O Tratado de Versalhes – tratado de paz que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial assinado em 28 de junho de 1919 - foi considerado pela Alemanha como um diktat das nações da Tríplice Entente. Na sequência do armistício, assinado em novembro de 1918, após seis meses de negociações, em Paris, o principal ponto do tratado determinava que a Alemanha, como a causadora da guerra, aceitasse todas as responsabilidades.
Para o líder da maioria no Senado dos Estados Unidos, Henry Cabot Lodge, a luta contra o Tratado e a Liga das Nações era uma luta conservadora republicana do nacionalismo norte-americano contra o internacionalismo. Segundo a historiadora norte-americana Sally Marks, desde os anos 1970, que a Alemanha poderia ter pagado as suas indemnizações, mas optou por não fazê-lo, e por meio de várias táticas, instigada, em especial, pelos britânicos, conseguiu fazer com que a opinião internacional se voltasse contra os franceses e contra as disposições económicas do Tratado de Versalhes.
O britânico John Maynard Keynes teceu fortes críticas às reparações impostas à Alemanha no seu livro 'As consequências econômicas da paz' (1919). Seria absolutamente certo que a Alemanha não iria poder pagar qualquer quantia que se aproximasse daquele total. Keynes escreveu: «Há uma grande diferença entre fixar uma soma definida, que embora grande estivesse dentro da capacidade de pagamento da Alemanha, permitindo-lhe guardar um pouco para si. E estabelecer uma quantia muito superior à sua capacidade de pagar, podendo ser reduzida por uma comissão estrangeira cujo objetivo é obter cada ano o maior pagamento permitido pelas circunstâncias. A primeira hipótese deixaria ainda à Alemanha um modesto incentivo para o empreendimento, energia e esperança. Mas a segunda consiste em tirar-lhe a pele ano após ano, em perpetuidade, e por mais discreta e habilidosamente que isso se faça, tendo o cuidado de não matar o paciente no processo, trata-se de uma política que, se fosse efetivamente sustentada e praticada de modo deliberado, não tardaria a ser considerada pelo julgamento dos homens como um dos atos mais ultrajantes de crueldade de um vencedor, em toda a história da civilização.»
A eleição de novembro de 1920 sinalizou uma clara rejeição à política externa de Wilson por parte do público norte-americano. Harding obteve mais de 60% dos votos populares, e os candidatos isolacionistas também ajudaram a colocar o Congresso ainda mais firmemente nas mãos republicanas. Em vez de um tratado de paz, em julho de 1921, uma resolução conjunta do Congresso declarou o fim do estado de guerra entre a Alemanha e os Estados Unidos. A contribuição norte-americana à ocupação Aliada da Renânia tinha diminuído para menos de 10 mil homens, os últimos dos quais foram retirados em fevereiro de 1923.
Com exceção das terras continentais chinesas incorporadas ao Império Japonês, todas as ex-colónias alemãs estavam tecnicamente sob a tutela de seus novos proprietários na condição do mandatos da Liga das Nações. Todavia, nenhuma recebeu independência antes de 1960. A Namíbia, finalmente a alcançaria 30 anos depois. O atraso decorreu do facto de o mandato do antigo Sudoeste Africano Alemão estar sob a administração da África do Sul. Entretanto, depois da Segunda Guerra, caiu sob controle de um regime de apartheid cujas origens também datavam do período de 1914 a 1918. Os líderes africâneres não teriam mais êxito em impedir que a África do Sul fosse à guerra com a Alemanha em 1939 do que tiveram em 1914. Após a Segunda Guerra, o seu partido ressurgiu para se tornar o partido da maioria do eleitorado exclusivamente branco e acabaria por romper os laços com a Grã-Bretanha para estabelecer a República da África do Sul (1961) e aplicar a política de apartheid, que durou até 1994. O último presidente branco da África do Sul, F. W. de Klerk, concedeu independência à Namíbia em 1990, no mesmo ano em que libertou Nelson Mandela da prisão.
Estava em marcha a geração pela autodeterminação nacional africana que se estendeu ao movimento pelo governo autónomo na Índia. Gandhi e Jinnah pressupunham, ambos, que a Inglaterra iria recompensar as contribuições da Índia na Primeira Guerra Mundial com uma transição para um autogoverno logo em seguida. Daí terem ficado chocados em novembro de 1918 quando a lei marcial foi estendida para o pós-guerra, uma medida claramente dirigida contra os seus próprios apoiantes. Em fevereiro de 1919, quase três anos antes de assumir a liderança formal do Congresso Nacional indiano, Gandhi lançou a sua primeira campanha de desobediência civil contra a autoridade britânica abarcando toda a Índia.
