terça-feira, 14 de novembro de 2023

Setembro de 1939, soldados alemães passam a fronteira rumo a Varsóvia



Enquanto em Berlim, logo de manhã, o dia se mostrava cinzento e abafado, já os aviões de guerra sulcavam o céu em direção aos bombardeamentos na Polónia.  Nuvens pairavam sobre a cidade, oferecendo proteção contra bombardeios, que eram esperados, mas não vieram. O povo nas ruas mantinha-se calmo, apesar das notícias pela rádio serem tonitruantes. O povo alemão ainda estava atónito, ao levantar-se naquela primeira manhã de setembro, ao achar-se envolvido numa guerra que eles estavam convencidos de que o Führer evitaria. Não podiam acreditar que tal coisa estivesse a acontecer. 

As ruas estavam desertas quando o chefe nazi saiu da chancelaria, pouco antes das 10h, para dirigir-se ao Reichstag a fim de falar à nação sob os graves acontecimentos, que ele mesmo provocara deliberada e insensivelmente. Até mesmo os membros do Reichstag, que na maioria eram meros autómatos, vendidos ao partido nazi, não encontraram forças para demonstrar entusiasmo, quando o ditador apresentou as suas explicações sobre os motivos pelos quais a Alemanha estava em guerra a partir daquela madrugada. Os aplausos foram moderados. A explicação sobre as razões alegadas pelo aliado italiano para eximir-se da obrigação automática de vir em seu auxílio não convenceu sequer aquele auditório fantoche.

O ataque à estação de rádio alemã em Gleiwitz tinha sido executado pelos homens da S.S., vestidos com uniformes polacos sob o comando de Naujocks. Hitler invocava esse facto para justificar a sua cínica agressão contra a Polónia. Na verdade, logo nos primeiros comunicados o Alto Comando alemão empregava o termo “contra-ataque” ao referir-se às operações militares. Até Weizsäcker se esforçou para cooperar nesta simulação. Nesse dia, do Ministério do Exterior expediu uma circular a todas as missões diplomáticas alemães no exterior, instruindo-as sobre o modo de proceder: «Defendendo-se de ataques polacos, tropas alemãs entraram em ação. Essa ação não devia ser descrita como guerra, mas apenas como manobras necessárias em virtude dos ataques polacos.» Hitler difundiu também a sua mentira sobre os soldados alemães, que sabiam muito bem quem fizera o ataque na fronteira polaca.

Numa grandiosa proclamação ao exército alemão, no dia 1 de setembro, o Führer disse que o Estado polaco havia repelido o acordo pacífico que era do seu desejo. A série de violações da fronteira, intolerável para uma grande potência, provava que a Polónia não queria mais respeitar as fronteiras do Reich. Mas, ao menos por uma vez, naquele dia, Hitler perante o Reichstag disse a verdade. Não pedia a nenhum alemão que fizesse mais do que ele mesmo sempre esteve pronto a fazer durante os quatro anos. A partir daquele momento ele seria o primeiro soldado do Reich. Não deixaria a farda até ao dia da vitória. Caso contrário, sucumbiria com a Alemanha. Num trecho do discurso, Hitler apontou Göring como seu sucessor, caso algo lhe acontecesse.

Hitler não estava de modo algum convencido de que teria de combater a Inglaterra. Depois do meio-dia as colunas alemãs haviam penetrado vários quilómetros no território polaco e avançavam rapidamente. A maioria das cidades, incluindo Varsóvia, tinha sido bombardeada. Era grande o número de civis mortos sob os bombardeamentos. Mas àquela hora, ainda não havia nenhuma reação vinda de Londres. No entanto, de Paris, tinham vindo pronunciamentos de que a Inglaterra e a França honrariam, prontamente, a palavra empenhada com a Polónia.

