definitivamente com a morte do antipapa Anacleto II em 1138. No ano seguinte, Bernardo ajudou a organizar o 2º Concílio de LatrãoEm 1141, Inocêncio convocou o Concílio de Sens para tratar da denúncia de Bernardo contra Pedro Abelardo. Com bastante experiência em curar cismas na Igreja, Bernardo foi em seguida recrutado para ajudar no combate às heresias que grassavam no sul da França. Na Terra Santa, depois da derrota cristã no cerco de Edessa, o papa encarregou Bernardo de organizar a 2ª Cruzada, cujo fracasso seria depois considerado parcialmente culpa sua.

Há lendas que associam São Bernardo a Portugal. E Agostinho da Silva era um fã de São Bernardo. Diz-se, por exemplo, que o próprio Bernardo teria vindo a Portugal quando se estabeleceu a Ordem de Cister no Mosteiro de São João de Tarouca, em 1142), e até que teria estado na Abadia de Alcobaça. Ora, sabe-se que Bernardo nunca saiu para muito longe da Abadia de Claraval na região de Champanhe durante cerca de quarenta anos lá enclausurado. Seja como for, e
studos recentes dão como certo que São Bernardo está associado à independência de Portugal através dos seus cordelinhos de longo alcance. Parece ter sido por sua mediação (ou pelo menos, por mediação da sua Abadia) que o Papa enviou um delegação que reconheceu, senão a independência nacional, pelo menos o título de Ducado, sendo o duque - Afonso Henriques.  

Em 1146, notícias alarmantes para os cristãos começaram a chegar da Terra Santa. A maior parte do Condado de Edessa havia caído nas mãos dos turcos seljúcidas depois da vitória muçulmana no Cerco de Edessa. O Reino de Jerusalém e os demais Estados estabelecidos pelas Cruzadas estavam agora à beira de um desastre similar. Diversas embaixadas, vindas do Reino Arménio da Cilícia, chegaram Roma para pedir ajuda ao Papa. Na Germânia estava-se no tempo de Frederico Barba Ruiva (Frederico I do Sacro Império Romano Germânico).
 O papa Eugénio foi pessoalmente à França depois para reforçar a pregação e, assim como já havia acontecido na cruzada anterior, a pregação deu início a uma série de ataques à população judaica da região. Um fanático monge francês chamado Radulphe foi, aparentemente, o responsável por muitos massacres em Colónia, Mainz e Worms. Diziam que os judeus não estariam contribuindo financeiramente para o resgate da Terra Santa.

Os últimos anos de Bernardo foram de grande tristeza por causa do fracasso desta cruzada, que, por ter sido pregada principalmente por ele, acabou tornando-se também um fracasso pessoal. Ele considerava que era seu dever enviar um pedido de desculpas ao Papa e ele foi inserido na segunda parte do "Livro de Considerações". Nele, Bernardo explica como os pecados dos Cruzados teriam sido responsáveis pelo desastre. Quando iniciou a sua tentativa de convocar uma nova cruzada, Bernardo tentou desassociar o seu nome completamente da Segunda Cruzada.

Em 1153, um nobre da região - simpatizante dos cátaros tornou-se o sexto grão-mestre da Ordem do Templo. Seu nome era Bertrand de Blanchefort [1109 - 1169] , e seu lar ancestral se situava num pico de montanha a poucos quilómetros de Béziers e de Rennes-le-Château. Bertrand de Blanchefort, que presidiu a Ordem de 1153 até 1170, foi provavelmente o mais importante de todos os grão-mestres templários. Antes de seu comando, a hierarquia e a estrutura administrativa da Ordem eram nebulosas. Foi Bertrand quem transformou a organização dos Templários na instituição hierárquica soberbamente eficiente, bem organizada e disciplinada que ela veio a ser. Foi Bertrand quem lançou os Templários na alta diplomacia e na política internacional. 

Qualquer que tenha sido sua misteriosa missão, os Templários gozavam de imunidade especial. De todos os templários da França, foram os que permaneceram sem ser molestados pelos senescais de Filipe, o Belo, em 13 de outubro de 1307. Naquele dia fatídico, o comandante do contingente de templários em Béziers era o senhor de Goth. E o arcebispo de Bordéus - peão vacilante do rei Filipe, antes de tomar o nome de papa Clemente V - era Bertrand de Goth. Além do mais, a mãe do novo pontífice era Ida de Blanchefort, da mesma família de Bertrand de Blanchefort. 
O Obituário de Reims dá sua morte em 2 de janeiro de 1169. Ele foi feito prisioneiro depois que o rei Balduíno foi derrotado em Banyas em 1157. A derrota permitiu que uma emboscada fosse marcada para Blanchefort, que havia dispensado seus soldados francos após a batalha cessar. Ele foi mantido em cativeiro por três anos em Alepo antes de ser libertado para o Imperador Bizantino Manuel I Comnenus, quando o imperador fez as pazes com Nur ad-Din.

Bertrand acompanhou o rei Amalrico I durante a expedição ao Egito em 1163. A expedição terminou em fracasso, apesar dos números consideráveis que os cristãos poderiam usar. Bertrand se recusou a participar de uma segunda expedição em 1168, já que grandes perdas eram quase certas. Ele foi sucedido por Filipe de Milly. Blanchefort pediu ao Papa que usasse o título de "Mestre pela Graça de Deus", que se encaixava na posição dos Templários como estrelas em ascensão na igreja, um favor que Roma alegremente concedeu. Suas reformas internas foram mais importantes no entanto. Ele escreveu os "Retraits", que estabeleceram estrutura dentro da ordem. Isso significava que os cavaleiros tinham papéis e protocolos mais claros. Ele também estabeleceu verificações dentro das lideranças da ordem, o que impediu que futuros Grão Mestres decidissem a direção dos Templários, sem o apoio dos cavaleiros. O seu trabalho na criação de papéis de negociação dentro da ordem também vale a pena notar. Após a fracassada expedição ao Egito, foram os Templários que ajudaram a elaborar um tratado de paz.

Em 13 de outubro de 1307, os Templários em toda a França foram capturados pelos senescais de Filipe, o Belo. É uma afirmação que não encerra toda a verdade. Os Templários, de pelo menos uma preceptoria,  - a preceptoria de Béziers, deslizaram sorrateiramente sob o olhar da rede armada do rei. 

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