Depois de voltar de Paris, o Presidente dos Estados Unidos, Wilson, destruiu a sua saúde viajando pelo país para mobilizar o apoio público ao Tratado. Em seu último discurso, em 25 de setembro de 1919, após grandes emoções sofre um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em Pueblo, Colorado. Ele tinha feito referência à sua visita a um cemitério norte-americano antes de deixar a França. O Tratado não recolocou imediatamente os Estados Unidos no isolamento internacional. Mas no Partido Republicano havia alguns que tinham sido dos maiores defensores da participação na Primeira Guerra Mundial. E alguns dos seus líderes acreditavam numa política externa ativa em tempos de paz, na tradição do ex-presidente Theodore Roosevelt. Na verdade, na convenção republicana em junho de 1920, o próprio Henry Cabot Lodge criticou o isolacionismo, alegando que o mundo precisa muito dos Estados Unidos da América.
A eleição de novembro de 1920 sinalizou uma clara rejeição à política externa de Wilson por parte do público norte-americano. Harding obteve mais de 60% dos votos populares, e os candidatos isolacionistas também ajudaram a colocar o Congresso ainda mais firmemente nas mãos republicanas. Em vez de um tratado de paz, em julho de 1921, uma resolução conjunta do Congresso declarou o fim do estado de guerra entre a Alemanha e os Estados Unidos. A contribuição norte-americana à ocupação Aliada da Renânia tinha diminuído para menos de 10 mil homens, os últimos dos quais foram retirados em fevereiro de 1923.
O envolvimento dos Estados Unidos nos assuntos da Europa fora revisto no Plano Dawes (1924) e no Plano Young (1930). Era revisto o cronograma de pagamento das reparações da Alemanha. Foi para facilitar o pagamento das dívidas da guerra para com os Estados Unidos. Era para manter a capacidade da Alemanha cumprir com as suas obrigações. Os Planos Dawes e Young também refletiam a dominação norte-americana dos mercados financeiros globais no pós-guerra. A guerra trouxe a rápida transformação dos Estados Unidos, de devedor líquido em principal credor do mundo, e Nova York substituiu Londres como centro da economia mundial. O seu crescimento industrial contrastava fortemente com o mal-estar do pós-guerra na Europa. Em 1929, a produção industrial dos Estados Unidos ultrapassou o seu nível de 1913 em mais de 80%, o suficiente para responder por impressionantes 43% da produção global.
Entre os beligerantes da Primeira Guerra Mundial, o Japão saiu com maiores ganhos a um custo menor do que qualquer outro país, vitórias fáceis que alimentaram a sua arrogância crescente. Entre 1913 e 1929, a produção industrial do Japão mais do que triplicou, mas partia de um ponto tão baixo que a sua base industrial muito menor representou apenas 2,5% da produção industrial do mundo em 1929. Mas a contínua fragilidade industrial do Japão em comparação com os Estados Unidos nada fez para moderar as suas ambições pós-guerra. Uma facção linha-dura dos almirantes japoneses considerou uma derrota quando o Tratado Naval de Washington (1922) deu ao Japão uma frota de 60% das marinhas britânica ou norte-americana, em vez de o igualar. Isso levou o Japão a esperar que um dia iria à guerra com os Estados Unidos.
A decisão Aliada de atender à reivindicação do Japão sobre a península de Shantung desencadeou o Movimento de Quatro de Maio, assim nomeado em função do dia em que a notícia chegou a Pequim (4 de maio de 1919), levando milhares de universitários chineses a se reunir na praça Tiananmen para extravasar a sua frustração contra as potências ocidentais e contra a fraqueza de sua própria República chinesa. Muitos líderes do Movimento Quatro de Maio, recorrendo à Rússia soviética como sua fonte de inspiração, levaram à fundação do Partido Comunista Chinês, em 1921.
Embora Shantung tenha sido o gatilho do Movimento Quatro de Maio, o Japão devolveu a península à China em 1922. Ainda que em troca de novas concessões em outras partes do país. O mesmo aconteceu com outros asiáticos, decepcionados com o Tratado daquele verão de 1919 em Paris. Também se voltaram para o mesmo comunismo depois de se decepcionarem com o Ocidente. O nacionalista vietnamita Ho Chi Minh encaminhou uma correspondência ao secretário de Estado Americano, pedindo a independência do seu país, de acordo com o princípio da autodeterminação nacional. Era uma carta dirigida a Robert Lansing, em 18 de junho de 1919. Ho Chi Minh, ainda em Paris para a Conferência de Paz com o “Grupo de Patriotas Anamitas”, já antevia a independência para o Vietname. Apelou aos vencedores da Guerra a conceção de uma lista de “liberdades”. Não obteve resposta. Em 1923, Ho Chi Minh saiu de Paris e dirigiu-se para Moscovo, onde se tornou um agente da Internacional Comunista de Lenin (Comintern). E assim embarcou na sua longa luta por um Vietname independente e comunista.