Henderson, o embaixador inglês transmitira docilmente a Londres as mentiras de Göring dizendo que os polacos começaram o ataque. Hitler, porém, não chamou Henderson depois de sair do Reichstag, e por esse motivo o embaixador sentia-se um tanto desanimado. Mas não completamente. Às 10:45 transmitiu por telefone outra mensagem para Halifax. Uma nova ideia nascia no seu cérebro fértil e confuso, quando disse pelo telefone de que, embora julgasse pouco provável a sua realização, no seu entender, a única esperança de paz residia na possibilidade de o marechal polaco, Smigly-Rydz, anunciar a sua decisão de ir imediatamente à Alemanha, como soldado e plenipotenciário, para discutir com o marechal-de-campo Göring toda a questão. Parece que a este singular embaixador inglês não ocorreu a hipótese de que o marechal Smigly-Rydz poderia estar agora ocupadíssimo na tarefa de repelir o maciço e injusto ataque alemão. Também não lhe ocorreu que uma viagem do marechal polaco a Berlim como plenipotenciário, caso pudesse abandonar os seus afazeres nesta altura dos acontecimentos, seria o equivalente a uma rendição.

Dahlerus, o embaixador sueco, mostrava-se bem mais ativo que Henderson neste primeiro dia do ataque dos alemães à Polónia. Às 8h fora encontrar-se com Göring. Este disse-lhe que “a guerra irrompeu porque os polacos atacaram a estação de rádio em Gleiwitz e dinamitaram a ponte perto de Dirschau”. O sueco imediatamente telefonou ao Ministério do Exterior, em Londres, para transmitir estas notícias que de acordo com informações recebidas, os polacos tinham atacado a Alemanha. Idêntica informação seria dada pelo embaixador de Sua Majestade em Berlim, por telefone, duas horas depois. Um memorando secreto do Ministério britânico de Relações Exteriores regista o telefonema do sueco às 9:05h. Imitando Göring, Dahlerus persistia em dizer a Londres que os polacos estavam sabotando tudo. Ele tinha provas de que os polacos jamais pensaram em negociar.

Às 12:30h, Dahlerus estava novamente diante do telefone de longa distância, em comunicação com o Ministério do Exterior. Desta vez conseguiu falar com Cadogan. Acusou novamente de sabotarem ao dinamitarem a ponte de Dirschau. E sugeriu voar mais uma vez a Londres em companhia de Forbes. Mas o inflexível e implacável Cadogan estava farto de Dahlerus, principalmente agora que a guerra irrompera, e limitou-se a dizer ao sueco que agora nada mais poderia ser feito. Mas Cadogan era apenas o subsecretário dos Negócios Exteriores, e nem sequer pertencia ao gabinete. Dahlerus insistiu em que a sua sugestão fosse submetida à consideração do gabinete, e com arrogância disse a Cadogan que voltaria a telefonar dentro de uma hora. Assim o fez, e obteve a sua resposta. Qualquer ideia de mediação, disse Cadogan, enquanto as tropas alemãs invadem a Polónia, está completamente fora de questão. 

O único meio de frear a guerra seria: 1) Que as hostilidades fossem suspensas; 2) Que as tropas germânicas se retirassem imediatamente do território polaco. Às 10h, o embaixador polaco em Londres, conde Raczynski, procurou lorde Halifax comunicando oficialmente a agressão alemã. E acrescentou: «Que era um caso tipicamente previsto pelo tratado». O secretário do Exterior respondeu que não duvidava desses factos. Às 10:50h solicitou a presença, no Ministério do Exterior, de Theodor Kordt, o encarregado de negócios alemão, e indagou se tinha alguma informação a dar. Kordt retorquiu que não só carecia de informações sobre um ataque alemão à Polónia, como também não tinha instruções de espécie alguma. Em seguida, Halifax declarou que os relatórios que recebera criavam uma situação muito séria. Mas não arriscou a dizer algo mais do que isso. Kordt transmitiu, por telefone, esta informação para Berlim às 11:45h. Ao meio-dia, Hitler convenceu-se que tinha razão, quando disse que a Inglaterra não iria entrar na guerra. Mas tudo isso, iria ser sol de pouca duração. 


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