terça-feira, 8 de março de 2022

A Batalha de Estalinegrado




A Batalha de Estalinegrado foi um grande combate travado entre a Wehrmacht (o exército da Alemanha Nazi) e seus aliados do Eixo contra as tropas da União Soviética pela posse da cidade de Estalinegrado (atual Volgogrado), nas margens do rio Volga, entre 23 de agosto de 1942 e 2 de fevereiro de 1943, durante a Segunda Guerra Mundial. A batalha foi um dos pontos de viragem da guerra na Frente Oriental, marcando o limite da expansão alemã no território soviético. A partir daqui o Exército Vermelho avançou sempre até entrar vitorioso em Berlim.

Em 18 de setembro, fuzileiros soviéticos, após chegarem a Estalinegrado em barcaças, cruzando o Volga, posicionaram-se no gigantesco silo da cidade, repelindo dez ataques alemães ao longo de um único dia. Na mesma data, depois de almoçar com Hitler em seu quartel-general de Vinnitsa, um ajudante de ordens, Werner Koeppen, escreveu que “a ideia era destruir todas as grandes cidades da Rússia como condição prévia para uma duradoura dominação alemã sobre todo o país”. Também em 18 de setembro, Otto Thierack, o ministro da Justiça alemão e general da SS, chegou a um acordo com Himmler no que se referia à “entrega de elementos ‘insociais’ para o cumprimento das respetivas sentenças”. “Insociais” eram os judeus, os ciganos, os homossexuais, os russos, os ucranianos, os polacos condenados a mais de três anos de prisão por delitos comuns e os checos e alemães condenados a mais de oito anos de prisão por delitos do mesmo tipo. O “cumprimento das respetivas sentenças” consistiria em trabalhos forçados sob condições tão penosas e tão destituídas de apoio médico que seria inevitável a morte de centenas de milhares de condenados. Thierack também disse a Himmler que, a fim de adaptar os territórios orientais recentemente conquistados à instalação de alemães e à colonização, “os judeus, polacos, ciganos, russos e ucranianos acusados de infração não deveriam ser julgados por tribunais comuns, mas executados”.

A 22 de setembro, as tropas alemãs chegaram ao centro de Estalinegrado, mas os russos recusaram-se à rendição. Hitler, irritado por ainda não haver conquistado Estalinegrado ou, ao contrário do que esperara que houvesse acontecido algumas semanas antes com a cidade caucasiana de Grozny, demitiu o general Franz Halder, que desde o começo da guerra, havia mais de dois anos, fora chefe do estado-maior do exército, e substituiu-o pelo general Kurt Zeitzler. Este, porém, sentia o mesmo mal-estar que Halder quanto à situação dos alemães na Rússia e pediria, como seu antecessor e em vão, autorização para efetuar recuos temporários. Quando o marechal Keitel lhe disse que não irritasse Hitler referindo-se, diante dele, às baixas alemãs, Zeitzler teria replicado: “Quando um homem começa uma guerra, precisa ter nervos que lhe permitam ouvir críticas sobre os seus resultados.”

Na manhã do dia 23 de setembro, os russos desencadearam um contra-ataque nos subúrbios do noroeste de Estalinegrado. Poucas horas antes, dois mil novos soldados siberianos haviam-se metido em barcos e atravessado o Volga. Lenta, mas decididamente, entre ferozes combates corpo a corpo, os alemães foram obrigados a recuar. Ainda nesse dia, numa tentativa de retomarem a progressão no Cáucaso, os alemães lançaram a operação Attica, pretendendo evoluir pelas margens do mar Negro através de Tuapse e evoluir até Sochi, Suchumi e Batum. No entanto, os defensores soviéticos não os deixaram chegar sequer a Tuapse. Em 24 de setembro, seiscentos guerrilheiros soviéticos, alguns fardados com uniformes alemães e utilizando artilharia pesada, incendiaram a cidade de Ryabchichi, um entreposto inimigo para reforço e reabastecimento na estrada Smolensk-Briansk. Talvez tenha sido um sentimento de vulnerabilidade que levou Ribbentrop a dar, no mesmo dia, instruções no sentido de “apressar, tanto quanto possível, a evacuação dos judeus de vários países da Europa”. As negociações deveriam começar imediatamente, como explicou o subordinado de Ribbentrop, Martin Luther, com os governos da Bulgária, Hungria e Dinamarca, “com o objetivo de iniciar a evacuação de judeus”. Em 25 de setembro, durante um comício do Partido Nazi em Oslo, a aviação britânica atravessou o mar do Norte e atacou o quartel-general da Gestapo na cidade, com o objetivo de destruir os arquivos da resistência norueguesa guardados no edifício e de demonstrar o poder dos aliados. O edifício não foi atingido, mas quatro pessoas que o rodeavam morreram. Ainda assim os nazis entraram em pânico; muitos fugiram da cidade e a reunião terminou em caos.

No mesmo dia, em Estalinegrado, tanques alemães saídos de Gorodishche chegaram ao limite defensivo ocidental, a fábrica Krasny Oktyabr e a parte sudoeste da fábrica Barrikady, na margem do Volga. O heroísmo dos defensores da cidade seria uma página de glória na história soviética. Lyuba Nesterenko, uma jovem enfermeira, encurralada num porão, cuidou de 28 homens gravemente feridos antes de morrer com um ferimento no peito. Em 27 de setembro, embora a bandeira com a suástica houvesse sido desfraldada na sede do Partido Comunista, em aparente sinal de triunfo, novos reforços atravessaram o Volga, desembarcando sob fogo mortífero e apressando-se em ocupar qualquer armazém ou subsolos de edifícios já destruídos. Nesse dia, Hitler voou de Vinnitsa para Berlim, contando que poderia anunciar a conquista de Estalinegrado, onde suas tropas haviam penetrado até às margens do rio – no entanto, não haviam conseguido dominar a cidade.