Entre os beligerantes da Primeira Guerra Mundial, o Japão saiu com maiores ganhos a um custo menor do que qualquer outro país, vitórias fáceis que alimentaram a sua arrogância crescente. Entre 1913 e 1929, a produção industrial do Japão mais do que triplicou, mas partia de um ponto tão baixo que a sua base industrial muito menor representou apenas 2,5% da produção industrial do mundo em 1929. Mas a contínua fragilidade industrial do Japão em comparação com os Estados Unidos nada fez para moderar as suas ambições pós-guerra. Uma facção linha-dura dos almirantes japoneses considerou uma derrota quando o Tratado Naval de Washington (1922) deu ao Japão uma frota de 60% das marinhas britânica ou norte-americana, em vez de o igualar. Isso levou o Japão a esperar que um dia iria à guerra com os Estados Unidos.
A decisão Aliada de atender à reivindicação do Japão sobre a península de Shantung desencadeou o Movimento de Quatro de Maio, assim nomeado em função do dia em que a notícia chegou a Pequim (4 de maio de 1919), levando milhares de universitários chineses a se reunir na praça Tiananmen para extravasar a sua frustração contra as potências ocidentais e contra a fraqueza de sua própria República chinesa. Muitos líderes do Movimento Quatro de Maio, recorrendo à Rússia soviética como sua fonte de inspiração, levaram à fundação do Partido Comunista Chinês, em 1921.
Embora Shantung tenha sido o gatilho do Movimento Quatro de Maio, o Japão devolveu a península à China em 1922. Ainda que em troca de novas concessões em outras partes do país. O mesmo aconteceu com outros asiáticos, decepcionados com o Tratado daquele verão de 1919 em Paris. Também se voltaram para o mesmo comunismo depois de se decepcionarem com o Ocidente. O nacionalista vietnamita Ho Chi Minh encaminhou uma correspondência ao secretário de Estado Americano, pedindo a independência do seu país, de acordo com o princípio da autodeterminação nacional. Era uma carta dirigida a Robert Lansing, em 18 de junho de 1919. Ho Chi Minh, ainda em Paris para a Conferência de Paz com o “Grupo de Patriotas Anamitas”, já antevia a independência para o Vietname. Apelou aos vencedores da Guerra a conceção de uma lista de “liberdades”. Não obteve resposta. Em 1923, Ho Chi Minh saiu de Paris e dirigiu-se para Moscovo, onde se tornou um agente da Internacional Comunista de Lenin (Comintern). E assim embarcou na sua longa luta por um Vietname independente e comunista.
Com exceção das terras continentais chinesas incorporadas ao Império Japonês, todas as ex-colónias alemãs estavam tecnicamente sob a tutela de seus novos proprietários na condição do mandatos da Liga das Nações. Todavia, nenhuma recebeu independência antes de 1960. A Namíbia, finalmente a alcançaria 30 anos depois. O atraso decorreu do facto de o mandato do antigo Sudoeste Africano Alemão estar sob a administração da África do Sul. Entretanto, depois da Segunda Guerra, caiu sob controle de um regime de apartheid cujas origens também datavam do período de 1914 a 1918. Os líderes africâneres não teriam mais êxito em impedir que a África do Sul fosse à guerra com a Alemanha em 1939 do que tiveram em 1914. Após a Segunda Guerra, o seu partido ressurgiu para se tornar o partido da maioria do eleitorado exclusivamente branco e acabaria por romper os laços com a Grã-Bretanha para estabelecer a República da África do Sul (1961) e aplicar a política de apartheid, que durou até 1994. O último presidente branco da África do Sul, F. W. de Klerk, concedeu independência à Namíbia em 1990, no mesmo ano em que libertou Nelson Mandela da prisão.
Estava em marcha a geração pela autodeterminação nacional africana que se estendeu ao movimento pelo governo autónomo na Índia. Gandhi e Jinnah pressupunham, ambos, que a Inglaterra iria recompensar as contribuições da Índia na Primeira Guerra Mundial com uma transição para um autogoverno logo em seguida. Daí terem ficado chocados em novembro de 1918 quando a lei marcial foi estendida para o pós-guerra, uma medida claramente dirigida contra os seus próprios apoiantes. Em fevereiro de 1919, quase três anos antes de assumir a liderança formal do Congresso Nacional indiano, Gandhi lançou a sua primeira campanha de desobediência civil contra a autoridade britânica abarcando toda a Índia.
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