Em 29 de setembro, Hitler, em Berlim, avisou os seus generais do perigo de uma invasão pelo Ocidente. Numa tentativa de mitigar a fúria dos ataques aéreos anglo-americanos, ordenou a construção de torres maciças de defesa antiaérea em Munique, Viena, Linz e Nuremberga, que eram semelhantes a fortalezas e que passaram a ser conhecidas como torres de artilharia. Em 1 de outubro, as forças russas no Cáucaso conseguiram finalmente conter o avanço alemão. No mesmo dia, em Berlim, Rommel dizia a Hitler que a supremacia aérea britânica e as falhas dos oficiais italianos sob seu comando forçaram-no a desistir da sua marcha sobre o Cairo.

Os americanos também contribuíram para as batalhas de Estalinegrado e do Cáucaso; nos seis meses que antecederam novembro de 1942, os Estados Unidos entregaram à União Soviética, em grande parte através da Pérsia, 56.445 telefones de campanha, 614 quilómetros de fio para esses aparelhos e 81.287 metralhadoras Thomson, que constituíram, sem dúvida, um acréscimo chegado em boa hora ao arsenal e aos meios de comunicação soviéticos. Na Rússia ocupada, não haviam sido, porém, interrompidos os massacres de habitantes judeus de aldeias e cidades da Rússia branca. Em 5 de outubro, um engenheiro alemão, Hermann Graebe, testemunhou o assassinato de quinze judeus diante de uma vala, nas imediações da cidade de Dubno.

Em 11 de outubro, depois de 51 dias de combates contínuos, nem a infantaria nem os carros de assalto alemães conseguiram ocupar posições seguras em Estalinegrado; os alemães preparavam um último e, esperavam, devastador ataque. Entretanto, dois dias mais tarde, na frente de Moscovo, guerrilheiros soviéticos abririam 178 brechas no caminho de ferro Bryansk-Lgov; a sabotagem foi realizada por especialistas treinados em Tula e lançados de paraquedas atrás das linhas alemãs. Em 14 de outubro, deu-se o novo assalto alemão contra Estalinegrado, destinado a expulsar os defensores da cidade escondidos em todos os recessos e abrigos, em todos os armazéns e ruínas, em todos os redutos fortificados em fábricas e nas margens do rio. Trezentos tanques alemães participaram na ofensiva. Ainda assim, a fábrica de tratores, apesar de completamente cercada, não caiu – entre ela e a fábrica Barrikady, os edifícios foram capturados pelos alemães, recapturados pelos russos e novamente tomados. Lutava-se em cada sótão, em cada andar, nas ruínas de construções e em porões.

Durante a noite, 3.500 soldados soviéticos feridos foram transportados em barcos e chegaram a salvo no outro lado do Volga. Acossados em terra, atacados pelo ar e assaltados por levas e mais levas da infantaria alemã, os defensores de Estalinegrado recusavam-se à rendição e continuavam a defender suas ruínas ainda em 15 de outubro. O assalto alemão, com toda a sua fúria e apesar das vitórias conquistadas, falhara. Porém, recomeçaria três dias depois, com igual intensidade, obtendo como resposta uma defesa cuja tenacidade não tinha precedentes.

Enquanto a batalha de Estalinegrado entrava em seu terceiro mês, a resistência e o terror cresciam evidentemente atrás das linhas alemãs. Em 14 de outubro, na cidade polaca de Piotkrow, os alemães iniciaram a deportação de 22 mil judeus para Treblinka, numa operação que durou sete dias. Entre os deportados e mortos nessa semana encontrava-se uma menina, Lusia Miller, que escrevera a um amigo dias antes da deportação: “É realmente terrível, e terrivelmente triste, que jovens precisem morrer, porque tudo em mim quer viver. E, no entanto, nesta idade, aos 13 anos, uma pessoa mal começou a descobrir a vida. Talvez por isso pareça tão prematuro. Não sei. Mas a verdade é que não quero morrer.”

Em 16 de outubro, as forças alemãs e russas combatiam sob chuva pesada. A fábrica de tratores já não podia resistir; as tropas soviéticas das fábricas Barrikady e Krasny Octyabr rechaçavam todas as tentativas de assalto. Em 20 de outubro, contudo, os russos não detinham mais do que 915 metros da margem ocidental. “O Führer está convencido de que os russos estão à beira do fim”, escreveu o marechal Keitel em 21 de outubro, acrescentando: “Ele diz que vinte milhões de pessoas morrerão de fome.” Nesse dia, muito atrás das linhas, uma companhia de polícia alemã descobriu um acampamento de judeus na floresta. Tais recantos representavam uma tentativa maravilhosa num mundo brutalizado. Não apenas homens armados protegiam centenas de mulheres, crianças e idosos na inóspita floresta como conseguiam comida e vigiavam contra aqueles que buscavam destruir o santuário. No ataque de 21 de outubro, porém, os alemães mataram 461 pessoas. Somente uma dúzia conseguiu escapar. Também foram mortas duas famílias camponesas, por “manterem contacto” com resistentes locais.

Bastante ao sul, em Elista, no posto mais oriental dos alemães, dois guerrilheiros foram capturados em 22 de outubro, tendo vindo de Astracã e sido largados de paraquedas na região. Durante as semanas seguintes, muitos outros guerrilheiros seriam igualmente lançados nessa região. Um esquadrão da cavalaria cossaca ajudou os alemães a caçá-los, mas, conforme admitia um relatório alemão: “É muito frequente que estes bandos batam temporariamente em retirada para recomeçarem novos ataques a partir de seus esconderijos.”

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